domingo, 8 de setembro de 2019

MEDIDAS E DESMEDIDAS VINGATIVAS


            Medidas e desmedidas atuam como dois imperativos que determinam o fazer e o desfazer. Há, por isso, uma relação desconexa entre um termo e o outro. No entanto, se avançarmos para o sentido extensivo das palavras veremos que elas medem e desmedem as decisões, as vinganças e as precauções políticas.
            A explicação mais equilibrada entre estas duas contrariedades vem da palavra “sopesar”, que se refere, primeiramente, ao peso sustentado com as mãos para avaliá-lo. Por sua vez, este verbo é aplicado também para considerar outras situações que indicam o cuidado com o “peso” das decisões, das palavras usadas ou do significado de um princípio.
            Sopesa bem quem decide bem. Ou seja, para decidir é preciso medir, pesar, calcular para saber antecipadamente as consequências das decisões tomadas. Desse entendimento é que derivam várias expressões, todas elas em busca de definir uma ação, como por exemplo: “pesou a mão”, “não mediu as palavras”, “o peso da justiça”.
            Quando, porém, levamos a definição para a política, começamos a perceber que nada há de mais explicativo do que o peso da responsabilidade. Este peso pode representar a seriedade das decisões como também a gravidade das palavras ditas. No Brasil, nos últimos tempos, temos visto tantas coisas que nos fazem acreditar no que dissera um poeta espanhol Antônio Machado: “Em minha solidão tenho visto coisas muito claras que não são verdadeiras”. Ou seja, podemos ver coisas claras e mentirosas.
            Há medidas desmedidas, praticadas exageradamente e há também “desmedidas” que interferem sobre as medidas tomadas anteriormente. No final percebe-se instalado um estado de coisas desmesurado. No dicionário, desmedir é mostrar-se abusivo ou inconveniente, passar dos limites, exceder-se, exorbitar, descomedir-se.
            Podemos dizer então que os “excessos” levam aos retrocessos. Retrocedemos quando nos arrependemos, mas, acima de tudo quando praticamos algo que joga para trás o que já havia sido empurrado para frente. Carregar é sempre mais difícil e demorado do que descarregar. Desmanchar, mais rápido que construir e, crescer, mais lento que queimar e devastar.
            Na política, as medidas desmedidas podem vir como medidas ou como reformas. Elas trazem o peso a ser suportado pelos atingidos. São cortes nas verbas prometidas, direitos retirados e nomeações de autoridades feitas com o claro objetivo de proteger alguns setores e personalidades que gabavam a pureza e a idoneidade, mas, que no fundo eram mais sujos que a sujeira alheia.
            São desmedidas protetoras e vingativas. Agem como se os idosos, as viúvas, os pesquisadores, os indígenas, quilombolas etc., fossem inimigos que precisam ser torturados para que confessem que são o problema da crise econômica e dos débitos do Estado.
            A política vingativa aparentemente é seletiva, mas não é. O fenômeno é universal. Ataca o presente e compromete o futuro. É verdade que se pode sopesar a favor e contra. Mais contra que a favor. Contra o país, contra a nação, contra os trabalhadores, contra os pobres, contra as discussões de gênero, contra a beleza, contra as florestas, os bons modos, a sabedoria, o comedimento das palavras, a ética, os valores, a democracia...
            As decisões, as palavras e as vinganças desmedidas, conduzem, rapidamente, para que, dentre todos os “des”, um deles nos seja favorável. É o caso da palavra “desmistificação”. No dicionário, novamente podemos comprovar que, desmistificar é: “Toda denúncia verbal ou escrita visando desiludir um grupo de pessoas ou coletividade a respeito de uma opinião ou de um conjunto de opiniões, crenças e valores considerados como falsos, preconceituosos, ilusórios e mistificadores”. Tudo a ver. Ainda há um grupo que sustenta o mito da justiça, da igualdade, da austeridade e do progresso.
            É tempo de revigorar as vias respiratórias, apagar o fogo da Amazônia e transferi-lo para o entusiasmo, para fazer jus ao provérbio chinês que nos inspira quando diz que: “Sem o fogo do entusiasmo não há calor na vitória”.
                                                                                              Ademar Bogo  
                

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