domingo, 2 de março de 2025

CAPITALISMO E MILITARISMO


            Há coisas tardiamente compreendidas que envergonham a ingenuidade e, quando alguns incidentes acontecem, as atenções se voltam para aquele ponto como se fosse o todo do universo. As gerações futuras deverão aprender a conviver com os conflitos entre grupos e as guerras entre as nações, mas, organizadas partidariamente entregarem-se tão concretamente que as forças militares serão apenas uma das partes envolvidas.

            Já estudamos muito sobre a relação entre a formação da riqueza e a violência. A base desta é a materialidade daquela. Rosa Luxemburgo ao analisar a acumulação do capital, a discorreu da seguinte forma: “O militarismo desempenha uma função específica na história do capital. Ele acompanha os passos da acumulação em todas as suas fases históricas”.[1] Em todas as Histórias, bem-contadas de qualquer nação do mundo, encontram-se as marcas vivas da violência advinda dos interesses dos colonialistas, imperialistas e especuladores.

            Não vem ao caso detalhar as formas de violência, pois elas vão desde a humilhação individual, o extermínio étnico, até a expropriação territorial. Nos interessa aqui ainda manter-nos no cenário das guerras. O imperialismo, pela necessidade da expansão do capital, traz em sua essência as características da violência. O crescimento econômico de um país, vem acompanhado da implantação e da inovação da indústria bélica. Os capitalistas adoram o dinheiro e, também as armas. Com o primeiro compram as segundas e, com estas defendem as práticas acumuladoras.

            Há poucos dias os meios de comunicações exibiram em tempo real e continuam reproduzindo, o embate entre o pequeno Davi ucraniano e o Golias norte-americano. Em jogo estava o acordo de paz entre Rússia e a Ucrânia; uma tentativa urgente de encerrar aquele que se constitui o maior erro cometido pela Europa nesse primeiro quarto de século. Ou seja, envolveu em um conflito desnecessário, sem condições nenhuma de vitória, simplesmente pelo ganho de ter a Ucrânia do seu lado.

            O governo dos Estados Unidos entendeu que a Ucrânia vir a pertencer ou não a OTAN, pouco importa; em grande medida ela já está integrada pelo imenso apoio que recebe da Europa. Mas isso nada muda na correlação de forças mundiais. No entanto, se o conflito interessa a Europa, “ela que assuma os custos”, é o pensamento do Pentágono. Mas como sair fora sem nenhuma justificativa ou recompensa.

            Mas o certo é que, diante da situação insustentável da Ucrânia, o governo dos Estados Unidos da América resolveu se retirar do conflito, por dois motivos: O primeiro é que a Europa será uma eterna aliada nas peleias futuras, ela representa com o imperialismo norte-americano o capitalismo central e, em segundo lugar, porque não vale a pena enfrentar um inimigo como a Rússia em um momento em que ela, se não for provocada, não impõe nenhuma ameaça e, se for provocada precisa entrar com todos os arsenais, porém, ninguém sabe o que poderá acontecer. Diante das dificuldades e condições desfavoráveis para vencer a Rússia, a estratégia dos capitalistas norte-americanos é “se saírem bem”, em dois aspectos:  o primeiro, já sabemos que seria a apropriação dos “minérios críticos” existentes no território ucraniano, antes que eles fiquem todos com a Rússia. Esses minérios entregues às empresas de tecnologias avançadas, servirão para enfrentar a China que já controla outras reservas em outras partes do mundo. O segundo aspecto, é obrigar a Europa investir muito mais armamentos sofisticados, certamente comprados das indústrias bélicas do Tio San.

            Por outro lado, ao contrário do que dizem muitos analisadores,  sobre a “humilhação de Zelenski”, nesse primeiro momento, para quem estava com a corda no pescoço, tendo o direito de solicitar o último desejo, ao formulá-lo, o carrasco não podendo atender, teve que deixar a vítima ir embora. Logo, o Davi não derrotou o Golias, mas deixou-o, por enquanto, com as mãos vazias.  Ganhou a tempo junto à Europa, mesmo tendo consciência que, sem o apoio dos Estados unidos não conseguirão enfrentar a Rússia por muito tempo. Provavelmente Trump mudará de estratégia, mas não tem mais nenhum interesse em ajudar a manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

            Para além desse conflito particular, é importante saber que não estamos de fora, não porque algum resquício de pólvora poderá ser encontrado em nossas mãos, mas, porque, “se sem militarismo não pode existir imperialismo”, embora ainda não estamos sendo atacados, é porque o capital não encontrou impedimentos significativos para expropriar, principalmente o petróleo que representa o lítio ucraniano.

            Pelo comportamento do imperialismo norte americano, percebemos a fragilidade dos alinhamentos políticos, basta uma diferença e tudo vira do avesso. O exemplo brasileiro é emblemático; o governo passado era totalmente a favor à submissão aos Estados Unidos, o atual, covardemente confunde a relação com aquele país como se fosse a luta sindical em que tudo se acerta na mesa das negociações, mas não arrisca questionar os anseios do patrão. A postura é de subserviência, inclusive, prontificando-se a oferecer-lhes novas reservas do petróleo.

            Para sairmos desse assunto. Precisamos discutir, independentemente dos governos, o que é a soberania nacional e como garanti-la. Não podemos ficar nessa ilusão de que, um governo, representante dos interesses do capital, olhando para as forças armadas, a espera de que a qualquer momento possam dar um golpe de Estado ou preso às negociações com os partidos políticos, os quais, sem exceção, não possuem nenhum preparo para enfrentar um processo de resistência. Exemplo de resistência político, militar e popular nos vem da palestina. Lá a soberania está sendo conquistada com enfrentamentos e articulações com todas as forças comprometidas com a derrota do imperialismo.

            Como já vimos, não pode existir capitalismo sem militarismo e, nem capital sem armas e violência. Para quem nasceu sobre uma base de riquezas naturais, não há para onde fugir. Já cedemos demais, precisamos preparar as forças para lutarmos pela superação do capitalismo, com isso superaremos também: o imperialismo, o militarismo, a covardia governamental e a subserviência dos povos.

                                                                       Ademar Bogo



[1] LUXEMBURGO , Rosa. Acumulação do capital. In. LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo e o protagonismo das lutas de massas. São Paulo: Expressão popular, 2028, p. 121.

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