domingo, 16 de maio de 2021

O NADA A SER VENCIDO

            No latim, Nihil significa “nada”. O filósofo Nietzsche, no seu livro, “Vontade e potência” aprofundou esse tema por meio do título: “O niilismo vencido por ele mesmo”, ou seja, se quisermos atualizar o tema podemos traduzir para: “O nada vencido pelo nada”.

            Para Nietzsche, o niilismo era um fenômeno que podia representar um sintoma de força crescente como também de fraqueza crescente. Por sua vez, a tentativa de escapar do niilismo, sem inverter os antigos valores, produzia o efeito contrário. A referência posta em análise no texto do filósofo era a decadência européia. Dentre os “sinais de decadência” destacavam-se, a preguiça, a pobreza, o crime, o parasitismo, a sobrecarga, o esgotamento, a necessidade de estimulantes. Também, a inaptidão para a luta era um sinal de degenerescência e, o luxo, um dos primeiros instintos de decadência.

            Na medida em que vivemos no mesmo modo de produção capitalismo, com um Estado sustentador da “ordem e do progresso”, o fenômeno da decadência permanece como um processo arrasador, isto porque, os governos, na euforia de mostrar força, esquecem que não podem modificar “os antigos valores” propulsores de todas as anulações de qualquer alternativa positiva.

            O nada só pode oferecer o nada. Esta máxima nos remete a observar o governo atual que, além da brutalidade, ignorância e inabilidade nada tem a oferecer de bom para o país a não ser a própria decadência.

            O governo decadente, desde o início vem “nadificando” o pouco já existido. Iniciou pela entrega da soberania nacional, depois jogou fora o respeito e a admiração do Brasil perante as outras nações. Atacou com vontade destrutiva as reservas ambientais e a dignidade humana. Reduziu a nada as oportunidades de trabalho mergulhando nas profundezas da crise econômica. Arrasou os investimentos na saúde impondo a falta de vacinas além de com sua inabilidade política paralisar a produção das mesmas. Destruiu qualquer vestígio de ética governamental e asfixiou por meio do corte no orçamento, o funcionamento das universidades e os programas de financiamento na educação. Paralisou a reforma agrária etc., as únicas coisas que escaparam e estão em crescimento são: a corrupção, a indecência e o crime.

            A CPI em andamento no Senado, mal iniciou e já possui elementos suficientes para declarar o governo inepto e culpado por diversos crimes. Até o final deverá revelar que o mito de fato havia sido construído pelas mentes mentirosas e reproduzido nas mentes doentias, religiosas e alienadas e nas estruturas comportamentais perversas dos setores da classe média, amantes dos regimes ditatoriais, impostos pelas forças armadas também deslumbradas com a política, como se fosse uma atividade anexa aos quartéis.

            O nada que era revela-se o nada que é. Apenas traz para o cenário nacional o degradante perverso reprodutor da decadência social. Por outro lado, a nadificação ensina muito, como bem destacou Nietzsche: “Foi a degenerescência dos senhores e das classes dirigentes que causou a maior desordem da história. Sem os Césares romanos e a sociedade romana, a loucura do cristianismo não teria triunfado.”

            Evidentemente, as lições e os aprendizados servem para os dois lados. As forças retrogradas também aprendem com as forças progressistas no governo e por isso reagem. Mas é preciso aprender com os pequenos países e povos oprimidos, como é o caso da reação boliviana e da resistência palestina, pelo menos. Poderá ter existido na História da humanidade um povo com igual capacidade de resistência como o povo palestino, mas superior a ele não. Essa resistência nos mostra que, por mais potentes e aparelhados os inimigos da libertação, é possível enfrentá-los e reverter as tendências impostas tendo em vista a anulação da existência da oposição.

             Se as elites nada representam de útil aos trabalhadores e para as massas empobrecidas, nada têm também a oferecer, a não ser a própria decadência. Tivemos até aqui, o Brasil colônia, depois o Brasil império, a proclamação da República, o Estado novo, a Nova República  e, no último dia 13 de maio, recordamos que já são 133 anos da abolição e os descendentes dos escravizados continuam na miséria; as populações indígenas seguem sem garantias; os trabalhadores pobres  distantes da terra, sem casa e sem trabalho.

            O que se esperar de um governo que arma os grandes proprietários e grileiros e, das forças armadas, cujo ministro da defesa as representa, discursa em praça pública garantindo que irão defendê-los?

            Os perversos intimidam os pobres com a emergência do comunismo, enquanto duplicam o valor de seus salários, promovem banquetes com caríssimos ingredientes e riem da falta de vacina, do reduzido auxilio emergencial e dos mortos contaminados pelo vírus na pandemia.

            É preciso reagir como os cristãos famintos contra Nero que os prendia e os jogava na arena para serem comidos por leões, enquanto assistia rodeado de admiradores e malfeitores. Levantar-se como o povo palestino para mostrar aos fabricantes de armas que a rebeldia dos oprimidos não se dobra diante da ignorância dos opressores e, como o povo boliviano, indígena e resistente, senhor de sua própria História.

            Não basta destituir os que nada fazem para o povo, ou esperar que ele seja vencido por si mesmo, é preciso organizar-se para não deixá-los voltar a nada oferecer. O nada será totalmente vencido pelo nada, quando tomarmos de vez o destino da História em nossas mãos, fazendo com que, o tudo de bom favoreça ao tudo e a perversidade jamais volte a ser a lógica da política.

                                                                                              Ademar Bogo

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