domingo, 26 de janeiro de 2025

TUDO OU NADA

            Estão na ordem dia as manchetes com o nome do novo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, com imagens quase sempre acompanhadas de cores demoníacas. E não é pouca coisa; as medidas tomadas recentemente atingem, desde a mais alta contradição bélica mundial com ameaças de sanções e invasões, até o último ser transgênero, preso, desidentificado,   humilhado mais do que um imigrante ilegal, algemado e deportado para o seu país.

            A ameaça e perda real de direitos poderia ser atribuída a um regime totalitário, como geralmente é feito com acusações a um presidente tido como ditador, por ter sido reeleito por diversas vezes. No entanto, apesar das más impressões, tudo corre sobre os trilhos da mais sólida democracia, incontestada, pois a parte que vinha acostumando-se a contestar os resultados, desta vez ganhou as eleições.

            Pronto, sem muitos detalhes, vamos à questão: por qual razão um regime democrático em determinados períodos históricos obriga-se a tomar medidas que são fortemente identificadas com as de um regime totalitário? Será que a democracia no capitalismo não possui a mesma essência que o totalitarismo?   

            É importante refletir e refrear os instintos para não cair na armadilha da responsabilização de um só bandido, por toda a violência do mundo ou, pelo inverso, simplesmente esperar que um democrata, desta vez mais jovem, venha despertar os anseios identitários como ocorreu no tempo de Barack Obama e reavivados na frustrada tentativa da correligionária de Kamala Harris. O que está ocorrendo nos Estados Unidos, não é a simples troca de presidente, mas o envelhecimento das garras da águia, que veio perdendo ao longo dos tempos, o vigor do voo sobre o mundo; por isso, para alimentar-se obriga-se a ser ainda mais violenta e, apesar dos atos com requinte de crueldade serem atribuídos ao presidente, a maioria da população de lá aplaude e aprova com satisfação.

Para não tomarmos como surpresa, Marx ao tratar das crises em geral do capitalismo, já fazia essas constatações: “Da mesma forma, também na sociedade desenvolvida as coisas se apresentam na superfície como mundo de mercadorias imediatamente existente. Mas essa própria superfície aponta para além de si mesma, para as relações econômicas que são postas como relações de produção. Por isso, a articulação interna da produção constitui a segunda seção; sua síntese no Estado, a terceira; a relação internacional, a quarta; o mercado mundial, a conclusão, em que a produção é posta como totalidade, assim como cada um de seus momentos; na qual, porém, todas as contradições simultaneamente entram em processo.”[1] Então, não é disso que se trata?

Na medida que outras economias ascenderam com a capacidade de disputar a hegemonia produtiva, comercial e ter influência política mundial, parte das contradições principais avolumaram-se e levaram para dentro do coração do império, alguns sérios limites e ele começou a perder vigor. Mas o principal da contradição está relacionado com a tecnologia. Bem comparado o mesmo paradoxo que se formou na passagem superação da fotográfica em preto e branco para o sistema digital com cores e maior qualidade, pode ser empegado no caso do parque industrial, da matriz energética e a competitividade comercial mundial dos Estado Unidos. Ao anunciar que o petróleo será a fonte energética principal; que os acordos climáticos não serão respeitados e que os imigrantes em massa serão deportados, as medidas evidenciam que há um processo recessivo em andamento; a indústria, além de envelhecida está obsoleta e a capacidade de inserção da força-de-trabalho, com mais de 4% de desempregados, está esgotada.  

Até o momento as políticas de enfrentamento com os opositores mundiais deram-se por meio de sanções, enfrentamentos bélicos unilaterais e no fortalecimento de big tech para infestarem o mundo com disfarces e mentiras. Já se pode afirmar que a principal liderança hoje dos Estados Unidos é apenas no mercado da informação. Não é pouca coisa, mas terão elas a capacidade de enfrentar e superar a simultaneidade das contradições, como por exemplo a energia suficiente para manter as plataformas ligadas?

De nossa parte não basta olhar com ceticismo para o poder decadente do imperialismo, é preciso perguntar, se na convalescência das crises, o que ele exigirá de nós? Será o total controle do petróleo? A taxação elevada sobre produtos de exportação para impedir a produção? A abertura ainda maior para o capital imperialista concluir o ciclo das privatizações? O impedimento de relacionamento comercial com a China? A entrega do governo para os negacionistas? Etc.

Quando Lenin em 1916 publicou o livro: Imperialismo, fase superior do capitalismo, dentre os diversos temas, tratou da acumulação da produção; do papel do capital financeiro e da exportação do capital; mas não podia prever o comportamento, nem tampouco os maus tratos oferecidos pelos países centrais, contra a “importação” de força-de-trabalho, oferecida pelos “novos bárbaros”, produzidos pelo próprio império, nos países periféricos historicamente explorados.

Esta fase superior do imperialismo comandada pelo capital destrutivo, ainda não alcançou o máximo patamar. Ela evolui para o biocídio e o humanocídio indiscriminados, bem como, acelera o progresso rumo à exaustão das reservas minerais, da água doce e da temperatura suportável, simplesmente para saber em qual língua será declarado aquilo que as religiões chamam de “juízo final”. Por isso, o mal-estar estomacal do império, que o faz vomitar em baciadas os imigrantes inservíveis para o grau de exploração que será obrigado implementar, ainda é cedo para saber tudo o que ainda virá. Mas isto já vinha sendo feito, em parte pelos governos anteriores, que sem filmagem das algemas e das correntes nos pés extraditavam imigrantes, financiavam o terrorismo sionista e enviavam armas para a Ucrânia.

Portanto, chegamos ao ponto conclusivo. Já se disse com diferentes formas e em diversos momentos e lugares, que o imperialismo é o “inimigo da humanidade”, e o é, não porque a explora e a trata mal, mas também porque tem nas mãos elevadas chances de exterminá-la. Quando vemos a desesperada corrida para encontrar condições de habitar outros planetas, os avisos de que a elite capitalista nos envia, é que ela já se prepara para sair fora da terra. Isso significa dizer que, enquanto a humanidade assiste aos preparativos do seu próprio extermínio, eles investem livremente em transporte extraterrestre. Por isso, nessa fase do imperialismo, nunca foi tão imperativa a sentença do, “Tudo ou nada”.

Convencer-nos de que o imperialismo é verdadeiramente o inimigo, significa dizer que precisamos começar a responder a altura cada ato ofensivo praticado contra qualquer povo em qualquer parte do mundo, ou para qualquer repatriamento de imigrantes, deveremos atacar e repatriar os investimentos em busca de que cada país retome o controle de todas as suas riquezas e alcance a verdadeira soberania. “Tudo ou nada” representa um programa de ação a favor do controle total dos territórios e povos e não se deixar arrastar pacificamente para a barbárie.

A ideia de invadir o império como fizeram os bárbaros, no longo período de lutas e tentativas como ocorreu ao tomarem a sede do Império Romano no ano de 476 d.C., com o muro do México e elevado controle tecnológico etc., parece ser inviável. Mas não há necessidade de fazermos isto, pois a expansão do capital imperialista, fez a vulnerabilidade do império vir até nós e já alcança os degraus de nossas portas. Por isso, se o governo de cada país deixar de mendicância, prostração e oferecimento de subsídios para o capital externo; impedir que as forças armadas e policiais locais defendam os investimentos imperialistas e não ataquem o povo; nós, por meio de mobilizações, nacionais e internacionais combinadas, faremos a expropriação desse patrimônio todo e o nacionalizaremos. Dessa forma, o império ruirá diante de nossos olhos e pés.

Tudo ou nada, é tudo, ou nada! Não há mais o que esperar do capitalismo.

                                                                                   Ademar Bogo          



[1] MARX, Karl. Grundrisse.  São Paulo: Boitempo, 2011, p. 254

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