domingo, 4 de dezembro de 2016

GRANDE E PEQUENA POLÍTICA



Antônio Gramsci foi um dos mais astutos pensadores do século XX. A grandeza de seu pensamento está em recolocar de uma nova forma, as velhas questões ainda por serem resolvidas. Em matéria de conceituação política, foi muito além do conteúdo dado por Aristóteles, que via a mesma como a boa administração da casa ou da cidade.
Gramsci, a exemplo de Aristóteles, dividiu a política em duas formas: grande e pequena. A grande política está vinculada às estruturas gerais da sociedade que serve para administrá-la, cuidá-la e transformá-la. A pequena política refere-se às coisas mais restritas, às polêmicas internas de gerenciamento estreito, em vista dos limites que os interesses estabelecem. Compreendemos que isto pode ocorrer com o Estado em si, como também com os partidos políticos favoráveis à ordem estabelecida, movimentos sociais e sindicais, quando não conseguem reverter, com suas táticas, a situação de desgaste em que se encontram.
No Brasil, a pequena política é esta que exala da podridão do sistema político, formado por velhos políticos com velhas práticas que afirmam apenas o lado contrário do que deveria ser feito. A pequena política é feita de táticas esgotadas e discussões rebaixadas que tendem a forçar os olhos a não verem mais além do que a ponta dos pés. É, em linhas gerais, a capacidade de tomar medidas que salvem apenas a própria pele ou os próprios interesses.
Para as forças de esquerda, um pouco mais que isto é, acomodar-se e ficar refém da agenda da ordem e das forças de direita. Neste caso, as forças de direita utilizam-se das reformas como chamativo para atrair as atenções, enquanto equilibram as forças para uma dominação mais longa, que, não conseguem estruturar, tendo em vista que as crises do capitalismo são cíclicas e por isso sempre voltam ao mesmo lugar.
A tentativa de controlar os gastos, congelando-os por 20 anos, é uma demonstração da incapacidade de controlar as crises, querem agora salvar o Estado caduco que precisa sempre mais de dinheiro para sobreviver. Neste sentido, o Projeto de Emenda Constitucional – PEC 55 – aprovada no senado da república, é apenas uma carta de intenções ou os fundamentos de um plano maior que há de vir. A PEC 55, abre o  caminho para a aprovação imediata das reformas trabalhista e da previdência e autoriza cortar gastos da educação, do atendimento à saúde e demais gastos que garantam o bem estar social.
No entanto, com ou sem a PEC, o problema está no modo de produção capitalista e no poder político estatal centralizado, que só as forças de esquerda podem solucionar se atacarem com ideias e propostas que representem a grande política fundamentada no processo de transição socialista.
Quando ainda no seio do feudalismo surgiu a classe burguesa proprietária dos meios de produção, das mercadorias, do dinheiro e do capital, iniciava-se ali a formação da força responsável pelo capitalismo. Por isso, a burguesia não criou apenas novas relações de produção e requintou o mercado, mas, também, passou a comprar a força de trabalho como uma simples mercadoria e com isso criou a classe operária. Portanto, cabe à burguesia e não aos trabalhadores o papel de solucionar as crises e sustentar o Estado. Aos trabalhadores cabe a responsabilidade de superar os dois e extinguir a classe dominante.
Para este momento, em termos de pequena política, a burguesia está na ofensiva e, os trabalhadores desmobilizados, estão na defensiva. Por isso, se continuarmos reféns da agenda burguesa, as respostas estarão à altura das reformas propostas, para não deixá-las acontecer; mas isto nos deixa ainda na esfera da pequena política, porque, em caso de derrota, estaremos arrasados, e, em caso de vitória, ficaremos no mesmo lugar de sempre.
A grande política surgirá quando conseguirmos elevar os olhares para além dos marcos colocados pela classe dominante e, mesmo que usarmos as táticas da pequena política, momentaneamente, os objetivos deverão nos mostrar que o salto deverá ser maior. A grande política exigirá mudanças estruturais e, para isso, é preciso sair da defensiva. As ocupações das escolas já deram um indicativo de resistência, mas a falta de articulação e disposição de atrair a sociedade, levou à asfixia do próprio movimento.
A grande política exigirá grandes iniciativas que apresentem formas novas de agitação, de mobilização e de organização. Elas estão aparecendo, é preciso inteligência e astúcia para agarrá-las e levadas em frente.
                                                                              Ademar Bogo. Filósofo, escritor e agricultor.

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