domingo, 22 de abril de 2018

PIPOCAS PARA O PÚBLICO

       
Desde a Revolução Francesa de 1789 que aprendemos a analisar a política pelos binômios: direita/esquerda ou situação/oposição. É sem dúvida uma forma simplória, mas evidente para situar para que lado apontam os avanços e os recuos na luta de classes.
Por outro lado, sabemos que as contradições estruturais do capitalismo, vão muito além daquilo que nos proporciona o Estado com a sua sólida estrutura, presente em todos os lugares, desde os mais longínquos rincões até os maiores centros urbanos e, como uma serpente excessivamente alimentada, tem indigestões, cólicas e diarreias constantes, causadas pelos corpos malévolos ingeridos por meio de concursos públicos, nomeações ou alçados ao poder por meio de golpe de Estado.
O Estado capitalista, por meio de seus representantes, vive as agruras ou os dissabores da carga indigesta que carrega no estômago e que por natureza cheira mal. Mas também a carga indigesta formada pelos representantes vive as amarguras provocadas pela desarmonia que há entre as  realidades particulares e a vontade do estômago que os envolve, ou seja, as ideias não conseguem fabricar o mundo desejado em meio ao lodo malcheiroso.
O poder é uma força misteriosa; quem o tem, imagina-se um pouco acima dos demais humanos; quem não o tem, torce por aqueles que o tem ou suporta amaldiçoando os usurpadores dos direitos. Há por vezes indivíduos que, tendo o poder não o usam com profundidade necessária e, ao perdê-lo, notam o quanto poderiam ter radicalizado.
Na República, os poderes são tidos como “independentes”, cada um atua em sua função. Mas as funções que cumprem é de manter a mesma ordem, e ordem não é coisa que aparece sem sujeito; alguém sempre está por trás para emiti-las. No entanto, na base de todos os poderes está a riqueza capitalista, constituída pelas mercadorias, o dinheiro e o capital. Desses elementos vêm as ordens cotidianas que, pela força estrutural, delegam a um dos três poderes da república  a ordem de fazer valer o que ordenam.
Agora no Brasil vivemos o momento da expressão do poder judiciário que cumpre ordens locais e mundiais. Aí se vê como é, um indivíduo “sozinho” pode estraçalhar um pedaço da História, ou ajudar a reconstruir o lado contrário. No primeiro, vê-se que o indivíduo egoísta se deleita sobre as asas do poder; no segundo caso, se tudo ir bem, o sujeito reconstrói com a força da solidariedade a sua integridade e a integridade do país.
Todos sabemos que no governo Lula as forças de esquerda brasileira, dividiram-se e desagregaram as alianças. As forças de direita não perderam, mas, de alguma forma, ficaram silenciadas, até que a classe média, como cabo eleitoral da mídia e dos interesses imperialistas, com as dispensas cheias, resolveu bater panelas vazias e deu força para alguns juízes fazerem o teatro de uma cena prolongada com o final revelado no início da sessão.
Hoje festejam a vingança alcançada. Dilma cassada e Lula condenado: “missão cumprida”. Agora precisam encontrar um motivo para acender as luzes do teatro e anunciar que a peça acabou. O problema é que os “engomadinhos” adiantaram o texto e prenderam Lula muito cedo ou muito antes do inicio do processo eleitoral; por isso, o que tentam fazer é distribuir pipocas para o público, no escuro do cinema, se ocupe com os disfarces enquanto o tempo passa.
 Há males que vem para males. Se a interrupção do mandato de Dilma nada trouxe de melhoras, a prisão de Lula agravará ainda mais essas pioras para a direita, que imagina governar o país pelas telas das televisões.
Mas, se a direta erra, a esquerda não acerta. A união do que restou é muito pouco, é preciso que a peça tome outro rumo, para isso é preciso que, além de “Lula Livre”, se coloque em cena outros motivos que saiam da pauta eleitoral. O jogo da direita é no campo onde manda o juiz; o jogo da esquerda é nas ruas onde manda o povo.  
                                                                                                            Ademar Bogo

domingo, 15 de abril de 2018

AS ARMAS QUÍMICAS E A PRISÃO DE LULA



            Há diferentes formas de verificar a crise atual do capitalismo: econômica, política, jurídica, cultural, ética etc., seja qual for, nenhuma delas pode apresentar sequer alguma ressalva que defenda a continuação deste modo de produção que ora agoniza.
            Para além disso, os diversos aspectos da mesma crise apontam para dificuldades ainda maiores para o controle da ordem, pelas forças políticas e policiais. Quanto maior a insegurança maior deverá ser o grau de repressão e de punições que beiram as margens da loucura política.
            Nos períodos de insegurança social e política, os capitalistas sempre encontraram saídas que, de alguma forma mantiveram-se sob controle, como foi o caso das duas guerras mundiais que foram desencadeadas justamente para superarem as crises e ampliarem os domínios territoriais.
As crises constantes mostram que mudamos de fase, isto é, enquanto o imperialismo servia de conceito para revelar que o capitalismo vivia a sua fase superior  essa superioridade bastava para buscar o domínio de novos espaços, bastava utilizar-se das mercadorias, do dinheiro ou do capital, em caso de necessidade de forçar a entrada em territórios estranhos, acompanhava a força militar. Agora, embora o imperialismo ainda permaneça, a fase transmutou-se para a “globalização” que, juridicamente flexibilizou as barreiras nas fronteiras e por isso, a crise que se prolonga, diferentemente das outras, passou a usar a lei e os acordos e entre as instituições internacionais, para legitimar os desmandos.
É nesse sentido que avaliamos a frequência dos golpes de Estado realizados por meio de votações relâmpagos, em nosso caso, por um Congresso totalmente desmoralizado; prisões injustificadas, como a do Presidente Lula ou os ataques contra a Síria realizados nesta semana, com a desculpa de que lá existem armas químicas.
Os indícios passaram a figurar como fatos consumados, por isso, para aplicar as leis que favorecem os interesses do capital, não precisa de provas, basta insinuações, desconfianças, indícios ou uma simples delação, como ocorria no período da Santa Inquisição na Idade Média. Cassa-se o mandato, prende-se, bombardeia-se etc., depois se tenta provar que havia intenções ou não havia nada, mas se diz que havia.
Se fôssemos investigar e punir quem usa “armas químicas”, os fabricantes de pesticidas que constituem o capital que usufrui dos acordos globalizados, deveriam estar todos presos. O consumo no Brasil já chega o equivalente a 7 litros por pessoa, contaminando mortalmente 70 mil pessoas por ano com agrotóxicos proibidos ou legalizados. Sobre isto ninguém fala nada, nem ninguém desses que usam mísseis para afrontar as nações, saem em defesa dos Direitos Humanos.
Os capitalistas sabem que o capitalismo não tem mais como evitar a barbárie e por isso buscam descobrir formas de habitar outros planetas. O mundo está saturado de mercadorias e, a média de consumo é insuficiente para manter o rendimento do capital positivamente. Os capitalistas também sabem que para garantirem temporariamente mais espaço para algumas potências precisam desencadear a Terceira Guerra Mundial, mas, na situação de equilíbrio de forças e elevado nível tecnológico bélico, é temerária qualquer iniciativa nesse rumo.
Enquanto isso, os interesses econômicos e políticos manipulam as leis para que elas dêem legitimidade não têm. Nesse sentido, tanto a Síria quanto o Brasil estão no meio das disputas de interesses e, nada melhor para os capitalistas que livrar-se de líderes incômodos. Embora as forças a favor das transformações andem devagar, o planeta tem pressa; as mudanças virão quando os dois movimentos entrarem em sintonia. Ou seja, é hora de apressar o passo para que a roda História não nos deixe presos no lado debaixo.                                                                                                                                                  Ademar Bogo