Há coisas tardiamente compreendidas que envergonham a
ingenuidade e, quando alguns incidentes acontecem, as atenções se voltam para
aquele ponto como se fosse o todo do universo. As gerações futuras deverão
aprender a conviver com os conflitos entre grupos e as guerras entre as nações,
mas, organizadas partidariamente entregarem-se tão concretamente que as forças
militares serão apenas uma das partes envolvidas.
Já estudamos muito sobre a relação entre a formação da
riqueza e a violência. A base desta é a materialidade daquela. Rosa Luxemburgo
ao analisar a acumulação do capital, a discorreu da seguinte forma: “O
militarismo desempenha uma função específica na história do capital. Ele
acompanha os passos da acumulação em todas as suas fases históricas”.[1] Em todas as Histórias, bem-contadas
de qualquer nação do mundo, encontram-se as marcas vivas da violência advinda
dos interesses dos colonialistas, imperialistas e especuladores.
Não vem ao caso detalhar as formas de violência, pois elas
vão desde a humilhação individual, o extermínio étnico, até a expropriação
territorial. Nos interessa aqui ainda manter-nos no cenário das guerras. O
imperialismo, pela necessidade da expansão do capital, traz em sua essência as
características da violência. O crescimento econômico de um país, vem
acompanhado da implantação e da inovação da indústria bélica. Os capitalistas adoram
o dinheiro e, também as armas. Com o primeiro compram as segundas e, com estas
defendem as práticas acumuladoras.
Há poucos dias os meios de comunicações exibiram em tempo
real e continuam reproduzindo, o embate entre o pequeno Davi ucraniano e o
Golias norte-americano. Em jogo estava o acordo de paz entre Rússia e a Ucrânia;
uma tentativa urgente de encerrar aquele que se constitui o maior erro cometido
pela Europa nesse primeiro quarto de século. Ou seja, envolveu em um conflito
desnecessário, sem condições nenhuma de vitória, simplesmente pelo ganho de ter
a Ucrânia do seu lado.
O governo dos Estados Unidos entendeu que a Ucrânia vir a
pertencer ou não a OTAN, pouco importa; em grande medida ela já está integrada
pelo imenso apoio que recebe da Europa. Mas isso nada muda na correlação de
forças mundiais. No entanto, se o conflito interessa a Europa, “ela que assuma
os custos”, é o pensamento do Pentágono. Mas como sair fora sem nenhuma
justificativa ou recompensa.
Mas o certo é que, diante da situação insustentável da
Ucrânia, o governo dos Estados Unidos da América resolveu se retirar do
conflito, por dois motivos: O primeiro é que a Europa será uma eterna aliada
nas peleias futuras, ela representa com o imperialismo norte-americano o
capitalismo central e, em segundo lugar, porque não vale a pena enfrentar um
inimigo como a Rússia em um momento em que ela, se não for provocada, não impõe
nenhuma ameaça e, se for provocada precisa entrar com todos os arsenais, porém,
ninguém sabe o que poderá acontecer. Diante das dificuldades e condições desfavoráveis
para vencer a Rússia, a estratégia dos capitalistas norte-americanos é “se saírem
bem”, em dois aspectos: o primeiro, já
sabemos que seria a apropriação dos “minérios críticos” existentes no
território ucraniano, antes que eles fiquem todos com a Rússia. Esses minérios
entregues às empresas de tecnologias avançadas, servirão para enfrentar a China
que já controla outras reservas em outras partes do mundo. O segundo aspecto, é
obrigar a Europa investir muito mais armamentos sofisticados, certamente comprados
das indústrias bélicas do Tio San.
Por outro lado, ao contrário do que dizem muitos
analisadores, sobre a “humilhação de
Zelenski”, nesse primeiro momento, para quem estava com a corda no pescoço,
tendo o direito de solicitar o último desejo, ao formulá-lo, o carrasco não
podendo atender, teve que deixar a vítima ir embora. Logo, o Davi não derrotou
o Golias, mas deixou-o, por enquanto, com as mãos vazias. Ganhou a tempo junto à Europa, mesmo tendo
consciência que, sem o apoio dos Estados unidos não conseguirão enfrentar a
Rússia por muito tempo. Provavelmente Trump mudará de estratégia, mas não tem
mais nenhum interesse em ajudar a manter a Organização do Tratado do Atlântico
Norte.
Para além desse conflito particular, é importante saber
que não estamos de fora, não porque algum resquício de pólvora poderá ser
encontrado em nossas mãos, mas, porque, “se sem militarismo não pode existir
imperialismo”, embora ainda não estamos sendo atacados, é porque o capital não
encontrou impedimentos significativos para expropriar, principalmente o
petróleo que representa o lítio ucraniano.
Pelo comportamento do imperialismo norte americano,
percebemos a fragilidade dos alinhamentos políticos, basta uma diferença e tudo
vira do avesso. O exemplo brasileiro é emblemático; o governo passado era
totalmente a favor à submissão aos Estados Unidos, o atual, covardemente confunde
a relação com aquele país como se fosse a luta sindical em que tudo se acerta
na mesa das negociações, mas não arrisca questionar os anseios do patrão. A
postura é de subserviência, inclusive, prontificando-se a oferecer-lhes novas
reservas do petróleo.
Para sairmos desse assunto. Precisamos discutir,
independentemente dos governos, o que é a soberania nacional e como garanti-la.
Não podemos ficar nessa ilusão de que, um governo, representante dos interesses
do capital, olhando para as forças armadas, a espera de que a qualquer momento
possam dar um golpe de Estado ou preso às negociações com os partidos políticos,
os quais, sem exceção, não possuem nenhum preparo para enfrentar um processo de
resistência. Exemplo de resistência político, militar e popular nos vem da palestina.
Lá a soberania está sendo conquistada com enfrentamentos e articulações com
todas as forças comprometidas com a derrota do imperialismo.
Como já vimos, não pode existir capitalismo sem
militarismo e, nem capital sem armas e violência. Para quem nasceu sobre uma
base de riquezas naturais, não há para onde fugir. Já cedemos demais,
precisamos preparar as forças para lutarmos pela superação do capitalismo, com
isso superaremos também: o imperialismo, o militarismo, a covardia
governamental e a subserviência dos povos.
Ademar
Bogo
[1] LUXEMBURGO , Rosa. Acumulação do
capital. In. LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo e o protagonismo das lutas de
massas. São Paulo: Expressão popular, 2028, p. 121.
Nenhum comentário:
Postar um comentário