Nos últimos 146 anos, se contarmos a
partir da Revolução Francesa de 1789, vem imperando o capitalismo liberal.
Nesse trajeto, a classe dos donos da riqueza, representada nas formas de,
mercadoria, dinheiro e capital, sempre teve o controle hegemônico do poder universal,
promoveu guerras regionais e mundiais para cuidar da ordem econômica e
geopolítica; saqueou as riquezas naturais, apropriando-se indevidamente delas;
impôs a criação e depois o enfraquecimento das instituições internacionais;
promoveu a corrida armamentista para amedrontar os concorrentes; acentuou os
avanços tecnológicos mais diversos para garantir a expansão do comércio e a da
dominação cultural.
Poderíamos
seguir enumerando benefícios e malefícios causados nesse curto período
histórico, comparando com os milênios anteriores para de fato, aproveitando do
fio condutor da moralização cristã, louvar ou maldizer as contradições. Não é
importante fazer esse recorrido agora, interessa-nos é discutirmos qual foi e
está sendo o papel dos trabalhadores nessa corrida alucinada dos capitalistas
que entre si sustentam a aposta para ver quem chegará primeiro ao fim do mundo.
Quando
olhamos para a impessoalidade dos trabalhadores vemos a força-de-trabalho e, como
uma mercadoria em circulação no mercado, está em busca de compradores para
utilizá-la em investimentos que reproduzem o capital. Se considerarmos que o
trabalho se prestou a servir os interesses construtivos e destrutivos da
humanidade, precisamos entender qual deve ser o papel dos trabalhadores de
agora em diante.
Se
tomarmos como referência a destrutividade ambiental, considerando que a
primeira motosserra Stihl, vinda da Alemanha, chegou na região da mata
atlântica na década de 1950 e a fabricação desse instrumento só veio a se
realizar em São Leopoldo no Rio Grade do Sul em 1973, concluímos que toda
devastação até aquele momento foi feita a golpes de machados desferidos pelas
mãos dos escravizados, colonos imigrantes e exploradores de madeira. Por quê
usamos este exemplo? Simplesmente para mostrar que, o mesmo processo ocorreu
com a mineração, no entanto, como os diversos minérios e o petróleo estão no
subsolo e, grande parte deles passaram a ser utilizados em maior quantidade nas
últimas décadas, comprovamos que os interesses dos capitalistas já não são as
árvores, mas o material que está situado abaixo de suas raízes. Por isso, não é
uma projeção alarmista, mas todos os povos que possuem reservas mineiras em
seus territórios, serão alvos da violência e dominação imperialista no curto
prazo.
Quando,
de modo mais direcionado olhamos para a história da formação da classe operária
e mais especificamente os trabalhadores em geral, junto encontramos duas
importantes indicações: a primeira que remete à sua responsabilidade
organizativa para cumprir o papel de superar o capitalismo, nesse sentido,
muito foi feito e continua sendo um grande desafio e; a segunda, surgiu como
admoestação filosófica para tomar cuidado com o Estado.
Friedrich
Engels, ao escrever o texto, “Do socialismo utópico ao socialismo científico”
expôs que: “A sociedade , que se movera até então entre antagonismos de classe
precisou do Estado (...) quando o Estado se converte finalmente, em
representante efetivo de toda a sociedade, tornar-se-á por si mesmo supérfluo”.[1] O Estado, evidentemente
junto com a organização da produção capitalista, foi uma necessidade
organizativa e, os próprios trabalhadores na França e depois nos países da
Europa, que realizaram as revoluções liberais, foram convocados a contribuírem para
acelerarem a implementação das liberdades, tendo em vista a manutenção da ordem
e o dinamismo do progresso.
Por
mais que as análises tateiem as possíveis soluções, o entendimento sobre a importância
do Estado ou o seu desprezo pelos trabalhadores, continua sendo o grande dilema
da política atual. No entanto, após termos experimentado o sabor da governabilidade
com o que tínhamos de melhor e mais avançado na organização partidária, temos nítidas
impressões de não ser mais este o caminho a seguir.
Façamos
justiça aos capitalistas burgueses, descendentes dos revolucionários do passado
que ordenaram o modo de produção capitalista e junto criaram um Estado para si
para dominarem as demais classes. Embora que, quando falamos de direitos
sociais, temos a sensação de que o Estado nos protege com as leis elaboradas
para este fim, quando nos voltamos para a economia ficamos atônitos, pois, percebemos
que o mesmo Estado não tem poder sobre certas vontades dos capitalistas.
Para
entendermos esses descompassos podemos resgatar um princípio liberal exposto
por Adam Smith, o qual estabeleceu que precisamos admitir a existência de “uma
mão invisível” que se encarrega de controlar, principalmente os preços e o
consumo; é por assim dizer, uma lei que regulamenta o comércio, mas não é a
única, há outras leis estruturantes que são denominadas de “leis tendenciais”
do capital. Elas se parecem com lei da gravidade formada pela própria natureza.
Em síntese, o capital começa a ser acumulado na produção, porque nela,
obrigatoriamente se estabelece um sistema de exploração da força-de-trabalho. Depois
de algum tempo esse movimento produtivo começa a revelar a acumulação de
resultados extraídos dos investimentos. Ao crescer ilimitadamente, o capital
precisa se expandir, pode ser dentro das fronteiras de um país como também para
fora dele, é quando ganha o nome de transnacional ou imperialismo e, por fim, não
tendo mais onde investir na produção material, mesmo sendo na forma de excesso
de dinheiro, ele precisa se valorizar e por isso surge a especulação e a
corrida pelas melhores taxas de juros, quando transforma os governos reféns das
dividas públicas.
Ao
lado desse processo sequenciado que segue a sua tradição, mas recomeça todos os
dias com novos negócios e aplicações no mercado financeiro, temos a política
que também têm seus parâmetros jurídicos, mas que não pode interromper aqueles
movimentos do capital descritos acima. Nos meandros dos direitos, eles estão inscritos
na Constituição Federal, mas, chama a atenção para dois capítulos, um que trata
da ordem econômica e o outro da ordem social, neste, encontramos todos os direitos
sobre os quais se sustenta o discurso dos políticos. Consta ali, a seguridade
social e aposentadoria, a saúde, a educação, o trabalho, a família, a cultura
etc.
Os
principais e vitais direitos, apesar de constarem da Constituição, somente podem
ser garantidos integralmente se houver recursos no orçamento, por isso, os
governos precisam planejar e destinar anualmente a quantidade de dinheiro a ser
destinado a cada quesito. As equações mentais são bastante emotivas e a
primeira impressão é de que, se os direitos não estão sendo atendidos,
precisamos disputar eleições para assumirmos o governo e, com as próprias mãos realizarmos
as mudanças.
Para
os trabalhadores chegarem ao governo há duas possibilidades: a primeira é
fazendo uma revolução e apropriarem-se de todas as riquezas e, a segunda
aliando-se as demais classes para disputar eleições. Tirando as poucas revoluções
socialistas ocorridas no mundo, no século XX, nos países capitalistas, os
trabalhadores, principalmente no século XXI, embora com algumas vitórias
significativas, mesmo estando à frente dos processos, não se situaram como
força hegemônica e sempre tiveram que dividir o governo com setores da classe
burguesa. Isto significa dizer que, os interesses econômicos da classe
dominante jamais foram ameaçados, ao contrário, tiveram de ser protegidos pelo
poder político.
Para
sustentar-se no governo as forças aliadas dos trabalhadores precisaram ampliar
a base política com os representantes dos diversos setores da burguesia que
comporão o governo, mas, antes de tudo exige quem sejam respeitadas as leis
tendenciais do capital. Por isso, a essência da fidelidade entre as classes, nunca
é política, mas econômica. Por outro lado, junto com a conciliação histórica esvaiu-se
a força de pressão. Atualmente trezentos deputados federais têm mais força do
que toda a classe trabalhadora brasileira. O governo isolado e cada vez menos
defendido, pratica a política do auto suicídio: cede em tudo e, quando se dá
conta, não tem mais força para exigir nada. Exemplo
disso é a taxa de juros que, no governo passado com um presidente do Banco
Central inimigo, chegou a 13,75%, neste, aliado, subiu para 15%. Enquanto o ministro
do afazenda corre atrás de subir algumas virgulas na cobrança do imposto sobre
as transações financeiras, alguns pontos elevam o valor do pagamento da dívida
pública em Bilhões.
Quando
dizemos que enfim estamos sós, é porque, os resultados após quase duas décadas
de tentativas de domarmos o Estado, revelaram que quem foi domesticado e amansado
são os que acreditaram em construir um castelo sobre um lixão que já afundou
uma vez com o Impeachment da presidente Dilma e ameaça ruir mais uma vez.
Diante das ameaças, começam as especulações sobre
a reeleição de 2026; não é errado pretender continuar no governo, a questão é
saber a serviço de quem estará esse governo? Se o Estado ainda não se tornou supérfluo
e a governabilidade dos trabalhadores virou cumplice da exploração e da
dominação capitalista, alguma coisa está dando errado. Para ser sujeitos da
história é preciso acreditar que as leis da economia não podem estar acima dos
direitos sociais. Portanto, sem luta e resistência de classe e popular, não
pode haver vitória e, esta não pode ser mais apenas eleitoral. Se as nossas
forças de trabalho e de ações políticas foram historicamente usadas pelos
capitalistas, está chegando a hora de usá-las a favor de nós mesmos. “Antes sós,
que mal acompanhados”.
Ademar
Bogo