domingo, 5 de julho de 2020

IMPERIALISMO E BARBÁRIE



            Vladimir Lenin, o dirigente principal da revolução russa de 1917, ao analisar o desenvolvimento do capitalismo, no início do século XX, estabeleceu a referência conceitual de que ele é a “fase superior” e, consequentemente a última fase do capitalismo. Rosa Luxemburgo, em meio à Primeira Guerra mundial, percebendo a avidez destrutiva dos capitalistas, deu-se conta de que a última fase do capitalismo apresentava um dilema para a humanidade, obrigando-a a marchar por um dos dois caminhos opostos: para o socialismo ou para a barbárie.
            Essas ideias, entre os setores intelectualizados e, principalmente no campo da filosofia, dão ainda muito o que falar e, estranhamente, nos meios políticos em geral, incluindo aí as forças de “esquerda” pouco se discute esses assuntos, principalmente porque a política não se orienta pelos problemas filosóficos, como por exemplo: o que é o progresso? O que é o futuro? O que é a barbárie? O que é o imperialismo? etc., preferem discutir os interesses imediatos, como se estivessem em plena viagem à noite com um meio de transporte de faróis apagados.
            É evidente que Lenin preocupou-se em considerar a fase monopolista do capital como a mais avançada, mas não se descuidou de apontar as diferenças entre as tendências expansionistas da época, sendo que a Rússia representava um tipo de “imperialismo militar-feudal”; a Inglaterra atuava como “imperialismo-colonial”; a Alemanha como “imperialismo junker” (capital agrário); e, a França como “imperialismo usurário”. Essa classificação no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, já era bem diferente.
            No momento em que se encerrou Segunda Grande Guerra, os capitalistas mundiais desejavam avidamente emprestar as suas pernas e cabeças para levar o capital a todos recantos do mundo. Numa primeira fase, como disse Mészáros, de “destruição produtiva”, que podemos exemplificar com a formação das grandes metrópoles, o avanço da industrialização, a valorização do valor etc., em busca de fazer crescer as economias e, posteriormente, a fase com a qual estamos convivendo, que é a da “produção destrutiva”. Esta fase é perversa porque, ela se move pela destruição dos empregos, das florestas, da indústria e do próprio planeta se precisar.
            Mas é importante retornar ao conteúdo do conceito do imperialismo como “fase última do capitalismo” e considerar que o capital se move, tendo como veículo, o poder bélico de cada país. Há quem atue por meio da “política sentimental” e valorize o suposto mundo das disputas internacionais, admirando um dos lados como se estivéssemos ainda no tempo da “Guerra Fria”. Isso leva a perguntar: se são diferentes, qual império é melhor para a humanidade? O dos Estados Unidos da América; o da China; o da Rússia ou o do bloco formado pelos países da Europa?
            Se considerarmos as disputas internacionais é evidente que sempre torcemos pela derrota do império que nos massacra, mas, a derrota deste, não nos torna livre se a liberdade não for conquistada pela própria luta. No entanto, considerando que todos os impérios se movem pelo poder do capital, haveria uma perspectiva futura de que, dentre eles, um se destaque e mude a natureza a favor da superação do capitalismo e da transição socialista? A China, por exemplo, com pesados investimentos de capital nos mais diversos países do mundo, estaria disposta, no momento em que os Estados Unidos deixarem de ser um império, a entregar para os trabalhadores locais, para que assumam como proprietários aqueles investimentos?
            O que temos como certo é de que, o imperialismo e a barbárie são como os dois pólos da corrente elétrica, que se unem no bocal da lâmpada para expressar a luz. Um pólo não funciona sem o outro. Sendo assim, se há imperialismo há também barbárie. A fase do imperialismo determina também a fase, baixa, média ou alta barbárie,
            Tendo em vista que crise do capitalismo tornou-se estrutural e não há mais como fazê-lo evoluir produtivamente, estamos sendo carregados pela fase “destrutiva do imperialismo”, que coloca a humanidade em risco e, se não houver reação, a tendência é a humanidade mergulhar em um profundo retrocesso.
            Então, a inteligência filosófica, volta a cobrar uma nova resposta já colocada por Nietzsche: onde devemos colocar a nossa esperança?
Conforme já indicamos, precisamos nos preparar para a vida “depois da barbárie”. As elites mundiais, com o avanço da tecnologia, desbravam o espaço como fizeram Portugal e a Espanha quando, em 1417, os estudiosos da Escola de Sagres aperfeiçoaram a Bússola que permitiu navegar com segurança pelos Oceanos. As conquistas do espaço impulsionarão o retorno às formas de produção escravistas que sequestrava, raptava e comercializava os habitantes do continente africano,desta vez do planeta inteiro.
Se a ingenuidade platônica que considerava existir um mundo inteligível para as ideias e um mundo sensível para os corpos físicos e, da mesma forma Santo Agostinho, 600 anos depois, tomando as mesmas referências intuiu que havia duas cidades, a de Deus e a dos homens; na primeira, situada lá no espaço, tinha na terra como representante a Igreja, tudo era bom; na segunda situada aqui na terra, representada pelo Estado, tudo era ruim injusto e desigual, ambos os entendimentos podem vir a ser confirmados até a metade deste século.
A avidez com que os capitalistas olham para o espaço, mostra com projetos avançados que, setores da sociedade que possuem poder econômico, preparam-se para mudarem para lá, fazendo da terra uma simples colônia de exploração humana, reserva de força de trabalho e estoque de matéria prima.
No século XVIII, o feudalismo para a burguesia havia se tornado insuportável, principalmente porque as relações capitalistas apontavam, para ela que, fazendo a Revolução Francesa haveria um futuro promissor. Na atualidade, o capitalismo tornou-se insuportável, não há rota de fuga, e, por isso, as revoluções socialistas tornaram-se imprescindíveis.
                                                             Ademar Bogo                                                                                      
           

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário