domingo, 24 de março de 2019

DA PEQUENA POLÍTICA À POLÍTICA PEQUENA


                
            Antônio Gramsci ao caracterizar a grande e a pequena política, nos mostrou que, enquanto a primeira é alta e luta pelo engrandecimento das estruturas econômicas e sociais, a segunda é baixa e se atém às questões parciais e cotidianas com permanentes disputas entre as diversas frações da mesma classe dominante. Valem tais qualificações também para o relacionamento internacional. Enquanto a grande política presa pela estatura de cada Estado para realizar as disputas entre os mesmos, a pequena política não faz nenhum esforço para zelar por sua autonomia e o equilíbrio entre as forças.
            Compreendemos que, se existem a “grande” e a “pequena” política, é porque também existem grandes e pequenas nações. Quanto à grande nação, já não a reconhecemos e, da pequena, podemos dizer que ela está encolhendo. O motivo é porque a política internacional adquiriu os hábitos da pequena política e, internamente, passou a figurar como uma “política pequena”.
            Na política pequena, o sujeito político é indeterminado. Não é a classe propriamente que se articula por meio da coesão das ideias, nem há o indivíduo que se levanta como um estadista capaz de direcionar um programa articulado. Nesta política aquele que deveria ser o maior apresenta-se como o mais desqualificado.
            Na política pequena, a família está acima do partido político, da estrutura de poder e dos interesses políticos da classe fracionada, pelo ódio, ansiedade e insegurança. É na política pequena que o pai toma as dores dos filhos e os filhos tomam a posição do pai para emitirem opiniões desastrosas; jogam farpas ao invés de palavras contra os potenciais aliados, para forçá-los a enquadrarem-se no padrão de comportamento concebido no recinto do lar maior.
            Na política pequena, o “governante maior” é tutorado e, mesmo assim, devido ao despreparo intelectual, quando se comunica comete desatinos com as palavras. Geralmente fala pouco, mas quando fala pela manhã, obriga-se a lançar uma nota de esclarecimento à tarde para desmentir o que afirmou.
            Na política pequena, o governo não tem programa, tem travessuras a cumprir. As travessuras são ataques contra os sindicatos, os aposentados, os professores, aos jovens que morrerão pelo policial que atirará protegido pelo indicador da “legitima defesa”; é o xingamento aos imigrantes locais que vão trabalhar no território do império etc.
            Na política pequena, as relações internacionais transformam-se em visitas cujas mãos vão carregadas de presentes. Leva-se a liberação de vistos sem nada pedir em troca; uma base de lançamento de satélites; os joelhos para louvar o imperador e uma camisa com o número dez para dizer que ele, no jogo intervencionista é o melhor jogador do mundo. 
            Na política pequena, os Bancos comandam as reformas e o governo emite dois tipos de carteiras de trabalho: azul e verde e amarela. A primeira é para aprovar o engano imediato, a segunda, para aprovar o engano futuro. No fundo valerá para os dois tipos, o direito a disputar uma vaga de trabalho intermitente que obrigará a completar, com uma parte do salário, a contribuição para a previdência privada gerenciada pelo capital financeiro.
            Na política pequena, os ministérios “guaipeca” latem muito no pé da goiabeira, para distraírem as atenções e facilitar os buldogues abocanhem a economia e a justiça imponha leis e reformas favoráveis à visão esconjurada pelas pessoas conscientes.
            Na política pequena, o parlamento e o poder judiciário devem marchar o passo do executivo estabanado. Daí o perigo do princípio do “vale-tudo” avalizar a prática das chantagens, das intimidações, prisões encomendadas e das promessas de possíveis fechamentos dessas instituições.
            A política pequena é estreita, cada vez mais engessada pelos próprios movimentos, medidas e falas. Como em um jogo de baralho, a política é feita por “rodadas”. Se no jogo o perdedor se endivida com dinheiro, na política endivida-se com a perda da autoridade e com a baixa popularidade. Estamos no início da perigosa rodada da reforma da previdência; podemos estar no início do tremor que poderá pôr abaixo a autonomia do Congresso Nacional com o seu fechamento pelas forças armadas que tutoram o governo, para impor a reforma por decreto; ou pelas mesmas forças derrubarem o presidente da República substituindo-o pelo vice e implementarem um outro método de relacionamento e de reunião de forças. O que definirá uma opção de outra será o tempo da demora para jogar cada carta. Mas o certo é o certo, ou o partido armado se desmoraliza junto com  o decadente político.
            Ao povo não cabe a política pequena desbocada, nem a pequena política educada. A luta é para afirmar os  direitos e pôr barreiras à presença imperialista em território nacional. A pátria livre começa pelo simples gesto de levantar a cabeça em direção para onde seguirá a marcha.  
                                                                                                                    Ademar Bogo


domingo, 17 de março de 2019

INFERNAR OS INFERNIZADOS


                                                      
O filósofo Nietzsche ao falar de Zaratustra que ouvia o “adivinho”, o qual dizia que, “espalhou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: tudo é vão, tudo é igual, e tudo passou! E das colinas o eco respondia: Tudo é vão, tudo é igual, tudo passou!”
Tão importante quanto a doutrina é o eco da doutrina. Ela repete após bater em todas as colinas, principalmente naquelas que guardam a dureza da ignorância. E, os males da doutrina, se são perversos quando ela vai, muito mais perversos são quando ela volta, trazida pelo eco.
Então o eco doutrinário retorna dizendo que: “tudo é vão”, ou seja, “tudo é vazio”, nada há na doutrina que seja aproveitável e, quando o eco bate nas consciências, nada deixa de bom, apenas ódio, medo e preocupação. No instante do toque, o vazio é preenchido com aquilo que não faz sentido, mas se constitui em tragédia que ocupa o espaço com o sofrimento.
 Depois, “tudo é igual”: a violência “ideal” e a violência “real”. A violência ideal é aquela que as ideias praticam a apologia das armas, o preconceito, o racismo etc. Como disse Aristóteles: tudo o que existe na realidade passou antes pelos sentidos. A doutrina é composta por ideias. A violência antes de ser real é pensada, planejada, “miliciada”, executada e disfarçada. A doutrina oficializa as armas, o eco seleciona aqueles que apertam os gatilhos.
E, por fim, para a doutrina, “tudo passou” porque livraram-nos do socialismo. E nós dizemos que nem tudo passou. Há repetições e recriações, isto porque, só passou aquilo que passou, mas não passou aquilo que virá; porque o eco da doutrina volta com soluções, como esta que, “É preciso armar os professores”. O dia que sobre a mesa do professor houver uma arma ao lado de um livro, as escolas tornaram-se presídios ou importantes barricadas. Por isso, nada passou se o eco ainda não cessou.
Mas a doutrina segue pelo eco da mentira. Tudo é falso, menos a falsidade. Há poderes pequenos que crescem quando afirmam a sua independência e há poderes que decrescem quando se submetem. Porém, há poderes que se arrasam quando fazem do atraso a doutrina da sua condução.
Assim sendo, a “terra arrasada” é ainda mais perigosa de quando estava se arrasando. Os ecos da violência e das políticas destrutivas repetem-se sem parar. A ignorância nunca foi boa companheira da sabedoria e sempre piora quando ela se alia à mentira. A mentira doutrinária não é um engano. Enganar-se é um ato natural. A mentira é propositalmente construída. Ela quer dizer somente o falso.
Uma política mentirosa é também enganosa porque induz a pensar com sinceridade, aquilo que é proposto para satisfazer os interesses dos doutrinadores. Então, defendem as reformas e o combate à corrupção, como saídas para superar as crises. O interessante é que reformam apenas aquilo que afeta os direitos sociais e, para fazer tais atrocidades, compram voto a voto dos “representantes”, não do povo, mas dos grupos constituídos e doutrinariamente prostituídos.
Por outro lado, nos porões da República, ninguém fala que irá “reformar a dívida pública”; esta precisa ser paga, dizem eles. Há que privatizar o que ainda resta, para pagar aos grupos “mais necessitados” entre os capitalistas, que estão ansiosos para ampliarem os seus acumulação.
A doutrina da dependência não passou; pior, voltou a enraizar-se ainda com mais força. A dependência é válida quando há trocas solidárias. Quando há apenas um instinto de grandeza em jogo é uma escravização. Nada mudou do colonialismo ao imperialismo; dá-se ao dominador aquilo que ele precisa para sanar as suas deficiências. E, a justificativa é que é preciso aliar-se a quem tem a mesma ideologia.
Sobre isto, a ignorância não estaria ao todo errada, se o mundo não vivesse a economia de mercado. Daí é que, o princípio capitalista diz que, não importa se um bêbado, um doutor, um árabe ou um cristão queiram trocar dinheiro por mercadoria; é a quantidade de valor que realiza as trocas e não a ideologia de cada um.  A questão é saber se o mundo governado pelas mercadorias respeitará a doutrina fascista, racista, homofóbica etc.?
Por outro lado, ingenuidade tem hora. Os opositores  não os enfrentarão os doutrinadores correndo atrás das pautas secundárias. O projeto de enfrentamento ao imperialismo tem que estar fundamentado na teoria socialista e não nas reformas capitalistas. Mas, o que vemos, é o desejo de aconselhar e defender os capitalistas que poderão ter prejuízos causados pelos equívocos doutrinários, que distanciam os árabes, os chineses, os indianos e outros mais, dos produtos de exportação. 
Tal qual disse o diabo a Zaratustra: “Deus também tem seu inferno.” O nosso é doutrinariamente e materialmente construído pelos dominadores. É preciso evitar entrar nele para não ter que gastar tempo para sair. O tempo a ser gasto é para mandar o inferno para o inferno. Para isso é preciso infernar os infernizados pelas máscaras das tragédias e doutrinas mentirosas com ações. É fazer com que a maioria saiba se convença que somente ela pode se governar.  
                                                                                  Ademar Bogo

domingo, 10 de março de 2019

PREOCUPAÇÃO DA COTIDIANIDADE



            O filósofo tcheco, Karel Kosik, descreveu que “não é o homem que tem preocupação, a preocupação é que possui o homem”. Por isso ele pode vir a se libertar dela, mas não pode eliminá-la. Em síntese, a preocupação é o mundo entrando no sujeito, porque, o indivíduo não é aquilo que ele crê, nem o que o mundo crê, mas parte de uma conexão em que desempenha um papel na cotidianidade.
            A cotidianidade representa a vivência cotidiana da existência humana. Cada qual procura viver de acordo com os padrões ditados pelas suas preocupações. É na vida de cada dia que nos expressamos, cativamos ou revoltamos aqueles que conosco convivem. O cotidiano é soberano porque é certo que vem e passará. Acima dele há o tempo que passa, marcado pelas preocupações expressas pelo conjunto das relações sociais efetuadas.
            Há dias que apenas vivemos. Há outros dias que comprometemos os próprios dias vividos. Fazemos ou dizemos coisas que infectam o ambiente social. Na antiguidade, a cotidianidade era pacata, a vida de cada um era semelhante à de qualquer outro ser. O amo e o seu escravo viviam acompanhados; o servo e o seu senhor, no pacato feudo, se viam e se reviam a todo instante. Serviam e serviam-se como se nada mais existisse. No capitalismo o dinamismo tomou conta das imaginações e, cada qual passou a existir segundo as próprias preocupações. É o egoísmo do individualismo manifestado na cotidianidade da personalidade preocupada, mas é também a relação da busca da integração, da defesa dos direitos, da organização política e da formação do ser consciente.
            É certo que ainda vivemos cotidianidades semelhantes. A repetição do dia a dia, para muitos é ainda natural. As coisas são como são e, em certas preocupações alienadas não há esperança de modificá-las. Nesse caso, a continuidade da preocupação é a norma da cotidianidade.
As decepções funcionam como desautorizações das preocupações. Ao ser aceita, a negatividade, acostuma-se com ela. No entanto, a História “deixa de correr solta” quando os fatos constantes surpreendem a ordem do dia. Há fatos criados circunstancialmente e outros criados propositalmente. O que muda entre os dois, são as preocupações: o primeiro diz respeito ao que se pode e, o segundo, ao se quer alcançar. É o grau do engajamento que classifica a preocupação de cada um em cada momento.
            De qualquer modo, tudo é História: o posto e o contraposto. Vence e fica no livro de memórias quem dos dois marcar mais. O insignificante também marca pela insignificância, mas a História, ao avaliar a sua importância, pode valorizá-lo ou não. Não valorizado, a cotidianidade registra com sua superioridade, o grau da mediocridade despreocupada que diz e desdiz sem se preocupar, mas, pela importunação, faz surgir a preocupação que atinge a coletividade.Logo, ao preocupar o coletivo o medíocre pode estar ferindo o próprio umbigo.
            Se atentarmos para as preocupações, podemos descobrir, na cotidianidade, as maluquices mal ditas com status de verdade. Como esta de que a democracia e a liberdade dependem das armas. Se assim for, o cotidiano presente, despreocupado, esqueceu-se do passado e, assim sendo, o poder já é um todo dependente de um “partido armado”.
            Esse partido, formado pela minoria, quer, na cotidianidade,. com as armas, impor a mentira à maioria. Em qualquer tempo, quando as forças armadas assumem essa posição, é porque já não protegem a nação, mas grupos privilegiados. Logo, a preocupação, não é com o corrupto, nem com o aposentado do futuro, mas com o furo no casco do navio que está sendo afundado.
Pode ser que certas mentes inferiores captem os rumores e, depois como “atos falhos” revelem, na cotidianidade, aquilo que foi dito de verdade. Daí a dúvida, se tudo aquilo que é falado e depois renegado são “atos falhos” ou recados? De qualquer modo há de se ficar preocupados, pois, um poder que, a cada fala pública conota-se a uma confusão, e precisa de uma nota para desdizer o dito, já não se pode crer sem temer.
            Uma mentira muitas vezes reeditada seria de fato uma verdade ou apenas uma mentira aceita e despreocupada? E as bobagens ditas com frequência, não teriam elas a mesma intenção de consequência para levar à acomodação das forças acordadas? Ou, quem sabe então, as bravatas e as encenações serviriam apenas para atrair as atenções para tornar a cotidianidade vazia de criatividade?   
            É incompreensível um poder manter-se por inteiro, funcionando, com uma parte de ministros verdadeiros e, com outra parte com ministros “chacoteiros” que, como alunos de um “guru” desconversam as “políticas do mal”. Outros, desta mesma parte, mergulhados no imenso lamaçal da corrupção, que já alcança as barrancas onde se abriga o clã, querem impor a sua moral.Teria o mundo vivido algo igual?
            No entanto, para não piorar é preciso pensar na cotidianidade das esquerdas. O que foi feito, o que se faz e o que não se desfaz. A questão a ser colocada para as discussões é: onde estão colocadas as nossas preocupações?
Além de tudo é importante compreender que o tempo que passa é o mesmo que liberta ou amordaça. Como as preocupações são desiguais em cada lado, ficar livre ou torna-se amordaçado, depende daquele que acerta ou erra a fraqueza da força que está do outro lado.
            Por outro lado, as preocupações individuais e coletivas podem pertencer a um tempo de dilemas já passado e superado. No tempo que reagir favorecia as forças de direita, não renderam colheitas. Tal existência já não cabe em nenhuma forma de consciência.
            É verdade que há existências vivas e existências mortas. Há preocupações corajosas e covardes. Todas elas ocupam o tempo que passa. Colocar-se acima da cotidianidade é uma forma de ver o que pode vir a ser. E o que pode vir a ser daquilo que poderemos ver?
            As preocupações podem ser centrais ou secundárias; alienadas e manipuladas que, pela repetição se incorporam aos hábitos, e já não servem mais para nada. Por isso, é preciso observar aqueles que veem no Estado a solução e pensam substituir, na cerca, uma estaca ruim por mourão mais forte. São os mesmos que correm para salvar os produtores do Norte,aqueles que sustentaram o golpe. No mais, as preocupações devem prever os futuros castigos e decifrar quando os “amigos” entregam-se como amantes dos eternos inimigos.
                                                                       Ademar Bogo

domingo, 3 de março de 2019

A LEGISLAÇÃO SANGUINÁRIA


           
            Quando tomamos para a interpretação o vocábulo “sanguinário”, vem-nos à mente a atração de alguém pelo derramamento de sangue ou as ações de violência que se destinam a tirar a vida de inocentes.
            Karl Marx ao tratar da “acumulação primitiva” mostra que ela teve início da mesma forma que o pecado original, pois, se Adão mordeu a maçã, de imediato o pecado contaminou a humanidade inteira comprometendo aqueles que nada tinham a ver com aquele fato. Da mesma forma ocorreu com a acumulação de capital que, moralmente teria surgido de uma elite trabalhadora, inteligente e econômica nos seus gastos e, de outro lado, crescia uma população de vadios que gastavam mais do que tinham. Se pelo pecado original todos foram condenados a comer o pão com o suor do rosto, na economia, um grupo escapou a isto e por saber acumular, continua comprando a força de trabalho daqueles que não sabem e não podem fazer essa operação.
            Para essa população, pobre, pecadora e vendedora da força de trabalho, precisou elaborar, no século 15, iniciando pela Inglaterra, uma “legislação sanguinária”. Tudo começou com a expulsão violenta dos camponeses que se dirigiram para as cidades em grande quantidade que não podiam ser absorvidos pela indústria e muitos transformaram-se em mendigos e vagabundos perdidos pelas ruas.
            Na Inglaterra em 1530 surgiu a primeira lei permitindo aos velhos, incapacitados de trabalhar, uma licença para pedir esmolas. Mas os vagabundos sadios seriam presos e flagelados ou amarrados e arrastados atrás de um carro até que o sangue corresse pelo corpo, depois disso teriam que fazer um juramento de voltar à sua terra natal ou ao lugar onde viveram os últimos três anos. Mais adiante a lei foi ainda piorada e, para os reincidentes, na primeira vez, além das torturas já citadas eram-lhes cortada a metade da orelha, na segunda, seria enforcado como criminoso e inimigo da sociedade.
            No Brasil de 2019 com a “reforma da previdência” estamos voltando ao ano de 1530, quando os camponeses e pobres em geral são considerados vagabundos e excluídos dos direitos. Diversas leis tem gosto de sangue e rumam para a legitimação da miséria, dos assassinatos e da violência.
            O endurecimento das leis quer punir os mais velhos. O aumento da idade mínima de 65 anos para homens e 62 para as mulheres para se aposentarem, reflete essa clara intenção de distanciar cada vez mais o acesso ao benefício aos idosos. No entanto, para ter 100% da aposentadoria precisa trabalhar 40 anos. ou seja, para quem atingiu a idade e contribuiu por 20 anos, a aposentadoria começa com 60% do valor e passa a crescer 2% para cada novo ano trabalhado. Em nosso país, as crises econômicas são constantes e as taxas de desemprego são sempre elevadas, no serviço privado raramente alguém atingirá o máximo do tempo de contribuição para receber a aposentadoria integral.
            O Benefício de Prestação Continuada para idosos pobres é antecipado em 5 anos, mas o valor é de apenas R$ 400,00. Para receber um salário mínimo completo terá de completar 70 anos. É para essa categoria que a maioria dos trabalhadores rurais irão, isto porque, de agora em diante terão que contribuir durante 20 anos para a previdência. A contribuição é de R$ 50, 00 por mês ou R$ 600,00 por ano. Tomando por referência os dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), de 2010 mostram que a renda familiar é de R$ 312,74, isso confirma os dados do IBGE de 2018 que temos no Brasil 54,8 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
            A legislação sanguinária avança contra os direitos de outras categorias como professores e pensionistas que passarão a receber 60% do valor real estabelecido. Isso tudo tem os seus complementos em outros projetos, como o que facilita a posse de armas e o pacote “anticrime” com o atenuante do “excludente de ilicitude” para justificar os crimes praticados por policiais que alegarão legitima defesa.Isso facilitará para que os pobres e mendigos não sejam arrastados, nem tenham as orelhas cortadas, pois serão mortos em nome da lei.
            Poderíamos seguir demonstrando as artimanhas sanguinárias do “bolsonarismo” que tenta mostrar serviço para os capitalistas para que o seu governo não acabe afogado com a própria saliva. Quanto a isto é importante frisar que este é um governo sanguinário, mas não e ingênuo. As trapalhadas vêm do excesso de confiança emprestadas pelos Estados Unidos da América, que faz o papel de fustigar para que os cães corram atrás das caças, enquanto o governo de lá acerta as suas crises internas.
            Para além disso, é importante reservar o direito da dúvida, para não acreditar que os desvios, ofensas e expressões malucas que alguns ministros fazem uso, bem como os filhos do “clã”, porque geralmente elas surgem quando precisam desviar as atenções para algo grave que se denuncia. Cumprem um papel de ocupar os críticos, parlamentares e forças políticas a gastarem os dias, procurando coisas no vazio e comentando as asneiras que, “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, que o brasileiro quando viaja é “canibal” e “ladrão” e que se deveria filmar as crianças cantando o Hino nacional com gritos de “Brasil acima de tudo; Deus acima de todos”.
Observemos que os ministros que atuam em setores estruturais pouco falam e muito tramam. É importante despertar para a verdade de que o que está em jogo não são bravatas e as expressões da linguagem malcriada, mas a soberania nacional e as perspectivas de superação do capitalismo.
Quanto antes voltarmos para o campo das disputas políticas que sustentam o projeto oposto, mais cedo sairemos desse lamaçal criado pelas forças de direita para implementarem as reformas estruturais que beneficiam o capital.
                                                           Ademar Bogo