domingo, 30 de maio de 2021

ÍDOLOS E IDÓLATRAS

O filósofo inglês Francis Bacon(1561-1626), ao descrever os ídolos mostrou-os como sendo produtos das ideias falsas, ilusórias e preconceituosas encarregados de impedir que se chegue à verdadeira ciência. Isso tudo na atualidade, ajuda a explicar o alto grau do negacionismo governamental brasileiro em pleno século XXI.

A malevolência do ídolo (eidolon) está na capacidade de transformar os cidadãos comuns em “idólatras” convictos, capazes de cultuarem certas figuras que propositalmente buscam a admiração e a veneração social.  Para Bacon os ídolos se diferenciam pelas imagens que transportam e podem ser sintetizados em quatro tipos: a)ídolo da caverna criado pelas ideias e imaginação do próprio indivíduo; b) ídolo do fórum, surgido a partir das ideias que chegam até o indivíduo convencendo-o de serem corretas; c) ídolo da tribo, estão inerentes ao próprio grupo crente de ser superior aos demais; d) ídolo do teatro, formado e exercido pelas autoridades que visam cativar os ouvintes como se a vida social e política fosse um espetáculo.

Do ponto de vista filosófico esses tipos de ídolos produzem a alienação separando os indivíduos do verdadeiro sentido das coisas e da política, para viverem a falsa realidade. Do ponto de vista popular podemos denominar o comportamento idólatra como “treita”, representada pela “marca deixada por um homem ou animal, por onde passa”. Por sua vez, a definição para o produtor de treitas, no caso, o “treiteiro”, vemos no dicionário como: “treitento; velhaco; tratante; patife; enganador; enrolador. “Um sujeito mau...”

Governar com “treitas” nada mais é do que implementar marcas “treiteiras”  e deixá-las como indicação para que os governados as idolatrem e as sigam. Ocorre que as tais marcas deixadas pelo “ídolo do teatro”, não são as melhores indicações a serem seguidas. Parte dos que o seguem é porque estão tomados pela força dos demais tipos de ídolos reprodutores das marcas deixadas pelo líder das idolatrias. A idolatria portanto, não se sustenta apenas pela capacidade do ídolo mas, principalmente pela aceitação, entrega, conivência e concordância dos idólatras.

Por que surgem os ídolos? Em parte, porque realidade concreta tornou-se insuportável e por outra, por necessidade, como já havia alertado Platão em sua época: “Os homens gostam de recostar a cabeça no colo dos deuses”. O ilusório, o fabulado e teatralizado faz bem às consciências em fuga ou submetidas ao peso dos interesses egoístas.

Para manter-se o “treiteiro” como ídolo do teatro, o personagem precisa encarnar o mal e expressar-se com exibicionismos marcantes, como: desfilar de motocicleta com seguidores aos domingos; provocar aglomerações quando elas estão proibidas; entrar na justiça contra os governadores para impedir que eles garantam o distanciamento físico da população; liberar o porte de armas; incentivar a destruição das florestas; modificar as regras para aliviar as infrações no trânsito etc., ou seja, tudo o que vai contra o bom senso, pois, do contrário seria tão inexpressivo e jamais seria sequer lembrado.

Diante de tais atitudes e medidas, a primeira vítima a cair é a consciência social e, a segunda, o próprio dono da consciência admirador das indicações do ídolo que o segue nas manifestações e na repetição das atitudes cotidianas, contraindo e disseminando o coronavírus como se fosse um ato de heroísmo. Entrega a própria vida para alcançar a meta da “contaminação de rebanho” e mostrar que a vacina nunca faria falta e por isso não precisava adquiri-la.

Vem à tona essa concepção do ídolo, idólatras e seguidores em relação à pandemia. Seguindo os cálculos genocidas, considerando o tempo e o espaço nacional, pensaram, para alcançar a “imunização de rebanho”, no Brasil o vírus deveria contaminar 150 mil pessoas por dia (a média atual está em 70 mil) num prazo de 120 dias. A meta seria atingida com 180 milhões de pessoas contaminadas. É claro que isso representaria perdas de vidas que, para os calculadores da morte seria natural sepultar 12 mil pessoas por dia para no final ter-se  perdido 1,4 milhões de vidas, mas ganho em benefícios, de não entrar na recessão econômica, não gastar com ajuda emergencial e nem investir em vacina. O máximo a ser feito, seria o investimento em falsos imunizantes para assegurar o tratamento precoce.

Agora entendemos a razão das bravatas e o descaso com os laboratórios que ofereciam vacina, como também as mensagens enviadas aos idólatras, de que teríamos apenas uma “gripezinha”, bem como a ameaça de colocar as forças armadas a serviço da proliferação do vírus contra os governadores adotantes de “medidas totalitárias”, impedindo o cidadão de ir e vir. Isso tudo atrapalhava o plano de matança em massa premeditada.

    A situação, mesmo assim, tornou-se insustentável. Com o lema de “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, implantou-se um regime idólatra negacionista que, para se manter precisa atacar a ciência e o comunismo, principais forças capazes de destruir os ídolos e suas treitas.

Contra o teatro dos ídolos devemos apresentar o “teatro do oprimido” criado e desenvolvido por Augusto Boal, o qual faz os pobres e explorados assumirem o papel de atores sociais e políticos como protagonistas da História. A morte do vírus dar-se-á com a derrota dos ídolos e dos idólatras. Para isso é importante investir na organização e formação da consciência social. Quanto maior a consciência menor é a idolatria, no entanto, o inverso também e verdadeiro.

                                                                                                                        Ademar Bogo 

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