O dizer popular, “gato no saco”, surgiu de uma
antiga prática dos comerciantes e feirantes, vendedores de pequenos animais,
como: leitões, coelhos e lebres silvestres. Na falta deles, os espertalhões colocavam
dentro de sacos de estopa com as “bocas” fortemente amarradas, por serem de
nenhum valor comercial, os gatos misturados. O trambique somente era descoberto
no final da viagem quando o saco era aberto e o felino saltava em busca da
liberdade. Desse costume surgiu o verdadeiro ditado: “Comprar gato por lebre”.
Podemos
colocar a carta de Ronald Trump enviada ao presidente do Brasil, no início do
mês de julho de 2025, como um alvo novo na “guerra das tarifas”? Seria o Brasil
um inimigo concorrente do imperialismo como o são alguns outros países atacados?
Tudo indica que não. O principal objetivo da tarifação é fazer as empresas
fabricantes de produtos industrializados migrarem para os Estado Unidos, com a
única função de reavivarem aquele parque industrial há anos sucateado. Estando
lá, deverão gerar empregos e colocarem o país na crista das disputas comerciais
mundiais. Acontece que aquele presidente atirou no alvo errado, devia acertar
nas empresas de lá que migraram para outros países e taxa-las para fazê-las
voltar, e não nas nossas.
Como
sabemos, essa estratégia é de alto risco, mas, para quem está afundando no
pântano, como não há condições para declarar guerra mundial, o risco maior é
não fazer nada. Duas coisas importantes devem ser ditas: a primeira é que, se
de fato o intento vem a ser promissor e as indústrias se transladarem e
passarem a produzir no território Norte-americano, ao invés de exportarem os
produtos como estão fazendo, os resultados não serão imediatos. Uma transição
leva tempo e, como os governantes sucessores dos anteriores não seguem os
mesmos programas, essa investida poderá acabar no meio do caminho sem
resultados. A segunda coisa ainda mais complicada é que, a expansão é uma das
leis tendencias do capital obrigatória de ser respeitada pelos capitalistas e,
historicamente, o modelo econômico liberal promoveu e inverteu, quando
necessário, os investimentos públicos e privados, mas muito pouco o fez na
direção do fechamento unilateral da economia. Convenhamos que, pode até ser uma
tática correta para ganhar impulso econômico e, posteriormente entrar novamente
na concorrência internacional, porém, também é arriscado, porque a engenharia
produtivista mundial não ficará a espera para que uma economia decadente se
recupere, para daí enfrentá-la, ao contrário, a aceleração em busca de novos
mercados fará com que o país implicante fique para trás. Por isso a resposta
correta é a aplicação lei da reciprocidade.
Contra
o Brasil, o gato no saco quer dizer outra coisa. Sendo que, dos 15% que
representam as exportações brasileiras para os Estado Unidos, os produtos
principais são: soja, carne, café, suco de laranja, minério de ferro, petróleo
bruto e aço; não há como reforçar o parque industrial daquele país, pois, esses
produtos dependem do solo brasileiro. Qual é então o motivo dessa investida com
balas de canhão de 50% de tarifas? A resposta, se a quisermos, teremos de buscá-la
mais na política e menos na economia.
O
primeiro tiro disparado pela desrespeitosa carta, denominada de “protesto de caça
às bruxas”, na verdade tinha como objetivo implodir o Poder Judiciário, mas,
pelo desvio proposital atingiu o Poder Executivo. Nesse sentido, o gato que
está no saco se chama Jair Bolsonaro que, não encontrando mais força de defesa
jurídica, política e militar para os seus crimes, correu (como sempre fizeram
os vendedores da pátria brasileira), para os braços do governo do império, para
pedir anistia de uma condenação que ainda não saiu. Se a pressão for vitoriosa
e o gato vir a ser solto, os resultados não serão de grande surpresa: recolocarão
a extrema-direita e os setores das forças armadas em outras condições nas
disputas políticas futuras. Os crimes contra os abusos militares, mais uma vez
passarão impunes e anulados, como ocorreu com a última “Comissão da verdade”
sobre o golpe militar de 1964 e, equivalerá à repetição de outro golpe
institucional como aquele sofrido pela presidente Dilma Rousseff, em 2016, pois,
mesmo não caindo, este governo de Lula ficará desmoralizado e terá findado na
metade deste ano o seu mandato.
Legitima
também esse disparo da investida intervencionista do império, para, em qualquer
momento, sem nenhum motivo a aplicar a Lei Magnitsky contra cidadãos residentes
em qualquer parte do mundo. O ministro Alexandre de Moraes e mais os outros
seis Ministros da Suprema Corte, ora enquadrados serão as primeiras vítimas
brasileiras. Em síntese, essa lei que foi aprovada nos Estados Unidos em 2012 com
o alcance de ser aplicada contra pessoas fora daquele País que tenham cometido
crimes de corrupção e desrespeitado os direitos humanos. Essa lei traz o nome
do jornalista Sergei Magnitsky, morto em 2009 em uma prisão na Rússia. O
acusado pode ter todos os bens e investimentos financeiros sequestrados se
estiverem em território Norte-americano, por isso, a lei é também conhecida
como “pena de morte financeira” e, o atingido ficará impossibilitado de entrar
naquele país, o que não é de tudo ruim. Logo, não há nenhum fundamento
aplicá-la contra os ministros brasileiros, tendo em vista que, a condução do
processo para condenar e prender os delinquentes por tentativa de golpe, é
legal e legitima. Portanto, o presidente dos Estados Unidos deveria aplicar a
lei contra os seus protegidos, por serem responsáveis por quase um milhão de
mortos pela Covid-19; terem se apoderado indevidamente das joias pertencente à União
e, embora com fracasso e incompetência estratégica, tentarem dar um golpe de
Estado contra a Democracia.
O
segundo motivo da investida é impedir a inclusão do Brasil no Brics. Pelo seu
alto potencial de riquezas minerais deve ser impedido de tentar afirmar-se na
América Latina como um país soberano e articulado com os países do Sul-Global.
Basta a Venezuela que até então não se dobrou e, embora esteja alijada da
articulação, graças ao voto do governo brasileiro, pesa contra o poder dos
Estados Unidos e favorece a China e a Rússia. Embora seja uma operação inversa ao
processo ucraniano, pois, naquele estão tentando puxar o país para dentro da
OTAN e, aqui, o Brasil está sendo empurrado para fora do Brics. É o velho jogo
dos impérios, desorganizar os países para enfraquecê-los e mantê-los
dependentes. É evidente que por traz das intenções expressas na carta estão, as
Big Techs, o capital especulativo e o domínio tecnológico e militar do
imperialismo sobre o Brasil
As
aventuras de Trump evidenciam o medo e o desespero. A tática de aterrorizar
para fazer os países se dobrarem às suas investidas, prática que até então o mantém
como único interventor no mundo, parece não estar causando o resultado
desejado. As promessas de campanha de que acabaria com as guerras no primeiro
dia de governo, além de ter sido humilhado por Volodymyr Zelenski nos tapetes
da Casa Branca, pela negação da entrega dos minérios da Ucrânia como pagamento
de uma suposta dívida de guerra, além de nada conseguir ainda terá de enviar
mais armamentos para evitar que a Rússia se aproprie de todas aquelas reservas;
assim como Gaza na resistência contra o genocídio Israelense, continuam ativas.
Os imigrantes que seriam presos e deportados se voltaram contra promovendo um
grande movimento de protesto fazendo com que até os religiosos dispense os
fiéis de irem à Igreja para não serem presos; a união com o homem mais rico do
planeta que parecia inabalável na moralização da máquina pública, acabou em
briga pessoal e em demissão. Resta, portanto, ameaçar e tentar extorquir os
países por meio das tarifas, enquanto vê o seu império ruir os pilares diante dos
rugidos dos tigres asiáticos.
Cabe
ao Brasil se dar o respeito e, pelo menos uma vez na História dizer e sustentar
o não à interferência externa. Não cabe ceder em nada mas afirmar a nossa
soberania e não trocá-la por 15% das exportações, compostas pelas mercadorias
do agronegócio, devastador das florestas e contaminador do solo e das águas,
que, conjugado com as mineradoras promovem os mesmos malefícios à natureza de
nosso território, para servirem aos interesses do capital internacional. Junto
com isso, aproveitamos para livrar-nos de uma família que se vê como imperial, pois,
enquanto o rei fica em solo brasileiro com uma tornozeleira na canela esquerda,
um filho foge para os Estado Unidos para fazer ameaças como se fosse um
ministro do império.
Se
não queremos comprar gato por lebre, precisamos abrir o saco antes de pagar o
preço, porém, dentro da cadeia desta vez que, quando os gatos saltarem estarão
presos. Assim começaremos a fazer justiça aplicando a lei contra os
torturadores, golpistas, matadores e demais exploradores, condenando-os e taxando
aqui as grandes fortunas. Com isso, reaveremos as riquezas indevidamente
apropriadas e privatizadas, devolvendo-as ao povo brasileiro.
Ademar
Bogo
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