Atribui-se a Eça de Queiroz a
emblemática frase: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos
pelo mesmo motivo”. Embora não se possa generalizar a aplicação comparativa, muitas
situações condizem, principalmente quando o banditismo se apossa da política.
A
barbárie da matança e das imigrações continentais atribuída às drogas, vem
elevando o grau de violência estatal, bem como, motivando guerras contra os
países pobres, responsabilizando-os pelo tráfico, quando são outros os interesses
perseguidos, tendo à frente o capital. Atrás dele estão os capitalistas
produtores de armas, os especuladores e sonegadores que lavam o dinheiro
desviado em outros investimentos; os traficantes de colarinho branco, políticos
e agentes de segurança, lideram ou acompanham a caravana. As autoridades
governamentais sabem disso, porque, quando se dispõem a combater o mercado de
circulação de drogas, defendem ser preciso “causar prejuízo econômico”,
descapitalizar o crime organizado confiscando das facções os bens e as estruturas
fundamentais.
É evidente que, no capitalismo,
qualquer medida isolada que se tome para resolver um entre os diversos
problemas, sempre será insuficiente, porque, a natureza dele está atrelada à
estrutura de um sistema. É próprio das relações comerciais capitalistas serem
lucrativas, por isso não importa se o produto em circulação seja o ouro ou o
estrume animal, interessa o que essas transações rendem financeiramente. Por
isso, é ignorância pura induzir a sociedade a pensar que as favelas seja a
estrutura de comando do tráfico de drogas. Se compararmos a produção e a
comercialização delas a uma indústria, nas favelas reside apenas parte da força
de trabalho, contratada para fabricar e fazer circular o produto.
Historicamente as drogas têm causado
enormes prejuízos ao que chamam de civilização. A humanidade desde sua origem relacionou-se
com as drogas. Generalizando os tipos, vão elas desde as bebidas alcóolicas consumidas
há mais 10 mil anos, quando até os deuses se embebedavam, como é o caso do deus
da riqueza, “Poros”, que, embriagado de néctar foi seduzido por, “Penia”, uma
mendiga e, naquela relação geraram Eros, tido como o “mensageiro do amor”.
Dionísio, o deus das festas e do vinho, costumava-se embriagar. Nas sagradas
escrituras, são recorrentes os exemplos de uso e abuso de bebidas alcoolizadas,
como por exemplo a transformação da água em vinho. O ópio como produto
alucinógeno iniciou a sua comercialização na Ásia, há mais de 5 mil anos. O
tabaco até o século XVII era culturalmente usado para rituais e recomendado
para curar certas enfermidades. Com a estruturação do mercantilismo
capitalista, todas as coisas tornaram-se mercadorias e, alvos para fazer render
o capital.
Na atualidade, quando as discussões
rumam para a direção do “combate às drogas”, seguem o rumo da criminalização.
Como não há um comércio ou fabricantes desses produtos estabelecidos com uma marca
e um endereço fixo, reprimido, o tráfico organizou o seu “Estado de poder”, com
governança e hierarquias clandestinas. No entanto, a repressão é feita no
interior das favelas, onde está situada a parte sensível do processo, na qual
se arregimenta a força de trabalho para fazer circular a mercadoria. Por ser um
produto valioso, precisa ele de armas, escolta e um sistema de inteligência
cada vez mais sofisticado para circular. Portanto, não existe, para algumas
drogas, uma instalação pomposa, como a “Souza Cruz”, BAT, ou BRITISH AMERICAN, detentora
do monopólio do tabaco, ou a AMBEV, representante da maior empresa de bebidas
do mundo, que, mesmo comercializando drogas, viciando e causando prejuízos à
saúde pública, funciona livremente, paga impostos expõe os seus produtos sem
receber em troca nenhuma bala disparada pela ordem da lei.
Por serem as bebidas produtos de
consumo culturalmente aceitas, são propagandeadas legalmente, apenas com duas
proibições: não serem vendidas a menores e, não dirigir veículos motorizados
após fazer uso delas. No mais, estão expostas em todos os lugares onde circula
dinheiro. Com o tabaco também já foi assim. As gerações mais velhas devem
lembrar do status rude e forte que representava a marca Malboro, exibida
nas televisões, nos comerciais do horário nobre. Isso permaneceu livremente
funcionando até 15 de julho de 1996, quando a Lei nº 9.294 passou a limitar o
vínculo propagandístico da relação entre o cigarro e a virilidade masculina,
mas continuou livre para ser comercializado socialmente. De lá para cá, se o
percentual de fumantes no Brasil caiu, de quase 25% para cerca de 10% de
fumantes entre a população em geral e, se não precisa de armas nem de facções
para comercializar cigarros e bebidas, é porque a legalização de outras drogas
pode ser a indicação do melhor caminho a tomar.
Se a regulamentação do uso de
bebidas e de cigarros caiu e, principalmente a população mais jovem evita
viciar-se, quais foram os fatores que levaram a isso? Repressão policial? Não. Iniciou
pelo avanço da conscientização juntamente com a elevação da taxa dos impostos
na comercialização; a proibição do uso do cigarro em lugares públicos;
campanhas educativas e, o ataque cultural contra o status do fumante. Portanto,
não precisou de violência nem tampouco encarcerar a juventude preta para
impedi-la de ter acesso ao tabaco. Logo, esse é um exemplo ilustrativo de que,
a descriminalização de certos tipos de drogas, não conduz automaticamente ao
aumento de consumo.
Por outro lado, a associação entre o
tráfico de drogas, a formação de facções e milícias é oportuna, mas muito
ocasional. As facções se originaram na política, antes mesmo de existirem os
partidos políticos. Elas visavam defender os interesses de seus integrantes e
não os interesses da população. As milicias, historicamente, desde a Grécia
Antiga, representaram grupos vinculados ao controle e a repressão social. No
Brasil, na ditadura militar pós-1964, denominavam-se “Esquadrões da morte”;
depois, “Grupos de extermínio” e, mais recentemente, “Milícias armadas”,
organizadas com a finalidade de estabelecerem o controle territorial, para
extorquirem e dominarem a população, usá-la para fins econômicos e redutos
eleitorais. Por isso, mesmo com a eliminação das drogas, o controle policial,
os maus tratos e a cobrança de serviços paralelos dos habitantes de bairros e
favelas, essas formas de organização irão continuar.
O que se chamou de “Mega operação
policial” realizada nas favelas do Rio de Janeiro no dia 28 de outubro de 2025,
deverá ficar na História como sendo o dia em que se deu a abertura da porta
para a entrada das forças militares do império dos Estados Unidos. Com o
argumento de que aqui reside a base do narcotráfico e do terrorismo mundial,
virão para intervir. No fundo, isso representará a desculpa para alcançar
outros interesses camuflados que é o de assaltar as riquezas naturais que
possam impulsionar aquela economia. Para citar apenas um exemplo: no ano de
2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque e assassinaram o Presidente Sadam
Hussein, com a invenção mentirosa de que ele estava produzindo “armas
químicas”. Após matarem mais de trezentas mil pessoas, não acharam nada de irregular,
apossaram-se do petróleo e implantaram o caos político no país.
Essas reações fortalecedoras da
barbárie social e política presentes no Brasil, revelam que a extrema-direita
não foi punida o suficiente, com as condenações e prisões dos golpistas do 8 de
janeiro de 2023. As insípidas negociações para a redução das taxas de
exportação que, para o governo brasileiro parece ser um deslumbre, é apenas a
cilada para aliciar as próprias forças da “esquerda liberal”, para que não
substituam o dólar por outra moeda nos pagamentos das transações comerciais,
saiam do BRICs e entreguem os minérios nobres para a exploração das empresas
norte-americanas.
O banditismo nacional e imperialista
está se tornando a essência da política contemporânea. O comportamento dos
mandatários das nações do norte-global é o mesmo dos chefes das facções e das
milicias instaladas nas periferias dos países pobres. Impõem com os mesmos
métodos totalitários o controle territorial. Somente o socialismo pode superar
a barbárie e estabelecer a Paz no mundo.
Ademar Bogo