domingo, 17 de março de 2019

INFERNAR OS INFERNIZADOS


                                                      
O filósofo Nietzsche ao falar de Zaratustra que ouvia o “adivinho”, o qual dizia que, “espalhou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: tudo é vão, tudo é igual, e tudo passou! E das colinas o eco respondia: Tudo é vão, tudo é igual, tudo passou!”
Tão importante quanto a doutrina é o eco da doutrina. Ela repete após bater em todas as colinas, principalmente naquelas que guardam a dureza da ignorância. E, os males da doutrina, se são perversos quando ela vai, muito mais perversos são quando ela volta, trazida pelo eco.
Então o eco doutrinário retorna dizendo que: “tudo é vão”, ou seja, “tudo é vazio”, nada há na doutrina que seja aproveitável e, quando o eco bate nas consciências, nada deixa de bom, apenas ódio, medo e preocupação. No instante do toque, o vazio é preenchido com aquilo que não faz sentido, mas se constitui em tragédia que ocupa o espaço com o sofrimento.
 Depois, “tudo é igual”: a violência “ideal” e a violência “real”. A violência ideal é aquela que as ideias praticam a apologia das armas, o preconceito, o racismo etc. Como disse Aristóteles: tudo o que existe na realidade passou antes pelos sentidos. A doutrina é composta por ideias. A violência antes de ser real é pensada, planejada, “miliciada”, executada e disfarçada. A doutrina oficializa as armas, o eco seleciona aqueles que apertam os gatilhos.
E, por fim, para a doutrina, “tudo passou” porque livraram-nos do socialismo. E nós dizemos que nem tudo passou. Há repetições e recriações, isto porque, só passou aquilo que passou, mas não passou aquilo que virá; porque o eco da doutrina volta com soluções, como esta que, “É preciso armar os professores”. O dia que sobre a mesa do professor houver uma arma ao lado de um livro, as escolas tornaram-se presídios ou importantes barricadas. Por isso, nada passou se o eco ainda não cessou.
Mas a doutrina segue pelo eco da mentira. Tudo é falso, menos a falsidade. Há poderes pequenos que crescem quando afirmam a sua independência e há poderes que decrescem quando se submetem. Porém, há poderes que se arrasam quando fazem do atraso a doutrina da sua condução.
Assim sendo, a “terra arrasada” é ainda mais perigosa de quando estava se arrasando. Os ecos da violência e das políticas destrutivas repetem-se sem parar. A ignorância nunca foi boa companheira da sabedoria e sempre piora quando ela se alia à mentira. A mentira doutrinária não é um engano. Enganar-se é um ato natural. A mentira é propositalmente construída. Ela quer dizer somente o falso.
Uma política mentirosa é também enganosa porque induz a pensar com sinceridade, aquilo que é proposto para satisfazer os interesses dos doutrinadores. Então, defendem as reformas e o combate à corrupção, como saídas para superar as crises. O interessante é que reformam apenas aquilo que afeta os direitos sociais e, para fazer tais atrocidades, compram voto a voto dos “representantes”, não do povo, mas dos grupos constituídos e doutrinariamente prostituídos.
Por outro lado, nos porões da República, ninguém fala que irá “reformar a dívida pública”; esta precisa ser paga, dizem eles. Há que privatizar o que ainda resta, para pagar aos grupos “mais necessitados” entre os capitalistas, que estão ansiosos para ampliarem os seus acumulação.
A doutrina da dependência não passou; pior, voltou a enraizar-se ainda com mais força. A dependência é válida quando há trocas solidárias. Quando há apenas um instinto de grandeza em jogo é uma escravização. Nada mudou do colonialismo ao imperialismo; dá-se ao dominador aquilo que ele precisa para sanar as suas deficiências. E, a justificativa é que é preciso aliar-se a quem tem a mesma ideologia.
Sobre isto, a ignorância não estaria ao todo errada, se o mundo não vivesse a economia de mercado. Daí é que, o princípio capitalista diz que, não importa se um bêbado, um doutor, um árabe ou um cristão queiram trocar dinheiro por mercadoria; é a quantidade de valor que realiza as trocas e não a ideologia de cada um.  A questão é saber se o mundo governado pelas mercadorias respeitará a doutrina fascista, racista, homofóbica etc.?
Por outro lado, ingenuidade tem hora. Os opositores  não os enfrentarão os doutrinadores correndo atrás das pautas secundárias. O projeto de enfrentamento ao imperialismo tem que estar fundamentado na teoria socialista e não nas reformas capitalistas. Mas, o que vemos, é o desejo de aconselhar e defender os capitalistas que poderão ter prejuízos causados pelos equívocos doutrinários, que distanciam os árabes, os chineses, os indianos e outros mais, dos produtos de exportação. 
Tal qual disse o diabo a Zaratustra: “Deus também tem seu inferno.” O nosso é doutrinariamente e materialmente construído pelos dominadores. É preciso evitar entrar nele para não ter que gastar tempo para sair. O tempo a ser gasto é para mandar o inferno para o inferno. Para isso é preciso infernar os infernizados pelas máscaras das tragédias e doutrinas mentirosas com ações. É fazer com que a maioria saiba se convença que somente ela pode se governar.  
                                                                                  Ademar Bogo

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