domingo, 20 de novembro de 2022

CONSPIRAÇÃO E INSURREIÇÃO

 

            A primeira e destacada obra da contemporaneidade orientadora do movimento socialista é sem dúvida nenhuma o “Manifesto do partido comunista”, escrito pelos jovens Karl Marx e Friedrich Engels em 1848. O objetivo dessa obra, escrita no auge das Revoluções Liberais, desencadeadas na Europa, era oferecer ao trabalhadores um caminho estratégico para fugirem da tradição conspiratória e, ao mesmo tempo diferenciarem-se do processo de transformação burguesa sustentada pelas forças militares.

            A tradição das contestações políticas eram, até então, organizadas por facções formadas por pequenos grupos que, por meio de táticas conspirativas, visavam, com ataques pontuais e atentados contra as autoridades, chegarem ao poder.

            A conspiração é vista pela teoria da organização política revolucionária, como oposição à insurreição, isto porque, enquanto a primeira se expressa por meio de grupos minoritários, a segunda procede por meio da organização e mobilização da maioria da população. Nesse sentido, outros dois conceitos, “golpe” e “revolução”, determinam a natureza dos dois primeiros.

            É evidente que em certas circunstâncias o uso de táticas momentâneas, podem cruzar os conteúdos dos conceitos, mas, acima de tudo, deve-se sempre observar as finalidades estabelecidas. Quando falamos em “golpe”, identificamos facilmente que por trás desta posição, existe uma conspiração articulada por grupos interessados em defender os seus interesses e, para alcançarem esse objetivo, buscam confundir o entendimento a fim de arrastarem para o seu lado, parcelas da sociedade civil. Por outro lado, a revolução e a insurreição ao serem discutidas e postas em andamento, de imediato elas buscam o envolvimento da maioria da população e, o objetivo final é atender os interesses do movimento organizado.

            Com esta breve diferenciação podemos identificar que lado estamos indo. No Brasil, após a eleição para presidente da república, na qual escancararam-se as posições, de um lado nazistas e do outro progressistas, ambas mobilizando razoáveis contingentes de massas, fazendo com que, no final, quase 120 milhões de pessoas declarassem as suas preferências, é um grande feito. No entanto, a parte vitoriosa, votou e se retirou do cenário das disputas, mas, a parte que perdeu, permanece com grupos mobilizados instigando setores da sociedade e as forças armadas, a desrespeitarem o resultado do pleito, para, por meio de um golpe assumirem o poder.

            Essa conspiração golpista é real e está em andamento sustentada pelos representantes do capital financeiro, setores das forças armadas, do agronegócio e das igrejas pentecostais. É por isso que, com facilidade confunde e misturam, o protesto de pessoas humana com os caminhões; ideias golpistas com as cores simbólicas; o financiamento das empresas com autonomia política e, a alienação com valores morais conservadores. Querem convencer de que o país precisa de uma “ditadura militar” para implantar a democracia.

            O que na verdade passa pela cabeça desses grupos é o sentimento de ódio e vingança que alimentam contra as forças de esquerda. Como não podem atacá-las, precisam do Estado para fazê-lo. Esses grupos não querem a vitória eleitoral, mesmo se tivessem ganho não se calariam. Insistiriam no golpe para assistiram covardemente a repressão e à matança da militância “comunista”, coisa que com uma vitória eleitoral apenas, não conseguiriam atingir tal objetivo.   Nesse sentido, o ódio que costumeiramente um indivíduo sente, tem nele mesmo a força para transformá-lo em violência. Na conspiração em andamento, os setores vingativos cobertos, pelas cores da bandeira, em franca representação minoritária, são portadores do ódio, mas precisam das forças armadas para realizarem os homicídios.

            É importante compreender que, a conspiração golpista ainda não foi levada a cabo com sucesso, porque o processo eleitoral foi legitimo e sem falhas pois, se por um lado registrou a vitória de um presidente de esquerda, por outro, garantiu a maioria parlamentar da direita. E, porque, as circunstâncias não são todas favoráveis e nem a comunidade internacional apoia qualquer tipo de bravata que fira o que se chama de “democracia”.

            No entanto, circunstâncias sociais e políticas são coisas que se criam. Elas funcionam como o vento; de um momento para outro, o tempo muda e vêm as tempestades. Logo, não basta, confiar no certo, no idôneo e na justiça, porque, esses conceitos sem massas mobilizadas, mudam facilmente de entendimento e podem vir a ser representantes do contrário. Por isso, é preciso perguntar-nos, quais as tradições que devemos superar? E quais são as tarefas que urgentemente devemos assumir?

            Sendo assim, as forças democráticas não podem esperar que a conspiração se materialize e o golpe de Estado venha a se implantar para iniciar as mobilizações. É preciso fazer crescer nas massas a consciência sobre os direitos e, junto com a defesa de comer, vestir, morar, trabalhar, educar ter saúde e estudar, devemos pôr o direito a se insurgir. As ruas são os lugares adequados para defender-nos. Vamos à luta! Quem acorda cedo faz o amanhecer!                                      

                                                                                                        Ademar Bogo

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