terça-feira, 11 de outubro de 2016

A REPÚBLICA DO CACHORRO LOUCO



             
            Apesar dos sintomas da loucura terem se manifestado logo após as eleições presidenciais de 2014, com salivação demasiada, agressividade e mudança de comportamento, a demonstração do agravamento dessa patologia veio à tona, em 2016, no final de agosto, tido como o mês do cachorro louco. Logo, se já tivemos no Brasil a “república velha” e a “nova república”, com o golpe de 31 de agosto, iniciou-se a “república do cachorro louco”.
            A raiva canina expressa no impedimento que vitimou a presidenta da república, se deu pelo encurralamento dela contra o muro da baixa popularidade. Com poucas pessoas na rua para defendê-la, foi atacada por uma matilha interesseira, que a acusou de ter endividado o Estado gastando milhões de reais sem a autorização do Congresso. No entanto, após o golpe, os rosnentos, ampliaram as dívidas aprovando o endividamento ainda maior e, aquilo que era crime da presidenta deposta, rapidamente virou, uma grande virtude de 170 bilhões de reais.
Mas o animal salivando continua solto e com vontade de abocanhar as nádegas desavisadas. O método utilizado para acelerar esta ofensiva, chama-se PEC. Cada uma é um dente afiado que penetra nas profundezas do pré-sal, privatizando-o, como também fere a dignidade social com as restrições dos gastos em saúde, educação e infraestrutura. Por sua vez, os raivosos, com a língua salivante, lambem os credores da dívida pública e, com as unhas, reúnem os ossos músculos da previdência e dos demais direitos sociais, para alimentarem os componentes dos três poderes que, diga-se de passagem, nunca estiveram tão alinhados.
Por outro lado, as mordias salivosas não ocorrem sem latidos. Os “melhores amigos do homem” aprenderam a caçar distraindo a caça. Apontam para um lado e, quando todos para lá dirigem as atenções, atacam por outras trilhas. Veja o que ocorreu com a “escola sem partido”. Esses latidos já vinham sendo lançados aqui e acolá nas mobilizações que sustentaram o golpe. “Menos Paulo Freire, mais educação”, diziam. Quando nos preparamos para enfrentar a “lei da mordaça”, eles, com uma só mordida, por meio de uma Medida Provisória, saborearam as disciplinas de filosofia, sociologia, história, geografia, arte e educação física.
            Para as gerações desinteressadas da política ou que não tiveram pesadelos repressivos, pois, nasceram sob a proteção do estatuto da Criança e do Adolescente aprovado em 1990, nos primórdios do neoliberalismo brasileiro, é importante compreenderem que, em um golpe de estado, todos sabem como começa, mas ninguém sabe como ele continua.
            Nesta selva política, visualizamos três movimentos interligados: o primeiro, é que os bichos estão soltos e correm por todos os lados; o segundo, é que eles atacam funcionários, públicos, estudantes, aposentados, pessoas pobres ou aqueles que usam a cor vermelha e, o terceiro, é que, através da mídia, gostam de mostrar as suas vinganças para humilhar as vítimas.
            A lição é para ser apreendida: em questões políticas e sociais, as derrotas nunca são individuais. Em qualquer intensidade, elas afetam as coletividades e colocam impedimentos democráticos em todos os sentidos, pois, a reforma da constituição vai ocorrendo sem discussão e participação popular. Se a raiz da palavra pecado é PEC, com o consenso que criaram no planalto central, pecarão deslavadamente.
            A “república da loucura” pode ter curta duração, mas deixará deformações em todos os lugares, setores e direitos. E nós que reclamamos que o governo cordato que saiu não foi bom, teremos ainda razão, mas adianta o que? É hora de acordar as multidões, somente unidos e organizados estaremos seguros e imunizados, na “república do cachorro louco”.

                                                                       Ademar Bogo, filósofo, escritor e agricultor.

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