domingo, 12 de outubro de 2025

PRÊMIO AOS VIRA-LATAS


            O mês de outubro de todos os anos tornou-se uma referência para o anúncio das premiações do “Prêmio Nobel”, expresso em seis categorias: Química, Física, Literatura, Medicina, Economia e Paz. Os cinco primeiros possuem base científica e, o último puramente político.

            A origem de tais prêmios está vinculada ao inventor da dinamite, o sueco Alfred Nobel (1833-1896). Químico e inventor, deixou a sua riqueza para compor o prêmio Nobel. A influência para os inventos veio de seu pai que era engenheiro e construtor de pontes, edifícios e estradas de ferro, que suscitaram a necessidade de inovar as técnicas de detonação de rochas. Após várias tentativas, em 1863, Alfred, realizou a primeira detonação utilizando a nitroglicerina e, um ano depois, patenteou o invento. O nome dýnamis, vem do grego e quer dizer “poder”. Foi esse poder que mais tarde veio a perturbar o sono de Alfred Nobel quando viu a sua criação sendo usada para outros fins, inclusive para matar pessoas.

            O seu arrependimento pela violenta invenção, veio quando, em 1888, por ocasião da morte natural de seu irmão Ludvig, um jornal francês, confundindo ser ele o próprio Alfred, noticiou a sua passagem com a manchete “Morre o mercador da morte”.  Para impedir que essa identificação o mantivesse eternamente preso à rememoração do mal, resolveu doar a sua fortuna para aqueles que apresentassem todos os anos, invenções significativas para o bem.

            Feitos os esclarecimentos iniciais sobre a origem do Prêmio Nobel, embora tenha havido belas surpresas nas pessoas escolhidas e laureadas desde 1901, ele tem cada vez mais se tornado um instrumento de manipulação do capital. Se os inventos trazem benefícios para a humanidade, pouco importa, vale fortalecer a cada ano as tendências a serem implementadas que rendam altos lucros.

            O Prêmio Nobel da Paz foi, neste ano de 2025, entregue para Corina Maria Machado, uma figura da extrema-direita venezuelana que já tentou dar golpe de Estado, falsificar os resultados das eleições e continuar promovendo articulações para desestabilizar o governo da Venezuela, com bloqueios e punições econômicas contra o seu próprio país. Suas articulações além de isolar a Venezuela do mundo, colocou a cabeça do presidente Nicolas Maduro a um prêmio de U$ 50 milhões de dólares.

            O prêmio Nobel da Paz, deveria ser de fato para homenagear e reconhecer, personalidades ou grupos sociais que almejam e trabalham pela Paz e não o contrário. Sabemos que os interesses do imperialismo é apropriar-se do petróleo e dos minérios existentes em grandes quantidades na América do Sul, por isso precisa de governos submissos. Nesse sentido não faltam candidatos com “complexo de vira-latas” para ajudá-los.

            Nelson Rodrigues escreveu em 1958 em uma de suas crônicas esportivas, na qual expôs essa definição: “Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.[1] Na verdade, não são os brasileiros, mas os governantes, empresários e políticos oportunistas, que antes mesmo de serem confrontados, acanham-se e rastejam diante do império para fazer-lhes as honras, entregando-lhes a o incenso, o ouro e a mirra, e tudo o que há no subsolo.

            A vergonhosa postura dos empresários do agronegócio diante da elevação das taxas de impostos de exportação, para os 15% dos produtos que eram levados para os Estados Unidos, é de abismar qualquer pessoa. Como se estivem perdendo todos os privilégios, os vendedores da pátria brasileira, ajoelharam-se diante de um bufão de cabelos loiros, pedindo clemência. Esqueceram de observar que no mundo já temos 8 bilhões de pessoas distribuídas em 195 países, que precisam se alimentar. Os Estados Unidos da América têm atualmente, 340 milhões de pessoas; qualquer comerciante astuto faria essa relação se quisesse continuar os seus negócios lucrativos e procuraria outros mercados. Mas o medo de ficarem malvistos e, pondo em destaque o título de verdadeiros “vira-latas”, sentaram-se sobre a cauda para mendigarem a redução de impostos.

            O “complexo de vira-latas”, nada tem a ver com o cachorro, mas com a regularidade da conduta política que, desde 7 de setembro de 1822, quando o entendimento entre pai e filho, mediante uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas, pagos à Portugal, com um empréstimo de 3 milhões da mesma moeda, tomados da Inglaterra, representou o preço de nossa independência. Se não fosse a resistência baiana, com destaque à bravura de três mulheres: Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica, o grito do Ipiranga teria sido apenas um grito.

            Portanto, o capital faz a guerra para destruir tudo e depois se apresenta como o redentor para reconstruir. O retrato fiel desse comportamento podemos ver nas imagens das ruínas palestinas. Isto renderá bilhões de dólares para os capitalistas e, o próximo Prêmio Nobel de 2026, com certeza será dado a Donald Trump. Enquanto isso, os canhões se voltam para a Venezuela que está situada num ponto estratégico, próximo da Guiana e da Foz do Amazonas, onde estão situadas as maiores reservas de petróleo do mundo.

            Somado a isto, a presença da China, com o projeto da Ferrovia Bioceânica ou Corredor Ferroviário Atlântico-Pacífico, saindo de Ilhéus na Bahia, para chegar à cidade de Chancay a 70 quilômetros de Lima no Peru, completa o colar da Rota da Seda internacional deixando os Estados Unidos fora dessa articulação.

            Não poderá existir Paz no mundo enquanto a solidariedade entre os povos não se tornar um valor fundamental. Enquanto os assassinos premiam-se entre si, todo e qualquer movimento em direção a Paz, terá por trás, as altas somas financeiras lucrativas alcançadas. É preciso suplantar o “Complexo de vira-latas” presente nas esferas políticas e mostrar que soberania não significa liberdade de mercado, mas a autonomia de decisão para virar a cabeça para o lado que queremos ver o mundo em cada momento.

                                                                       Ademar Bogo



[1] RODRIGUES, Nelson. Complexo de vira-lata. https://vermelho.org.br/2014/06/12/nelson-rodrigues-e-o-complexo-de-vira-latas.

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