domingo, 7 de novembro de 2021

NEGACIONISMO E PACIFISMO

 

            Quando nos debruçamos sobre a compreensão filosófica da política, de imediato percebemos que cada época cria os seus próprios problemas filosóficos e políticos. Por isso, se no tempo presente, filosoficamente perguntamos “o que é o negacionismo?”; politicamente perguntamos, “como enfrentá-lo e superá-lo”?

            Restritamente, o negacionimo deve ser visto como uma ideologia com implicações práticas destrutivas, de todos os alicerces e conceituações teóricas. Tal ideologia penetra em todas áreas do conhecimento e estruturações, mas, com maior vigor, na relativização da ciência, passando pela economia, poder judiciário, educação religiosa, comunicação, preceitos morais, com repercussão no poder político e esferas governamentais.

            Negar não é um equívoco; faz parte do movimento dialético no qual identificamos uma lei conhecida como “negação da negação”. No entanto, devemos distinguir entre negação e negatividade. A dupla negação tem como resultado, uma afirmação. Nesse sentido, a negação é vista como um movimento de superação e não de eliminação da parte negada.

            O filósofo Hegel (1770-1831) didaticamente explicitou o que significa o movimento dialético, ao tomar como referência o surgimento e o desaparecimento botão no desabrochar da flor, inicialmente “refutado”. No entanto, a flor que faz surgir o fruto induz a imaginar um falso existir da planta, quando na verdade ele é a representação de todo o processo e a promessa de revelação da verdade da própria planta.

            Por outro lado, a negatividade é o movimento das ideias atuantes em um processo de descrença e , contra algo positivo, no intuito de recusá-lo. Sendo assim, esse negacionismo é a aplicação concreta da verdade em busca de afirmar os próprios interesses. Trata-se, portanto, de um processo diferente daquele procedido pela negação, que evolui sustentado pela própria formação, qualificando-se. A negatividade e o negacionismo, ao contrário, evoluem, objetivamente, desqualificando o existente, fazendo com que a verdade e a ciência convertam-se em uma rasa ideologia.

              Quando voltamos as atenções para a política vemos que o “negacionismo” e o “pacifismo” são duas enfermidades de igual periculosidade para o processo civilizatório. O filósofo italiano Antônio Gramsci (1891-1937), em seus “Cadernos do cárcere”, reporta-se à hipótese ideológica do pacifismo, dizendo que “a revolução passiva” é vista como intervenção legislativa e organização corporativa, ancoradas pela estrutura econômica que, por sua vez, visa modificações no “plano de produção” com alguma profundidade, mas sem ameaçar o controle do lucro.

            De modo geral, o pacifismo, na medida em que não aprofunda a intervenção sobre as estruturas de dominação, não se apresenta como uma oposição contrária ao negacionismo, senão que, também se compromete a negar a ruptura e, com isso mantém a mesma natureza do processo.

            É evidente que, do ponto de vista situacional, o negacionismo e o pacifismo mantém características diferenciadas, pois, enquanto o primeiro visa anular, por meio do julgamento ideológico o mérito da ciência e exclui da distribuição das “comendas” e premiações, por discordâncias e caprichos, os cientistas merecedores de louvor, o segundo, por meio da pacificação, busca conservar os pilares da civilização, como se todo o processo de negação do botão tornado flor e esta configurada em fruto, parasse neste estágio, impedido de seguir adiante por falta de decisão reprodutiva ou concordância com a natureza da ordem.

            Se o sinônimo oposto do negacionismo é a verdade, do pacifismo é o radicalismo. Na medida em que negatividade é um mal para a política, a passividade não representa um mal menor, isto porque, ao se pretender efetivar mudanças por dentro da estrutura que, propositalmente produz frutos “sem sementes”, as prováveis negações impulsionadoras de novas negações convertem-se em negatividades e, neste caso, os perdedores continuarão perdendo dentro da manutenção da mesma ordem garantidora da sociedade desigual.

                É evidente que a concepção da “transformação pacífica”, já se tornou também uma ideologia, pois, pretende fazer acreditar que esta seja uma verdade absoluta, quando as provas contrárias, cotidianamente e, corruptamente, são apresentadas e oficializadas pelo poder Legislativo.

            Na medida em que a ignorância ganha espaço na política há duas maneiras de enfrentá-la: combatendo-a educadamente, como quando um dos lados não quer o conflito e, insistentemente pede “calma”; a outra é desestruturar a estrutura que dá sustentação e facilita a reprodução das forças políticas negacionistas. Podemos até dizer que as duas formas de combate são complementares, pois, ao construir uma, constrói-se também a outra; mas então precisamos considerar que o pacifismo é apenas uma tática e não a totalidade da estratégia.

                                                                                                                                                                                                                                                                                 Ademar Bogo

           

 

             

                     

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