O filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993)
escreveu um livro com o nome “O Princípio Responsabilidade”, no qual buscou
criticar a ética da civilização tecnológica. Preocupado com as mudanças das
capacidades tecnológicas, pois elas determinam os novos modos de agir e modificam
também a ética que leva a esperança se parecer, objetivamente com a ameaça, daí
o vinculo inevitável entre a incerteza e o medo da destruição do próprio
futuro.
De
posse do mito de Prometeu, o deus do fogo, acorrentado pelos outros deuses, por
analogia, o filósofo comparou a ciência com tal poder, porém, sem as correntes,
ela veio a se tornar um perigo para todas as espécies. “A técnica moderna
transformou-se em ameaça ou a ameaça aliou-se à técnica; o vazio de que padece
a nova práxis coletiva não é mais do que o vazio atual provocado pelo
relativismo de valores (...)”.[1]
A
velocidade com que ocorrem as mudanças tecnológicas assusta os próprios
beneficiários da aplicação de tais conhecimentos. Já não é o fracasso que
amedronta, senão o sucesso. Operações militares de alto risco, com artefatos
que conseguem perfurar o solo enquanto se explodem, supera a verdade vinda
desde a origem do homo sapiens, que as cavernas eram lugares seguros, já
não são mais. Por isso, dormir um sono profundo está se tornando um pesadelo sem
que exista pelo menos um sonho. As surpresas podem surpreender a qualquer
momento. Um aparelho celular pode explodir em meio a uma declaração de amor e,
um drone pode localizar e disparar balas homicidas como se fosse um soldado
frente a frente com um guerrilheiro.
Os
artefatos tecnológicos não possuem vida própria, mas praticam movimentos inteligentes,
por isso, a inteligência artificial pode ser inserida em estruturas mortas que se
guiam pelas programações pré-instaladas e vão em busca dos resultados pensados
pelos humanos. O mais assustador é a certeza dos resultados que a tecnologia
oferece. Seja na indústria, no comércio, na agricultura, nas áreas da saúde, da
comunicação etc., lá se encontram os inventos, cada vez mais despidos de
responsabilidade ética pois, o coração da técnica não pratica estímulos
sensíveis. A concorrência para saber quem ultrapassa por primeiro a linha
imaginária dos descontroles é intensa. Dessa forma o espaço terrestre tornou-se
limitado para abrigar a diversidade das forças que estimulam a própria
destruição.
Por
outro lado, ressurgem certos comportamentos que a história já os teria enterrado
junto com as atitudes colonialistas universais e coronelistas locais. De acordo
com certas medidas políticas em andamento, podemos concluir, que a tecnologia
pode muito, menos impedir que, a senilidade e a decadência se manifestem como
senhoras da história.
A
política como outras áreas que dependem de habilidades, sempre foi considerada
uma arte, logo, os desabilitados não conseguem governar serenamente e precisam
utilizar a violência como argumentação e, as ameaças como intimidação. Os
impérios do passado sempre atuaram em vista de manter o controle por meio da
submissão das populações dominadas, por isso, atuavam presos aos interesses
principais. Há fatos aparentemente pouco significativos, que serviram para
desencadear conflitos, como foi o rapto de Helena, esposa de Menelau que serviu
como desculpa para o início da guerra da Grécia contra Tróia.
O
que vemos agora são arremedos de imperadores, que ameaçam punir antes que
qualquer travessura seja feita. As longas décadas de domínio militar do imperialismo
dos Estados Unidos da América em diferentes lugares do mundo, revelam que as
altas tecnologias, principalmente as de natureza bélica, não conseguem manter
as populações submissas e quando menos se dão conta, a maioria das nações já
buscaram outras referências para se relacionarem.
Não
se pode negar que um império decadente se torna violento e ataca com todas as suas
forças; no entanto, quem tem um pouco que seja de convivência com animais, sabe
que, por exemplo, um cão que morde todos os outros, acaba ficando sozinho. Isso
não significa que ele, mesmo isolado não possa morder, mas a sua impetuosidade
acaba promovendo a reunião de todos os cães ofendidos.
Se
o feitiço pode virar contra o feiticeiro, devemos estar otimistas e não
pessimistas com o “tarifaço” decretada por carta de um bufão decadente. A
história também produz as suas armadilhas. Se, nos últimos cinquenta anos muitos
esforços foram gastos para inovar o liberalismo do século XIX, reafirmando que
o capitalismo não pode viver sem ele, não é de um dia para outro que alguém possa
decretar que as regras mudarão e todos ficam impunes. Sabemos dos poderes do
livre mercado e da interação que existe entre as economias. Então, não são apenas
os países pobres que dependem dos ricos, o contrário também é verdadeiro. É
evidente que muitas riquezas eram e ainda são roubadas das colônias, mas,
também, muitas reações se afirmam como verdadeiras trincheiras de resistência.
Muitas
linhas são escritas e palavras são atiradas ao vento como se apenas um lado da
contradição se movesse. É importante aprender a ler os sinais emitidos pelas
circunstâncias. Em primeiro lugar, podemos destacar que o império economicamente
está cambaleando; em segundo, que bolsonarismo está evaporando, não tendo mais
força para defender os próprios criadores desse movimento decrépito, apelaram
para o monstro de boné norte americano fazendo-o
proferir algumas ameaças. Em segundo lugar, a possibilidade real de fuga do líder
maior do golpismo e que, em certa medida, não seria de tudo um mal; porém, consintamos
que isto venha ocorrer sem que os demais colaboradores sejam contemplados com a
mesma fuga, pagariam o preço da condenação calados?
Por
outro lado, ainda, é importante reconhecer que nosso país sempre foi exportador
de produtos da melhor qualidade, enquanto os refugos desqualificados abasteceram
o mercado interno. Não podendo mais vender a produção do agronegócio em dólar, os
pobres poderão, com um pouco de reais, adquirem o que antes somente era servido
na mesa dos ricos. Então, viva a crise dos ricos sustentados pelos subsídios públicos.
Por
fim, se não encontramos motivos para lutarmos diante das explorações, devemos
agora reagirmos diante das provocações. Elas devem motivar revoltas,
alimentadas pelo sentimento de coragem, capaz de destravar o grito de: “Morte
ao imperialismo” e, tudo quanto tiver as suas marcas e os seus cheiros, devem
ser atacados.
Há
muitos perigos, no entanto, o maior deles não é a inteligência artificial que
vem com toda pomposidade, mas a inteligência humanizada prestes a decidir
mundialmente que não se humilhará diante de um artefato, afinal, uma máquina,
por mais inteligente que seja, não saberá nunca o prazer de dar as mãos para construir
uma vitória. Nós podemos e faremos! Para cima deles, Brasil.
Ademar Bogo
[1] JONAS, Hans. O princípio
responsabilidade: Ensaio de uma ética para uma civilização tecnológica. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2026.
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