domingo, 14 de abril de 2019

PROPOSTAS ENCANTADORAS



Não podemos negar que vivemos presos a intensas disputas de projetos. Os projetos são mais do que intenções, estão encarnados nos dilemas e nas preocupações de cada época, tanto no sentido da manutenção quanto no sentido da superação da ordem.
            O projeto dos proprietários dos meios de produção, das terras, dos Bancos etc., tem a hegemonia das relações sociais de produção e da especulação. Para tanto, os capitalistas seguem as leis tendenciais do capitalismo situadas na exploração, na acumulação, na concentração e na expansão do capital. Os praticantes dessas tendências seguem o capital  e o fazem funcionar por essas orientações, desde a pequena até a grande empresa imperialista. Isso quer dizer que, por exemplo, se na tendência à exploração, quem comanda é a lei da mais-valia, nas relações de produção capitalista, não há ninguém que possa anulá-la. Nem mesmo aqueles governos tidos como progressistas que, além de tudo, enganam os trabalhadores quando dizem que “estão desenvolvendo outro projeto”. O projeto é o mesmo que as vezes chega a funcionar "sem governo".
            Diante disso é que podemos refletir sobre a natureza dos projetos que repentinamente se apresentam como se fossem programas de governo dentro do modo de produção capitalista, assim classificados: neoliberal ou desenvolvimentista; conservador ou progressista; entreguista ou nacionalista; totalitário ou populista e, às vezes, nada com nada; ou seja, há governos que simplesmente não possuem programa ou melhor, possuem o programa “do nada” nadificado, mas funciona. Funciona porque o nada não é a ausência de tudo, é sim a presença do nada que se deixa conduzir pelas leis tendenciais do capitalismo. Então, um governo paralisado não se pode dizer que seja uma poesia, mas faz parte da arte de desmontagem do que há para divulgar o que havia.
            No entanto, em se tratando dos modos de produção, só há de fato dois projetos: o capitalista e o da transição socialista. O projeto dos capitalistas é certo que existe e, diariamente os que compram e os que vendem força de trabalho, acordam cedo para fazê-lo funcionar. Mas, e o dos trabalhadores existe? Levantamos todos os dias para construí-lo ou caímos na interpretação equivocada do conceito de estratégia, que ela somente se realiza a “longo prazo”? Se assim é, significa que aquilo que dizemos ser, “disputa de projetos” é,em grande parte, a oposição que fazemos ao governo do nada, em processo de nadificação, cujo presidente declara nada entender de economia, mas segue verdadeiramente as leis tendenciais do capitalismo, com privatizações, negação de direitos e abertura de fronteiras para a devastação total do país.
            É nessa linha divisória que fica à mostra a espessura dos pilares que sustentam a formação da consciência das classes. Do lado dos capitalistas, que se voltam para o sistema de ensino, o querem funcionando pelas diretrizes da “Indústria Cultural” com acento na formação técnica; ao formar os jovens para o mercado, estão reproduzindo a força de trabalho necessária e fortalecendo a coluna vertebral do seu projeto capitalista. Para esconder que o capitalismo está em crise, renovam o ódio contra Marx e os marxistas, como se os culpados pelas crises econômicas fossem os que dizem a verdade.
No entanto, do lado dos trabalhadores, a juventude não se prepara para fortalecer a coluna vertebral do seu projeto de classe. Quem deveria fazer esse papel, seria a organização política partidária que integraria cada indivíduo, por meio de um programa, com metas e prazos. Não temos, por isso vacilamos. Nem formamos para o mercado, nem para o socialismo.
            O projeto político maior é o da transição para o socialismo, para isto, num primeiro momento se luta, se educa, se forma as consciências, se estruturam os poderes para, num segundo momento, sem deixar de fazer tudo o que se faz no primeiro momento, tomar posse do poder maior por meio da ruptura da ordem. Isso não tem nada demais e nem está fora da naturalidade dos projetos. As forças de direita fizeram tudo igual e romperam a ordem em 2016, quando construíram um consenso para interromper  o mandato da presidenta eleita, tentam da mesma forma romper a ordem na Venezuela e, em nosso país, agora, a “ordem reconstruída” está cambaleante que funciona com certa liberdade ainda de expressão, mas, não nas ações.
            É real a insatisfação de Narciso com a sua própria imagem, tanto nas forças de direita quanto nas forças descontentes, com razoável consciência critica. A razão está em que nenhum dos lados consegue apresentar inovações que imponham o fim da dispersão. Quem descobrir isso por primeiro conduzirá o país pelas próximas décadas.
Pela direita, a “inovação” está apontado para o velho que, pelo argumento da força, satisfaz os interesses do império, mas desagrada os aliados internos. Pela esquerda, ocorre a mesma coisa, apela-se ainda para o passado e ainda não aprendeu a falar a nova língua. Como alertou Marx, sobre o principiante que aprende um novo idioma, “só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela”.
Já é tempo de fazer a avaliação definitiva. Gastam-se horas de análise, páginas escritas, mensagens de voz, filmagens e comunicações ao vivo, com a velha linguagem, comunicando aquilo que a velha pauta da direita encaminha para a discussão a cada semana. Jamais se viu um governo sem programa “desprogramar” também todas as forças que, na fúria da alucinada critica, se esquecem que, como as moscas, rodeiam o mesmo ponto.
            O projeto político aparece como os preparativos de uma festa a ser realizada em um prazo relativamente próximo com as multidões empenhadas nos preparativos, realizando item por item daquilo que terá serventia. Por isso, uma coisa pequena, faltando, na data estabelecida, provocará um grande estrago na programação. É tempo da elaboração de um novo programa, com nova linguagem, compreensível, com didática simplificada, com propostas reais e encantadoras.
                                                                                                                                                                                                                                                                                               Ademar Bogo
                                                                                             

Nenhum comentário:

Postar um comentário