domingo, 12 de maio de 2019

A ESCATOLOGIA DESBOCADA


                      
            Estão chamando de “revolução escatológica” a escalada destrutiva e desbocada que se instalou na República brasileira. Se o conceito de escatologia poderia se encaixar nos dois sentidos do termo; no primeiro com sentido religioso quando trata do caminho do homem e o seu destino final para onde irá a sua alma e, no segundo, quando o adjetivo e qualifica a “coprologia”, sendo o estudo das fezes e excrementos, mesmo assim seria valorizar demais essa excrescência em vigor.  Seja como for, nada há de novo sob o Sol, a não ser mais uma crise do capitalismo em andamento.
            A criação de fenômenos psicológicos acompanhados da invenção de mitos salvadores e inimigos imaginários, no passado demoravam muito tempo para serem disseminados que, em certas circunstâncias, quando apareciam já haviam sido esclarecidos e já não causavam nenhum impacto. No entanto, com o surgimento das redes sociais, a criatura e os seus criadores chegam em tempo real às consciências mal informadas, que acreditam, curtem e repercutem o que lhes chega, mas daí dizer que apontam a seu favor uma “escatologia”, é muita pretensão.
            Há de certa forma a criação de uma áurea de mitologia geradas pelo guru (pai maior) que escapou do mundo dos homens nacionais e se exilou no paraíso capitalista e de lá orienta a sagrada família formada por quatro homens com a mesma autoridade. Esse quarteto comporta-se como uma entidade enviada do “pai” que, em breve, em nome da redenção dos próprios pecados terá de sacrificá-los, provavelmente, pelo tanto de inimigos que está produzindo, sem deixar nada no lugar.  
            É isso que chama a atenção, o espectro ampliado de inimigos que, em um período de crise estrutural do capitalismo essas “santidades” fazem surgir. Superestimam as forças de esquerda atribuindo-lhes uma capacidade estratégica da qual nunca foram portadoras, como essa de terem optado pela teoria gramsciana da “revolução pacífica” e, com isso terem contaminado, a linguagem da mídia, das universidades e da própria política.
            É verdade que as forças de esquerda foram vitoriosas durante um período significativo na América Latina, mesmo apos ter ruído o bloco socialista lá no o início da década de 1990, mas dizer que isto significou uma revolução é reduzir a zero o alcance da teria de Antonio Gramsci. Além do mais, esses espaços governamentais foram “tomados” dentro de uma ofensiva globalizadora do capitalismo, sob o modelo pensado pelos ideólogos da economia imperialista que se denominou de neoliberalismo.
            A crise estrutural prolongada, na atualidade, se junta com o acovardamento dos capitalistas que precisam, mas temem provocar a terceira guerra mundial, única saída para que possam colocar alguma ordem no nível elevado da anarquia econômica e financeira por eles mesmos alcançada. Eles sabem que as reformas badaladas são arranhões dados em braços magros de onde a pele é retirada sem gordura e pouco ou nada pode fazer para sanar a fome de exploração que o capital carrega por todas as partes do mundo para onde vai.
              O estilo bravateiro de fazer política, aliado ao mecanismo virtual da proliferação de mensagens mentirosas, quer de fato, quebrar a espinha dorsal das nações, em vista de anular as soberanias e assaltar as últimas reservas de riquezas naturais existentes. Aí sim se pode falar de “fim dos tempos” em que as repúblicas deixarão de ter alguma importância.
            É, portanto, um plano tático medianamente arquitetado. Primeiramente com o combate aos partidos políticos, juntamente com a perseguição dos governos progressistas. Mais recentemente, o ataque às universidades e os resíduos de pensamento crítico, juntamente com a desmoralização das forças armadas que, iludidas, inicialmente acreditaram na capacidade “moralizadora” da política, mas, agora, marcham a passos largos para a responsabilização da catástrofe administrativa.
            Nesse sentido, é importante observar e reagir contra as medidas suicidas do governo, mas também levantar um pouco a cabeça para que os olhos possam ver além das fronteiras onde de fato se articulam os interesses econômicos e políticos do império. Por trás da linguagem desbocada e a ameaçadora de extermínio do conhecimento crítico e das pesquisas, está um plano de expansão mortal do capital que se contorce com dores estomacais por não conseguir mais a quantidade de alimento necessário.
            Dentre todas as táticas as que tratam do divisionismo são as mais consideradas pelas forças fundamentalistas do império. Buscam indispor as populações reavivando o racismo e a configuração de reações da homofobia, da “pobrefobia”, “cultofobia” etc., para isso investem no armamento, inicialmente, de uma camada seleta do sistema e na flexibilização da legislação conivente com a violência autorizada. No entanto, isso, a médio prazo, chegará a fortalecer o mercado livre de armas e o acesso generalizado da elas pela população, criando, na medida em que há o enfraquecimento das forças de segurança, verdadeiros linchamentos sociais, forma cômoda do sistema se livrar das populações incômodas.
            A forma mais eficaz de enfrentar tudo isso é por meio da organização partidária e popular. O associativismo é uma alternativa que permeou a literatura histórico-filosófica  desde Platão e Aristóteles, passando pelos primeiros cristãos, chegando até nós por meio de Marx, Engels, Lenin e tantos outros.
            As reações consistentes são aqueles que acontecem e permanecem organizadas. Portanto, se existe o fim dos tempos, ele somente poderá vir com a superação do capitalismo. A superação dos enfezados, desbocados, violentos, entreguistas e serviçais do império, virá pela organização, a moralização e a prática de valores. Devemos ficar atentos que o ruim e o bom, o fraco e o forte, o disperso e o organizado são fatores que andam lado a lado. Basta um fósforo para forjar um grande incêndio no capinzal seco.
                                                                                             
                                                                                                    Ademar Bogo

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