domingo, 15 de setembro de 2019

O NAZISMO E O MESMISMO



            O filósofo Nietzsche, em seu livro, “Assim falava Zaratustra”, descreve o “Diálogo com os reis” que se encontraram nas montanhas um vindo da direita e ou outro da esquerda, mas que tinham “um asno só” para montar.
            Ao encontrarem-se, o rei da direita provocou: “Estas coisas também se pensa lá entre nós, mas não se dizem”. O da esquerda, após comentar sobre uma suposta voz ouvida, concluiu: “A absoluta ausência da sociedade também prejudica os bons costumes”. Replicou então o da direita, depois de uma breve análise: “Os bons costumes! Entre nós tudo é falso e corrupto! Já ninguém sabe reverenciar...”. E, o rei da esquerda sentenciou: “Volta a te afligir teu antigo mal”.
            O diálogo entre os reis de origens contrárias, perdidos nas montanhas desertas, com um único animal à disposição para montarem, revela os segredos de nossa situação. Há décadas que o “burro estatizado” passou a ser o meio de locomoção da esquerda e da direita. Ambas as partes, sem a presença das forças sociais, falam dos bons costumes, mas, deparam-se com a falsidade e a corrupção e, o que volta sempre a afligir é o antigo mal, que só pode ser a prática institucionalizada.
            Para as forças de direita, o poder deveria ser ditatorial. Para as forças de esquerda reformistas, o poder deveria ser um grande entendimento, uma cosntrução de consenso. Daí, para ambos, a cada instante, “volta afligir o antigo mal”. Para a Direita é retroceder até o nazismo; para a esquerda é ir mais longe e resgatar o contratualismo, aquele do tempo do Renascimento, quando, de um lado colocava-se o Estado e do outro a sociedade. Sendo assim, nazistas e “mesmistas” precisam disputar o governo, o burro a ser montado, para governar por um período.
            As disputas eleitorais supõem grandes diferenças entre o “destrutivismo” e o “mesmismo”, mas, por trás, por cima e por baixo está o capital ditando os passos e, nenhum do lados quererá enquadrá-lo e controlá-lo. Agirão sempre como se não houvessem contradições, crises e esgotamentos.
            Ambos miram na geração de empregos, suplemento vitaminado para robustecer a popularidade, “desconhecendo” que há o retraimento das relações de produção provocado pelo avanço das forças produtivas. Evitam concordar que as crises, cada vez mais intensas, não começam na política, mas na economia. Elas reduzem cada vez mais o uso da força de trabalho, por isso desempregam e rebaixam o poder de compra dos desempregados gerando ainda mais desemprego com o subconsumo.
            Por outro lado, o mercado aparece como a força salvadora. Pensar em comprar e em vender, os olhos brilham. Tudo tende a se tornar mercadoria, no campo e na cidade; nas florestas e nas oficinas; nas hortas e no petróleo do fundo mar.
            O capital é o senhor que dinamiza as relações e por isso concede, orienta e administra a colocação das forças da política quando é para servir-se delas. Por esse engano, faz acreditar que não há um tempo corrente para a formação e a superação das contradições, mas sim, um tempo para a preservação e outro para a devastação; um tempo para a abertura e outro para o fechamento; um tempo para a tolerância e outro para a discriminação; um tempo pra o respeito e outro para a homofobia etc., quando na verdade os processos sofrem apenas ajustes. Devastam, protegem-se e discriminam o tempo inteiro.
            Por ter abandonado a ideia da transição para o socialismo, as forças de esquerda pensam em “continuação” na estrada do capitalismo. Por isso, os enfrentamentos saíram do campo da grande política e se deslocaram para o campo da legalidade. Os tribunais são os antigos “comitês centrais” onde a causa final é domesticada. O legalismo corroeu a rebeldia, por isso ingressamos na era do “mesmismo”. Termina-se uma eleição e logo se quer saber quem será o candidato para disputar a outra. Para muitos, as eleições deveriam ser anual, para tornarem as candidaturas verdadeiras profissões.
            O “mesmismo” é a repetição das ideias, dos propósitos, das táticas e das finalidades reformistas. O nazismo, a guerra e o intervencionismo etc., são táticas de uso do capital para amenizar os desacertos e as crises.
            A transição para o socialismo é um processo diferente. Tudo se faz sem concessões no principal. É como uma viagem que tem itinerário certo. Qualquer tática legalista ou não, deve servir para seguir em direção à superação do capitalismo. Neste caso, o “burro” disputado pelos reis, após a vitória não servirá para montar, mas para ser descartado. Findar-se-á então a ilusão. Desse ponto em diante seguiremos a pé com as multidões.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     Ademar Bogo    
                
           

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