domingo, 20 de julho de 2025

GATO NO SACO


 O dizer popular, “gato no saco”, surgiu de uma antiga prática dos comerciantes e feirantes, vendedores de pequenos animais, como: leitões, coelhos e lebres silvestres. Na falta deles, os espertalhões colocavam dentro de sacos de estopa com as “bocas” fortemente amarradas, por serem de nenhum valor comercial, os gatos misturados. O trambique somente era descoberto no final da viagem quando o saco era aberto e o felino saltava em busca da liberdade. Desse costume surgiu o verdadeiro ditado: “Comprar gato por lebre”.

Podemos colocar a carta de Ronald Trump enviada ao presidente do Brasil, no início do mês de julho de 2025, como um alvo novo na “guerra das tarifas”? Seria o Brasil um inimigo concorrente do imperialismo como o são alguns outros países atacados? Tudo indica que não. O principal objetivo da tarifação é fazer as empresas fabricantes de produtos industrializados migrarem para os Estado Unidos, com a única função de reavivarem aquele parque industrial há anos sucateado. Estando lá, deverão gerar empregos e colocarem o país na crista das disputas comerciais mundiais. Acontece que aquele presidente atirou no alvo errado, devia acertar nas empresas de lá que migraram para outros países e taxa-las para fazê-las voltar, e não nas nossas.

Como sabemos, essa estratégia é de alto risco, mas, para quem está afundando no pântano, como não há condições para declarar guerra mundial, o risco maior é não fazer nada. Duas coisas importantes devem ser ditas: a primeira é que, se de fato o intento vem a ser promissor e as indústrias se transladarem e passarem a produzir no território Norte-americano, ao invés de exportarem os produtos como estão fazendo, os resultados não serão imediatos. Uma transição leva tempo e, como os governantes sucessores dos anteriores não seguem os mesmos programas, essa investida poderá acabar no meio do caminho sem resultados. A segunda coisa ainda mais complicada é que, a expansão é uma das leis tendencias do capital obrigatória de ser respeitada pelos capitalistas e, historicamente, o modelo econômico liberal promoveu e inverteu, quando necessário, os investimentos públicos e privados, mas muito pouco o fez na direção do fechamento unilateral da economia. Convenhamos que, pode até ser uma tática correta para ganhar impulso econômico e, posteriormente entrar novamente na concorrência internacional, porém, também é arriscado, porque a engenharia produtivista mundial não ficará a espera para que uma economia decadente se recupere, para daí enfrentá-la, ao contrário, a aceleração em busca de novos mercados fará com que o país implicante fique para trás. Por isso a resposta correta é a aplicação lei da reciprocidade.

Contra o Brasil, o gato no saco quer dizer outra coisa. Sendo que, dos 15% que representam as exportações brasileiras para os Estado Unidos, os produtos principais são: soja, carne, café, suco de laranja, minério de ferro, petróleo bruto e aço; não há como reforçar o parque industrial daquele país, pois, esses produtos dependem do solo brasileiro. Qual é então o motivo dessa investida com balas de canhão de 50% de tarifas? A resposta, se a quisermos, teremos de buscá-la mais na política e menos na economia.

O primeiro tiro disparado pela desrespeitosa carta, denominada de “protesto de caça às bruxas”, na verdade tinha como objetivo implodir o Poder Judiciário, mas, pelo desvio proposital atingiu o Poder Executivo. Nesse sentido, o gato que está no saco se chama Jair Bolsonaro que, não encontrando mais força de defesa jurídica, política e militar para os seus crimes, correu (como sempre fizeram os vendedores da pátria brasileira), para os braços do governo do império, para pedir anistia de uma condenação que ainda não saiu. Se a pressão for vitoriosa e o gato vir a ser solto, os resultados não serão de grande surpresa: recolocarão a extrema-direita e os setores das forças armadas em outras condições nas disputas políticas futuras. Os crimes contra os abusos militares, mais uma vez passarão impunes e anulados, como ocorreu com a última “Comissão da verdade” sobre o golpe militar de 1964 e, equivalerá à repetição de outro golpe institucional como aquele sofrido pela presidente Dilma Rousseff, em 2016, pois, mesmo não caindo, este governo de Lula ficará desmoralizado e terá findado na metade deste ano o seu mandato.

Legitima também esse disparo da investida intervencionista do império, para, em qualquer momento, sem nenhum motivo a aplicar a Lei Magnitsky contra cidadãos residentes em qualquer parte do mundo. O ministro Alexandre de Moraes e mais os outros seis Ministros da Suprema Corte, ora enquadrados serão as primeiras vítimas brasileiras. Em síntese, essa lei que foi aprovada nos Estados Unidos em 2012 com o alcance de ser aplicada contra pessoas fora daquele País que tenham cometido crimes de corrupção e desrespeitado os direitos humanos. Essa lei traz o nome do jornalista Sergei Magnitsky, morto em 2009 em uma prisão na Rússia. O acusado pode ter todos os bens e investimentos financeiros sequestrados se estiverem em território Norte-americano, por isso, a lei é também conhecida como “pena de morte financeira” e, o atingido ficará impossibilitado de entrar naquele país, o que não é de tudo ruim. Logo, não há nenhum fundamento aplicá-la contra os ministros brasileiros, tendo em vista que, a condução do processo para condenar e prender os delinquentes por tentativa de golpe, é legal e legitima. Portanto, o presidente dos Estados Unidos deveria aplicar a lei contra os seus protegidos, por serem responsáveis por quase um milhão de mortos pela Covid-19; terem se apoderado indevidamente das joias pertencente à União e, embora com fracasso e incompetência estratégica, tentarem dar um golpe de Estado contra a Democracia.

O segundo motivo da investida é impedir a inclusão do Brasil no Brics. Pelo seu alto potencial de riquezas minerais deve ser impedido de tentar afirmar-se na América Latina como um país soberano e articulado com os países do Sul-Global. Basta a Venezuela que até então não se dobrou e, embora esteja alijada da articulação, graças ao voto do governo brasileiro, pesa contra o poder dos Estados Unidos e favorece a China e a Rússia. Embora seja uma operação inversa ao processo ucraniano, pois, naquele estão tentando puxar o país para dentro da OTAN e, aqui, o Brasil está sendo empurrado para fora do Brics. É o velho jogo dos impérios, desorganizar os países para enfraquecê-los e mantê-los dependentes. É evidente que por traz das intenções expressas na carta estão, as Big Techs, o capital especulativo e o domínio tecnológico e militar do imperialismo sobre o Brasil

As aventuras de Trump evidenciam o medo e o desespero. A tática de aterrorizar para fazer os países se dobrarem às suas investidas, prática que até então o mantém como único interventor no mundo, parece não estar causando o resultado desejado. As promessas de campanha de que acabaria com as guerras no primeiro dia de governo, além de ter sido humilhado por Volodymyr Zelenski nos tapetes da Casa Branca, pela negação da entrega dos minérios da Ucrânia como pagamento de uma suposta dívida de guerra, além de nada conseguir ainda terá de enviar mais armamentos para evitar que a Rússia se aproprie de todas aquelas reservas; assim como Gaza na resistência contra o genocídio Israelense, continuam ativas. Os imigrantes que seriam presos e deportados se voltaram contra promovendo um grande movimento de protesto fazendo com que até os religiosos dispense os fiéis de irem à Igreja para não serem presos; a união com o homem mais rico do planeta que parecia inabalável na moralização da máquina pública, acabou em briga pessoal e em demissão. Resta, portanto, ameaçar e tentar extorquir os países por meio das tarifas, enquanto vê o seu império ruir os pilares diante dos rugidos dos tigres asiáticos.

Cabe ao Brasil se dar o respeito e, pelo menos uma vez na História dizer e sustentar o não à interferência externa. Não cabe ceder em nada mas afirmar a nossa soberania e não trocá-la por 15% das exportações, compostas pelas mercadorias do agronegócio, devastador das florestas e contaminador do solo e das águas, que, conjugado com as mineradoras promovem os mesmos malefícios à natureza de nosso território, para servirem aos interesses do capital internacional. Junto com isso, aproveitamos para livrar-nos de uma família que se vê como imperial, pois, enquanto o rei fica em solo brasileiro com uma tornozeleira na canela esquerda, um filho foge para os Estado Unidos para fazer ameaças como se fosse um ministro do império.  

Se não queremos comprar gato por lebre, precisamos abrir o saco antes de pagar o preço, porém, dentro da cadeia desta vez que, quando os gatos saltarem estarão presos. Assim começaremos a fazer justiça aplicando a lei contra os torturadores, golpistas, matadores e demais exploradores, condenando-os e taxando aqui as grandes fortunas. Com isso, reaveremos as riquezas indevidamente apropriadas e privatizadas, devolvendo-as ao povo brasileiro.

                                               Ademar Bogo

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