Karl Marx, iniciou os seus estudos
sobre economia política ainda na Alemanha em 1842 quando, como redator da
Gazeta Renana, deparou-se com uma situação embaraçosa voltada para “os direitos
materiais”, quando a Assembleia Legislativa da Renânia, empenhou-se em aprovar
uma lei sobre o “roubo de lenha”, efetuado por camponeses carentes que precisam
entrar nos bosques privados para catarem o material e abastecerem as suas
cozinhas. Portanto, do ponto de vista teórico, nesse momento, principiou-se a
elaboração da crítica da economia política materialista, da apropriação dos
bens da natureza para uso privado; no entanto, tudo feito dentro da lei com
aprovação do Estado.
O conceito de “economia política” já
vinha sendo utilizado havia muito tempo. No ano de 1615, antes mesmo de todas
as revoluções e guerras ocorridas no capitalismo, o francês Antoine de
Montchrestien, escreveu o livro: Tratado de economia política; posteriormente
outros autores como, Adam Smith, Stuart Mill e David Ricardo, utilizaram os
termos com muito mais profundidade; mas é com Marx que a visão crítica pôde se
insurgir e revelar as profundas imbricações que existe entre as duas áreas da
política e da economia.
Marx, após revelar o seu despreparo
para enfrentar aquela discussão, buscou preparar-se buscando nos Princípios
da filosofia do Direito de Hegel as explicações mais contundentes. “Minhas
investigações me conduziram ao seguinte resultado: as relações jurídicas, bem
como as formas do Estado, não podem ser explicadas por si mesmas, nem pela
chamada evolução geral do espírito humano; essas relações têm, ao contrário,
suas raízes nas condições materiais...”.[1] Evidentemente as “condições
materiais” estão relacionadas com a economia que emergem da propriedade
privada.
A importância atual de compreendermos
esse emaranhado de articulações e inversões, de ora a economia pretender ser
totalmente privada, ora, o Estado ter de agir para não deixá-la sucumbir ou,
ainda, as autoridades superiores precisam intervir e impor taxações ou
assegurarem subsídios para que os negócios continuem sendo lucrativos e os
empregos sejam mantidos.
Na atualidade o governo dos Estados
Unidos da América retém as atenções universais. Muitas respostas já foram dadas
para pergunta, por que isso está acontecendo? Mas duas palavras apenas são
suficientes para definirem a situação: falência e decadência. Em outras
palavras, isso quer dizer que esse país se tornou tecnicamente incapaz de administrar
vantajosamente a sua economia e, precisa impor por meio de leis, um pedido de
socorro das outras economias mundiais.
Em situações comuns, quando isso
ocorre, costumam fazer um balanço para localizarem onde estão as causas dessa decadência.
No caso de um país imperialista é mais complicado, porque, muitas podem ser as
causas, mas, algumas delas despontam para a justificação do estado desesperador
com que o governo de lá se obrigue a criar inimizade com todos os demais países
do mundo.
O entendimento primeiro é que o
imperialismo não é uma definição de um modelo estático de poder. Ele é dinâmico
e, figuradamente se fôssemos compará-lo com um corpo, é aparelhado com muitos
braços que, nesse caso, não são membros, direito e esquerdo, mas econômico, político,
militar, jurídico, tecnológico, ideológico etc. Desde a Segunda Guerra Mundial
os Estados Unidos buscaram na força de trabalho mundial a base de sua
sustentação; seja na exploração das riquezas locais, na exportação de
tecnologia e bens de consumo ou da especulação financeira, comprando títulos das
dívidas públicas ou forçando o pedido de empréstimo, cobrando altas taxas de
juros. O controle dos negócios mundiais efetuados por meio do dólar que, além
de dinheiro tornou-se também uma mercadoria e, todos os países foram obrigados
a formarem as suas reservas com essa referência.
As bases econômicas criadas pela
expansão das corporações, deslocando seu potencial de produção e exploração
para os países que oferecem matéria prima e força-de-trabalho de baixo custo,
enfraqueceram a indústria Norte americana, mas nunca deixaram de ser
acompanhadas e protegidas, por mais de oitocentas bases militares espalhadas
pelo mundo. Em casos específicos, o Estado dos estados Unidos, ocupou-se em
fazer guerras, sustentadas pela emissão de dólares para além de qualquer limite.
Acontece que, quando um bom lutador luta com um péssimo lutador, quem mais
aprende e se fortalece é o segundo, enquanto o primeiro, desaprende ou fica
como está.
No decorrer desse último século,
alguns países foram se fortalecendo como é o caso da Rússia desde 1917. Depois
a China, o Japão, a Correa do Sul, a Índia etc., no entanto, obrigados a
negociar em dólar, mantiveram o padrão de acumulação do capital Norte americano.
Isso, atualmente ocorre diretamente com os cartões de crédito. No passado para
obter um cartão de desses, como: Visa, Mastercard, American Express, Discover e
Diners, era muito difícil, pois precisava comprovar uma renda individual
significativa; agora ficou fácil e pode ser utilizado no pagamento de qualquer
valor. Ocorre que, ao pagar uma conta no restaurante, como acontece com a taxa extra
para o garçom, uma quantia cai diretamente na conta da operadora nos Estados
Unidos. O descontentamento com o Pix vem da restrição do envio dessa taxa para
fora do país.
Com o fortalecimento das diversas
economias, alguns países passaram a fazer negócios com as próprias moedas e, mais
recentemente, com a formação dos Brics, a tendência é que surja uma nova
referência monetária e o dólar deixará de ter a supremacia, pelo simples fato dos
Estados Unidos estar sendo deixado de fora dessa articulação.
Voltemos ao roubo da lenha. O
governo Norte americano ao perceber que os países estão aproveitando de certas
vantagens locais para progredirem e satisfazerem as suas necessidades, sem
dependerem do dólar, acionou o poder político para, juridicamente, validar a extorsão
por meio da elevação das taxas de exportação. Seus interesses se firmam em duas
perspectivas: a primeira é fazer com que a mais-valia do trabalho alheio eleve
os ganhos do Estado pelo pagamento do imposto, sem elevar os preços dos
produtos e, segundo, que as empresas capitalistas estrangeiras se fixem nos
Estados Unidos, para gerarem empregos e, de lá exportem produtos para os países,
tornando-os ainda mais dependentes. O ideal pretendido é que todos se comportem
como a Europa que, além de aceitar a taxa de exportação de 15%, comprometeu-se
em não elevar os preços dos produtos exportados, e ainda deverá fazer investimentos
de 600 bilhões de dólares no país decadente.
Por outro lado, há diversos
interesses em jogo. A associação das Big Techs com o poder da indústria bélica
dos Estados Unidos, visa controlar os avanços tecnológicos e, para isso
precisam que os minérios nobres sejam controlados, para que os países
concorrentes não os explorem. Por isso as chantagens descabidas, para citar dois
exemplos: o da Ucrânia, cuja condição para parar com a guerra, o país deve ceder para os Estados Unidos gratuitamente
as reservas minerais para pagar um suposta dívida de guerra e, no caso
brasileiro, com a taxação de 50% sobre os produtos exportados, quer em troca a
anistia dos golpistas de 8 de janeiro de 2023, para que voltem ao governo em
2026, mas por trás está o petróleo e as reservas de terras raras recentemente
descobertas em Minas Gerais.
As disputas são profundas e de longo
alcance. Quem conseguir melhor se colocar no controle dos minérios raros terá
garantida a possibilidade de desenvolver as altas tecnologias e controlar o
mundo pela intromissão centralizada em pontos estratégicos, de onde os algoritmos,
localizam, identificam e direcionam o tipo de intervenção que deve ser
desferida. No passado, no século XVIII, um sistema semelhante foi inventado
pelo filósofo Jeremy Benthan, para vigiar os presidiários, chamava-se “panóptico”
que, traduzindo, significa “ver sem ser visto”.
Por outro lado, as contradições são também
favoráveis. Elas movem as forças contrárias para formarem unidade de ação. Por
isso, é preciso acreditar que a onda incolor pode a qualquer hora tingir-se de
vermelho. Embora os sinais ainda não estejam evidenciados, há um movimento de
forças que preparam os enfrentamentos abrangentes. Podemos dizer que, num mundo
em disputa, vence quem souber se colocar a favor das mudanças revolucionárias.
Ademar
Bogo
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