Por “meio”, entendemos diversas
coisas. Pode ser a metade de algo, a mediação entre duas partes ou mesmo, a posição
de priorizar alguma medida sem ultrapassar o meio termo. Temos ainda o Meio Ambiente,
que pode ser entendido como contexto ou mesmo uma posição política que se
preocupa em apenas plantar árvores e, não arriscar a ir além para impedir que
as florestas naturais sejam preservadas.
Celebramos em 5 de junho o “Dia Mundial
do Meio Ambiente” e, por isso, todas as atenções devem voltarem-se para o
estado do planeta. Nesse dia, veremos circular análises e imagens de ações
simbólicas de plantio de árvores; limpeza de lugares engolidos pelo lixo;
reflexões sobre o cuidado com a vida etc., e, tudo o quanto aparecer de ruim
será denominado como “crise”. Sobre isto há uma fórmula quádrupla ou quadrada
que estrutura as visões, sendo um dos lados a crise econômica, o outro a
política, na parte de baixo a crise social e, na de cima, ambiental.
Não podemos negar as oscilações
existentes no crescimento, esgotamento e recuperações das “crises” econômicas.
Assim como acontece com o trabalho na elevação e redução da taxa de desemprego.
Há economistas que defendem ter havido duas fases no neoliberalismo: a primeira
ocorrida no período de 1980 e 1995, tida como “revolução neoconservadora do
monetarismo”, por isso, o modelo realizou cortes nas políticas de bem-estar e nos
gastos do Estado. A segunda, baseada na política monetária de expansão do
consumo, reeditou o pleno emprego; no entanto, precarizou o trabalho, mas expandiu as políticas
compensatórias em busca de reduzir a velocidade do crescimento da pobreza.
De modo geral, as análises históricas
confirmam que há uma crise “estrutural do capitalismo” que, se não for para
enfrentar as suas consequências, com uma estratégia revolucionária, talvez pouco
se tenha a dizer sobre o assunto. Por outro lado, há exemplos históricos firmados
sobre as visões animadoras de Karl Marx, de que os avanços das forças
produtivas em confronto com as relações de produção, ajudariam a pensar a
própria superação do modo de produção. Não podemos esquecer que Marx e Engels
viveram a realização das revoluções liberais de 1848 e, por isso, o
protagonismo histórico estava identificado centrado na luta de classes e, por
essa razão a análise denominada de “crise capitalista”, tinha por trás o
objetivo político de indicar um ponto de ruptura na ordem dominante. Por isso,
não supunham os pensadores do socialismo científico que por si só as
contradições criassem um colapso na reprodução do capital, senão que, se
colocava como um fator objetivo para as revoluções proletárias.
Muitas leituras particulares foram
feitas e transformadas em posições políticas, como as polêmicas que ocorreram
na Alemanha, entre Eduard Bernstein defensor das reformas gradativas e Rosa
Luxemburgo que se atinha à estratégia da revolução, vinculando-a as ações, como
a greve geral no processo revolucionário. Essas discussões, neste século, saíram
de moda e, também tiradas da conjuntura a luta de classes, adequaram-se aos
ditames do modelo hegemônico mundial.
As
disputas classificatórias dos resquícios de “esquerda” são se as posições ideológicas
dos setores cooptados pela ordem dominante se denominam de “neoliberais” ou “sociais
liberais”; isto porque, na segunda posição, os líderes elevados ao grau de governantes,
ainda manteriam a sensibilidade para as políticas públicas de combate à pobreza.
No entanto, essa leitura é totalmente equivocada, pois, a própria extrema-direita
defende as políticas assistenciais e, no resto, os representantes, amigos dos
trabalhadores, seguem à risca os comandos da lei de reponsabilidade fiscal e,
quando são forçados a fazerem cortes nos gastos orçamentários, não mexem nos ganhos
e interesses do capital, mas, vão direto nas políticas públicas que favorecem
os pobres.
Tirada
a luta de classes das análises, o que fica são as elucubrações sem fundamento
sobre o que é essencial na superação do capitalismo, logo, denominam toda e
qualquer incongruência de crise. Por isso, há uma prostração diante do conceito
de “crise”, tanto quelas relacionadas com os aspectos estruturais, porém
temporárias, quanto as outras atribuídas pelas análises, como refluxo da luta
de massas, ou outras tantas crises, moral, educacional, comportamental etc.; quando,
na verdade, o capital continua agindo deliberadamente por todas as partes do
planeta.
Podemos
considerar que há uma decadência da civilização capitalista, que é a própria perda
do direito da humanidade de existir. Os riscos impostos ao planeta, não podem
significar “crises”, mas sim uma ameaça; como um incêndio florestal que se
aproxima das moradias e obriga a fechar os olhos e fugir em meio a fumaça, ou tomar
providências e enfrentar o fogo.
Tudo
bem, se as análise quiserem identificar as “crises capitalistas”, poderão
encontrar inclusive o renascimento do nazifascismo na Palestina e no
aparecimento público de grupos inescrupulosos em todos os países, decididos a
tomarem o poder político. No entanto, devem tomar cuidado para não acharem que
este seja um fenômeno isolado. As práticas nazifascistas são históricas e
culturais no capitalismo, seja na forma como são tratados os trabalhadores; as
empregadas domésticas; as populações pobres pretas e nativas; as mulheres, nos
recintos dos lares e nos empregos etc. Não seria o caso de imaginar que este
fenômeno só está se tornando importante porque a onda passou a ameaçar a
estabilidade da classe média, acostumada a ser respeitada como esquerda? Ou
seja, não é visto como totalitarismo, um tiroteio em uma favela provocado pela
invasão policial que arrebenta portas e janelas sem ordem judicial, revista e
prende pessoas inocentes, quando não some com os corpos e dificulta a
localização em presídios imundos.
Vejamos
por outro lado. Para enfrentar a idolatria da crise, se voltarmos os olhos para
a agricultura, veremos que o capital financeiro associado ao agropecuário, há
décadas vem fazendo investimentos tecnológicos modernizando as forças
produtivas, melhorando a genética, inclusive com o apoio do Estado, recebendo
títulos beneméritos como ocorreu com a cientista da Embrapa, Mariangela
Hungria, laureada com a premiação de 2025, considerado “O prêmio Nobel de
alimentação”, pela sua contribuição na descoberta de insumos biológicos, capazes
de fixar o nitrogênio nas plantações de soja e, impediu, em 2024 de ir para o
espaço 230 toneladas de CO2. Desse modo, é permitido perceber que, se o capital
conseguir ganhar com a despoluição do planeta, ele será o primeiro a fazer
isto. No entanto, pelas relações de produção, apesar do alto rendimento das
forças produtivas, quantos empregos gera essa forma de produção destrutiva da
natureza?
Nesse
sentido, se tomarmos como referência econômica o crescimento do capital na agricultura,
por meio do agronegócio, vemos que ele prosperou imensamente nesses 25 anos. Na
safra de 1999/2000 foram colhidas no Brasil, 85 milhões de toneladas de grãos;
agora, em 2024/2025 a estimativa é de que serão colhidas 332,9 milhões de
toneladas. No rebanho de bovinos, no ano 2000 eram 171 milhões de cabeças e, em
2025, esse número avançou para 234 milhões. É evidente que o capitalismo não se
divide por setores, mas o capital se move justamente por essas vias que
permitem maiores taxas de acumulação. Esse fator explica o porque os movimentos
do campo tiveram que abandonar a luta pela terra e se dedicarem a plantar
árvores se quiserem sobreviver, mas isto não significa luta de classes nem
tampouco um confronto com o modelo agroindustrial. Da mesma forma podemos tomar
o capital especulativo que impõe ao Banco Central a fixação de uma taxa de
juros de 14,75% ano, o que significa uma rentabilidade vergonhosa para um
governo que indicou o presidente do Banco e com isso perdeu a autoridade da crítica.
Por
que então dizemos que estamos vivendo a “política do meio”? Pelo comportamento
político, “meio lá meio cá”. A enganosa posição de falar e não fazer ou de
fazer pouco para não discordar e ter de enfrentar as consequências, tornou-se
uma normalidade nas posições políticas. Os partidos de “esquerda” que compõem o
governo e, os movimentos sociais que o apoiam, na sua grande maioria, represam
as criticas para não ofendê-lo. O contrário ocorre com os partidos de direita.
Eles disputam a comida da mesa como se tivessem em uma refeição com diversos
convidados. Além de se servirem primeiro, exigem que os últimos se comportem ou
sofrerão represálias.
Poderíamos
tomar outros exemplos, mas fiquemos na agricultura. O governo atual, rejeitado
nas eleições pelos representantes do agronegócio, os mesmos que criaram “o dia
do fogo” para incendiarem as florestas e abrirem novas fronteiras para a
criação de gado; responsáveis pelo despejamento de 720 mil toneladas de veneno sobre
os alimentos a cada ano; sujeitos responsáveis diretos dos crimes ambientais e
da poluição da água; possuidores de um arsenal bélico de fazer inveja ao crime
organizado e, promotores de encontros para articularem ataques contra os
trabalhadores, com a proposta de “Invasão zero”. Para fazerem uto isso, recebem
como recompensa de 508 bilhões de reais lugares nas caravanas das viagens presidenciais
para abrir novos mercados com outros países.
Diante de tudo isso, é importante não se deixar iludir pelas
argumentações simplórias da crise do capital, como se ele estivesse
enfraquecido. Muito pelo contrário, ele avança cada vez mais acelerado na
direção da exaustão do planeta. É preciso enfrentá-lo de frente e atacá-lo nas
suas fontes de acumulação. Assim como não se pode enfrentar motosserras apenas
com o plantio de árvores, mas com ataques físicos contra quem as empunha contra
a floresta, a política é o único meio a ser empunhado para alcançar o fim
revolucionário.
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