domingo, 21 de março de 2021

A VERDADE VOS DERROTARÁ

            Immanuel Kant, Karl Marx e Friedrich Engels, trataram do tema do cosmopolitismo de maneira diferenciada. O primeiro vinculou a explicação à vontade universal, os outros dois inseriram o conceito na perspectiva histórica e dialética compreendido na expansão do capital e do mercado capitalista.

            Kant desenvolveu a teoria dos “imperativos morais”. A sua intenção foi fazer com que a vontade humana fosse vista como um “dever” de alcance universal. Interessava a ele justificar a busca do “reino dos fins”, no qual, se cada um tomasse a humanidade existente no humano nunca como meio, chegaríamos à “paz eterna”. Para ele, a questão estava em fazer vir a termos uma humanidade dotada de razão e, por ser universal, guiar-se-ia pela autonomia da vontade como lei natural, sem contudo apontar para nenhum projeto.

            Marx e Engels também analisaram a questão universal, mas de olho no capitalismo. No Manifesto Comunista mostraram que “a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo, em todos os países, por meio da exploração do mercado mundial. E para o desespero dos reacionários, ela retirou da indústria a sua base nacional”. Portanto, Kant orientou-se pela vontade individual. “Age de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser um princípio de uma lei universal”. Marx e Engels materializaram a expansão pela vontade do mercado e do capital que impõem as próprias leis.O primeiro, quis dar vos ao agir voluntariosos do indivíduo, os dois outros denunciaram o agir perverso e criminoso do mercado e do capital. 

        Na atualidade, as vontades individuais e universais foram intensificadas, mas estão longe de estabelecerem uma racionalidade favorável à civilização. Do ponto de vista universal, o progresso prometido por aquilo que, no início do século vinte, veio a ser denominado de “imperialismo” e no final do mesmo século, converteu-se em “globalização”, foi por assim dizer, “um ato permanente de vontade” do capital internacional, para apossar-se das riquezas nacionais dos países dominados, mas, acima de tudo, foi uma obrigação imposta pelo mercado de levar o capital a todos os lugares da terra para salvar a própria estrutura capitalista. E a vontade individual? No caso brasileiro, teríamos, na visão de Kant, uma verdade abstrata e metafísica sendo imposta pelos slogans: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, e, do ponto de vista de projeto político nada de concreto apresenta.

            Por outro lado, há dois aspectos a serem considerados que representam as ideologias enganosas dos dizeres. O primeiro, é que a “autonomia da vontade” expressas pelas palavras, “Deus acima de todos”, não está na devoção dos governantes daqui, mas no poder imperialista que se coloca, de verdade, “acima de todos”; logo, a subordinação é ideológica concreta. O segundo aspecto, sem “autonomia da vontade” interna, por estar dominado pela vontade externa, o governo entregou-se ao “deus dará”, é a dominação ideológica abstrata. Não sabendo o que fazer posiciona-se na contramão da história, oferecendo como solução aos problemas humanitários, o “Estado de sítio”. Ou seja, enquanto os capitalistas, com “vontade de rapina” esfolam as riquezas naturais, situadas no quintal, o mandatário fica gritando da janela que imporá medidas totalitárias contra aqueles que disserem que ele “não vale um pequi ruído”. Dessa forma, Getúlio Vargas chamado de “Sancho Pança” e “Mãe dos pobres”, não teria implantado a indústria nacional. Juscelino Kubitschek, conhecido desde a infância por “Nonô” e a própria mãe o apelidou de “Meu fusca”, por ser identificado pelas iniciais de JK como a placa do carro, não teria feito Brasília, a capital do país. Lula, chamado de “Sapo barbudo”, não teria feito, na opinião dos analistas, o melhor governo da República e teria recorrido à Lei de Segurança Nacional para perseguir desafetos.

            A vontade metafísica governamental que, segundo os adeptos, elegeram um “mito” e não um presidente, vai do lado avesso. Ao invés de buscar soluções para os problemas concretos das mortes pelo coronavírus, da fome, desemprego e outros, pelo menos duas dezenas de problemas, fica procurando leis para enquadrar indivíduos que lhe tecem criticas, enquanto ocupa-se em liberar a compra de armas ao invés de investir na indústria, tecnologia, educação etc., iniciativas que de fato enfrentariam a decadência nacional e anulariam as criticas. Sua ocupação predileta é instigar os seguidores a boicotarem as medidas e orientações dos governadores e prefeitos; negar a gravidade da crise generalizada, ofender os países que poderiam auxiliar com repasse de vacina e, fazendo ameaças de que instalará um Estado de Sítio. Para que? para dominar quem? Para dar golpe em quem?

            Há, de fato, como disseram os filósofos, um “cosmopolitismo” da vontade do capital e do mercado, imobilizadores que não é em nada solidário. Em primeiro lugar pela expansão do capital, interessa às grandes corporações a exploração até o fim, mantendo a economia regulada pelo dólar. Em segundo lugar, do ponto de vista sanitário, a globalização da Pandemia, em nossas terras encontrou aliados negacionistas rompedores de todas as medidas protetivas, enquanto o mundo olha estupefato, com medo de que as novas cepas queiram também participar do cosmopolitismo da morte.

            A ignorância é uma doença que só pode ser curada com o conhecimento. Por isso clamamos, homens do governo, estudem! Estudem tudo e também a teoria social do materialismo histórico e verão que é melhor governar um povo de barriga cheia e feliz do que grandes contingentes de massas famintas e tristes. Busquem soluções que orgulhem os patriotas! Incluam no vocabulário cotidiano, para substituir as ofensas, palavras de otimismo, conforto e ânimo! A morte só traz perdas, tristeza, melancolia e depressão! Usem o Estado, enquanto puderem, a serviço da vida e deixem de ser inimigos de vós mesmos! Caso contrário: A verdade vos derrotará.

A visão desmantelada, sem nenhum projeto, alimentada apenas por um desejo totalitário, nos está conduzindo para longe até do que desejava Kant, “ao mundo dos fins” onde de fato reinaria a “paz eterna”. O “mundo dos fins” o qual estamos indo, não há Paz e nem respiração. Se o propósito necrotrófico era matar 30 mil pessoas, já ultrapassou a meta em dez vezes e chega à casa das 300 mil mortes, com uma tendência imperativa de multiplicar por dois e talvez por três este número, tornando-nos, possivelmente, nesta copa pandêmica mundial, os primeiros campeões do século vinte e um.

            A exploração capital e a pandemia tornaram-se as duas pragas insuportáveis da civilização: o primeiro mata de fome, o segundo de asfixia.  As respostas a eles deverão ser dadas em âmbito internacional. Temos portanto, duas uniões a serem feitas: a união de países, povos e governos para combater a Pandemia e a união de classe e das massas exploradas para enfrentarmos e superarmos o capitalismo. Se a verdade liberta, ela tarda mas não falta.

                                                                                                                       Ademar Bogo               


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