No
livro, A ideologia alemã, com o subtítulo de “São Max”, Karl Marx para
fazer uma crítica ao liberalismo, utilizou-se de um trecho do livro do escritor
espanhol, Miguel Cervantes, Dom
Quixote de La mancha e, aproveitou-se de uma fala ilustrativa do personagem
Sancho Pança para ilustrar a situação: “Todo o liberalismo tem um inimigo
mortal, um opositor invencível, como Deus tem o diabo: o homem tem sempre ao
seu lado o inumano, o egoísta, o indivíduo. O Estado, a sociedade, a humanidade
não dominam esse diabo.”[1]
O
sentido das expressões acima ditas por Sancho no passado, tornaram-se dilemas
atuais. Ou seja, como represar o inumano da suposta maior democracia do mundo, escondido
no suposto humano estadista e democrático? Seria possível separar as duas
essências para evitar que, ao ser libertar o humano o inumano também se soltasse?
Os perigos se embutem: o satanás ao se soltar tende a atacar todas as nações,
pois, todo liberalismo tem um inimigo mortal, o socialismo, ou um opositor
invencível que, como Deus e o Diabo possuem a mesma idade.
De
tudo o que sempre ouvimos nem sempre vimos tudo. Se o velho liberalismo é a
essência do capitalismo, o neoliberalismo, como aprofundamento desse modelo, é
a excrecência dele. Sabemos pelo movimento das contradições que, não apenas o
liberalismo tem um inimigo mortal e opositor invencível, a unidade e luta dos
contrários é uma das leis da dialética que está em todos as substâncias,
movimentos e ideias.
O capitalismo como espectro universal paira sobre todas
as nações como regra ou ameaça. Se tivéssemos que estabelecer uma separação entre
o liberalismo e o imperialismo, o primeiro apresentar-se-ia como um deus
democrático e, o outro, como o demônio violento, interventor e matador dos
povos. Nesse sentido, deus seria aquele que abre as fronteiras dos países;
permite importar e exportar produtos; disputar eleições entre opositores, sem
ameaçar a ordem do capital. O diabo, aproveita-se das oficialidades para ir aos
lugares mais vantajosos e, por meio da força, desferir golpes de Estado, promover
guerras e intervenções militares, no intuito de aumentar os lucros do capital;
apossar-se das riquezas naturais e limitar as desvantagens mercantis.
Por outro lado, da mesma forma que o inumano está represado
dentro do humano, o liberalismo e o imperialismo combinam-se para que, em
momentos de poucas ameaças, o lado cordial das relações capitalistas, permite
filmar em ambientes públicos, os acordos assinados entre os chefes das nações,
como promessas de cooperações futuras. As reuniões de cúpula, exibem no final,
imagens das autoridades sorridentes mostrando ao mundo que, embora sentados
sobre bombas e artefatos bélicos, não há perigo de explosões. No entanto, basta
que um interesse seja desrespeitado e logo o lado mortal do imperialismo se
apresenta dando ordens e fazendo exigências.
Em 2025 no final do primeiro quarto do século XXI, o
neoliberalismo que veio desde a década de 1970 adotado como modelo econômico da
globalização, por ter criado em seu interior os inimigos de si mesmo, obriga-se
agora a expor mais definidamente a sua inumanidade, em busca de impedir, enquanto
criatura dos criadores liberais e imperialistas, que o poder político no mundo
passe para outras mãos.
Se até aqui o neoliberalismo interferiu nas relações de
produção, impondo por meio das inovações tecnológicas o extermínio da classe
operária, precarizando e terceirizando as atividades produtivas e os serviços; nesse
momento, para garantir alguma estabilidade e aproveitando-se da inteligência
artificial, acoplada a outros avanços eletrônicos, a corda com a pedra está
sendo amarrada no pescoço dos trabalhadores do serviço público.
Como um objeto jogado no meio do lago, irradia, em
sequência círculos de ondas até as margens, basta lembrar que a primeira-ministra
do Reino Unido, Margareth Thatcher, no início da década de 1980, tornou-se um
ícone mundial do neoliberalismo. Agora a corda foi entregue ao presidente dos
Estados Unidos da América, para que inicie os enforcamentos. A velha ideia do “Estado
mínimo”, pelo menos na quantidade de funcionários, em nome da eficiência administrativa,
inovou-se com o método da prestação de contas das atividades diárias, enviadas
pelo funcionário para o centro controlador; lá será medida a eficiência de cada
um (a) e, a depender das avaliações, em seguida serão convidados a pedirem
demissão.
A tendência é que o Estado neoliberal passe, no futuro, a
se desfazer de todos os tipos de prestação de serviços, que deixarão de serem
públicos para tornarem-se puramente privados; portanto, pagos pelos cidadãos.
As funções estais voltar-se-ão para o controle total dos cidadãos que serão monitorados,
pelo sistema aperfeiçoado do “Panóptico”, sugerido em 1785 pelo filósofo inglês,
Jeremy Bentham, cuja tradução da palavra é “ver sem ser visto”, para monitorar
os presidiários, mas que, passará a ser o sistema estatal de vigilância
controlada por centrais de processamento de dados e imagens.
Como há tempo já percebemos que a base do imperialismo
norte-americano vem sendo ameaçada pela incapacidade de enfrentar os inimigos
da esfera econômica, agora contra-ataca com um novo impulso do neoliberalismo,
como autodefesa de sua própria decadência; no entanto, as consequências desse
modelo da terceirização dos serviços públicos, como receita para diminuir os
gastos para honrar o pagamento das dívidas públicas, em breve começará a ser
implantado em todos os países.
Na certeza de que o neoliberalismo não morreu, devemos
anunciar que, quem tudo perdeu, nada mais tem a perder e, os que ainda não
perderam é certo que logo tudo perderão; dessa forma seremos todos iguais, sem
direitos sociais perante a lei. Como disse Pancho: “Todo liberalismo tem um
inimigo mortal...”: somos nós e toda a humanidade sofredora. Entre aceitar ou
lutar contra, há apenas um passo a ser dado para a esquerda.
Ademar
Bogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário