domingo, 8 de janeiro de 2017

MENSAGEM E MENSAGEIRO



            Uma mensagem, do ponto de vista conceitual pode ser um comunicado, uma notícia ou um recado, por isso pode ser escrita ou levada verbalmente. Mensageiro então é aquele que transporta informações, muitas vezes surpreendentes, outras vezes, sem espanto, nem preparação, declara aquilo que precisa ser dito.
            Antigamente o mensageiro era de carne e osso, hoje ainda temos o carteiro que nos visita e nos entrega mensagens em forma de encomendas, ou seja, os carteiros viraram entregadores de mercadorias, as mensagens mesmo, agora são virtuais, precisa catá-las entre os anúncios e interpretá-las.
            Do ponto de vista da política, mensagens e mensageiros são cada vez mais estarrecedores. Ninguém mais se surpreende com medidas governamentais que atacam que trabalha ou vão começar a trabalhar; os que envelhecem; os aposentados; os escolarizados e aqueles que ainda vão estudar; e assim por diante.
            Na mensagem respeitosa, sempre há um cerimonial. O mensageiro se aproxima e prepara os sentimentos do destinatário. Muitas vezes informa primeiro a um membro da família mais distante, que se encarrega de ser o portador, utilizando-se sempre do preâmbulo: “você precisa ser forte!”. Do outro lado, só se ouve o silêncio. Os lábios ressecados nada falam, as mãos se juntam como se o que virá depois do revelado será uma punição. A oração, em caso de morte, é a única solução para quem não tem o que fazer, em caso de vida, é ausência de força, impotência política com poucas chances de salvação terrena.
A mensagem dos fatos produz um choque diferente, principalmente quando as autoridades dizem que “chacinas são acidentes”, como perder a direção e bater e morrer. Para o capitalista, o presidiário, a prostituta, o morador de rua, o aposentado, o professor, o pequeno agricultor, o favelado, o camelô são pessoas que não existem ou só existem para a polícia, para o juiz, para o pastor e o coveiro, por isso torcem que haja “uma chacina por semana”.
            O ano velho foi o mensageiro do ano novo. Ele anunciava, como o Deus romano, que se chamava Jano, e deu o nome ao mês de Janeiro, e, por sinal fora agraciado com duas faces: uma voltada para trás, era o passado, nunca esquecido, a outra, voltada para frente, para mostrar que a vida continuava. A nós, as duas faces se combinam. A do ano passado: do golpe e do roubo dos direitos; a do ano novo, a do golpe e a matança nos presídios e nas ruas. E olha que estamos apenas em Janeiro.
            Mas, Janeiro, pode ser a transição. É o tempo certo para fazer programas, indicar medidas e ajeitar o planejamento para as saídas. Sobre elas podemos dizer que, existem as saídas, para baixo e para o alto. A para baixo pertence aos tatus que quanto mais cavam mais se enterram e, as para o alto pertence aos felinos, buscam ultrapassar o espaço pelo teto. Para baixo é ficar no “fora Temer”, “diretas já”, e “nenhum direito a menos”; para cima é generalizar os enfrentamentos, a desobediência civil e construir a transição socialista.
            A mensagem de Jano, para o ano novo, é que você não merece ser submetido aos poderes carcomidos, viciados e vendidos ao imperialismo. Falta-nos um mensageiro partidário, há que ser construído para atacar as mensagens indigestas da classe dominante.
                                                                              Ademar Bogo, filósofo, escritor e agricultor

Um comentário:

  1. Que dizer do ano em que acontece o já esperado golpe que abate qualquer governo latino-americano com projeto capitalista desenvolvimentista-nacionalista?
    Que dizer da surpresa dos políticos do campo popular com o papel - novo desde a guerra fria- que as mídias,os grandes grupos econômicos nacionais e internacionais e a direita doméstica desempenharam para articular e consumar tal golpe?
    Que dizer de militantes , dirigentes partidários , supostamente de esquerda que não acreditam na organização do povo como base política de sustentação de um projeto de transformação social?
    Que dizer de uma esquerda que não tem projeto nacional estratégico e que só se une na ditadura , no exílio e na cadeia?
    Que a ingenuidade é atributo da ação de crianças,não de políticos.

    Karin Taborda- médica, lutadora do povo

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