domingo, 12 de dezembro de 2021

OTIMISMO E PESSIMISMO

            O filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), em sua “Teodicéia”, preocupou-se em justificar, o por que se Deus é bom, existir o mal no mundo? Para ele havia três tipos de males: metafísico, físico e moral; todos eles causadores de desarmonia. O seu otimismo com a criação do mundo perfeito, por intermédio de um ser perfeito que, por ser o melhor, somente podia criar o melhor e, seja por sua natureza, seja pela sua bondade, Deus não poderia agir de outro modo. O pessimismo, no entanto, estava no mal. Este era visto como “acidente”, surgido e desenvolvido no percurso da vida humana. Se quisermos uma conclusão primeira dessa elaboração de Leibniz, é que, se Deus é um ser perfeito o homem é um ser “acidentado”.

            No entanto, depois de motivadas as tipificações do mal, obrigou-se o filósofo a explicá-los. O mal metafísico, descreveu ele, estando na própria origem humana, constituída de sua necessária finitude, afinal, algo a menos devia possuir da perfeição de seu criador, porém, esta imperfeição tornou-se a condição para o surgimento de todos os males. Podemos acrescentar nessa caracterização específica, o mal das ideias, pensamentos, consciência ou, como diziam os filósofos mais antigos, “do espírito”.

            Decorrente do mal metafísico, justificador da imperfeição espiritual do ser humano, há o “mal físico”, cujos sintomas estão em todas as dores que, se por um lado revelam as fraquezas humanas, por outro lado poderia ser visto como uma cobrança e também como punição pela má direção dada à organização social. E, por fim, o “mal moral” voltado prioritariamente para a imperfeição do comportamento, no que diz respeito aos aspectos afetivos e passionais, formuladores das ações propulsoras da perda da liberdade.

            As proposições de Leibniz, mais do que segui-las, nos fazem pensar sobre os freqüentes embates reais e imaginários, do otimismo com o pessimismo da vida cotidiana. Ou seja, em certos aspectos nos animamos e agarramos as oportunidades; já, em outros, sentimos um mal-estar e, pelas tendências apontadas, ficamos desapontados ou no mínimo desesperançosos.

            Há sem dúvida os males metafísicos fortalecidos nas ideias negacionistas sem qualquer materialidade comprovável e que, nos últimos tempos, reuniram em uma mesma elaboração, tudo o que ruim foi pensado no passado. Dentre as ruindades mentais, estão o nazismo, o fascismo e o integralismo, como expressões das concepções da civilização destrutiva.

            Por outro lado, não se pode fechar os olhos para o agravamento do males “físicos”. A proliferação das doenças, epidemias e pandemias, ditam, praticamente, o ritmo do desenvolvimento econômico, do comportamento político e das relações sociais. São dores que atingem todas as espécies e males irreparáveis. A fome atinge os animais selvagens e os homens que parecem sobrar sobre a terra e, a própria violência vigora com tanta regularidade que, as estatísticas podem, com certeza, fazer as suas previsões antecipadas.

            Combina-se com os dois males já tipificados, o “mal moral”. O comportamento humano moldado pelos avanços tecnológicos transformou cada indivíduo numa máquina de eliminação de produtos. O desejo em consumir, dita como cada um deve se posicionar para devorar a sua “próxima vítima”. As relações se dão cada vez mais com os objetos e cada vez menos entre os seres humanos. Aliás, a alienação acelera a coisificação e tudo se move com esse entendimento, de que a realidade cotidiana constitui-se de coisas fabricadas, carregadas, trocadas e destruídas por coisas vistas como sendo inteligentes.

            E diante do caos, surgem os “arautos”, anunciadores das perspectivas de sucesso. O progresso econômico é a base de todas as anunciações e, ele virá pela mágica que o Estado capitalista operará logo após a ocorrência do batismo nas águas do processo eleitoral. Mais de uma dezena de candidatos à presidência da República já estão postos, um ano antes do pleito. Apresentam-se como “coisas da política” para gerirem a “coisa pública”. Mas a “coisa pública” é a realidade social tomada pelos males metafísicos, físicos e morais, alimentados por esta potencial indústria de fabricar desigualdades: o sistema capitalista   

Sendo assim, os “inventores do mal”, não negam existir as imperfeições, classificam-nas em: mal maior e mal menor. Com esses dois parâmetros jogam com as inversões. Hoje por exemplo, o mal maior não é o capitalismo, mas um “polipata” instalado no governo. Tirando-o tudo voltará ao normal? Mas para quem? Por essa ilusão e confusão, temporária ou definitivamente desaparecem os princípios, a coerência, as contradições de classe, as forças armadas forjadoras de golpes, o imperialismo e tudo o mais.

            O mal, quando personalizado ganha uma simbologia que confunde a essência com a aparência e leva à alienação. Por mais evidente que pareça o mal não se origina no indivíduo e, por isso, não basta retirar o incômodo, como faziam as máfias no passado ou fazem hoje as milícias e narcotraficantes, para abrirem espaços para o crime. O mal se origina nas mediações injustas criadas na sociedade. Logo, o mal tem origem coletiva. Somente com a eliminando das estruturas injustas, coletivizadoras o mal, será possível superar as perversidades humanas.

            É bom sermos otimistas, mas lutar sempre com consciência de que a transformação social passa pela implosão das estruturas abrigadoras dos causadores de todos os males.

Ademar  Bogo 

                  

 

 

domingo, 21 de novembro de 2021

A NOVA MORADORA DE RUA

          O filósofo Nietzsche, em sua “Genealogia da moral”, nos diz que, “não nos é permitido enganar-nos nem encontrar a verdade por acaso”. A razão para este entendimento está, certamente, em mostrar que não devemos confiar demais nas evidências superficiais e nem considerarmos como verdadeiro apenas o fato depois de acontecido; os processos também são verdadeiros ou enganosos.

Esses ensinamentos servem para todos e para quaisquer circunstâncias. Para quem já viveu o suficiente para aprender que a classe dominante é sempre dominante enquanto existir, e que, além de ser proprietária do capital controla também o Estado capitalista, fazendo-o agir coercitivamente a seu favor, é de fundamental importância não confiar em verdades ocasionais, principalmente porque a História, nunca dá razão às posições conformistas continuadas e submissas perpetuamente à ordem estabelecida.

De posse desses entendimentos confirmamos que historicamente as forças de repressão são mantidas, treinadas e alimentadas, para estarem à disposição do poder centralizado, para agirem sempre que as forças de oposição movimentarem-se contra a ordem, sustentada pelos interesses dominantes. Na ausência de ameaças iminentes, principalmente, as forças armadas, desaparecem dos noticiários e pouco se debate sobre qual é de fato o seu papel na estrutura do Estado.

 Costumeiramente as forças armadas protegem o país dos inimigos externos e das possíveis ameaças contra a soberania nacional. Há séculos não ouvimos rumores de que algum país vizinho tenha demonstrado interesse de agir nessa direção. No entanto, as guerras não são travadas apenas contra Estados, elas também podem ser desencadeadas contra outras espécies e forças da natureza. Nesse momento temos a “invasão interna” de territórios indígenas e a devastação das florestas indefesas, sem que as forças de defesa se movam para protegerem estes povos e as demais espécies de vida devoradas pelo desmatamento. Se isto não ameaça a nossa soberania territorial, enquanto nação, ameaça a nossa soberania moral e política, levando-nos a perder a admiração, o respeito e a autoridade frente às demais nações do mundo.

 É nesse ponto que se torna um perigo a apatia política. Há poucos dias, o Ministro do Meio Ambiente, ao participar da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), na Escócia, escondeu a verdadeira realidade da devastação ambiental no Brasil, oferecendo dados amenos para fingir concordar e estar comprometido com as propostas lá afirmadas. No entanto, vergonhosamente escondeu que a taxa de crescimento do desmatamento da Amazônia, oficialmente, cresceu 22% entre agosto de 2020 e julho de 2021.

 Há, evidentemente, após diversas derrotas, sem mudar a natureza, uma mudança de postura política do poder Executivo. Como exemplo, podemos citar a prioridade da vacinação e o uso de máscara; a anulação da implantação da “escola sem partido” que impunha a mordaça aos professores; a confirmação da urna eletrônica; o “desacovardamento” do Supremo Tribunal Federal que restituiu direitos e recompôs a ordem tradicional da política e, dentre outras, a perda de apoio popular do presidente da República.

A verdade de acaso vem à tona quando o comportamento do presidente da República se transmuta, no sentido de enquadrar-se aos anseios da “velha política” por ele anteriormente rejeitada. Nessas práticas reina a arte dos negócios políticos, gerenciados pelo “Centrão”, cujo centro não leva a uma posição de equilíbrio entre as forças políticas, apenas reafirma o modo de politicar em torno dos próprios interesses. Essa articulação, além de amenizar as tensões entre os poderes, começou a render frutos e o governo passou a ter vitórias significativas no âmbito das aprovações de seus projetos; o principal deles é este que liberou o aumento dos gastos para o próximo ano, permitindo furar o teto tão contestado anteriormente pelos neoliberais, quando os limites orçamentários foram estabelecidos.

A inflexão comportamental para agir aparentemente dentro da ordem foi o suficiente para fazer sumir dos noticiários e também de muitos debates, o risco de golpe, a presença do banditismo político no governo, o papel dos militares na estrutura do Estado, e tantos outros temas que intimidavam e preocupavam as forças de esquerda e progressistas, alinhadas tradicionalmente com a ordem capitalista.

Se Nietzsche tem razão ao dizer que “não nos é permitido enganar-nos”, o engano deixa de ser, para pessoas conscientes, um direito adquirido a se enganar; isto porque, aquilo que é proibido, o é, por não ser permitido. Ou seja, só é permitido enganar-se se não houver nenhuma proibição. Nós temos dezenas de proibições descritas por derrotas já experimentadas. Portanto, se “a verdade não se encontra por acaso”, esteja ela no caos ou no ascenso das soluções, é preciso encontrá-la e afirmá-la.

A suposta sensação de calmaria e a amenização das ameaças raivosas vindas do planalto central, (com licença da metáfora) foram noticiadas após o “cachorro louco” que, popularmente se expõe no mês de agosto, neste último mês de setembro aceitou a coleira e agora estaria amarrado. Mas a pergunta a ser feita é se ele deixou de ser louco? Se acreditarmos que sim, estaremos indo contra a verdade, pois a ciência atesta que raiva canina não tem cura.       

 Suponhamos que o cão esteja realmente amarrado, mas ele está vivo, e o tempo de espera joga a seu favor. Para retomar as ameaças precisa apenas de algumas habilidades para soltar-se, e aí sim atacará com maior violência. Não é demais alertar que as derrotas sofridas pelo governo, vieram da mobilização popular, aliás, foi com elas, quando estiveram a seu favor, mesmo em quantidade insuficiente, que ele tentou intimidar os outros poderes, e, também, quando as forças de esquerda e os movimentos sociais, impusemos a resistência e fizemos a conjuntura mudar de cor.

De outro modo, devemos perceber a intensa atividade da “ditadura da informação”, com a qual os milicianos tentam confundir as consciências ingênuas, religiosas e apáticas, de que a “mentira os libertará”. Dessa forma e neste lapso de tempo, o princípio da “paciência histórica”, validado pelas experiências revolucionárias do passado, de ir avançando aos poucos até chegar ao objetivo parcial, serve também para as forças de direita e, esta possível “calmaria” é muito favorável ao governo, que espera, com o “auxilio Brasil” recuperar a popularidade, quanto para a “terceira via” indefinida, mas que circula ao redor do cão amarrado, em busca de ocupar aquele território e usufruir daqueles votos.

O comodismo de nossa parte, como se “o já ganhou” justificasse o sofrimento da espera, que no momento nos separa por quase 14 meses, deve ser despertado pelo alerta de que “tudo pode acontecer” e, sem a mobilização permanente nas ruas, favorável à morte política do cão raivoso, a verdade do acaso, vigorará também, nas ideias distorcidas vagantes e enganosas vigentes em nossas fileiras.

O século XXI já demonstrou que a democracia saiu dos palácios e dos parlamentos e se tornou uma eficiente moradora de rua. Ali é o seu lugar. Quem quiser verdadeiramente encontrá-la, deve ir ao seu encontro e lá permanecer.

                                                                                              Ademar Bogo

                 

 

domingo, 7 de novembro de 2021

NEGACIONISMO E PACIFISMO

 

            Quando nos debruçamos sobre a compreensão filosófica da política, de imediato percebemos que cada época cria os seus próprios problemas filosóficos e políticos. Por isso, se no tempo presente, filosoficamente perguntamos “o que é o negacionismo?”; politicamente perguntamos, “como enfrentá-lo e superá-lo”?

            Restritamente, o negacionimo deve ser visto como uma ideologia com implicações práticas destrutivas, de todos os alicerces e conceituações teóricas. Tal ideologia penetra em todas áreas do conhecimento e estruturações, mas, com maior vigor, na relativização da ciência, passando pela economia, poder judiciário, educação religiosa, comunicação, preceitos morais, com repercussão no poder político e esferas governamentais.

            Negar não é um equívoco; faz parte do movimento dialético no qual identificamos uma lei conhecida como “negação da negação”. No entanto, devemos distinguir entre negação e negatividade. A dupla negação tem como resultado, uma afirmação. Nesse sentido, a negação é vista como um movimento de superação e não de eliminação da parte negada.

            O filósofo Hegel (1770-1831) didaticamente explicitou o que significa o movimento dialético, ao tomar como referência o surgimento e o desaparecimento botão no desabrochar da flor, inicialmente “refutado”. No entanto, a flor que faz surgir o fruto induz a imaginar um falso existir da planta, quando na verdade ele é a representação de todo o processo e a promessa de revelação da verdade da própria planta.

            Por outro lado, a negatividade é o movimento das ideias atuantes em um processo de descrença e , contra algo positivo, no intuito de recusá-lo. Sendo assim, esse negacionismo é a aplicação concreta da verdade em busca de afirmar os próprios interesses. Trata-se, portanto, de um processo diferente daquele procedido pela negação, que evolui sustentado pela própria formação, qualificando-se. A negatividade e o negacionismo, ao contrário, evoluem, objetivamente, desqualificando o existente, fazendo com que a verdade e a ciência convertam-se em uma rasa ideologia.

              Quando voltamos as atenções para a política vemos que o “negacionismo” e o “pacifismo” são duas enfermidades de igual periculosidade para o processo civilizatório. O filósofo italiano Antônio Gramsci (1891-1937), em seus “Cadernos do cárcere”, reporta-se à hipótese ideológica do pacifismo, dizendo que “a revolução passiva” é vista como intervenção legislativa e organização corporativa, ancoradas pela estrutura econômica que, por sua vez, visa modificações no “plano de produção” com alguma profundidade, mas sem ameaçar o controle do lucro.

            De modo geral, o pacifismo, na medida em que não aprofunda a intervenção sobre as estruturas de dominação, não se apresenta como uma oposição contrária ao negacionismo, senão que, também se compromete a negar a ruptura e, com isso mantém a mesma natureza do processo.

            É evidente que, do ponto de vista situacional, o negacionismo e o pacifismo mantém características diferenciadas, pois, enquanto o primeiro visa anular, por meio do julgamento ideológico o mérito da ciência e exclui da distribuição das “comendas” e premiações, por discordâncias e caprichos, os cientistas merecedores de louvor, o segundo, por meio da pacificação, busca conservar os pilares da civilização, como se todo o processo de negação do botão tornado flor e esta configurada em fruto, parasse neste estágio, impedido de seguir adiante por falta de decisão reprodutiva ou concordância com a natureza da ordem.

            Se o sinônimo oposto do negacionismo é a verdade, do pacifismo é o radicalismo. Na medida em que negatividade é um mal para a política, a passividade não representa um mal menor, isto porque, ao se pretender efetivar mudanças por dentro da estrutura que, propositalmente produz frutos “sem sementes”, as prováveis negações impulsionadoras de novas negações convertem-se em negatividades e, neste caso, os perdedores continuarão perdendo dentro da manutenção da mesma ordem garantidora da sociedade desigual.

                É evidente que a concepção da “transformação pacífica”, já se tornou também uma ideologia, pois, pretende fazer acreditar que esta seja uma verdade absoluta, quando as provas contrárias, cotidianamente e, corruptamente, são apresentadas e oficializadas pelo poder Legislativo.

            Na medida em que a ignorância ganha espaço na política há duas maneiras de enfrentá-la: combatendo-a educadamente, como quando um dos lados não quer o conflito e, insistentemente pede “calma”; a outra é desestruturar a estrutura que dá sustentação e facilita a reprodução das forças políticas negacionistas. Podemos até dizer que as duas formas de combate são complementares, pois, ao construir uma, constrói-se também a outra; mas então precisamos considerar que o pacifismo é apenas uma tática e não a totalidade da estratégia.

                                                                                                                                                                                                                                                                                 Ademar Bogo

           

 

             

                     

domingo, 31 de outubro de 2021

DESINVERTER O MUNDO


            Karl Marx, na “Introdução à critica do direito de Hegel”, trouxe presente, em 1843, um problema existente na Alemanha, formulado em torno da crítica à religião, considerada o “pressuposto” de toda critica. No entanto, para o filósofo, a vida não é só religião e, por isso, a sua afirmação desafiadora veio no seguinte sentido: “o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são o mundo invertido”.

            Bem entendido, não é a religião que cria “o mundo invertido”, mas a força dos proprietários que constituem a sociedade civil e o Estado. Por sua vez, a religião, sendo a crença deste mundo invertido, ela se afirma como a fantasia da consciência individual, sem a qual a vida seria insuportável.

            São as diversas fantasias falseadoras do mundo real que, além de afirmarem alguns dogmas deformadores da ciência, da filosofia e da arte, sustentam as profissões de Fé repulsivas e manipuladoras da linguagem, para que as mensagens caibam dentro do quadrado ideológico estabelecido.

            No concreto, pela evidência dialética, não podemos ter o real e não o seu contrário. Se temos a “boa religião”, com certeza teremos também a “má religião”; ou como espreitou o próprio Marx, quando presenciou o dizer de  que havia  a “Filosofia da miséria”, concluiu que haveria ter também a “Miséria da filosofia” e por isso escreveu, em 1847, um livro com este nome. Nesse sentido, por que a miséria religiosa não poderia ser vista, como sendo, ao mesmo tempo, a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real? Mas a religião fantasiada, “... é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo”.

            Reduzir a religião como “ópio do povo”, tornou-se, ao longo da História, a tese nua e crua nas fileiras da direita; um dogma de negação dificilmente confrontado, principalmente quando se tratou de disputar os interesses eleitoreiros. Isto ainda ocorre porque o pressuposto da “miséria religiosa”, imposto pelo imperialismo com a criação das seitas neopentecostais, por esperteza ou ingenuidade, foi deixado de lado ou confundido como sendo ele o sintoma e não causa da miséria social e espiritual dos diversos povos.

            Evitar a critica política da relação entre a miséria social e a miséria religiosa expandidas pelo mundo invertido do capital e propagadas pelas seitas religiosas, é permitir que os espertalhões e vendilhões de artefatos ideológicos, como, “tijolos da obra de Deus”; “toalha milagrosa”, “fronha dos sonhos”; “martelo da justiça”; feijão que cura Covid-19” etc., equivale a concordar que se reproduzam os preconceitos moralistas homofóbicos; a violência machista contra a mulher; a negação à educação sexual na infância; a resistência contra a descriminalização do aborto; a visão retrograda sobre o formato da família e tantos outros atrasos e atentados contra os direitos humanos.

            Nesse sentido, devemos saudar como positiva a “Consulta aos católicos” proposta pelo Papa Francisco, iniciada no mês de outubro e que se estenderá até o ano de 2023. Simbolicamente será a primeira vez após o Concílio de Trento (1545-1563), que a Igreja católica se propõe a discutir as reformas necessárias, para levar luz aos seus próprios porões, agora com a participação massiva de leigos e leigas, em busca de resgatar a coerência moral e a dignidade humana dos primeiros cristãos.

            O grande desafio do século XXI, como fizera Nicolau Maquiavel (1512), é politizar a política. Isso evita que os devotos do capital, “sem partido”, criem seitas religiões e transformem as massas empobrecidas educadas em força auxiliar de impulsos alucinados. Na medida em que entendemos ser o capitalismo o próprio mundo invertido, dizer que a miséria religiosa transforma a religião em “ópio do povo” é o mesmo que afirmar ser a exploração da força de trabalho, o pilar central da alienação. Portanto, dizer que a mais-valia é extraída de trabalhadores alienados e que a legitimação moral dessa exploração se dá por meio de cristãos sedados ou chapados, seria um total desapreço para a civilização. No entanto, é esta mesma a mensagem a ser dita se quisermos desinverter o mundo.

            Na medida em que “o mundo invertido” é colocado de cabeça para cima, elimina-se o risco da asfixia cultural e a consciência passa ser a referência de identificação e do ordenamento do novo estado de coisas. Essa inversão não eliminará apenas a miséria econômica, mas também a miséria política, religiosa e moral.

                                                                                                Ademar Bogo

domingo, 17 de outubro de 2021

PÃO E REVOLUÇÃO

            Karl Marx, na posterior introdução à “Critica do Direito de Hegel”, no vigor de sua juventude, deu-se conta de que havia um travamento no processo de emancipação humana. Os limites do protestantismo e a relação de dependência da sociedade civil, do Estado, contribuíam para dificultar o avanço do processo revolucionário radical.

            Por sua vez, a perspicácia de Marx foi perceber que “As revoluções precisam de um elemento passivo, de uma base material. A teoria só é efetivada num povo na medida em que é a efetivação de suas necessidades”. E no final do mesmo parágrafo, após algumas indagações específicas, concluiu dizendo: “Não basta que o pensamento procure se realizar; a realidade deve compelir a si mesma em direção ao pensamento”. Temos, portanto que saber combinar a teoria com as necessidades.

            Para direcionarmos o entendimento dessa significativa observação, devemos proceder com o método filosófico de análise, separando a categoria superior, “revolução”, das categorias subordinadas, interrogando: O que é: “passiva?”, “material?”, “teoria?”, “efetivação?” “necessidades?” e “direção?”.

            Feito isto, podemos recorrer ao contexto no qual Marx estava inserido, como também procurar aplicar as mesmas categorias em uma realidade assemelhada, quando as religiões protestantes parecem assumir a hegemonia da alienação e a sociedade civil, ao invés de enveredar para a emancipação, regride e deposita no Estado toda a responsabilidade de impor a ordem coercitiva, para punir e refrear a força contrária e, com isso, as disputas se radicalizam em dois pólos favoráveis do capitalismo, como aconteceu na realidade alemã.

            Na medida em que, na atualidade, a categoria superior é despida de sua importância e distanciada das discussões, as categorias subordinadas perdem os poderes de importunar e, as palavras tendem a dizer apenas o trivial ou a considerarem o proposto como o real estabelecido possível.

            A direção, em se tratando de política é tudo. Isto porque, se as revoluções precisam de um elemento passivo, ou seja, a base material concreta,  não há como distrair as atenções para fora desse entendimento colocando na ordem lógica, realidade e teoria.

            Se temos a base material “passiva”, ela está a espera de ser agarrada, pelo sujeito ativo da revolução. Mas isto não se dá sem antes formular os pensamentos e consultar as necessidades e carências existentes nesta base. Essas necessidades, após serem teorizadas devem contribuir para que toda a realidade seja “compelida”, impulsionada ou arremessada a favor do pensamento revolucionário. Essas indicações não são impressões instituais. Marx, em 1843 vivia a ebulição das revoluções liberais da Europa e convivia com o atraso do país alemão.

            Há nessa descrição duas possibilidades de respostas para a pergunta “o que é necessidade?”. Certamente, não encontraremos nenhum indivíduo, politizado ou não, que não responda a esta indagação com o conteúdo evidente das carências sociais e, para nós, na atualidade, “pão” quer dizer tudo.

            Essa resposta substantiva, se apenas restrita ao “pão” é totalmente insuficiente e conformista. Para os cérebros mais atentos a preocupação vai muito além da necessidade. A fome nos mostra a situação de uma sociedade encurralada no degrau mais baixo da escada que mede o descenso da dignidade humana. É evidente que, a solução da mesma, embora seja uma emergência, não emancipa os famintos, assim como o direito à liberdade religiosa não emancipava os judeus na Alemanha. No entanto, o capitalismo decadente nos coloca cotidianamente a pauta das emergências articuladas entre si. Já não sabemos o que é mais grave, se a fome, a escassez da água, a queima das florestas, a perda da soberania, a violência ou a falta de trabalho, renda etc.

Para evitarmos o rebaixamento da teoria em direção à explicitação do desejo de caridade ou da assistência, como o máximo possível de ser proposto na política, devemos pensar no conjunto das emergências e necessidades individuais componentes da realidade social, mas que, em contato com a teoria devem apontar para a verdadeira emancipação.

            Chegamos ao grande limite do dilema posto acima. Se de um lado movem-se as forças interessadas em realizarem o pensamento assistencialista, atendendo as necessidades dos  famintos com o pão, de outro lado, “a realidade deve compelir a si mesma em direção ao pensamento”, fazendo com que ele se coloque a favor do movimento ascendente da transformação social.

            Em síntese isto tudo nos diz que, se entendemos as “necessidades” apenas como pão, trabalho, moradia etc., imaginamos, como minoria, galgarmos o ponto mais alto do Estado, com os pensamentos voltados para os debaixo, prometendo a eles o acesso aos direitos sociais, mas nunca a emancipação. No entanto, se consideramos que a “revolução” é a necessidade principal, devemos compelir as forças converterem a mesma em um direito. Logo, o faminto deve desejar o pão e aprender a desejar também a revolução. Assim como o desejo de quem se envolver para saciar a fome alheia deve ser convertido no desejo da superação do capitalismo.

            Não é mais possível atuar sobre a “realidade passiva”, com pensamentos de passividade. A falta de pão é a demonstração da verdadeira decadência de um sistema incapaz de alimentar os seus próprios reprodutores. A urgência do “dai o pão a quem tem fome”, não deve servir para rebaixar a teoria ao nível da passividade contemplativa da decadência.

            Os direitos devem ser vistos no conjunto. O impulso da solução de uma necessidade, deve compelir para enfrentar outras necessidades ainda maiores, principalmente porque, não temos apenas necessidades animais para suprir. Devemos dar sequência ao pensamento: “só com pão não somos nada e teremos que ser tudo”.   

                                                                                                                                                                                                                                           Ademar Bogo

domingo, 10 de outubro de 2021

JAULA DE AÇO

A união entre burgueses, proletários, camponeses e massas populares, formou, em 1789, o “Terceiro Estado” que tornou vitoriosa a Revolução Francesa. Na sequência, essas classes instalaram a Assembléia Nacional Constituinte e procederam a elaboração das novas leis. garantidoras da implantação dos princípios da igualdade, liberdade e fraternidade; interesse comum da esquerda e da direita, forças defensoras do capitalismo e da organização do Estado, estruturado e representado pelos três poderes: executivo, legislativo e judiciário.

Com as leis aprovadas e colocadas acima de todos, passou a vigorar no modo de produção capitalista, o “Estado Democrático de Direito” como ordem oficial. Garantiu-se assim, aos exploradores e também aos explorados, os direitos e as expectativas de pleitearem o progresso econômico, o desenvolvimento social e a realização dos anseios individuais. No entanto, essa vitória revolucionária burguesa e proletária, se por um lado passou a representar um vinculo de dependência econômica e política entre as duas classes, por outro lado, implementou a instituição de uma “jaula de aço” como bem conceituou o alemão Max Weber, em sua obra, “A ética protestante e o espírito do capitalismo.”

Ser a favor do totalitarismo econômico capitalista e, democratas ao mesmo tempo, está na origem da formação das classes burguesa e proletária, como também no senso comum das massas populares. Essa premissa positivista, liberal e religiosa, rege as relações sociais e de produção, ordenando-as pelas normas morais e as barras do Direito Positivo, expressão jurídica da coerção no interior da jaula de aço, responsável por enquadrar qualquer cidadão tido como desordeiro. Fora dela, temos a sensação de estarmos em perigo, por isso corremos para incluir-nos e nos tornamos os principais defensores do progresso, da geração de empregos e do bom funcionamento do Estado.

Inseridos no sistema de exploração e na ordem coercitiva, nos comportamos como os animais na jaula: comemos em um dos lados, dormimos em outro e defecamos em algum canto. Durante o dia vagamos ligando esses pontos geográficos e nos enraivamos se alguém ameaça fazer alguma interferência nesta ordem estabelecida, seja com um golpe ou alguma intervenção desastrosa, pois, já não sabemos viver sem ela e nem mesmo imaginarmos outras formas de convivência. Tal qual aos animais que não sabem distinguir o tratador do responsável por enjaular-los, tememos as forças de segurança, mas nos desesperamos se não as vemos nas esquinas; rejeitamos os patrões, mas corremos para agradá-los quando nos ameaçam com demissões; criticamos os governantes e as leis injustas, mas continuamos afirmando a democracia representativa, dando à imensa minoria as condições para negar os direitos e os benefícios da maioria.

 Queremos a emancipação humana, mas a retardamos, porque, para uma parte dos trabalhadores, a venda da força de trabalho, está tão ruim que mal dá para fazer exigências e, para a outra parte mais pauperizada, já não se apresenta oferta alguma. E, mesmo cabisbaixos, nos animamos com as promessas eleitoreiras daqueles que se propõem a lubrificar as dobradiças da porta dessa jaula imunda e decadente, para que ela ranja menos toda vez que se fechar. Dirigem-nos para a santidade do capital, para que nos prostremos diante dele, com as mãos postas segurando a oferenda do voto. Queremos que os vencedores da democracia representativa nos atendam com uma graça, de um auxílio, uma bolsa, ou mesmo um osso descarnado, pois, entendemos, a carne deve ser enviada ao deus suprem do mercado exterior.

Sabemos que a origem da submissão está na aliança genuína que formou o “Terceiro Estado”, efetivada na França para o triunfo da Revolução de 1789. No entanto, aquela união comandada pelos capitalistas, produtores, industriais e comerciantes, tendo como força auxiliar o proletariado, com a expansão do capital especulativo e destrutivo, já ruiu. Esse capital volátil associado ao banditismo político, habitante dos lugares mais remotos como as Ilhas Virgens Britânicas, infiltrou-se no Estado e age para “liquidificar” as riquezas das nações. Essas forças parasitárias, ao invés da ordem democrática, espalham o terror, a insegurança e o medo; e põem a reboque, com exceção do agronegócio destrutivo, os setores burgueses da produção que buscam desesperadamente voltar ao lugar perdidono controle da política.

Portanto, se no passado esses setores burgueses produtivos, foram capazes de unificar as diversas forças no “Terceiro Estado”, na atualidade estão em desvantagem, não apenas pelos erros políticos cometidos, mas também, pela perda de poder para as formas especulativas e parasitárias do capital. Assim se explica o porquê das frequentes instabilidades da ordem e o desejo imediato de reconstruírem a velha aliança, propondo uma “terceira via”. Se aceitarmos essa manobra, reconheceremos no grau mais baixo que os propósitos da histórica burguesia continuam válidos e, por mais que nos esforcemos apenas reviveremos a tragédia, mil vezes repetida, quando diante do perigo, o escravo morre para salvar o seu senhor. As burguesias sobreviventes da exploração da força de trabalho, em grau maior ou menor, de acordo com o lugar no mundo em que se encontram, vêm perdendo o controle da política e do controle sobre o Estado. Por mais estranho que pareça, na conjuntura transitória, “somos os seus coveiros” e não os seus salvadores.

Não restam dúvidas de que guardamos no fundo da consciência proletária uma contradição conflituosa, entre darmos vazão às energias revolucionárias e acatarmos os desejos da submissão. Freud no âmbito corporal e sexual denominou esse movimento de “pulsão de vida” e “pulsão de morte”. Nesse sentido, não é exagero nenhum reconhecer que o capital especulativo e parasitário, jungido ao banditismo político, improdutivos, violentos e destrutivos, tornaram-se os transtornos físicos, psíquicos, econômicos,políticos, morais, ambientais etc., da civilização. Por mais que se pense governar e controlar a ordem na jaula envelhecida, dentro dela circula essa energia incontrolável e instintual da volatilização do capital. Para controlá-la é preciso antes de tudo aprisionar e dominar os seus agentes destruindo todas as suas mediações que pulsam para a morte.

  Nesse sentido, por mais que tentemos retardar o enfrentamento com as forças destrutivas da civilização ele será inevitável. Como sujeitos de um processo libertário, trabalhadores e massas populares em geral, devemos, ao invés de liderarmos a conciliação deveríamos nos propor a jogar para os ares a jaula e sua ordem, ou pelo menos, como primeiro passo, empurrar para fora dela os especuladores, rentistas, devotos dos paraísos fiscais; os incendiários das florestas e os assaltantes das riquezas públicas. Para isso precisamos fugir da tentação de fazer acreditar que a “jaula de aço” um pouco mais limpa e arejada, mesmo com uma parte da população com as pernas fora das grades é tudo o que se pode propor. Se assim pensamos, eternizamos a palavras de Karl Marx quando nos alertou que os defensores do parlamento e acrescentamos, da democracia representativa, fazem tudo para “Iludir os outros e iludir-se ao iludi-los”.

Enquanto as atenções estiverem voltadas para o conserto do sistema, não haverá emancipação. As soluções para impulsionar as transformações sociais, embora partam de dentro, estão fora dessa ordem carcomida. Olhar para fora é arriscar perder todas as crenças, no capital, no Estado e na política profissionalizada e, como ateus, instituir as bases das novas crenças, com princípios inversos ao que até aqui fizeram a jaula de aço funcionar.

Marx e Engels nos deram a indicação e, como velhos conselheiros deveríamos ouvi-los. Sentenciaram na época de 1848, em meio às turbulências das revoluções liberais na Europa, que “os comunistas não dissimulam as suas opiniões e seus objetivos”, o que nos parece suficiente para sermos sinceros uns com os outros, isto porque, segundo eles, é preciso fazer com que a classe dominante se sinta ameaçada pela “destruição violenta de toda a ordem social”, e não contemplada pela nossa plataforma política. Principalmente porque, “a classe operária nada perderá com ela, a não ser a sua prisão.” Que essa prisão seja reservada aos genocidas e aos devotos da especulação.

                                                                                   Ademar Bogo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

domingo, 26 de setembro de 2021

RECRIADOR DE HUMANOS

 

            Há pelo menos duas formas de se fazer humano, a primeira é pelo nascimento; despontamos como obra da natureza e, a segunda, pelo conhecimento nos tornamos sabedores da memória coletiva e criadores das nossas próprias ideias e invenções. Da primeira forma, nada podemos fazer, a não ser esperar pelo acontecimento do nascimento. Da segunda, muito se pode falar, escrever e contar.

            Paulo Freire é um grande educador. Esta afirmação adjetivada diria tudo e bastaria para que os seus detratores se calassem e refletissem toda vez que ouvissem algum elogio incontestável a seu favor. Mas eles sabem somente colocar Deus, a pátria e a família “acima de tudo” e não aprenderam os bons modos do respeito e do cuidado de não pronunciarem o nome de ninguém em vão.

            Detratores são como os abutres rogadores de praga para que a rês ainda viva e com saúde morra. No caso de Paulo Freire, rogam para que seus feitos, exemplos e conquistas, gozadores de impressionante respeito mundial, desapareçam por um simples grasnar com os bicos fedorentos. Deveriam respeitar este senhor formulador de verdades, pois, pelo menos aprenderam a dizer, mesmo que façam o contrário a explicitação evangélica de que: “Conhecereis a verdade e a verdade voz libertará”(Jo 8,32).

            Quando Josué de Castro publicou o seu livro “Geografia da fome”, em 1946, Paulo Freire atuava como professor de Língua Portuguesa no Colégio Osvaldo Cruz e lecionava Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Mas o que têm a ver a fome com a educação? Tudo. Principalmente porque as duas mexem com a sensibilidade humana. Saciada a fome, as Belas Artes não formam apenas profissionais, mas reinventam a própria espécie humana.

            Há muita ignorância nas mentes de rapinas e preconceituosas, incapazes de perceberem quando a humanidade, pela genialidade de seus representantes mais destacados, dá um salto adiante. Sócrates, o filósofo grego, em 400 anos antes de Cristo inventou a “maiêutica”, um método de aprendizado facilitado pelo diálogo cotidiano. Arquimedes, 200 anos antes de nossa era, inventou a alavanca e criou a expressão: “Dê-me um ponto de apoio que moverei a terra”. Sigmund Freud, já no século passado, descobriu o método da “Livre associação” e encontrou o jeito de entrar no inconsciente humano por meio da fala e da escuta. Paulo Freire formulou o “método de alfabetização de adultos” e, como Arquimedes poderia ter dito: “Dê-me um adulto analfabeto que eu, com 40 horas de aula o tornarei capaz de ler mundo e escrever sobre ele”. 

Tantos outros gênios e inventores poderíamos destacar, como, Copérnico, René Descartes, Charles Darwin, Isaac Newton, Albert Einstein, Karl Marx, etc., mas não é este o nosso objetivo. Voltemos a Josué de Castro, para que os possuídos pela incompetência governativa e inculta aprendam que há diferentes tipos de geografia, a ele interessou a “Geografia da fome” e, a Paulo Freire, o analfabetismo social. O nordeste do país naquele tempo da década de 1940 era povoado por 15 milhões de pessoas e, além da fome, a metade da população não sabia ler e escrever. Diante de tamanho peso a ser movido, poderia Paulo Freire ter-se tornado um beato como o fizera 50 anos antes dele, Antonio Conselheiro, e lançar mão das pregações religiosas. Poderia ter seguido o exemplo de Lampião, morto a menos de 10 anos de sua formatura universitária e ter dado continuidade ao cangaço, lançando mão das armas de fogo como mediação para a libertação. Não. Como Arquimedes buscou um ponto de apoio para colocar a alavanca, e encontrou a educação.

 Como vemos, havia outras alternativas. Só no parágrafo anterior vimos três possibilidades e as três incomodaram tanto que, os agentes das duas primeiras iniciativas eleitas para enfrentar a pobreza, foram decapitados e suas cabeças levadas como prova da vitória da opressão contra a liberdade. Paulo Freire, embora queiram hoje decapitá-lo, ganhou a oportunidade de, miseravelmente, acompanhado da família, deixar o país em 1964.

A periculosidade de Paulo Freire, se quiserem em palavras religiosas os seus detratores, foi ter arriscado, como fizera Ezequiel, de ir até o “vale dos ossos” e lá ter ouvido a ordem: “Profetize a esses ossos e diga-lhes: Ossos secos ouçam a palavra... farei um espírito entrar em vocês e vocês terão vida. Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os cobrirei de pele; porei um espírito em vocês e vocês terão vida...” (Ez, 37,4-6). E os ossos acreditaram.  

A arte da recriação humana, somente pode vir de quem acredita nas possibilidades impossíveis. A morte pela fome, descrita por Josué de Castro, naquelas circunstâncias, servia para motivar a vida. Não era e não é o silêncio dos mortos que abalava e abala a já desestabilizada ordem dos donos do poder, mas a reação dos decaídos. Paulo Freire soube sintetizar essa relação na “Pedagogia do oprimido”: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Aqueles “ossos humanos” poderiam ter vida se fossem recriadas neles, a carne, as palavras e as ideias. E assim foi feito, os maltrapilhos levantaram-se e fizeram das próprias consciências bandeiras vermelhas que afugentaram o coronelismo, fecharam os currais eleitorais e apagaram a ignorância de repetir que “tudo é vontade de Deus”. E, se a forme ronda a região, o país e o mundo, é porque ainda faltam algumas palavras serem encarnadas, assimiladas, expressas e praticadas.

Por ocasião da comemoração dos cem anos de vida de Paulo Freire, ecoa pela consciência do mundo, o vigor da mensagem de que: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho”. Este legado ficou para nos orientar que a libertação somente pode ocorrer junto com a recriação que fazemos de nós mesmos. A cooperação é o segredo de nos tornarmos cada vez mais humanos. São as “palavras geradoras” que ensinam a ler o mundo e a perceber a exploração e a humilhação. Paulo Freire incomoda os arrogantes porque soube mergulhar fundo no abismo da miséria e retornar de lá com os braços carregados de pessoas confiantes e capazes de conduzirem o próprio destino.

Hoje o adulto alfabetizado pelo método Paulo Freire, sabe que a palavra “genocídio” é crime e por traz dela se esconde o “genocida” que precisa ser preso, julgado e condenado para se fazer justiça. A palavra “direitos” escreve-se no plural, porque eles estão interligados e, garanti-los não é um favor que se paga com votos.

Paulo Freire tornou-se imortal por ensinar a recriar o ser humano, com palavras geradoras de transformação: comida, tijolo, direitos, justiça, cooperação, insurreição. Há muitos alfabetizados que sabem escrevê-las, mas não sabem defendê-las e exercê-las. Há muitos que precisam apreendê-las, soletrá-las, praticá-las e escrevê-las,o que falta é a organização.

Não é o Paulo Freire que os poderosos tomem, mas a força das palavras geradoras. Elas têm o poder de encarnar os ossos, cobri-los de pele saudável e encher os corpos de consciência e de revolta. Ele mostrou que a alavanca da libertação tem seu apoio na educação e, o apoio da alavanca da dominação é a ignorância. No final, ganha quem for mais inteligente e, organizadamente, colocar mais força.

                                                                       Ademar Bogo

domingo, 19 de setembro de 2021

O ANTICRISTO

        O filósofo Friedrich Nietzsche escreveu em 1888 um texto para tecer criticas ao cristianismo, denominando-o de “O anticristo”. Assim descreveu ele no capitulo XXXVII “...Com toda a difusão do cristianismo entre as massas mais vastas e incultas, até mesmo incapazes de compreender os princípios dos quais nasceu, surgiu a necessidade de torná-lo mais vulgar e bárbaro – absorveu os ensinamentos e rituais de todos cultos subterrâneos do imperium Romanum e as absurdidades engendradas por todo tipo de raciocínio doentio. Era o destino do cristianismo, que sua fé se tornasse tão doentia, baixa e vulgar quanto as necessidades doentias, baixas e vulgares que devia satisfazer.”

            Se por um lado não podemos dar total razão a Nietzsche, tendo em vista que podemos encontrar no desenvolvimento do cristianismo momentos decisivos, nos quais o imperativo moral e o pensamento crítico religioso fizeram frente à repressão, prisão e morte de militantes políticos e sociais, defensores de causas revolucionárias; por outro lado não podemos tirar do filósofo a razão do teor de sua revolta. Aliás, Freud, em 1907, pouco tempo depois da morte de Nietzsche, acentuou que: “...podemos atrever-nos a considerar a neurose obsessiva com o correlato patológico da formação de uma religião, descrevendo a neurose como uma religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal”.

            Outros autores, como Walter Benjamin, foram ainda mais precisos e identificaram o capitalismo como sendo uma verdadeira religião. Considerando que “O capitalismo é uma religião puramente de culto, desprovida de dogma”, ele torna-se próprio uma neurose obsessiva. Além do fanatismo mercantilista o capitalismo  criou as seitas neo-pentecostais e as espalhou para as Américas, chegando ao Brasil, a partir de 1970, ungidas com o nome de “igreja”: Universal do Reino de Deus; Internacional da Graça de Deus; Renascer em Cristo; Mundial do Poder de Deus.

            Para valorizar a onipotência dos pensamentos criados pela neurose obsessiva e fazê-los tornarem-se hostis ao mundo exterior, é importante canalizar tais anseios para as disputas políticas, inicialmente demarcadas pelas posições dos bons contra o maus. Para estruturar mais diretamente a luta pelo poder, neste século com a decadência estrutural do capitalismo novas forças ascenderam socialmente. Seguindo os instintos não dogmáticos, retomaram os princípios do Integralismo, surgido na Europa logo após a Primeira Guerra Mundial, com um fanático programa, constando “Deus, pátria e família”.

            Para que tal programa se enraizasse era preciso que a neurose se universalize disseminada pelos canais de acesso dos seguidores adestrados. Nesse sentido, o fenômeno dos cultos religiosos foi potencializado pelo acesso generalizado à internet, pois, permite a realização das pregações e a alimentação do ódio de maneira constante.

            Deus, colocado “acima de todos”, para o integralismo, tem por objetivo não apenas expressar a unidade de culto, como também induzir à unidade política em torno das ideias e do poder do líder, visto como um salvador e sustentador da neurose obsessiva, como sendo a ideia de cada um. Por outro lado, a pátria desperta os instintos corporativos mais brutais, que somente podem ser reproduzidos por meio de atos de violência e ataques constantes desferidos ou reservados para as forças armadas, policiais e facções armadas. A simbologia do apego às cores, ancora-se no sentimento religioso da proteção sagrada do manto que envolve e protege o sujeito da neurose. E, por fim, não pode faltar o aspecto sustentador do narcisismo individual para quem é destinada todas as bênçãos e benefícios vindouros que é a família, embora toda despedaçada, vilipendiada pelos maus exemplos, como e o caso do “comandante em chefe” , mas que compensa com a proteção ferrenha dos filhos contra qualquer tipo de castigo.

            A transferência do poder divino como ocorria com o moderno soberano, induz ao entendimento de que a diversidade atrapalha. Os poderes fora do trono são incômodos e a sua anulação é uma necessidade obrigatória. Os juízos superiores servem como orientações para as atitudes individuais, isto porque, o sujeito tomado pela obsessão de natureza religiosa, não apenas pratica atos obsessivos como também coloca-se em permanente estado de culto.

            A ligação entre o cerimonial das seitas com os atos de natureza integralistas seguem a mesma ordem cumprindo as mesmas formalidades causadoras da dependência participativa. A frequentação do templo ou da rua nas manifestações possui a mesma equivalência e dependência da mesma ansiedade participativa.

            O imperialismo, parafraseando Lenin, podemos dizer que é “a fase superior da religião capitalista”, conseguiu jungir os cerimoniais das seitas com os atos obsessivos integralistas de natureza fascista. Sendo assim, o caráter violento e destrutivo do modo de produção encarna-se nos indivíduos reprodutores das mesmas atitudes por meio dos atos obsessivos, tidos como naturais.

            Por outro lado, o imperialismo precisa de doentes mentais que façam uso do poder político para sustentá-lo. O capital especulativo que suplantou o poder do capital produtivo, precisa, temporariamente, de representantes alucinados, como o que nos impuseram. Essas figuras descabeçadas cumprem o papel de desligarem a luz durante a festa, os mocinhos mal intencionados possam apalpar nos lugares que não poderiam fazê-lo com as luzes acesas. Enquanto isso, os representantes do capital produtivo, criadores do Estado e o Direito positivo, na atualidade não conseguem apresentar um candidato ao governo para compor a “terceira via” e somente terão algum êxito se se somarem ao proletariado.

            O desgaste das forças conscientes e responsáveis para a condução política foi propositalmente planejado. Enquanto os “fiéis” são levados a praticarem atos obsessivos, os “pregadores” ordenam as falas que propagam mensagens de ódio e orientam as práticas dos crimes e desordens negacionistas. A despolitização da política não é um fenômeno desprovido de ideologia, muito pelo contrário, ele é o resultado da desestruturação das relações entre as  forças organizadas e as ideias revolucionárias, fazendo surgir no lugar, as forças do banditismo político e as seitas religiosas, praticantes das cerimônias da morte: da democracia, dos partidos políticos, dos direitos sociais, dos doentes infectados pelo vírus e ativistas políticos

            As obsessões sociais são elaboradas e superadas pela organização social. As religiões já deram mostras que, manipuladas e mal conduzidas criam distúrbios sociais, mas tal qual ocorre individualmente, a neurose obsessiva somente se estabelece quando o sujeito perde a estabilidade emocional sobre si mesmo. Na sociedade isto acontece quando ela perde a consciência sobre o seu próprio destino.

            Na tradição o “anticristo” profere as palavras erradas como se fossem certas e as mentiras têm a presunção de serem verdadeiras. Ele foi prometido de aparecer no fim do mundo. Tomara que seja verdade e que o fim do mundo capitalista esteja mesmo chegando ao fim, para que a civilização seja liberta. Por via das dúvidas, organizemo-nos e façamos a nossa parte.

                                                                                                                             Ademar Bogo

              

             

 

 

 

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domingo, 12 de setembro de 2021

DESCONFIAR E REAGIR

              Desde o surgimento do Direito Positivo temos a inversão da supremacia da lei sobre o poder do soberano. Dizer que “ninguém está acima da lei”, tornou-se uma demonstração concreta de rebaixamento dos anseios autoritários. No entanto, como bem descreveu Arthur Schopenhauer, em seu livro, “O mundo como vontade e representação” (1819), a legislação positiva é a doutrina moral do direito aplicada ao inverso, isto porque, em cada lugar o seu alcance baseia-se nas relações e circunstâncias especiais estabelecidas.

            Há algum tempo estamos ouvindo nas “pregações políticas” de orientação ideológica integralista, o verberado “Deus acima de tudo”. Invocar Deus em meio ao caos de um desgoverno poderia representar que a Fé dos cristãos está sendo ameaçada, certamente porque os crentes estariam voltando as suas atenções ao “bezerro de ouro”. No entanto, o significado real dado a essa expressão, é que Deus está acima da lei e quem estiver com ele eleva-se acima dos poderes da República.  

            Na última semana penetrou pelos olhares mais atentos uma mensagem com o título de “Declaração à nação” e, para muitos passou como um pedido de desculpas do ainda não apenado presidente, pelos arroubos proferidos às vésperas do dia 7 de setembro, levando, pelo resultado benéfico, ao aprofundamento das frustrações dos esperançosos neointegralistas, pois o golpe de Estado para arrasar as instituições não veio e, tornou-se um espirro contra um único ministro do Supremo Tribunal Federal.

            Não há necessidade de longas explicações para as desnecessárias escaramuças descabeçadas, afirmadoras da negação das condições imediatas para oficializar qualquer tipo de golpe, porque, também não há nenhum movimento contrário que possa ameaçar o funcionamento da ordem. É evidente que falta mesmo é trabalho e competência para resolver os problemas cruciais do país, tão conhecidos e denunciados pelas manifestações verdadeiramente populares, situados na área da saúde, da educação, da assistência social, do emprego, preço dos combustíveis, controle da inflação etc., coisa que qualquer governante capitalista estaria empenhado em resolver. No entanto, vimos que os adeptos do caos parecem viver em outro planeta e se movem por duas reinvindicações apenas: fechamento das instituições e o voto impresso.

            Soou como “um tiro pela culatra” a tal “Declaração à nação”. E foi. Trouxe um grande prejuízo para os adeptos do “Deus acima de tudo”. E, como um terremoto frustrado, só balançou a placa tectônica do “banditismo político”, que buscou rapidamente com o auxilio de setores das elites conservadoras, de natureza também golpista, mas desconfiadas com as consequências do prolongamento dos tremores, interferiu para ganhar tempo. Do lado das forças de esquerda, tudo continua como estava, nenhum grão de terra desmoronou.   

            “Tudo bem”, dizem os conformados e ansiosos de que chegue logo 2022, para, com as próximas eleições presidenciais acabar com a farsa e os assanhamentos do representante do partido militar e das milícias, navegantes sobre águas verde e amarelas, com odor putrefato de tanta sujeira composta de propinas, corrupções, ódio, crimes e lodo.

            Mas não são somente esses os sinais, como diria Tirésias, o vidente grego declarando a Édipo sobre a condição para debelar a peste entranhada no reino de Tebas. Havia um assassino a ser descoberto e julgado. As frases de acanhamento na “Declaração à nação” nada dizem das intenções obscuras do pestilento presidente, escondedor de crimes. Por isso, o que deve ser discutido, não é o texto, mas as três palavras finais, aparentemente soltas, fora da elaboração, grafadas com letras maiúsculas e portadoras de uma mensagem própria. Quais são as palavras? “DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA”.

            Antes de tudo, essas palavras não são propriamente do emissor, refletem a tradição “integralista”, um movimento surgido na França no final do século dezenove, para combater o modernismo, por meio da aliança dos propósitos religiosos com os princípios liberais. No Brasil, esse movimento, devido à crise de modelo econômico de 1929, surgiu logo em seguida, buscando reunir, na mesma concepção, as forças antidemocráticas, defensoras de valores conservadores, autoritários e de tendência monárquica. Esta última ainda não foi defendida abertamente na atualidade, como a forma de governo, mas é desejada. Podemos vê-la incluída como terceira reinvindicação, posta pelas posições truculentas do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, dando ao presidente o status de monarca.

            Há sem dúvida nenhuma um movimento em direção a anulação da política, o cancelamento dos partidos, das eleições e de outras formas de participação, sustentado pela junção dos princípios morais, militares e tradicionais. Ou seja, na medida em que apresentam “Deus” como a figura principal, pensam atrair as forças religiosas, agora não mais representadas pela Igreja católica, como foi no passado, mas nas seitas neo-pentecostais insufladas pelo imperialismo norte americano. Com o referencial da “pátria”, dirigem as atenções às forças militares, policiais e paramilitares e, pelo saudosismo “familiar”, atraem os conservadores para juntos edificarem a nova ordem autocrática.  

            Do ponto de vista estratégico, o texto da “Declaração à nação”, em nada mudou. O suposto recuo fez-se necessário porque, apesar de tudo, o momento histórico ainda não legitimou a linha proposta e, certas expressões foram precipitadas, por isso iriam refluir sobre “a família imperial”, ocasionando a prisão de alguns de seus membros e de outros adeptos. Um acordo para baixar as armas, foi oportuno, mas os anseios integralistas permanecem intactos.

            De outro lado, é importante iniciar um debate para combater a ingenuidade em nossas fileiras, de que basta ganhar as próximas eleições presidências e tudo será reencaminhado para o sucesso do crescimento econômico, da geração de emprego, do respeito à democracia etc. Esse raciocínio dando como certo, não é de tudo ruim, mas como já disseram outros autores, haverá eleições? Disputaremos e ganharemos o pleito? Seremos empossados? E, governaremos com a mesma tolerância dada ao príncipe das “motociatas” exibicionistas? 

            Acima de tudo, é importante compreender que o capitalismo decadente geme como um animal ferido e se debate por todos os lados; por isso, lhe interessa mais uma ordem instável do que a sonhada estabilidade que os capitalistas da produção, a classe média e o proletariado conservador adoram.

            O debate deve ir de encontro aos desafios essenciais fazendo ver que precisamos pensar e agir; em primeiro lugar, como propôs Maquiavel, e combater “deus” separando a religião da política, dando a cada esfera o seu lugar. Em segundo lugar, como fizeram Karl Marx e Friedrich Engels, ao denunciarem que, “o proletariado não tem pátria” e “os laços familiares das famílias operárias são desfeitos e seus filhos, reduzidos a simples objeto de comércio, a simples instrumentos de trabalho”.

            É preciso desconfiar e reagir como quem está perdendo a liberdade, para que não sejamos pegos de surpresa e sem energias, pelas sombras do cair da tarde.

                                                                                              

                                                                                                                Ademar Bogo