domingo, 1 de junho de 2025

A POLÍTICA DO MEIO


            Por “meio”, entendemos diversas coisas. Pode ser a metade de algo, a mediação entre duas partes ou mesmo, a posição de priorizar alguma medida sem ultrapassar o meio termo. Temos ainda o Meio Ambiente, que pode ser entendido como contexto ou mesmo uma posição política que se preocupa em apenas plantar árvores e, não arriscar a ir além para impedir que as florestas naturais sejam preservadas.

            Celebramos em 5 de junho o “Dia Mundial do Meio Ambiente” e, por isso, todas as atenções devem voltarem-se para o estado do planeta. Nesse dia, veremos circular análises e imagens de ações simbólicas de plantio de árvores; limpeza de lugares engolidos pelo lixo; reflexões sobre o cuidado com a vida etc., e, tudo o quanto aparecer de ruim será denominado como “crise”. Sobre isto há uma fórmula quádrupla ou quadrada que estrutura as visões, sendo um dos lados a crise econômica, o outro a política, na parte de baixo a crise social e, na de cima, ambiental.

            Não podemos negar as oscilações existentes no crescimento, esgotamento e recuperações das “crises” econômicas. Assim como acontece com o trabalho na elevação e redução da taxa de desemprego. Há economistas que defendem ter havido duas fases no neoliberalismo: a primeira ocorrida no período de 1980 e 1995, tida como “revolução neoconservadora do monetarismo”, por isso, o modelo realizou cortes nas políticas de bem-estar e nos gastos do Estado. A segunda, baseada na política monetária de expansão do consumo, reeditou o pleno emprego; no entanto,  precarizou o trabalho, mas expandiu as políticas compensatórias em busca de reduzir a velocidade do crescimento da pobreza.

            De modo geral, as análises históricas confirmam que há uma crise “estrutural do capitalismo” que, se não for para enfrentar as suas consequências, com uma estratégia revolucionária, talvez pouco se tenha a dizer sobre o assunto. Por outro lado, há exemplos históricos firmados sobre as visões animadoras de Karl Marx, de que os avanços das forças produtivas em confronto com as relações de produção, ajudariam a pensar a própria superação do modo de produção. Não podemos esquecer que Marx e Engels viveram a realização das revoluções liberais de 1848 e, por isso, o protagonismo histórico estava identificado centrado na luta de classes e, por essa razão a análise denominada de “crise capitalista”, tinha por trás o objetivo político de indicar um ponto de ruptura na ordem dominante. Por isso, não supunham os pensadores do socialismo científico que por si só as contradições criassem um colapso na reprodução do capital, senão que, se colocava como um fator objetivo para as revoluções proletárias.

            Muitas leituras particulares foram feitas e transformadas em posições políticas, como as polêmicas que ocorreram na Alemanha, entre Eduard Bernstein defensor das reformas gradativas e Rosa Luxemburgo que se atinha à estratégia da revolução, vinculando-a as ações, como a greve geral no processo revolucionário. Essas discussões, neste século, saíram de moda e, também tiradas da conjuntura a luta de classes, adequaram-se aos ditames do modelo hegemônico mundial.

As disputas classificatórias dos resquícios de “esquerda” são se as posições ideológicas dos setores cooptados pela ordem dominante se denominam de “neoliberais” ou “sociais liberais”; isto porque, na segunda posição, os líderes elevados ao grau de governantes, ainda manteriam a sensibilidade para as políticas públicas de combate à pobreza. No entanto, essa leitura é totalmente equivocada, pois, a própria extrema-direita defende as políticas assistenciais   e, no resto, os representantes, amigos dos trabalhadores, seguem à risca os comandos da lei de reponsabilidade fiscal e, quando são forçados a fazerem cortes nos gastos orçamentários, não mexem nos ganhos e interesses do capital, mas, vão direto nas políticas públicas que favorecem os pobres.

Tirada a luta de classes das análises, o que fica são as elucubrações sem fundamento sobre o que é essencial na superação do capitalismo, logo, denominam toda e qualquer incongruência de crise. Por isso, há uma prostração diante do conceito de “crise”, tanto quelas relacionadas com os aspectos estruturais, porém temporárias, quanto as outras atribuídas pelas análises, como refluxo da luta de massas, ou outras tantas crises, moral, educacional, comportamental etc.; quando, na verdade, o capital continua agindo deliberadamente por todas as partes do planeta.

Podemos considerar que há uma decadência da civilização capitalista, que é a própria perda do direito da humanidade de existir. Os riscos impostos ao planeta, não podem significar “crises”, mas sim uma ameaça; como um incêndio florestal que se aproxima das moradias e obriga a fechar os olhos e fugir em meio a fumaça, ou tomar providências e enfrentar o fogo.

Tudo bem, se as análise quiserem identificar as “crises capitalistas”, poderão encontrar inclusive o renascimento do nazifascismo na Palestina e no aparecimento público de grupos inescrupulosos em todos os países, decididos a tomarem o poder político. No entanto, devem tomar cuidado para não acharem que este seja um fenômeno isolado. As práticas nazifascistas são históricas e culturais no capitalismo, seja na forma como são tratados os trabalhadores; as empregadas domésticas; as populações pobres pretas e nativas; as mulheres, nos recintos dos lares e nos empregos etc. Não seria o caso de imaginar que este fenômeno só está se tornando importante porque a onda passou a ameaçar a estabilidade da classe média, acostumada a ser respeitada como esquerda? Ou seja, não é visto como totalitarismo, um tiroteio em uma favela provocado pela invasão policial que arrebenta portas e janelas sem ordem judicial, revista e prende pessoas inocentes, quando não some com os corpos e dificulta a localização em presídios imundos.

Vejamos por outro lado. Para enfrentar a idolatria da crise, se voltarmos os olhos para a agricultura, veremos que o capital financeiro associado ao agropecuário, há décadas vem fazendo investimentos tecnológicos modernizando as forças produtivas, melhorando a genética, inclusive com o apoio do Estado, recebendo títulos beneméritos como ocorreu com a cientista da Embrapa, Mariangela Hungria, laureada com a premiação de 2025, considerado “O prêmio Nobel de alimentação”, pela sua contribuição na descoberta de insumos biológicos, capazes de fixar o nitrogênio nas plantações de soja e, impediu, em 2024 de ir para o espaço 230 toneladas de CO2. Desse modo, é permitido perceber que, se o capital conseguir ganhar com a despoluição do planeta, ele será o primeiro a fazer isto. No entanto, pelas relações de produção, apesar do alto rendimento das forças produtivas, quantos empregos gera essa forma de produção destrutiva da natureza?

Nesse sentido, se tomarmos como referência econômica o crescimento do capital na agricultura, por meio do agronegócio, vemos que ele prosperou imensamente nesses 25 anos. Na safra de 1999/2000 foram colhidas no Brasil, 85 milhões de toneladas de grãos; agora, em 2024/2025 a estimativa é de que serão colhidas 332,9 milhões de toneladas. No rebanho de bovinos, no ano 2000 eram 171 milhões de cabeças e, em 2025, esse número avançou para 234 milhões. É evidente que o capitalismo não se divide por setores, mas o capital se move justamente por essas vias que permitem maiores taxas de acumulação. Esse fator explica o porque os movimentos do campo tiveram que abandonar a luta pela terra e se dedicarem a plantar árvores se quiserem sobreviver, mas isto não significa luta de classes nem tampouco um confronto com o modelo agroindustrial. Da mesma forma podemos tomar o capital especulativo que impõe ao Banco Central a fixação de uma taxa de juros de 14,75% ano, o que significa uma rentabilidade vergonhosa para um governo que indicou o presidente do Banco e com isso perdeu a autoridade da crítica.

Por que então dizemos que estamos vivendo a “política do meio”? Pelo comportamento político, “meio lá meio cá”. A enganosa posição de falar e não fazer ou de fazer pouco para não discordar e ter de enfrentar as consequências, tornou-se uma normalidade nas posições políticas. Os partidos de “esquerda” que compõem o governo e, os movimentos sociais que o apoiam, na sua grande maioria, represam as criticas para não ofendê-lo. O contrário ocorre com os partidos de direita. Eles disputam a comida da mesa como se tivessem em uma refeição com diversos convidados. Além de se servirem primeiro, exigem que os últimos se comportem ou sofrerão represálias.

Poderíamos tomar outros exemplos, mas fiquemos na agricultura. O governo atual, rejeitado nas eleições pelos representantes do agronegócio, os mesmos que criaram “o dia do fogo” para incendiarem as florestas e abrirem novas fronteiras para a criação de gado; responsáveis pelo despejamento de 720 mil toneladas de veneno sobre os alimentos a cada ano; sujeitos responsáveis diretos dos crimes ambientais e da poluição da água; possuidores de um arsenal bélico de fazer inveja ao crime organizado e, promotores de encontros para articularem ataques contra os trabalhadores, com a proposta de “Invasão zero”. Para fazerem uto isso, recebem como recompensa de 508 bilhões de reais lugares nas caravanas das viagens presidenciais para abrir novos mercados com outros países.

    Diante de tudo isso, é importante não se deixar iludir pelas argumentações simplórias da crise do capital, como se ele estivesse enfraquecido. Muito pelo contrário, ele avança cada vez mais acelerado na direção da exaustão do planeta. É preciso enfrentá-lo de frente e atacá-lo nas suas fontes de acumulação. Assim como não se pode enfrentar motosserras apenas com o plantio de árvores, mas com ataques físicos contra quem as empunha contra a floresta, a política é o único meio a ser empunhado para alcançar o fim revolucionário.    

                                                                       Ademar Bogo

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