domingo, 28 de fevereiro de 2021

A POLÍTICA E AS VISÕES DE MUNDO


            O psicanalista Sigmund Freud, em 1933, ao escrever sobre “A questão de uma visão do mundo” procurou nos mostrar que cada visão tem seus fundamentos; os que mais se destacam são aqueles vinculados às religiões e, também em grande medida são inimigas da visão científica.

            Historicamente, na convivência social, a religião cumpre algumas funções que as demais áreas do conhecimento não cumpririam. Ela procura sustentar a forma de conhecimento abstrato como a de confirmar a origem do universo pela via criacionista; promete proteção divina, acalmando o medo dos perigos da vida, como também ensina a suportar os sofrimentos, justificando-os como sendo um merecimento, caso não sejam cumpridos os preceitos e a orientações a seguir.

            A competição entre religião e ciência para alguns setores da sociedade, sempre foi intensa. Aparentemente, mal comparando, a religião seria o meio de transporte e a ciência a oficina procurada apenas quando o veículo já não se sustenta em movimento. Naturalmente, como um proprietário de um meio de transporte recorre muito pouco à oficina, a influência para formar a sua visão de mundo, vem de outras áreas que não a ciência.

A concorrência entre os tipos de visões é bastante desvantajosa para a ciência e muitíssimo vantajosa para as religiões, isto porque, o consciente e também o inconsciente de cada pessoa são influenciados desde os primeiros meses de vida. A educação religiosa é feita no ambiente família é continuada nas igrejas. O contato do indivíduo com a ciência dar-se-á com restrições, no ensino fundamental e médio e, com um pouco mais de vigor, sem muito senso critico, na universidade, quando o indivíduo já está indo para o final da adolescência, considerando a idade natural do processo educativo.

            Na medida que passamos a observar o processo que forma as visão de mundo, vamos considerar que ela influencia, em muito, todas as relações que estabelecemos na vida, principalmente aquelas que se voltam para a sustentação econômica, participação política, envolvimento com a arte etc., mas, em grande medida, as religiões e as ciências polarizam as disputas, senão diretamente, mas na intimidade de cada juízo.

            Dentre os argumentos convincentes que influenciam para induzir à formação da hegemonia religiosa, está este que diz serem as “verdades religiosas” eternas e as “verdades científicas” temporárias. Seja praticante ou não, a pessoa comum, só conhece a “verdade religiosa” e dela não se separa jamais. Mesmo na universidade, algumas verdades científicas, esbarram nas crenças religiosas e sofrem rejeição. Desconstruir a visão religiosa ingênua é quase impossível quando não há um processo de evolução de outra visão de mundo em andamento.

            Por outro lado, a força que pode fazer diferença e, sem negar a religião como parte da consciência social, mas impondo-se para elevar o nível de consciência do ser social em direção a ciência é a política. Esse investimento poderia ser empreendido pela organização partidária no âmbito da formação política de seus membros, como também por meio da participação em diferentes formas associativas em busca do bem comum.

            No entanto, vivemos um contraposto: as religiões funcionam, mas os partidos não. Esse fenômeno não é gratuito e vem de um longo processo de preparação e intervenção imperialista.

            Sem prolongar as explicações, lembramos já em outros estudos, que desde a década de 1980, as forças intervencionistas dos Estados Unidos, com a desculpa de defenderem as democracias e os direitos humanos, equipararam ao grau de inimizade, os governos de oposição, a lutas revolucionárias, o narcotráfico e a teologia da libertação. De lá para cá, as seitas religiosas pentecostais tornaram-se grandes empresas de comunicação e passaram a participar efetivamente dos processos eleitorais, formando bancadas de parlamentares e participando diretamente dos governos que ajudaram eleger. O último intento a galga para chegar no topo, são os degrau do poder judiciário.

            Por um lado, esse fenômeno que alastrou-se por todas as periferias urbanas e assentamentos de trabalhadores rurais, passou a constituir a base para que a “visão de mundo” religiosa, passasse a ser usada pelo núcleo dominante negacionista da verdade científica, como mote para a revolta odiosa sustentadora das reinvindicações das reformas que retiram os direitos sociais e facilitam a entrega das riquezas naturais ao capital internacional. Por isso não resta dúvida que o “negacionismo” mais do que a ideologia do ódio é um projeto de poder.

            Por outro lado, o mesmo fenômeno construído sobre o consciente e o inconsciente de cada indivíduo, foi favorecido pelo recuo das forças de esquerda e revolucionárias que deixaram um grande vazio na arte de fazer disputas. Os acordos feitos nos países da América Latina para as guerrilhas deporem as armas e o envolvimento cada vez mais apaixonado nas disputas eleitorais, aproximou as forças de esquerda e de direita nas disputas ordeiras cada vez mais engessadas pela legislação eleitoral e, identificou as mesmas nas formas de fazer política apenas nos meios de comunicação. O resultado, depois de algumas décadas, tirando a extrema-direita, os eleitores se deparam com as mesmas “visões de mundo” voltadas para o mesmo objetivo que é o desenvolvimento do capitalismo.

            Do ponto de vista da análise filosófica, sempre tivemos, no campo da politica os quatro setores: a) extrema esquerda, formada pelas forças revolucionárias; b) esquerda reunida em torno da tática eleitoral; c) centro-direita, ligada ao capital produtivo e c) extrema- direita formada por parcelas da burguesia, pequena burguesia, setor da financeirização e de indivíduos de posição nazifascista que, não por serem forças hegemônicas abrigavam-se nas entranhas dos projetos das forças de direita.

            Com a derrocada do bloco socialista, o desarmamento das forças revolucionárias e a domesticação da esquerda, institucionalizando-a que, não somente abandonou a sua visão de mundo e de combate, como também assumiu a visão desenvolvimentista do capitalismo, é como se tivesse ficado em funcionamento apenas o pólo da direita. Livre das ameaças, a extrema-direita burguesa, aliada às seitas religiosas, forças armadas e parte da pequena burguesia, apresenta-se para fazer a própria História, enfrentando, quando preciso for, as próprias forças de direita.

            O fim do pólo de “visão de mundo socialista”, pouco importando se era correta ou não, trouxe para a humanidade este vazio, como se o porta voz da utopia socialista tivesse se suicidado e, o seu lugar dele fora ocupado, em parte, pelas seitas religiosas e, em outra parte, pelo individualismo profissionalizante que busca nas tecnologias as respostas para os dilemas do rebaixamento dos valores humanitários.

            Não resta dúvida que é necessário e urgente reconstruir a “visão de mundo socialista”. Sem ela não existe horizonte, mas apenas o ódio imediato. Para que a extrema-direita seja derrotada é necessário que ressurjam as forças revolucionárias e recoloquem a visão de mundo socialista na pauta do dia. Caso contrário, o que teremos serão arranjos eleitorais que manterão em evidência as visões religiosas e nazifascistas como forças legitimas de disputas, comportando-se como canais de cooptação das massas que cultuam as verdades eternas e o negacionismo das verdades científicas.

            As iniciativas populares que lutam para manterem-se ou busca formas de reorganização no campo e na cidade, desligadas da “visão de mundo socialista”, não conseguirão combater a visão das seitas religiosas que já se entranharam nessas bases e nem tampouco irradiar uma esperança de que o capitalismo deverá ser superado. E, por usa vez, enquanto os “partidos de esquerda” continuarem insistindo na tática puramente eleitoral, teremos cada vez menos esquerda e sempre mais defensores da ordem capitalista.

                                                                                   Ademar Bogo       

           

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

O TERCEIRO REICH

 Calígula, na tradução do termo, “botinha”, apelido do  imperador romano Caio César, por desde pequeno gostar de usar esse calçado de tipo militar. Era possuidor de natureza extravagante e pervertida, tido historicamente como o mais cruel dentre os imperadores. Teve um governo curto. Reinou entre anos 37-41 quando foi assassinado pela própria guarda. Por não confiar bastante e ter restrições à fidelidade dos aliados, nomeou o próprio cavalo “Incitatus” como cônsul romano. Foi o terceiro imperador romano e teve um governo marcado por erros que provocaram diferentes crises, motivando-o a realizar reformas que levaram ao esvaziamento dos cofres públicos, obrigando-o, no final, pedir dinheiro ao povo para se manter. Na Alemanha também, o terceiro império (Reich), foi marcante e instalou-se entre os anos de 1933-1945 e foi governado por um verdadeiro carrasco, Adolfo Hitler.

No Brasil, no último triênio não tivemos um terceiro governo, mas três governos em um mesmo mandato que mistura muitas características dos reinados, romano e alemão. No entanto, invertendo a ordem, aqui nenhum cavalo foi nomeado ministro, mas muitos cavaleiros, calçados de “botinhas” integram a governança e não param de fazer extravagâncias, com leite condensado, chicletes e bacalhau; esvaziando os cofres públicos e praticarem perversões com o descaso da saúde pública.

Este governo, iniciado em 2018 no Brasil, sem abandonar a ideologia nazi-fascista, inaugura já o terceiro tipo. Primeiramente organizou-se para combater o comunismo, por se tratar, na ótica nazistóide de uma sombra ameaçadora de não deixar o “sol da mediocridade” brilhar e governar. Como as forças comunistas e socialistas foram desmanchadas como a gordura em brasas, nos governos anteriores e, por respeito ao princípio educativo de respeito à ordem em qualquer circunstância, as forças de oposição foram silenciadas; sem resistência, o “butinada” refluiu o ataque aos intelectuais, às universidades, a Paulo Freire e também, em certo grau, aos comunists.  

Em meio à crise econômica e com a chegada do exterior do coronavírus, foi preciso encontrar um novo inimigo, já que os comunistas não foram localizados e com o isolamento físico, as reações populares foram inibidas e reduzidas a alguns panelaços. No segundo governo, devido ao comprometimento do núcleo familiar e desavenças internas forjadas por não ter o controle sobre os órgãos repressivos, somado com o protagonismo dos governadores no combate a Covid-19, as instituições sustentadoras da ordem tornaram-se o alvo de perseguição. Os poderes Legislativo e Judiciário foram colocados na alça de mira com claras ameaças de serem abatidos. No fundo, como a causa para um golpe de Estado era pessoal criada por escândalos familiares, o presidente optou por mover algumas peças, desfazendo-se de aliados, retomou o controle dos focos ameaçadores e, também alguns governadores foram atingidos e recuaram.

No presente momento, inicia-se o terceiro mandato. Frustrado com as políticas neoliberais que não destravam os freios da economia, nem arrecadam dinheiro para o Estado,  inicia com o controle do Congresso Nacional, dando aos partidos aliados alguns cargos ambicionados e afagos às instâncias superiores do poder judiciário, mas volta-se para tentar controlar as empresas públicas produtoras de capital, contradizendo totalmente as diretrizes neoliberais, o que lhe valeu ser ele agora chamado de “comunista” pelo PSDB.

Os pilares estruturadores do terceiro governo, que durará provavelmente também um ano, embasam-se em três fundamentos: o controle do Congresso nacional, o incentivo ao agronegócio e a interferência nas empresas públicas, principalmente a Petrobrás. Nesta última a manobra pode favorecer os consumidores de petróleo, acalmar os caminhoneiros e, talvez contribuir para reeditar o auxílio emergencial às vítimas da pandemia, prevendo a manutenção de índices razoáveis de popularidade.

Esse conjunto de articulações permite dar aos aliados alguma satisfação e ajudar a diminuir os ataques inimigos. Para os deputados, cargos e liberação de emendas a cada votação; para o agronegócio, incentivos e armas para assegurarem as propriedades rurais; para a população em geral, a vacina, entendida agora como a única solução para amenizar a crise econômica e, para os miseráveis, o auxílio que garante a popularidade e cacifa o presidente como nome imbatível para a reeleição em 2022, ano que, provavelmente, se iniciará um quarto tipo de governo no mesmo mandato, com a volta dos ataques às instituições, às urnas eletrônicas com incentivo à desobediência à aceitação, se o resultado das urnas não for favorável ao partido militar.

Para as esquerdas, como um paciente sem senha para ser atendido, com essa tática legalista, sobra circular pelos ambientes a procura de um assento que ninguém quer ceder. Aparentemente está em pé, mas, como o paciente contaminado pelo vírus, está sem energia nem inspiração para sair fora do eixo do atendimento tradicional, por isso espera que alguém ou um acaso venha salvá-la.

Essa espera, porém, denuncia que a crença da relação entre “Esquerda” e “Estado” já não é mais nenhum mistério, isto porque, para chegar ao governo, a esquerda precisa aliar-se com as forças de direita, aliando-se torna-se força auxiliar para a implementação dos projetos dos capitalistas; se discordar, em nome da democracia, o governo é interrompido com golpes e rasteiras.

A situação política atual é semelhante à intuição de um paciente em dúvida se está contaminado pelo vírus ou não. Para saber se está, precisa ir ao hospital, mas, se não está, indo ao hospital, é quase certo que irá contaminar-se. Neste sentido, as forças de esquerda sem nada a oferecer nem a propor, defendem unicamente a volta do auxílio emergencial, mas sabem que, se for aprovado, quem ganhará com isso é o presidente da república e torna-se forte para disputar a reeleição.

Resta encontrar outras soluções. As ditaduras dão indicadores para as democracias agirem. Enquanto as primeiras enfrentam os descontentamentos com golpes dados pelas forças militares, as segundas enfrentam os desmandos com as forças populares. Por isso, se para as forças golpistas, as eleições só são válidas quando elas saem vencedoras, porque seriam as mesmas eleições vantajosas para os revolucionários quando vencem e são impedidos de governar?

O descompasso é tão grande que enquanto as forças de esquerda preparam-se para as próximas eleições, as massas preparam as mortalhas e enterram os seus mortos a espera de um auxílio que as compre para ficarem caladas. E não agem errado. Cumprem temporariamente com as suas obrigações. Nós que ainda comemos e escrevemos, pensamos como Jean-Jaques Rousseau quando declarou que: “quando um povo é obrigado a obedecer e o faz, age acertadamente; assim que pode sacudir esse jugo e o faz, age melhor ainda...”.

Torçamos para que as forças partidárias, movimentos sindicais e sociais se dêem conta que o povo agirá melhor ainda, mas só estará com ele quem achar que consciência é consciência e não uma mercadoria, e que, democracia não é votar e delegar o poder, mas assumi-lo, destruindo e superando todas as estruturas e mediações que asseguram a exploração, a desigualdade e as injustiças.

                                                           Ademar Bogo

   

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

A MORTE MILITANTE


            Um indivíduo dado como morto é um defunto. Deve ser enterrado e pode ser esquecido ou não, depende da causa de sua morte. Se por homicídio, será lembrado nos tribunais; por acidente, na perícia; por genocídio, nas lutas. Temos, portanto, no tempo presente duas causas que nos motivo: a causa de morte e a causa política.

            O morto possui pelo menos duas funções sociais: a primeira, alertar que ele é você amanhã e, a segunda é permanecer entre os vivos pressionando os juízos para que a causa da morte não seja esquecida. É nessa combinação que a morte entra na militância e instiga os vivos a se posicionarem a favor das lembranças e não do esquecimento. Foi assim que o filósofo Karl Marx descobriu e escreveu no “18 Brumário” que, “a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

            Quando os mortos lembrados aparecem, tornam-se pesadelos para os inimigos vivos. Quem são as gerações mortas? São aquelas pertencentes aos indígenas massacrados desde o início da colonização; são as gerações primeiras dos escravizados mortos nos porões fétidos dos navios que traziam homens e mulheres para serem usadas, violentadas e mortas nas lavouras, nas senzalas, troncos e pelourinhos; são os imigrantes pobres, colonos, famintos deslocados para povoarem o território sem qualquer tipo de assistência. São gerações que sucederam gerações e trouxeram no corpo as marcas da crueldade civilizatória em busca de um futuro melhor; são as gerações asfixiadas pela pandemia, mortas sem oxigênio em regiões de florestas por desleixo e pouco caso das autoridades que já estão desautorizadas a governar.

            Como as gerações mortas voltam? Na vida de seus descendentes. As gerações atuais são conseqüências das causas que maltrataram as gerações passadas. Se tais causas não foram eliminadas, continuam a fazer vítimas. Nesse sentido, descendem das gerações mortas, os exploradores e os explorados.

            Os mortos anunciam que o futuro chegou. Os que estamos vivos e explorados, somos o resultado da História nacional, sem nunca termos conseguido edificar uma nação respeitada por si mesma. Somos as etnias miscigenadas que nunca conseguimos eliminar o preconceito, o racismo e o machismo. Somos os herdeiros e herdeiras da pobreza e da miséria evoluída ao lado da riqueza construída com as nossas mãos. Somos os democratas, anarquistas, socialistas, comunistas que nunca experimentamos a verdadeira democracia econômica, social e política. Somos aquilo que Marighella, Prestes, Florestan Fernandes e tantos outros disseram, que seríamos as” gerações futuras”, mas que pioramos em muito o nosso destino.

            A pergunta que nos fazem os mortos do passado e do presente é, de que valeu tanto esforço, dedicação e militância se as causas das mortes não se tornam uma causa política?

            Os mortos do passado e do presente nos pressionam. Eles nos alertam para lutarmos contra os mitos. Eles nos dizem que a globalização é a continuidade da colonização. Agora com legitimidade jurídica, saqueiam as riquezas e cobram em dinheiro o pagamento das dívidas públicas acumuladas e por isso o Estado é a instituição do capital. Eles nos alertam que não devemos temer as ditaduras porque elas sempre existiram travestidas de “democracia representativa”, que centraliza as decisões nas mãos de um presidente da república, de um um presidente do Congresso Nacional que, diante de 60 pedidos de impedimento nega o início do processo de cassação do chefe do executivo. A “democracia representativa” é uma composição por delegação que segue o lema: “Saiba pedir, que saberei não dar”.

            Os mortos pressionam os cérebros dos vivos porque nos querem vivos. Viver nesta época de presença da morte é lutar, denunciar, responsabilizar e exigir. Um país não é um presidente, um exército ou um sistema financeiro. Um país, acima de tudo é o seu povo. Se o poder dele emana é preciso que por ele também seja exercido. Representantes são servidores que servem enquanto servem; deixando de servir devem ser desalojados dos cargos.

            Os mortos também nos alertam que há saídas e permanências. Querer sair é enfrentar para superar as causas estruturais da morte. Querer permanecer é agarrar-se no “pau do galinheiro” eleitoral, para prometer mais hospitais, mais auxílio, mais emprego, mais escolas ... até que uma nova invenção de falsas pedaladas coloque tudo a perder, principalmente o tempo e a ilusões. O tempo já mostrou que o legal para os capitalistas é válido enquanto eles ganham, quando começam a perder, mudam as leis.

            Os mortos nos alertam que, se queremos o capitalismo devemos formar frentes amplas, disputar eleições e governar para todos, conforme prega a ordem estabelecida ou o “Estado Democrático de Direito”. Assim, reuniremos esforços para favorecer o capital: descobriremos mais reservas de petróleo, ampliaremos a produção agrícola, aqueceremos o mercado de massas, subsidiaremos as indústrias; manteremos as taxas de juros elevadas para agradar os Bancos, pagaremos em dia os juros da dívida pública e seremos respeitados no G20.

            Os mortos nos ensinam que, militância é feita com incômodo e perturbação. O pesadelo dos políticos é o povo revoltado. Apesar das dificuldades temos duas razões fundamentais para lutarmos: estamos vivos e somos amigos das gerações mortas. Eles nos dizem que o final é um começo. E, começar é não repetir. É não se iludir. É não se prostrar. É não errar. Mas,  o que vemos? A esquerda burocrática, sem organização nem mobilização, domesticada pelas práticas assistencialistas, exigindo a volta do auxilio emergencial. Sabem esses burocratas da política,  porque já estiveram no governo, que as massas votam em que lhe estende a mão. Veja a contradição, lançam um candidato a presidente, sem mobilização, enquanto articulam para que seja aprovado o auxílio emergencial. Quem elegerá então o próximo presidente da república?  

            Os mortos querem o paraíso, ao contrário dos que vivem e defendem o capitalismo, que querem o inferno. Como os mortos, militamos pelo paraíso que é o socialismo. Eles, desapegados de tudo, até do próprio corpo, nos mostram que o futuro será melhor se quisermos e planejamos o melhor.

            Os cúmplices dos governantes genocidas são genocidas também. Os cúmplices dos projetos burgueses, geradores de fome, pobreza e violência, são matadores também. Os mortos, os pobres os trabalhadores, nada temos a perder, como disse Marx, “mas um mundo a ganhar”. Só a luta enfrenta a morte e os matadores. É tempo de exigir rápida vacinação, para que se inicie o novo tempo da revolução.

                                                                                  Ademar Bogo