O mês de outubro de todos os anos tornou-se
uma referência para o anúncio das premiações do “Prêmio Nobel”, expresso em
seis categorias: Química, Física, Literatura, Medicina, Economia e Paz. Os
cinco primeiros possuem base científica e, o último puramente político.
A origem de tais prêmios está
vinculada ao inventor da dinamite, o sueco Alfred Nobel (1833-1896). Químico e
inventor, deixou a sua riqueza para compor o prêmio Nobel. A influência para os
inventos veio de seu pai que era engenheiro e construtor de pontes, edifícios e
estradas de ferro, que suscitaram a necessidade de inovar as técnicas de
detonação de rochas. Após várias tentativas, em 1863, Alfred, realizou a
primeira detonação utilizando a nitroglicerina e, um ano depois, patenteou o
invento. O nome dýnamis, vem do grego e quer dizer “poder”. Foi esse
poder que mais tarde veio a perturbar o sono de Alfred Nobel quando viu a sua
criação sendo usada para outros fins, inclusive para matar pessoas.
O seu arrependimento pela violenta invenção,
veio quando, em 1888, por ocasião da morte natural de seu irmão Ludvig, um
jornal francês, confundindo ser ele o próprio Alfred, noticiou a sua passagem com
a manchete “Morre o mercador da morte”. Para
impedir que essa identificação o mantivesse eternamente preso à rememoração do
mal, resolveu doar a sua fortuna para aqueles que apresentassem todos os anos,
invenções significativas para o bem.
Feitos os esclarecimentos iniciais sobre a origem do
Prêmio Nobel, embora tenha havido belas surpresas nas pessoas escolhidas e
laureadas desde 1901, ele tem cada vez mais se tornado um instrumento de
manipulação do capital. Se os inventos trazem benefícios para a humanidade,
pouco importa, vale fortalecer a cada ano as tendências a serem implementadas
que rendam altos lucros.
O Prêmio Nobel da Paz foi, neste ano de 2025, entregue
para Corina Maria Machado, uma figura da extrema-direita venezuelana que já
tentou dar golpe de Estado, falsificar os resultados das eleições e continuar
promovendo articulações para desestabilizar o governo da Venezuela, com
bloqueios e punições econômicas contra o seu próprio país. Suas articulações
além de isolar a Venezuela do mundo, colocou a cabeça do presidente Nicolas
Maduro a um prêmio de U$ 50 milhões de dólares.
O prêmio Nobel da Paz, deveria ser de fato para homenagear
e reconhecer, personalidades ou grupos sociais que almejam e trabalham pela Paz
e não o contrário. Sabemos que os interesses do imperialismo é apropriar-se do
petróleo e dos minérios existentes em grandes quantidades na América do Sul,
por isso precisa de governos submissos. Nesse sentido não faltam candidatos com
“complexo de vira-latas” para ajudá-los.
Nelson Rodrigues escreveu em 1958 em uma de suas crônicas
esportivas, na qual expôs essa definição: “Por “complexo de vira-latas” entendo
eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do
resto do mundo”.[1]
Na verdade, não são os brasileiros, mas os governantes, empresários e políticos
oportunistas, que antes mesmo de serem confrontados, acanham-se e rastejam diante
do império para fazer-lhes as honras, entregando-lhes a o incenso, o ouro e a
mirra, e tudo o que há no subsolo.
A vergonhosa postura dos empresários do agronegócio
diante da elevação das taxas de impostos de exportação, para os 15% dos
produtos que eram levados para os Estados Unidos, é de abismar qualquer pessoa.
Como se estivem perdendo todos os privilégios, os vendedores da pátria brasileira,
ajoelharam-se diante de um bufão de cabelos loiros, pedindo clemência. Esqueceram
de observar que no mundo já temos 8 bilhões de pessoas distribuídas em 195
países, que precisam se alimentar. Os Estados Unidos da América têm atualmente,
340 milhões de pessoas; qualquer comerciante astuto faria essa relação se
quisesse continuar os seus negócios lucrativos e procuraria outros mercados.
Mas o medo de ficarem malvistos e, pondo em destaque o título de verdadeiros “vira-latas”,
sentaram-se sobre a cauda para mendigarem a redução de impostos.
O “complexo de vira-latas”, nada tem a ver com o
cachorro, mas com a regularidade da conduta política que, desde 7 de setembro
de 1822, quando o entendimento entre pai e filho, mediante uma indenização de 2
milhões de libras esterlinas, pagos à Portugal, com um empréstimo de 3 milhões
da mesma moeda, tomados da Inglaterra, representou o preço de nossa
independência. Se não fosse a resistência baiana, com destaque à bravura de
três mulheres: Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica, o grito do Ipiranga
teria sido apenas um grito.
Portanto, o capital faz a guerra para destruir tudo e
depois se apresenta como o redentor para reconstruir. O retrato fiel desse
comportamento podemos ver nas imagens das ruínas palestinas. Isto renderá
bilhões de dólares para os capitalistas e, o próximo Prêmio Nobel de 2026, com
certeza será dado a Donald Trump. Enquanto isso, os canhões se voltam para a
Venezuela que está situada num ponto estratégico, próximo da Guiana e da Foz do
Amazonas, onde estão situadas as maiores reservas de petróleo do mundo.
Somado a isto, a presença da China, com o projeto da Ferrovia
Bioceânica ou Corredor Ferroviário Atlântico-Pacífico, saindo de Ilhéus na
Bahia, para chegar à cidade de Chancay a 70 quilômetros de Lima no Peru,
completa o colar da Rota da Seda internacional deixando os Estados Unidos fora
dessa articulação.
Não poderá existir Paz no mundo enquanto a solidariedade
entre os povos não se tornar um valor fundamental. Enquanto os assassinos
premiam-se entre si, todo e qualquer movimento em direção a Paz, terá por trás,
as altas somas financeiras lucrativas alcançadas. É preciso suplantar o “Complexo
de vira-latas” presente nas esferas políticas e mostrar que soberania não
significa liberdade de mercado, mas a autonomia de decisão para virar a cabeça
para o lado que queremos ver o mundo em cada momento.
Ademar
Bogo
[1] RODRIGUES, Nelson. Complexo de
vira-lata. https://vermelho.org.br/2014/06/12/nelson-rodrigues-e-o-complexo-de-vira-latas.
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