domingo, 5 de janeiro de 2020

A GUERRA E A BARBÁRIE SOCIAL



            O ano mal começou e a política cobra de cada ato uma reflexão. Há indícios que a ignorância e a truculência imperem no ano de 2020. Mas, por enquanto não há motivos suficientes para temer o início e a realização de uma guerra mundial, nos moldes como foram a Primeira e a Segunda Guerra, quando, praticamente os países do mundo todo foram envolvidos.
            É importante considerar que, com o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido, na época, em duas partes, uma, influenciada pelos Estados Unidos e a outra pela União Soviética. De lá para cá, sempre que algum país percebe algum risco ou ameaça recorre a um dos lados que se coloca a favor e o protege. Essa prática vem continuando, mesmo após a queda do muro de Berlim em 1989 e o desfazimento do bloco socialista na década de 1990.
            No entanto, o imperialismo norte-americano, buscou, por meio da supremacia militar, influenciar os rumos do destino político dos países desde 1945. Não vem ao caso, destacar em detalhes, mas, nos últimos 70 anos, como se fosse um jogo de xadrez, nenhuma peça, em termos de alternativas do uso da violência foi descartada pelos Estados Unidos da América em suas intervenções.
            No período em que vigorou a política da “Guerra Fria”, havia uma reserva de cuidados em relação a qualquer iniciativa a ser tomada, no entanto, a partir do colapso político sofrido pela União Soviética, os Estados Unidos passaram a entrar no campo das disputas políticas com maior desenvoltura e desrespeito.
            O controle dos países “dependentes” e subservientes foi estabelecido, a partir da Segunda Guerra Mundial, por meio de diferentes táticas. Inicialmente lideraram as investidas de dominação, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outros. Grande parte dos países, principalmente os da América Latina, foram induzidos a contraírem dívidas que se tornaram impagáveis. Sentindo as ameaças das reações populares, uma “rodada” de golpes militares foi arquitetada e, diversos países viram as suas “democracias” serem substituídas por ditaduras militares, da noite para o dia. Duas décadas depois, devido ao desgaste administrativo das ditaduras, o império monitorou as aberturas políticas assegurando a ordem capitalista, até que, por necessidade política a partir de 2010, principiaram a quebrar a ordem antes válida para eles e, diversos governos foram destituídos com a manipulação das leis, vários deles foram obrigados a renunciar aos mandatos, e, outros, levados a julgamentos e condenados nos tribunais.
            No caso do Oriente Médio, as intervenções do imperialismo norte-americano foram mais incisivas. As guerras e intervenções, com o objetivo de assassinar lideranças importantes como: Saddam Hussein (2006); Osama Bin Laden (2011) Muammar Al-Gadaffi (2011), para citar alguns, em busca de controlar a região para dominar  exploração do petróleo.
            Nesse momento, mais do que perguntar “se haverá a terceira guerra mundial?”, é importante analisarmos as consequências das políticas intervencionistas que deixam para trás estados de barbárie instalados e que nunca mais voltam à ordem anterior. Por que não se estabilizam os países após a derrubada dos governos e as relações sociais se desarmonizam ainda mais? Pela visão intervencionista norte-america que, apesar de manter a atenção no funcionamento dos governos locais, investe na formação de “poderes paralelos”, paramilitares, que se encarregam de fazer o controle por meio da manipulação das reações populares ou pela perseguição e execução dos desafetos.
            Nesse sentido, enquanto essa estratégia intervencionista funcionar, “não interessa” aos Estados Unidos a declaração oficial da Terceira Guerra Mundial. No entanto, há processos profundos em andamento que afetam o mundo todo e, se não caracterizam a “Terceira Guerra, podemos considerar como batalhas abrangentes em torno de interesses particulares com consequências universais. O exemplo mais ilustrativo a esse respeito é a disputa pelo petróleo que, nos últimos anos, vimos ocorrerem conflitos no Brasil, com o golpe contra a presidente Dilma, a tentativa de invasão da Venezuela para derrubar o presidente Nicolás Maduro e a presença continua e criminosa do imperialismo no Oriente Médio, no Iraque, na Síria e Afeganistão. Temos ainda os conflitos comerciais em andamento e a especulação financeira.
            A tendência para os conflitos continuarem localizados ou não, depende das potencias contrárias, que sempre agiram em termos de estabelecer limites, até onde a intervenção pode ir, em termos de implementação das vontades imperiais, mas isto não alivia e nem controla o avanço do estado de barbárie que vai sendo instalado em cada lugar, aumentando assim o sofrimento de milhões de pessoas que buscam refúgio em outras partes do mundo ou morrem vitimas da violência local comandada pelas milícias armadas.
            Nesse sentido é que importa considerar que a guerra, sendo ou não mundial, não está distante de nós. Com características próprias, ela ocorre ao nosso redor no mesmo grau de violência da guerra oficial estabelecida. Se compararmos a guerra da Síria, em que estiveram presentes as forças estrangeiras da Rússia e dos Estados Unidos, principalmente, de 2011- 2018 foram contabilizadas 511 mil mortes. No Brasil, entre os anos de 2006-2016 foram assassinadas 543 mil pessoas. Isso representa uma taxa em torno de 32 mortos para cada cem mil habitantes. Essa taxa feita com todos os países da América Latina chega a 19,2 pessoas assassinadas por cada cem mil habitantes.
            Os capitalistas por meio da mídia, incluindo aí as redes sociais, ao longo do tempo vêm criando a cultura do extermínio em massa em nome da segurança pública, mas não o fazem responsabilizando o próprio capital que é a causa geradora das desigualdades sociais, responsabilizam os pobres e dentre eles os negros.
            Junta-se a isto, a base fundamental do pensamento intervencionista do imperialismo que é enfraquecer a organização política e rebaixar o senso crítico da população para que não consiga diferenciar o verdadeiro e o falso nas informações que formulam e divulgam. Investe em referências sentimentais e saudosistas como é o caso da família, da pureza sexual e da religião, quando na realidade tudo é feito em nome do mercado.
            Se a solução para os capitalistas é a guerra e a violência, para os povos a solução é a união internacional, para que, as forças que comandam as mesmas políticas globalizantes sejam combatidas, ao mesmo tempo em todos os lugares do mundo. A paz sonhada, está intimamente ligada à superação do capitalismo.
                                                                                                          Ademar Bogo
                   

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