domingo, 9 de novembro de 2025

O BANDITISMO É POLÍTICO

 

            Atribui-se a Eça de Queiroz a emblemática frase: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. Embora não se possa generalizar a aplicação comparativa, muitas situações condizem, principalmente quando o banditismo se apossa da política.

            A barbárie da matança e das imigrações continentais atribuída às drogas, vem elevando o grau de violência estatal, bem como, motivando guerras contra os países pobres, responsabilizando-os pelo tráfico, quando são outros os interesses perseguidos, tendo à frente o capital. Atrás dele estão os capitalistas produtores de armas, os especuladores e sonegadores que lavam o dinheiro desviado em outros investimentos; os traficantes de colarinho branco, políticos e agentes de segurança, lideram ou acompanham a caravana. As autoridades governamentais sabem disso, porque, quando se dispõem a combater o mercado de circulação de drogas, defendem ser preciso “causar prejuízo econômico”, descapitalizar o crime organizado confiscando das facções os bens e as estruturas fundamentais.

            É evidente que, no capitalismo, qualquer medida isolada que se tome para resolver um entre os diversos problemas, sempre será insuficiente, porque, a natureza dele está atrelada à estrutura de um sistema. É próprio das relações comerciais capitalistas serem lucrativas, por isso não importa se o produto em circulação seja o ouro ou o estrume animal, interessa o que essas transações rendem financeiramente. Por isso, é ignorância pura induzir a sociedade a pensar que as favelas seja a estrutura de comando do tráfico de drogas. Se compararmos a produção e a comercialização delas a uma indústria, nas favelas reside apenas parte da força de trabalho, contratada para fabricar e fazer circular o produto.

            Historicamente as drogas têm causado enormes prejuízos ao que chamam de civilização. A humanidade desde sua origem relacionou-se com as drogas. Generalizando os tipos, vão elas desde as bebidas alcóolicas consumidas há mais 10 mil anos, quando até os deuses se embebedavam, como é o caso do deus da riqueza, “Poros”, que, embriagado de néctar foi seduzido por, “Penia”, uma mendiga e, naquela relação geraram Eros, tido como o “mensageiro do amor”. Dionísio, o deus das festas e do vinho, costumava-se embriagar. Nas sagradas escrituras, são recorrentes os exemplos de uso e abuso de bebidas alcoolizadas, como por exemplo a transformação da água em vinho. O ópio como produto alucinógeno iniciou a sua comercialização na Ásia, há mais de 5 mil anos. O tabaco até o século XVII era culturalmente usado para rituais e recomendado para curar certas enfermidades. Com a estruturação do mercantilismo capitalista, todas as coisas tornaram-se mercadorias e, alvos para fazer render o capital.

            Na atualidade, quando as discussões rumam para a direção do “combate às drogas”, seguem o rumo da criminalização. Como não há um comércio ou fabricantes desses produtos estabelecidos com uma marca e um endereço fixo, reprimido, o tráfico organizou o seu “Estado de poder”, com governança e hierarquias clandestinas. No entanto, a repressão é feita no interior das favelas, onde está situada a parte sensível do processo, na qual se arregimenta a força de trabalho para fazer circular a mercadoria. Por ser um produto valioso, precisa ele de armas, escolta e um sistema de inteligência cada vez mais sofisticado para circular. Portanto, não existe, para algumas drogas, uma instalação pomposa, como a “Souza Cruz”, BAT, ou BRITISH AMERICAN, detentora do monopólio do tabaco, ou a AMBEV, representante da maior empresa de bebidas do mundo, que, mesmo comercializando drogas, viciando e causando prejuízos à saúde pública, funciona livremente, paga impostos expõe os seus produtos sem receber em troca nenhuma bala disparada pela ordem da lei.

Por serem as bebidas produtos de consumo culturalmente aceitas, são propagandeadas legalmente, apenas com duas proibições: não serem vendidas a menores e, não dirigir veículos motorizados após fazer uso delas. No mais, estão expostas em todos os lugares onde circula dinheiro. Com o tabaco também já foi assim. As gerações mais velhas devem lembrar do status rude e forte que representava a marca Malboro, exibida nas televisões, nos comerciais do horário nobre. Isso permaneceu livremente funcionando até 15 de julho de 1996, quando a Lei nº 9.294 passou a limitar o vínculo propagandístico da relação entre o cigarro e a virilidade masculina, mas continuou livre para ser comercializado socialmente. De lá para cá, se o percentual de fumantes no Brasil caiu, de quase 25% para cerca de 10% de fumantes entre a população em geral e, se não precisa de armas nem de facções para comercializar cigarros e bebidas, é porque a legalização de outras drogas pode ser a indicação do melhor caminho a tomar.

            Se a regulamentação do uso de bebidas e de cigarros caiu e, principalmente a população mais jovem evita viciar-se, quais foram os fatores que levaram a isso? Repressão policial? Não. Iniciou pelo avanço da conscientização juntamente com a elevação da taxa dos impostos na comercialização; a proibição do uso do cigarro em lugares públicos; campanhas educativas e, o ataque cultural contra o status do fumante. Portanto, não precisou de violência nem tampouco encarcerar a juventude preta para impedi-la de ter acesso ao tabaco. Logo, esse é um exemplo ilustrativo de que, a descriminalização de certos tipos de drogas, não conduz automaticamente ao aumento de consumo.

            Por outro lado, a associação entre o tráfico de drogas, a formação de facções e milícias é oportuna, mas muito ocasional. As facções se originaram na política, antes mesmo de existirem os partidos políticos. Elas visavam defender os interesses de seus integrantes e não os interesses da população. As milicias, historicamente, desde a Grécia Antiga, representaram grupos vinculados ao controle e a repressão social. No Brasil, na ditadura militar pós-1964, denominavam-se “Esquadrões da morte”; depois, “Grupos de extermínio” e, mais recentemente, “Milícias armadas”, organizadas com a finalidade de estabelecerem o controle territorial, para extorquirem e dominarem a população, usá-la para fins econômicos e redutos eleitorais. Por isso, mesmo com a eliminação das drogas, o controle policial, os maus tratos e a cobrança de serviços paralelos dos habitantes de bairros e favelas, essas formas de organização irão continuar.

            O que se chamou de “Mega operação policial” realizada nas favelas do Rio de Janeiro no dia 28 de outubro de 2025, deverá ficar na História como sendo o dia em que se deu a abertura da porta para a entrada das forças militares do império dos Estados Unidos. Com o argumento de que aqui reside a base do narcotráfico e do terrorismo mundial, virão para intervir. No fundo, isso representará a desculpa para alcançar outros interesses camuflados que é o de assaltar as riquezas naturais que possam impulsionar aquela economia. Para citar apenas um exemplo: no ano de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque e assassinaram o Presidente Sadam Hussein, com a invenção mentirosa de que ele estava produzindo “armas químicas”. Após matarem mais de trezentas mil pessoas, não acharam nada de irregular, apossaram-se do petróleo e implantaram o caos político no país. 

            Essas reações fortalecedoras da barbárie social e política presentes no Brasil, revelam que a extrema-direita não foi punida o suficiente, com as condenações e prisões dos golpistas do 8 de janeiro de 2023. As insípidas negociações para a redução das taxas de exportação que, para o governo brasileiro parece ser um deslumbre, é apenas a cilada para aliciar as próprias forças da “esquerda liberal”, para que não substituam o dólar por outra moeda nos pagamentos das transações comerciais, saiam do BRICs e entreguem os minérios nobres para a exploração das empresas norte-americanas.

            O banditismo nacional e imperialista está se tornando a essência da política contemporânea. O comportamento dos mandatários das nações do norte-global é o mesmo dos chefes das facções e das milicias instaladas nas periferias dos países pobres. Impõem com os mesmos métodos totalitários o controle territorial. Somente o socialismo pode superar a barbárie e estabelecer a Paz no mundo.

                                                                                Ademar Bogo

             

           

domingo, 26 de outubro de 2025

O PRESENTE DE PRESENTE

 

Duas famílias se revezavam no poder de Florença na Itália na entrada do século XVI: os Soderini e os Médici. Maquiavel era um fiel servidor de Piero di Tommazo Soderini, até 1512, quando foi derrubado do poder. Dali em diante passou a ser considerado um traidor, o que ele jurava não ser. Após ser preso e torturado, recolheu-se em um sítio próximo à cidade e lá montou a sua estratégia de cativar o “príncipe”.

Está na dedicatória do livro O príncipe, de Nicolau Maquiavel, enviado ao Magnifico Lorenzo de Médici, ao qual pretendia agradar para, além de deixar de ser perseguido, voltar a ocupar algum cargo no governo de Florença na Itália. “Os que desejam obter o favor de um príncipe costumam, por via de regra, presenteá-lo com aquilo que mais caro lhes é ou julgam mais agradar a ele. Daí vermos amiúde serem os príncipes brindados com cavalos, armas, lhamas de ouro, pedras preciosas e outras dádivas semelhantes, dignas de sua grandeza”.[1] Mais adiante dirá ele que havia optado por dar provas de sua submissão, doando “o conhecimento das ações dos grandes homens”. Essa geralmente tem sido a tradição dos povos moralmente fracos trocar a própria liberdade por algum benefício.

Estamos vivendo a iminência de sermos atacados pelos Estados Unidos de diferentes formas. As primeiras investidas, para encurtar a história, vieram como o golpe institucional desferido contra a presidente Dilma em 2016; depois todas as falcatruas jurídicas da Lava Jato; a eleição planejada de Bolsonaro e a tentativa de permanecer no poder, com o quebra-quebra no dia 8 de janeiro de 2023. De lá para cá, os Estados Unidos em franca desvantagem econômica com a China, vem intensificando as ameaças de controle da América Latina e do Caribe.

As elevadas taxas impostas ao Brasil sobre alguns produtos de exportação de menor interesse do governo imperial, e a maneira como o nosso governo respondeu, pareceu uma atitude coerente com quem luta para manter a ideologia da soberania em evidência. Por que dizemos que a manutenção da soberania é apenas ideológica e falsamente defendida? Basta observarmos simplificadamente, que encontraremos mais de 4 mil empresas norte-americanas atuando no Brasil; elas representam 34% dos investimentos externos. Logo, de nada adianta falar grosso sobre as tarifas de 50% dos produtos importados, quando temos um protecionismo, estabelecido pela Lei Kandir, de 01 de novembro de 1996, que isenta da cobrança de tributo do ICMS, os produtos e serviços exportados pelas empresas que funcionam em nosso território. Nesse sentido, com essa quantidade de empresas, o serviço de inteligência capaz de grampear os telefones, como fizera com a presidente Dilma no passado, a tese de que “o presidente Trump está mal-informado” é no mínimo ingênua.  

Por outro lado, está evidente que, a disputa entre China e Estados Unidos sobre o controle mundial do comércio e produção da riqueza, promove diferentes reações com métodos diferentes. Os chineses agem de forma diplomática e cooperativa, os norte-americanos com ameaças e violência. O cerco em formação contra a Venezuela e a Colômbia pelo Mar do Caribe, é a prova cabal de que, os interesses econômicos, principalmente no controle do petróleo, estão na base dessa reação.  

No caso brasileiro, a aparente centralidade no problema político e não no econômico, se deve à diferente estratégia de enfrentamento montada pelos Estados Unidos. Em primeiro lugar, porque, até aqui, nos duzentos anos de relações diplomáticas, nunca foi preciso disparar nenhum tiro para que os interesses ianques fossem satisfeitos. O petróleo cuja exploração iniciou com o lema de ser “nosso”, com a política de leilão dos blocos, as empresas estrangeiras disfarçam a participação por meio da formação de consórcios. Tudo feito dentro da lei sem provocar conflitos. Em segundo lugar, é o potencial que ainda temos em minérios que podem interessar também aos outros países. Na medida que o Brasil passou a compor os BRICs, feriu os interesses do império e, por isso, a reação. Logo, os Estados unidos de olho no futuro, querem o nosso presente de presente.

Nesse sentido, de algum modo, vale muito a defesa soberania política, porém, na medida que a soberania econômica deixa de existir, o país sofrerá um assemelhado “derrame cerebral”, cujas consequências se resume em poder apenas mover os membros do lado direito do corpo, os do lado esquerdo ficarão paralisados.

Por isso, acendem as luzes amarelas, quando começa ter um certo ufanismo com as reuniões de entendimento nas conversas entre os dois governos, isto porque, a relação desde o início não é de igualdade. Os Estados Unidos partem de uma vantagem ofensiva que é a imposição da tarifa de exportação de 50%, é o que popularmente se chama de “faca no pescoço”. Diante disso, lembremos do alerta maquiavélico. Se vamos para a conversa para “obter favores”, então levaremos aquilo que nos é mais importante: o petróleo, o lítio, o nióbio, o cobalto, o grafite, as terras raras e outros minérios necessários para fazer a economia norte-americana se recuperar; ou levamos conhecimentos, para dizer que está na hora do Brasil ser respeitado, e que, a nossa autoestima superou a síndrome de sermos eternos “vira-latas”, serviçais e submissos aos caprichos do império.

É hora da reação em bloco e de darmos o segundo grito de independência, em continuação das primeiras conquistas latino-americanas do século XIX, que, entre 1804 a 1830 os colonizadores europeus foram escorraçados de nosso continente. José Martí, Simon Bolívar, José Carlos Mariátegui e Carlos Marighella,  têm muito a nos dizer, se quisermos mandar o príncipe para o inferno com todas as suas imposições.     

                                                                       Ademar Bogo



[1] MAQUIAVELLI, Niccoló. O príncipe. Brasília: Senado Federal, 2016.

domingo, 12 de outubro de 2025

PRÊMIO AOS VIRA-LATAS


            O mês de outubro de todos os anos tornou-se uma referência para o anúncio das premiações do “Prêmio Nobel”, expresso em seis categorias: Química, Física, Literatura, Medicina, Economia e Paz. Os cinco primeiros possuem base científica e, o último puramente político.

            A origem de tais prêmios está vinculada ao inventor da dinamite, o sueco Alfred Nobel (1833-1896). Químico e inventor, deixou a sua riqueza para compor o prêmio Nobel. A influência para os inventos veio de seu pai que era engenheiro e construtor de pontes, edifícios e estradas de ferro, que suscitaram a necessidade de inovar as técnicas de detonação de rochas. Após várias tentativas, em 1863, Alfred, realizou a primeira detonação utilizando a nitroglicerina e, um ano depois, patenteou o invento. O nome dýnamis, vem do grego e quer dizer “poder”. Foi esse poder que mais tarde veio a perturbar o sono de Alfred Nobel quando viu a sua criação sendo usada para outros fins, inclusive para matar pessoas.

            O seu arrependimento pela violenta invenção, veio quando, em 1888, por ocasião da morte natural de seu irmão Ludvig, um jornal francês, confundindo ser ele o próprio Alfred, noticiou a sua passagem com a manchete “Morre o mercador da morte”.  Para impedir que essa identificação o mantivesse eternamente preso à rememoração do mal, resolveu doar a sua fortuna para aqueles que apresentassem todos os anos, invenções significativas para o bem.

            Feitos os esclarecimentos iniciais sobre a origem do Prêmio Nobel, embora tenha havido belas surpresas nas pessoas escolhidas e laureadas desde 1901, ele tem cada vez mais se tornado um instrumento de manipulação do capital. Se os inventos trazem benefícios para a humanidade, pouco importa, vale fortalecer a cada ano as tendências a serem implementadas que rendam altos lucros.

            O Prêmio Nobel da Paz foi, neste ano de 2025, entregue para Corina Maria Machado, uma figura da extrema-direita venezuelana que já tentou dar golpe de Estado, falsificar os resultados das eleições e continuar promovendo articulações para desestabilizar o governo da Venezuela, com bloqueios e punições econômicas contra o seu próprio país. Suas articulações além de isolar a Venezuela do mundo, colocou a cabeça do presidente Nicolas Maduro a um prêmio de U$ 50 milhões de dólares.

            O prêmio Nobel da Paz, deveria ser de fato para homenagear e reconhecer, personalidades ou grupos sociais que almejam e trabalham pela Paz e não o contrário. Sabemos que os interesses do imperialismo é apropriar-se do petróleo e dos minérios existentes em grandes quantidades na América do Sul, por isso precisa de governos submissos. Nesse sentido não faltam candidatos com “complexo de vira-latas” para ajudá-los.

            Nelson Rodrigues escreveu em 1958 em uma de suas crônicas esportivas, na qual expôs essa definição: “Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.[1] Na verdade, não são os brasileiros, mas os governantes, empresários e políticos oportunistas, que antes mesmo de serem confrontados, acanham-se e rastejam diante do império para fazer-lhes as honras, entregando-lhes a o incenso, o ouro e a mirra, e tudo o que há no subsolo.

            A vergonhosa postura dos empresários do agronegócio diante da elevação das taxas de impostos de exportação, para os 15% dos produtos que eram levados para os Estados Unidos, é de abismar qualquer pessoa. Como se estivem perdendo todos os privilégios, os vendedores da pátria brasileira, ajoelharam-se diante de um bufão de cabelos loiros, pedindo clemência. Esqueceram de observar que no mundo já temos 8 bilhões de pessoas distribuídas em 195 países, que precisam se alimentar. Os Estados Unidos da América têm atualmente, 340 milhões de pessoas; qualquer comerciante astuto faria essa relação se quisesse continuar os seus negócios lucrativos e procuraria outros mercados. Mas o medo de ficarem malvistos e, pondo em destaque o título de verdadeiros “vira-latas”, sentaram-se sobre a cauda para mendigarem a redução de impostos.

            O “complexo de vira-latas”, nada tem a ver com o cachorro, mas com a regularidade da conduta política que, desde 7 de setembro de 1822, quando o entendimento entre pai e filho, mediante uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas, pagos à Portugal, com um empréstimo de 3 milhões da mesma moeda, tomados da Inglaterra, representou o preço de nossa independência. Se não fosse a resistência baiana, com destaque à bravura de três mulheres: Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica, o grito do Ipiranga teria sido apenas um grito.

            Portanto, o capital faz a guerra para destruir tudo e depois se apresenta como o redentor para reconstruir. O retrato fiel desse comportamento podemos ver nas imagens das ruínas palestinas. Isto renderá bilhões de dólares para os capitalistas e, o próximo Prêmio Nobel de 2026, com certeza será dado a Donald Trump. Enquanto isso, os canhões se voltam para a Venezuela que está situada num ponto estratégico, próximo da Guiana e da Foz do Amazonas, onde estão situadas as maiores reservas de petróleo do mundo.

            Somado a isto, a presença da China, com o projeto da Ferrovia Bioceânica ou Corredor Ferroviário Atlântico-Pacífico, saindo de Ilhéus na Bahia, para chegar à cidade de Chancay a 70 quilômetros de Lima no Peru, completa o colar da Rota da Seda internacional deixando os Estados Unidos fora dessa articulação.

            Não poderá existir Paz no mundo enquanto a solidariedade entre os povos não se tornar um valor fundamental. Enquanto os assassinos premiam-se entre si, todo e qualquer movimento em direção a Paz, terá por trás, as altas somas financeiras lucrativas alcançadas. É preciso suplantar o “Complexo de vira-latas” presente nas esferas políticas e mostrar que soberania não significa liberdade de mercado, mas a autonomia de decisão para virar a cabeça para o lado que queremos ver o mundo em cada momento.

                                                                       Ademar Bogo



[1] RODRIGUES, Nelson. Complexo de vira-lata. https://vermelho.org.br/2014/06/12/nelson-rodrigues-e-o-complexo-de-vira-latas.

domingo, 5 de outubro de 2025

PREPARAR-SE PARA O ASCENSO


As gerações nascidas na primeira metade do século XX, conviveram com um conceito temeroso conhecido como “Guerra nas estrelas”. Essa estratégia passou a vigorar na área militar após as duas grandes guerras mundiais, quando o mundo terreno foi oportunamente repartido pelas potências mundiais, mas restava ainda conquistarem o mundo das estrelas.

Quase que repetindo as fantasias platônicas, o qual dividia o universo em dois mundos: o inteligível onde residia as ideias perfeitas e, o mundo sensível, terreno, no qual reproduzia-se as cópias, geralmente imperfeitas, porque as capacidades naturais eram sempre inferiores às habilidades dos deuses. A guerra nas estrelas, de algum modo, levou as ideias para o espaço. Muita tecnologia foi criada por esta concepção desbravadora de outros planetas, como também, ainda busca condições para habitá-los.

De outro modo, Aristóteles havia sido bem mais realista. Intuiu que existem dois mundos: o supralunar (desconhecido) e o sublunar, possível de ser conhecido, pois, abaixo da lua tudo era possível de ser conhecido. Foi neste segundo mundo que a estratégia da “guerra nas estrelas” se situou tecnologicamente, com a instalação de satélites, sondas, estações, foguetes e outros meios de vigilância, capazes de fazerem as nações mais fracas submeterem-se às demais. Este conceito de controle sublunar nos é mais compreensível, isto porque, as nações disputam o poder sobre esse espaço, enquanto se preparam para dominarem a parte superior do universo.

Se a “Guerra nas Estrelas” era uma intensa concorrência entre as potências para saber quem conseguiria levar a vida humana para lá, ainda deverá fazê-lo; porém, o olhar de cima, por intermédio de lentes, tornou-se perigoso para elas no mundo sublunar. As localizações dos alvos são precisas e certeiras, pois, a mira governada por raios laser chega primeiro do que as balas e marca os pontos a serem perfurados. No entanto, há uma fragilidade nesse mundo terreno; da mesma forma que acontece entre as árvores, a concorrência não se dá apenas entre aquelas árvores que têm a copa mais alta, mas também as raízes mais profundas, para sustentarem-se quando os vendavais violentam a floresta. Os de cima, ainda moram aqui embaixo e não é difícil de localizar os seus investimentos.

Nas últimas décadas,  o conceito de “Guerra Fria” tornou-se coisa do passado e, os combates voltaram a ser com fogo e chumbo. Com a queda da União Soviética, os imperialistas imaginaram que o mundo havia se tornado unipolar, e o capitalismo estava salvo das ameaças comunistas. Ledo engano, diante da autossuficiência dos fortes, os fracos ousaram desafiá-los com as práticas mais simples: solucionar os problemas socioeconômicos sobre a terra. Foi então que algumas economias cresceram mais do que o esperado. Os mercados passaram a ser inundados pelas mercadorias baratas que levaram à falência as fábricas locais. O próprio capital excedente, ao invés de investir na produção, transmutou-se para a especulação, levando o império dos Estados Unidos, principalmente, a manter as armas apontadas contra os múltiplos inimigos, porém, sem capacidade para produzir a própria munição.  

De um ano para outro, após dois séculos de exploração imperialista, os fracos e humilhados levantaram a cabeça: México, Colômbia, Venezuela e Brasil, no coração das américas, começaram a dizer “não”, aos Estados Unidos, e prometem aliarem-se com outras referências, como a China e a Rússia, formando outro bloco alheio ao G20, chamado inicialmente de BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), mas outras nações também se somam e estreitam as relações.

Embora esse ascenso seja institucional ele cumpre o papel de encorajar as lutas locais e continentais, a atacarem no mundo terreno, onde vivem e trabalham os mortais, todos os vestígios de intervenção. Com os alvos ampliados, as tecnologias aéreas perderão a eficiência, porque será a força física contra a tecnologia armamentista e a inteligência humana, acima da inteligência artificial, que comandarão o planejamento da vida sobre a terra.

Fora as contradições da globalização que criou as condições para o revigoramento do internacionalismo e s solidariedade entre os povos. A defesa da é demonstração vital de que uma parte da humanidade continua ativa e dispostas a tomar em suas mãos o destino do planeta. Os clamores por justiça ecoam pelos ares e tocam os ouvidos das populações exploradas, para que reajam contra os criadores da miséria, da violência e da dominação. É com coragem e unidade que as classes dominantes, em qualquer parte do mundo, serão definitivamente dominadas.

É preciso preparar-se para o ascenso das lutas unitárias; elas serão locais mas de alcance universal, porque a causa será comum. Os impérios fracassam quando perdem o controle sobre os povos. Nenhuma tecnologia será capaz de impor a obediência total, quando, por revolta ou por consciência as pessoas decidirem conquistar a própria liberdade.

                                                                       Ademar Bogo

domingo, 21 de setembro de 2025

SOBERANIA PARLAMENTAR


                Embora a Inglaterra tenha na modernidade produzido grandes filósofos como Thomas Hobbes (1588-1679), ferrenho defensor do absolutismo, no qual reina o poder do soberano, foi o país que por primeiro implantou a monarquia parlamentarista, consolidada em 1688, com a Revolução Gloriosa e assim vigora até os nossos dias.

                Não se trata aqui de defender aquela forma de governo esclerosada, importa é fazermos uma breve reflexão sobre a ideologia da democracia representativa, a qual, superficialmente, combina irmanação dos três poderes, que constituem a representação da ordem no mundo civilizado.

                Hobbes produziu uma ideia no livro: Diálogo entre um filósofo e um jurista, que nos ajuda entender como funciona a mente dos legisladores. “O senhor gostaria que os homens alegassem mutuamente como lei sua razão particular? Entre os homens não existe uma razão universal sobre a qual há acordo dentro da nação, além daquele que tem o poder soberano”.[1]Isso é tudo. Quem pode usar a razão para fazer leis ou revogá-las, é somente o soberano, os demais cidadãos usam a razão apenas para usufruírem o que está ao alcance de suas mãos.

                Se entre os homens somente o soberano tem razão universal, significa que por tê-la, está acima dos homens comuns e, por isso, mesmo sendo pego pela lei por ele elaborada, estará blindado. Assemelha-se esse fenômeno ao da invenção da bomba de gás lacrimogênio, pelos Norte americanos  Ben Corson e Roger Stoughton,  em 1928,para maltratar as multidões, enquanto para aquele que a lança  por estar usando a proteção da máscara antigás, nada acontece.

                No Brasil, estamos caminhando para o absolutismo do parlamento. Leis  incômodas são substituídas pelos Projetos de Emenda Constitucional – PEC, enquanto a sociedade assiste o desmonte de sua Constituição.  A mais recente invenção é a PEC da “blindagem”. Em síntese é uma lei que impede a abertura de qualquer processo contra um parlamentar, salvo se o próprio Congresso autorizar. Na verdade, como eleitores já sabíamos que, sempre após eleito, o político cria a sua própria autonomia, porém, não sabíamos que o voto tem o poder de elevar os eleitos acima das próprias leis que eles elaboram.

                Se a moda pegar, o sacerdote e o pastor farão as suas leis para não serem pegos na pedofilia; o artista precaver-se-á legalmente para quando beijar tecnicamente, não passar ser visto o ato como um assédio; o fazendeiro, antes de pulverizar o agrotóxico, prevenir-se-á com uma lei de não contaminação; o juiz quando vender sentenças; o jogador de futebol envolvido em falcatruas nas loterias, todos formularão as suas garantias.

                Os escândalos entram para a normalidade porque a barbárie já se normalizou. O banditismo político tornou-se incontrolável. A eticidade, segundo o filósofo Hegel, que  deveria estar acima do direito e da moral, para garantir que a liberdade individual esteja submetida ao dever e a vontade social, não está mais. Vemos mesmo é o seu contrário. O indivíduo acostumado com o crime, impõem aos cidadãos de bem, as suas projeções legais. Assim funciona o mundo paralelo: o gangster, chefe do crime organizado, elabora as normas que lhes servem de poder pessoal.

                Ainda não vimos tudo. Esses setores marginais, com vinculação orgânica nas religiões, facções organizadas, parlamento, grande parte das forças policiais, capital especulativo, setores produtivos, como o agronegócio, as mineradoras etc., já se tornaram centros de articulação política. O crime não teme a lei. Esta última se vê como um cão acorrentado sendo caçado pela onça. Quando algumas lições podem ser dadas, o Congresso anistia, reduz as penas e tudo segue sendo a encenação dos facínoras fascinados, que acham terem mais razão do que os demais seres racionais.

                O capitalismo decadente revela as suas contradições em todas as dimensões. O Estado e o Direito, vistos na teoria como pilares da manutenção da liberdade, garantidores aos cidadãos do direito de ir e vir, tornaram-se reféns de grupos de malfeitores, que se protegem de todas as maneiras, para não serem surpreendidos em sua travessuras.

                Mais problemático do que a blindagem é a conivência e, pior que esta é a imobilidade diante da barbárie política. O poeta Paulo Leminski, em seu poema “Bem no fundo”, interpretou o desejo universal à inanição: “No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto”. Se veremos solução, é para os problemas deles.

                Portanto, não basta lamentar-se, é preciso proibir de enganar-se que das urnas poderão nascer parlamentares mais descentes. A política será moralizada quando o parlamentar, antes de votar qualquer decreto, precisar consultar e ser autorizado a opinar, pelos eleitores que lhe deram o mandato.   

                A luta continua.

                                                                                                              Ademar Bogo



[1] HOBBES, Thomas. Diálogo entre um filósofo e um jurista. São Paulo: Landy, 2004, p. 54

domingo, 14 de setembro de 2025

JULGAMENTO E JUSTIÇA


Há momentos importantes na vida de um cidadão ou na história de um país, cujas marcas ficam registradas para sempre. É o caso de um julgamento. Os olhos se voltam para o tribunal para vislumbrarem o produto que sairá de lá, com o nome de condenação ou absolvição, daí surgem as expressões, nos juízos particulares, se os resultados foram justos ou injustos.

Aristóteles foi um dos primeiros filósofos gregos a teorizar sobre a justiça.Ora, "justiça" e "injustiça" parecem ser termos ambíguos, mas, como os seus diferentes significados se aproximam uns dos outros, a ambiguidade escapa à atenção e não é evidente como, por comparação, nos casos em que os significados se afastam muito um do outro (...)”.[1] Talvez esteja nisso a chave para entendermos essa confusão, quando não sabemos discernir se o réu é culpado ou inocente.

O filósofo preocupa-se em situar a materialidade dos atos, mas, ao deparar-se com os diversos significados para “um homem injusto” que, muitas vezes não conseguimos localizar em que ponto está a sua culpa. Para facilitar o entendimento, voltou-se Aristóteles para os comparativos do “homem sem lei” e, o “homem respeitador da lei”. Acontece que entre o réu e a condenação, estão as argumentações para prendê-lo ou soltá-lo das malhas da lei.

As vezes as expectativas são maiores do que as evidências e com isso há desequilíbrio na aplicação dos pesos e das medidas, por isso, os julgamentos as vezes parecem ser justos, outras vezes injustos. As coisas se agravam ainda mais quando adentramos para o campo dos desejos, também ambíguos, no sentido de “fazer justiça” ou “fazer vingança”.

Entre a justiça e a vingança não há parede divisória, apenas duas linhas paralelas, com cores diferentes, marcam as satisfações e insatisfações. Satisfeitos com o resultado do julgamento, nem sempre nutrimos o sentimento de justiça; haverá ainda o seguimento de onde e como o réu cumprirá a sentença e progredirá no cumprimento pena. Já que o cidadão não pode interferir nas decisões do juiz, ele faz denúncias e exigências para que tudo seja cumprido nas piores condições possíveis, com as mais perversas companhias, vistas como instrumentos da vingança e acompanhada de todas as maledicências para que de tudo de ruim lhe aconteça do lado de dentro das grades.

Assim é a civilização: A lei acima de todos. No entanto, há situações que acima das leis estão aqueles que as elaboram, isto porque, como um pai nunca imagina que será punido pelo filho, supostamente, a criação de uma lei jamais se voltaria contra o seu criador. Mas pode vir a ocorrer. Quando isso acontece, como a ambiguidade entre o veneno e o antídoto: os fabricantes mudam a fórmula, um fica sendo a doença e o outro o remédio. Por isso surgem os pedidos de anistia que somente podem ser realizados com a aprovação de uma lei que anula os crimes imputados por outras leis.

A imunidade parlamentar é um exemplo de que há pessoas acima das leis que não podem alcança-lo enquanto durar o seu mandato e, a impunibilidade do juiz que faz a interpretação das leis segundo os seus interesses. Não há limites hermenêuticos, mesmo quando os atos falam por si mesmos, há a possibilidade de assegurar aos culpados uma mentirosa inocência.

Por outro lado, a justiça e a política são acompanhadas da coragem e do medo. No Brasil, logo após a abertura política de 1985, houve a campanha para presidente da republica em 1989 e, o Partido dos Trabalhadores hegemonizou as mobilizações com o slogan: “Sem medo de ser feliz”. Buscavam os seus ideólogos espantarem o fantasma do comunismo que as forças responsáveis pela ditadura militar haviam criado. Quando em 2002, aconteceu a primeira vitória eleitoral para governar o país, a afirmação verbal foi: “A esperança venceu o medo”.

O que chama a atenção não é o resultado alcançado, mas o “medo” que aparece nos dois momentos históricos decisivos. Por isso, se justificava a intocabilidade dos militares. Os ditadores e torturados responsáveis por centenas de mortes, torturas, censuras, perseguições etc., vivem ainda ou morreram em suas casas, com soldos e vantagens que se estendem para os seus familiares, privilégios que nenhum trabalhador brasileiro possui.

Nesse último onze de setembro de 2025, enquanto rememoramos os 52 anos da morte de Salvador Allende, vítima do golpe militar chileno em 1973; no Brasil assistimos à condenação de um grupo de golpistas que atentaram contra os resíduos de democracia política em 8 de janeiro de 2023. É evidente que isto é muito pouco em relação a tudo o que as lutas de resistência já passaram e sofreram, pela violência praticada pelas intervenções militares contra elas. De algum modo, só para citar alguns: Zumbi dos Palmares morto pelas forças oficiais em 20 de novembro de 1695; Antônio Conselheiro e os mortos de Canudos em 1897; Carlos Marighella (1969), Carlos Lamarca (1971) e todos os guerrilheiras e guerrilheiras que organizados enfrentaram a ditadura militar de 1964, nesse dia também foram lembrados.

O pouco se torna muito quando se ampliam os resultados. Se algo de bom ocorreu com a condenação dos golpistas, foi que “o medo venceu o medo”. Agora é possível dizer que é possível. Mesmo que tudo continue como está, um passo adiante foi dado, frente ao fantasma militar e o poder do imperialismo que, unidos, construíram o que de pior pode existir contra uma nação para que ela seja soberana, que é o medo de se insurgir.

Por tudo isso, podemos dizer que houve julgamento, mas a justiça ainda não aconteceu. O sofrimento dos povos originários massacrados; dos negros escravizados e mortos; dos pobres e trabalhadores reprimidos, presos e torturados, são todos crimes cometidos pelo braço jurídico e a mão armada dos Estado brasileiro. Para que a justiça verdadeiramente seja feita, precisamos eliminar a principal ambiguidade composta pela contradição entre explorador e explorado, para isso é preciso que o próximo tribunal seja popular, instalado nos campos, nas fábricas, nos serviços, praças, ruas e favelas para nele condenarmos, a desigualdade social, a propriedade privada, a exploração do capital e o poder centralizado do Estado. Nesse sentido, a luta não terminou, aliás, ela apenas começou.

                                                                       Ademar Bogo



[1] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, p. 12

domingo, 31 de agosto de 2025

AGORA É DIFERENTE


            Se comprarmos o poder mundial a um triângulo de forças, veremos que ele mudou um pouco as aberturas dos seus ângulos, como também, está se estruturando com um novo formato. Se antes ele situava-se sobre as referências hegemônicas, tendo os Estados Unidos, Rússia e alguns países da Europa, agora, a base em formação é continental: Ásia, África e América Latina.

            A briga tarifária do governo dos Estados Unidos, praticamente, contra o mundo, pois ficaram apenas oito países sem penalização, arrastou para os seus pés, a velha Europa colonialista decadente que, ao submeter-se às imposições, abraçou-se a um moribundo ferido de morte pelo neoliberalismo, por eles mesmos criado.

            As novidades auspiciosas, firmam-se sobre as unidades das soberanias continentais. Logo, logo, veremos que é um atraso falar de “nossa pátria”, “meu país” ou “soberania nacional”. O novo conteúdo do internacionalismo proletário será formado pelas populações residentes no Sul Global.

            Neste momento ainda em transição, como latino-americanos, devemos olhar para trás para reconhecer que, desde 1492 o nosso continente suportou as dores das feridas provocadas pelas intervenções colonialistas e imperialistas. Os gritos de medo e desespero impediram os chamados à união para enfrentar os inimigos comuns. A voz de Simón Bolivar e de tantos outros, propondo a “pátria grande”, não logrou configurar-se. No entanto, as lutas pelas independências, iniciadas com o Haiti em 1804, seguiram um ritmo acelerado que, a maioria dos países tornaram-se independentes em menos de 20 anos, ou seja, entre 1810 e 1829 os processos estavam concluídos. Um curto período de tempo de ascensões promissoras na política, mas, a contaminação pela dominação econômica, mergulhou posteriormente todos os países na dominação, denominada por Florestan Fernandes, como “capitalismo dependente”, assim fundamentado nessa ideia: “O esforço necessário para alterar toda a infraestrutura da economia parecia tão difícil e caro que esses setores sociais e suas elites no poder preferiram escolher um papel econômico secundário e dependente, aceitando como vantajosa a perpetuação das estruturas econômicas construídas sob o antigo sistema colonial”.[1]

            Por essa constatação, podemos observar que, os anseios pelas independências levaram à substituição da dominação colonial pela dominação capitalista e imperialista. As corretas proposições do cubano José Martí e, do venezuelano Simón Bolivar, não encontraram as condições favoráveis para as junções nacionais em uma ampla unidade latino-americana. Os dois fatores externos que podemos considerar como limitações importantes, foram as revoluções liberais europeias de 1848, ocorridas depois das independências latinas e, as bases filosóficas do materialismo histórico ter surgido também nessa mesma época. Logo, sem teoria e condições revolucionárias as independências não suplantaram as oligarquias locais e, os Estados nacionais foram estruturados sem a presença efetiva dos trabalhadores e das massas populares; principalmente porque, os contingentes maiores dos trabalhadores, compunham a força-de-trabalho escravizada, como foi o caso brasileiro, que esse regime se encerrou 66 anos depois da independência.

            Nas duas grandes guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), os países latino-americanos e caribenhos, pouca participação tivemos. A briga entre as grandes potências, com a própria Europa dividida, não afetou diretamente, com exceção da Rússia, os países do Sul-Global. Em certo sentido, fomos até beneficiados, como foi o caso da China que, com a derrota do Japão, logrou ter êxito e levou a cabo a revolução em outubro de 1949.

            No tempo presente, as mudanças operadas na forma de articulação, leva a crer que, ninguém estará imune à guerra, mas os polos articulados colocam em desvantagem a aliança entre os Estados Unidos e a Europa. Por outro lado, se a Rússia enfrenta sozinha a guerra situada na Ucrânia, mas é contra todas as potências do Norte Global, a China lidera e distribui pelos países do mundo articulados, investimentos em infraestrutura e os avanços no domínio tecnológico produtivo, distanciando-se cada vez mais com as revoluções da robótica, da informática e da eletrônica, iniciadas nos países capitalistas, mas indo além nova rota da seda, fortalecendo os continentes do Sul Global, explorados e violentados por aquelas potências decadentes.

            O poderio bélico dos Estados Unidos é uma das poucas garantias que lhes sobra para ameaçar países desobedientes. A Venezuela lidera hoje a resistência contra o imperialismo e depende dos demais países para fortalecer-se na defesa dos interesses comuns dos povos latino-americanos. Ao longo da história já experimentamos as diversas formas de repressão e de golpes militares. Contra isso, já sabemos defender-nos. O que eles nos prometem no presente são as invasões militares e as valorizações das divisões internas, promovidas pelo incentivo aos conflitos religiosos, culturais, regionais, com o único objetivo de controlarem e saquearem os minérios nobres e o petróleo, para tentarem fazer frente ao aos avanços do novo modelo econômico, com novas referências cambiais e formas inovadas de aplicações tecnológicas de produção e prestação de serviços.

            Portanto, na atualidade, podemos relacionar dezenas de confrontos internos e externos, mas um deles pelo menos nos favorece, que é o da expectativa progressista contra o desespero. Os Estados Unidos, após longo período de terrorismo internacional, agora se desmancham por dentro. Como um sujeito de vísceras apodrecidas é um corpo doente. Surge lá um conceito novo: “morte por desespero”, pois, a insegurança pessoal é tamanha, seja na ausência de um sistema público de saúde, de educação gratuita e de garantias de trabalho que, as expectativas de vida para a população masculina,  caiu para 50 anos. Os opioides, espécie de droga misturada a analgésicos, são buscados na tentativa de acalmar a ansiedade, a depressão e impedir o suicídio.

            As contradições políticas afetam a governabilidade desastrosa de um presidente alucinado, mas também tomado pelo desespero de não saber como enfrentar todos os inimigos que se voltam contra si. Com seus arroubos ignorantes conseguiu unificar concepções e posições políticas opostas, como as do Brasil e a Índia e, internamente o elevado volume de processos contra as suas medidas, chegando ao ápice de, no último dia 29 de agosto de 2025, o Tribunal de Apelações dos Estados Unidos, decidiu pela ilegalidade das mudanças nas taxas de importação. Ou seja, a onda de rejeição ao tarifaço, impulsionada pelos países do mundo, ganha repercussão nas entranhas do próprio império.

            Temos certeza que os ventos da política mudaram a direção. Parafraseando o filósofo Sêneca, da escola estoica, morto na prisão de Roma no ano de 65 d.C. que: “Quando não se sabe para qual porto navegar, nenhum vento é favorável"; nossa vantagem frente ao imperialismo, é a de sabemos que, daquele porto estamos saindo e, com o vento a favor, não tardaremos a chegarmos nas intermediações do socialismo.

                                                                       Ademar Bogo



[1] FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981, p. 13.

domingo, 17 de agosto de 2025

A AURA DO MITO DECADENTE

 

O filósofo Walter Benjamin ao escrever sobre A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, encontrou um jeito de destacar o tema da “Destruição da aura”, e fez o seguinte destaque: “No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo que seu modo de existência. O modo pelo qual se organiza a percepção humana, o meio em que ela se dá, não é apenas condicionado naturalmente, mas também historicamente.”[1] Ou seja, há períodos históricos em que as percepções se equiparam ao modo de se comportar e existir das populações. Para ilustrar melhor, na sequência, além de definir o que é a “aura”, sendo ela uma figura espacial e temporal que absorvemos ao tentar alcançá-la como se fosse algo distante, posta no topo do horizonte, mas que, quanto mais ela se aproxima, mais perde o vigor, até que vem a perder o encanto.

            É um pouco cedo para afirmarmos se a aura do mito Bolsonaro, já está próximo do entendimento da decepção e se extraordinário já quase se esvaiu ou ainda não. Mas, um mito que pede clemência, anistia e foge da sustentação da própria responsabilidade de assumir que queria continuar sendo o “imbrochável”; desafiador do Coronavírus pela imunidade sem vacina; provocador dos juízes do Supremo Tribunal, achincalhando-os em praça pública com palavrões que ninguém ousa expressar contra um juiz e, de exibir-se em motociatas como um jovem contestador do totalitarismo cultural, em busca de escudar o vento com a própria face etc., teria ainda alguma luz a oferecer?

            A última tentativa de sobrevivência do mito foi colocar a sua aura na cabeça do presidente dos Estados Unidos. Aquele, como símbolo do anjo vingador, ofereceu, de imediato, contra a nossa economia, uma tarifa impraticável de 50% sobre os produtos exportados para o reino da morte, se não fosse retirada  a tornozeleira da canela esquerda do famigerado. Depois atacou o próprio ministro com a Lei Magnitsyky, impondo-lhe a proibição de entrar naquele país especializado em deportar imigrantes. Pouco se perde em não poder ir a um lugar governado por uma besta defensora da a matança de palestinos em Gaza, como se lá fosse uma antiga arena, na qual os leões devoravam os cristãos, para divertirem da comitiva do imperador.

            Os “bolsonaros” já foram associados com bananas pequenas e, agora podres. No entanto, há sempre que ter cuidado, porque, simbolicamente quando alguém deseja derrubar outro alguém, a armadilha é feita com cascas dessa fruta escorregadia. Na verdade, a intromissão Trumpista nos assuntos judiciais brasileiros não passa de um blefe enjambrado pelas próprias bananas. Ou seja, não seriam elas capazes de fazerem uma potência como ainda é o imperialismo, gastar as suas energias para livrar da cadeia um reles serviçal, atrapalhando o fluxo centenário de relações comerciais entre os dois países. Eles, aproveitando-se do momento conseguiram colocar esse entulho no meio da artilharia trumpista. Para quem não conseguiu entrar no passado na cerimônia de posse daquele presidente, é sem dúvida uma grande conquista: colocar um punhado de fezes no meio do chumbo e da pólvora dos canhões.

            O certo é que, se o mês de setembro próximo, quando o mito for levado a julgamento, ou mesmo que venha a ser solto, as implicações tarifárias não serão revogadas.  O problema brasileiro atende por nome de Brics. A associação do Brasil com a Rússia, a Índia e a China, despertaram a fúria dos capitalistas de diversas corporações dos Estados Unidos. Essa reunião dos países, além de representar 28,9% da economia mundial, contra os 25% dos Estados Unidos, abriga 48,9% da população do mundo, que irá utilizar tecnologia independente das Big Techs Norte americanas, consumir produtos diferenciados, partilhar investimentos econômicos, financiados por um Banco próprio e, negociar com outra moeda que não é o dólar. Para além disso, ainda há as reservas minerais e de petróleo que farão toda a diferença no âmbito das disputas mundiais do futuro.

            A tentativa de Trump de se colocar como mediador no acordo de Paz entre a Rússia e a Ucrânia é para assegurar algum direito de exploração dos minérios ucranianos, antes que tudo fique sob o domínio russo. Logo, não há bondade nenhuma nessa negociação. Há medo. É uma tentativa do imperialismo segurar-se no próprio cós da cintura das próprias calças para não cair.

            Por todos os elementos postos em jogo, devemos acreditar que as associações das auras bolsonaristas e trumpistas, aproximam-se como dois indivíduos afogando-se indo em direção um ao outro para o último abraço. As circunstâncias apontam para a direção de mudanças na colocação das forças no tabuleiro mundial. No Brasil, embora com fraca animação, a condenação dos golpistas das forças armadas, simboliza que os militares podem ser enquadrados e enfrentados e, a busca de novos mercados indica que é possível sobreviver sem a submissão ao império dos Estados Unidos.

            O ponto vulnerável está do nosso lado. As forças populares e de classe ainda não reacenderam a aura oposta, para colocarem no alto do horizonte a estrela socialista e almejar alcançá-la, marchando naquela direção. É preciso acreditar e convocar para que a rebeldia acompanhe a onda criada pelas contradições entre as potências. É no impulso delas que conseguiremos saltar mais longe em busca de uma melhor colocação lá adiante. Com certeza, venceremos!  

                                                                       Ademar Bogo



[1] BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. O texto aqui publicado é inédito no Brasil. O ensaio traduzido em português por José Lino Grünnewald e publicado em A ideia do cinema (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1696) e na coleção. Os pensadores, da Abril Cultural, é a segunda versão alemã, que Benjamin começou a escrever em 1936 e só foi publicada em 1955. file:///C:/Users/adema/Downloads/BENJAM-1%20(1).PDF

domingo, 10 de agosto de 2025

A ONDA É VERMELHA

 

            Karl Marx, iniciou os seus estudos sobre economia política ainda na Alemanha em 1842 quando, como redator da Gazeta Renana, deparou-se com uma situação embaraçosa voltada para “os direitos materiais”, quando a Assembleia Legislativa da Renânia, empenhou-se em aprovar uma lei sobre o “roubo de lenha”, efetuado por camponeses carentes que precisam entrar nos bosques privados para catarem o material e abastecerem as suas cozinhas. Portanto, do ponto de vista teórico, nesse momento, principiou-se a elaboração da crítica da economia política materialista, da apropriação dos bens da natureza para uso privado; no entanto, tudo feito dentro da lei com aprovação do Estado.

            O conceito de “economia política” já vinha sendo utilizado havia muito tempo. No ano de 1615, antes mesmo de todas as revoluções e guerras ocorridas no capitalismo, o francês Antoine de Montchrestien, escreveu o livro: Tratado de economia política; posteriormente outros autores como, Adam Smith, Stuart Mill e David Ricardo, utilizaram os termos com muito mais profundidade; mas é com Marx que a visão crítica pôde se insurgir e revelar as profundas imbricações que existe entre as duas áreas da política e da economia.

            Marx, após revelar o seu despreparo para enfrentar aquela discussão, buscou preparar-se buscando nos Princípios da filosofia do Direito de Hegel as explicações mais contundentes. “Minhas investigações me conduziram ao seguinte resultado: as relações jurídicas, bem como as formas do Estado, não podem ser explicadas por si mesmas, nem pela chamada evolução geral do espírito humano; essas relações têm, ao contrário, suas raízes nas condições materiais...”.[1] Evidentemente as “condições materiais” estão relacionadas com a economia que emergem da propriedade privada.

            A importância atual de compreendermos esse emaranhado de articulações e inversões, de ora a economia pretender ser totalmente privada, ora, o Estado ter de agir para não deixá-la sucumbir ou, ainda, as autoridades superiores precisam intervir e impor taxações ou assegurarem subsídios para que os negócios continuem sendo lucrativos e os empregos sejam mantidos.

            Na atualidade o governo dos Estados Unidos da América retém as atenções universais. Muitas respostas já foram dadas para pergunta, por que isso está acontecendo? Mas duas palavras apenas são suficientes para definirem a situação: falência e decadência. Em outras palavras, isso quer dizer que esse país se tornou tecnicamente incapaz de administrar vantajosamente a sua economia e, precisa impor por meio de leis, um pedido de socorro das outras economias mundiais.

            Em situações comuns, quando isso ocorre, costumam fazer um balanço para localizarem onde estão as causas dessa decadência. No caso de um país imperialista é mais complicado, porque, muitas podem ser as causas, mas, algumas delas despontam para a justificação do estado desesperador com que o governo de lá se obrigue a criar inimizade com todos os demais países do mundo.

            O entendimento primeiro é que o imperialismo não é uma definição de um modelo estático de poder. Ele é dinâmico e, figuradamente se fôssemos compará-lo com um corpo, é aparelhado com muitos braços que, nesse caso, não são membros, direito e esquerdo, mas econômico, político, militar, jurídico, tecnológico, ideológico etc. Desde a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos buscaram na força de trabalho mundial a base de sua sustentação; seja na exploração das riquezas locais, na exportação de tecnologia e bens de consumo ou da especulação financeira, comprando títulos das dívidas públicas ou forçando o pedido de empréstimo, cobrando altas taxas de juros. O controle dos negócios mundiais efetuados por meio do dólar que, além de dinheiro tornou-se também uma mercadoria e, todos os países foram obrigados a formarem as suas reservas com essa referência.

            As bases econômicas criadas pela expansão das corporações, deslocando seu potencial de produção e exploração para os países que oferecem matéria prima e força-de-trabalho de baixo custo, enfraqueceram a indústria Norte americana, mas nunca deixaram de ser acompanhadas e protegidas, por mais de oitocentas bases militares espalhadas pelo mundo. Em casos específicos, o Estado dos estados Unidos, ocupou-se em fazer guerras, sustentadas pela emissão de dólares para além de qualquer limite. Acontece que, quando um bom lutador luta com um péssimo lutador, quem mais aprende e se fortalece é o segundo, enquanto o primeiro, desaprende ou fica como está.

            No decorrer desse último século, alguns países foram se fortalecendo como é o caso da Rússia desde 1917. Depois a China, o Japão, a Correa do Sul, a Índia etc., no entanto, obrigados a negociar em dólar, mantiveram o padrão de acumulação do capital Norte americano. Isso, atualmente ocorre diretamente com os cartões de crédito. No passado para obter um cartão de desses, como: Visa, Mastercard, American Express, Discover e Diners, era muito difícil, pois precisava comprovar uma renda individual significativa; agora ficou fácil e pode ser utilizado no pagamento de qualquer valor. Ocorre que, ao pagar uma conta no restaurante, como acontece com a taxa extra para o garçom, uma quantia cai diretamente na conta da operadora nos Estados Unidos. O descontentamento com o Pix vem da restrição do envio dessa taxa para fora do país.

            Com o fortalecimento das diversas economias, alguns países passaram a fazer negócios com as próprias moedas e, mais recentemente, com a formação dos Brics, a tendência é que surja uma nova referência monetária e o dólar deixará de ter a supremacia, pelo simples fato dos Estados Unidos estar sendo deixado de fora dessa articulação.

            Voltemos ao roubo da lenha. O governo Norte americano ao perceber que os países estão aproveitando de certas vantagens locais para progredirem e satisfazerem as suas necessidades, sem dependerem do dólar, acionou o poder político para, juridicamente, validar a extorsão por meio da elevação das taxas de exportação. Seus interesses se firmam em duas perspectivas: a primeira é fazer com que a mais-valia do trabalho alheio eleve os ganhos do Estado pelo pagamento do imposto, sem elevar os preços dos produtos e, segundo, que as empresas capitalistas estrangeiras se fixem nos Estados Unidos, para gerarem empregos e, de lá exportem produtos para os países, tornando-os ainda mais dependentes. O ideal pretendido é que todos se comportem como a Europa que, além de aceitar a taxa de exportação de 15%, comprometeu-se em não elevar os preços dos produtos exportados, e ainda deverá fazer investimentos de 600 bilhões de dólares no país decadente.

            Por outro lado, há diversos interesses em jogo. A associação das Big Techs com o poder da indústria bélica dos Estados Unidos, visa controlar os avanços tecnológicos e, para isso precisam que os minérios nobres sejam controlados, para que os países concorrentes não os explorem. Por isso as chantagens descabidas, para citar dois exemplos: o da Ucrânia, cuja condição para parar com a guerra,  o país deve ceder para os Estados Unidos gratuitamente as reservas minerais para pagar um suposta dívida de guerra e, no caso brasileiro, com a taxação de 50% sobre os produtos exportados, quer em troca a anistia dos golpistas de 8 de janeiro de 2023, para que voltem ao governo em 2026, mas por trás está o petróleo e as reservas de terras raras recentemente descobertas em Minas Gerais.

            As disputas são profundas e de longo alcance. Quem conseguir melhor se colocar no controle dos minérios raros terá garantida a possibilidade de desenvolver as altas tecnologias e controlar o mundo pela intromissão centralizada em pontos estratégicos, de onde os algoritmos, localizam, identificam e direcionam o tipo de intervenção que deve ser desferida. No passado, no século XVIII, um sistema semelhante foi inventado pelo filósofo Jeremy Benthan, para vigiar os presidiários, chamava-se “panóptico” que, traduzindo, significa “ver sem ser visto”.

            Por outro lado, as contradições são também favoráveis. Elas movem as forças contrárias para formarem unidade de ação. Por isso, é preciso acreditar que a onda incolor pode a qualquer hora tingir-se de vermelho. Embora os sinais ainda não estejam evidenciados, há um movimento de forças que preparam os enfrentamentos abrangentes. Podemos dizer que, num mundo em disputa, vence quem souber se colocar a favor das mudanças revolucionárias.

                                                                                                                      Ademar Bogo



[1] MARX, Karl. Introdução a crítica da economia política. São Paulo: Expressão popular, 2008.