quinta-feira, 10 de julho de 2025

A POLÍTICA DA AMEAÇA


 O filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993) escreveu um livro com o nome “O Princípio Responsabilidade”, no qual buscou criticar a ética da civilização tecnológica. Preocupado com as mudanças das capacidades tecnológicas, pois elas determinam os novos modos de agir e modificam também a ética que leva a esperança se parecer, objetivamente com a ameaça, daí o vinculo inevitável entre a incerteza e o medo da destruição do próprio futuro.

De posse do mito de Prometeu, o deus do fogo, acorrentado pelos outros deuses, por analogia, o filósofo comparou a ciência com tal poder, porém, sem as correntes, ela veio a se tornar um perigo para todas as espécies. “A técnica moderna transformou-se em ameaça ou a ameaça aliou-se à técnica; o vazio de que padece a nova práxis coletiva não é mais do que o vazio atual provocado pelo relativismo de valores (...)”.[1]

A velocidade com que ocorrem as mudanças tecnológicas assusta os próprios beneficiários da aplicação de tais conhecimentos. Já não é o fracasso que amedronta, senão o sucesso. Operações militares de alto risco, com artefatos que conseguem perfurar o solo enquanto se explodem, supera a verdade vinda desde a origem do homo sapiens, que as cavernas eram lugares seguros, já não são mais. Por isso, dormir um sono profundo está se tornando um pesadelo sem que exista pelo menos um sonho. As surpresas podem surpreender a qualquer momento. Um aparelho celular pode explodir em meio a uma declaração de amor e, um drone pode localizar e disparar balas homicidas como se fosse um soldado frente a frente com um guerrilheiro.

Os artefatos tecnológicos não possuem vida própria, mas praticam movimentos inteligentes, por isso, a inteligência artificial pode ser inserida em estruturas mortas que se guiam pelas programações pré-instaladas e vão em busca dos resultados pensados pelos humanos. O mais assustador é a certeza dos resultados que a tecnologia oferece. Seja na indústria, no comércio, na agricultura, nas áreas da saúde, da comunicação etc., lá se encontram os inventos, cada vez mais despidos de responsabilidade ética pois, o coração da técnica não pratica estímulos sensíveis. A concorrência para saber quem ultrapassa por primeiro a linha imaginária dos descontroles é intensa. Dessa forma o espaço terrestre tornou-se limitado para abrigar a diversidade das forças que estimulam a própria destruição.

Por outro lado, ressurgem certos comportamentos que a história já os teria enterrado junto com as atitudes colonialistas universais e coronelistas locais. De acordo com certas medidas políticas em andamento, podemos concluir, que a tecnologia pode muito, menos impedir que, a senilidade e a decadência se manifestem como senhoras da história.

A política como outras áreas que dependem de habilidades, sempre foi considerada uma arte, logo, os desabilitados não conseguem governar serenamente e precisam utilizar a violência como argumentação e, as ameaças como intimidação. Os impérios do passado sempre atuaram em vista de manter o controle por meio da submissão das populações dominadas, por isso, atuavam presos aos interesses principais. Há fatos aparentemente pouco significativos, que serviram para desencadear conflitos, como foi o rapto de Helena, esposa de Menelau que serviu como desculpa para o início da guerra da Grécia contra Tróia.

O que vemos agora são arremedos de imperadores, que ameaçam punir antes que qualquer travessura seja feita. As longas décadas de domínio militar do imperialismo dos Estados Unidos da América em diferentes lugares do mundo, revelam que as altas tecnologias, principalmente as de natureza bélica, não conseguem manter as populações submissas e quando menos se dão conta, a maioria das nações já buscaram outras referências para se relacionarem.

Não se pode negar que um império decadente se torna violento e ataca com todas as suas forças; no entanto, quem tem um pouco que seja de convivência com animais, sabe que, por exemplo, um cão que morde todos os outros, acaba ficando sozinho. Isso não significa que ele, mesmo isolado não possa morder, mas a sua impetuosidade acaba promovendo a reunião de todos os cães ofendidos.

Se o feitiço pode virar contra o feiticeiro, devemos estar otimistas e não pessimistas com o “tarifaço” decretada por carta de um bufão decadente. A história também produz as suas armadilhas. Se, nos últimos cinquenta anos muitos esforços foram gastos para inovar o liberalismo do século XIX, reafirmando que o capitalismo não pode viver sem ele, não é de um dia para outro que alguém possa decretar que as regras mudarão e todos ficam impunes. Sabemos dos poderes do livre mercado e da interação que existe entre as economias. Então, não são apenas os países pobres que dependem dos ricos, o contrário também é verdadeiro. É evidente que muitas riquezas eram e ainda são roubadas das colônias, mas, também, muitas reações se afirmam como verdadeiras trincheiras de resistência.

Muitas linhas são escritas e palavras são atiradas ao vento como se apenas um lado da contradição se movesse. É importante aprender a ler os sinais emitidos pelas circunstâncias. Em primeiro lugar, podemos destacar que o império economicamente está cambaleando; em segundo, que bolsonarismo está evaporando, não tendo mais força para defender os próprios criadores desse movimento decrépito, apelaram para o monstro de boné norte americano  fazendo-o proferir algumas ameaças. Em segundo lugar, a possibilidade real de fuga do líder maior do golpismo e que, em certa medida, não seria de tudo um mal; porém, consintamos que isto venha ocorrer sem que os demais colaboradores sejam contemplados com a mesma fuga, pagariam o preço da condenação calados?

Por outro lado, ainda, é importante reconhecer que nosso país sempre foi exportador de produtos da melhor qualidade, enquanto os refugos desqualificados abasteceram o mercado interno. Não podendo mais vender a produção do agronegócio em dólar, os pobres poderão, com um pouco de reais, adquirem o que antes somente era servido na mesa dos ricos. Então, viva a crise dos ricos sustentados pelos subsídios públicos.

Por fim, se não encontramos motivos para lutarmos diante das explorações, devemos agora reagirmos diante das provocações. Elas devem motivar revoltas, alimentadas pelo sentimento de coragem, capaz de destravar o grito de: “Morte ao imperialismo” e, tudo quanto tiver as suas marcas e os seus cheiros, devem ser atacados.

Há muitos perigos, no entanto, o maior deles não é a inteligência artificial que vem com toda pomposidade, mas a inteligência humanizada prestes a decidir mundialmente que não se humilhará diante de um artefato, afinal, uma máquina, por mais inteligente que seja, não saberá nunca o prazer de dar as mãos para construir uma vitória. Nós podemos e faremos! Para cima deles, Brasil.                                  

                                                                          Ademar Bogo            



[1] JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: Ensaio de uma ética para uma civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2026.

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