domingo, 2 de outubro de 2022

ELEGER COM LIBERDADE

            Eleger no latim significa, “escolher lendo”. A leitura, supostamente é sobre as diversas coisas expostas ou dispostas para serem diferenciadas e, conscientemente, uma delas é separa como principal. Para ser uma escolha consciente, precisa que dois critérios sejam garantidos: primeiro o da capacidade interpretativa e, o segundo, a liberdade de decidir.

A filósofa Hannah Arrendt, ao discorrer sobre o tema da liberdade, detecta que esse conceito entrou tardiamente na filosofia e, quando entrou foi por causa da política. Sendo assim, a liberdade é o motivo pelo qual vivemos politicamente organizados. Por outro lado, esta é uma visão costumeira de uma sensação de existência ou não da liberdade social, externa. “As experiências de liberdade interior são derivativas no sentido de que pressupõem sempre uma retirada do mundo onde a liberdade foi negada para uma interioridade na qual ninguém mais tem acesso”. Concretamente, a interioridade humana é o lugar aonde ninguém entra e, somente o Eu pode  percorrer  impondo-se a si mesmo os critérios de avaliação.

Os brutos e desrespeitosos do direito à liberdade, dão-se a própria definição de liberdade; seria, fazer o que cada um deseja. Isto não significa ser livre, mas sim escravo dos ímpetos mais contraditórios, porque, em último estágio, o parâmetro para discernir o que é e não é a liberdade, nos é dado pelos critérios sociais.

Os processos eleitorais nos mostram claramente como isto funciona. Se por um lado cada indivíduo sabe quais são as suas necessidades, por outro lado, nem sempre sabe as causas das mesmas e, se por ventura venha saber dar-se-á conta de que, somente com suas forças não poderá superá-las. Quando aparece em sua frente alguém que expressa verbalmente como fazer para satisfazer tais necessidades, surge também a identificação com aquela voz e, o eco da mesma mistura-se com os desejos particulares que podem ir em direção do Bem comum, como também, para a efetivação de medidas punitivas e vingativas, contra a parte que se fez odiar, porque quis ampliar o acesso aos direitos sociais.

A função das candidaturas é sintetizar a amplitude dos desejos particulares e direcioná-los para uma mesma direção. É neste particular que reside o limite do entendimento. Quando os princípios fundamentais do atendimento das necessidades universais são entendidos e internalizados, os discursos criam simpatias e provocam as aglutinações das massas para alcançarem benefícios coletivos, sem discriminação. O oposto acontece quando a leitura sobre as necessidades alheias revela os incômodos, os desejos e vontades egoístas. Nesse memento, os egocêntricos, procuram lideranças que se alinham com as medidas restritivas da liberdade dos outros, como se merecessem punição por terem necessidades e não a liberdade de escolha.

De certo modo, os critérios políticos funcionam, na política, como acontece com a rejeição dos beneficiários ao direito a dividir os benefícios, os cargos, as funções e os próprios lugares sociais. Aqui podemos exemplificar com duas formas de manifestações egoístas e repugnantes: a primeira é a reação expressa pela “volta do filho pródigo”. O irmão, beneficiado não aceitou que o outro participasse da vida estável que levava, por isso não merecia, nem festa, nem aceitação. A segunda reação é de setores privilegiados que rejeitam o ex-presidiário, quando busca o retorno à convivência social, porque, a condenação é sinônimo de prisão perpétua, e, por mais que o apenado seja julgado, condenado e cumprido a pena, ou mesmo considerado inocente, a leitura preconceituosa faz com que os juízos e as palavras expressem a rejeição.

            Os dois critérios foram impostos a Lula. Ele é o filho empurrado para fora da política e voltou. A receptividade, a festa e a mística, envergonharam os devotos do mito, da mentira e da brutalidade. Tiveram de guardar as armas e virem para a discussão política sem terem preparo algum. Isto foi possível porque, a liberdade prisional de Lula foi exaustivamente explica e anexada ao conceito de inocência. Esse movimento externo levou à liberdade interna, de escolha, consciente e desejosa de que o pior seja superado.

            A vitória de Lula é também a demonstração de que uma ideia mentirosa, repetida muitas vezes, não se torna uma verdade, se o enfrentamento com a mesma for feito com decisão e propósito solidários. Uma revolução assim também é motivada. Repetir, repetir e repetir ideias revolucionárias é a única forma de combater a ideologia capitalistas e elevar o nível de consciência das massas para que, livremente elejam o socialismo como a finalidade que vai além do processo eleitoral.

         Há os que são reféns do ódio, do negacionismo e da ignorância. Nós somos melhores porque somos livres, e, somos livres porque somos conscientes. Não acreditamos em mitos, nem em salvadores; ao contrário, juntos produzimos a própria salvação. Que a eleição seja apenas um meio, um passo, uma jornada. De vagar aprenderemos que o horizonte aonde o Sol se pôs por uma noite, ficou para trás. 

                                                                                                      Ademar Bogo

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