domingo, 5 de outubro de 2025

PREPARAR-SE PARA O ASCENSO


As gerações nascidas na primeira metade do século XX, conviveram com um conceito temeroso conhecido como “Guerra nas estrelas”. Essa estratégia passou a vigorar na área militar após as duas grandes guerras mundiais, quando o mundo terreno foi oportunamente repartido pelas potências mundiais, mas restava ainda conquistarem o mundo das estrelas.

Quase que repetindo as fantasias platônicas, o qual dividia o universo em dois mundos: o inteligível onde residia as ideias perfeitas e, o mundo sensível, terreno, no qual reproduzia-se as cópias, geralmente imperfeitas, porque as capacidades naturais eram sempre inferiores às habilidades dos deuses. A guerra nas estrelas, de algum modo, levou as ideias para o espaço. Muita tecnologia foi criada por esta concepção desbravadora de outros planetas, como também, ainda busca condições para habitá-los.

De outro modo, Aristóteles havia sido bem mais realista. Intuiu que existem dois mundos: o supralunar (desconhecido) e o sublunar, possível de ser conhecido, pois, abaixo da lua tudo era possível de ser conhecido. Foi neste segundo mundo que a estratégia da “guerra nas estrelas” se situou tecnologicamente, com a instalação de satélites, sondas, estações, foguetes e outros meios de vigilância, capazes de fazerem as nações mais fracas submeterem-se às demais. Este conceito de controle sublunar nos é mais compreensível, isto porque, as nações disputam o poder sobre esse espaço, enquanto se preparam para dominarem a parte superior do universo.

Se a “Guerra nas Estrelas” era uma intensa concorrência entre as potências para saber quem conseguiria levar a vida humana para lá, ainda deverá fazê-lo; porém, o olhar de cima, por intermédio de lentes, tornou-se perigoso para elas no mundo sublunar. As localizações dos alvos são precisas e certeiras, pois, a mira governada por raios laser chega primeiro do que as balas e marca os pontos a serem perfurados. No entanto, há uma fragilidade nesse mundo terreno; da mesma forma que acontece entre as árvores, a concorrência não se dá apenas entre aquelas árvores que têm a copa mais alta, mas também as raízes mais profundas, para sustentarem-se quando os vendavais violentam a floresta. Os de cima, ainda moram aqui embaixo e não é difícil de localizar os seus investimentos.

Nas últimas décadas,  o conceito de “Guerra Fria” tornou-se coisa do passado e, os combates voltaram a ser com fogo e chumbo. Com a queda da União Soviética, os imperialistas imaginaram que o mundo havia se tornado unipolar, e o capitalismo estava salvo das ameaças comunistas. Ledo engano, diante da autossuficiência dos fortes, os fracos ousaram desafiá-los com as práticas mais simples: solucionar os problemas socioeconômicos sobre a terra. Foi então que algumas economias cresceram mais do que o esperado. Os mercados passaram a ser inundados pelas mercadorias baratas que levaram à falência as fábricas locais. O próprio capital excedente, ao invés de investir na produção, transmutou-se para a especulação, levando o império dos Estados Unidos, principalmente, a manter as armas apontadas contra os múltiplos inimigos, porém, sem capacidade para produzir a própria munição.  

De um ano para outro, após dois séculos de exploração imperialista, os fracos e humilhados levantaram a cabeça: México, Colômbia, Venezuela e Brasil, no coração das américas, começaram a dizer “não”, aos Estados Unidos, e prometem aliarem-se com outras referências, como a China e a Rússia, formando outro bloco alheio ao G20, chamado inicialmente de BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), mas outras nações também se somam e estreitam as relações.

Embora esse ascenso seja institucional ele cumpre o papel de encorajar as lutas locais e continentais, a atacarem no mundo terreno, onde vivem e trabalham os mortais, todos os vestígios de intervenção. Com os alvos ampliados, as tecnologias aéreas perderão a eficiência, porque será a força física contra a tecnologia armamentista e a inteligência humana, acima da inteligência artificial, que comandarão o planejamento da vida sobre a terra.

Fora as contradições da globalização que criou as condições para o revigoramento do internacionalismo e s solidariedade entre os povos. A defesa da é demonstração vital de que uma parte da humanidade continua ativa e dispostas a tomar em suas mãos o destino do planeta. Os clamores por justiça ecoam pelos ares e tocam os ouvidos das populações exploradas, para que reajam contra os criadores da miséria, da violência e da dominação. É com coragem e unidade que as classes dominantes, em qualquer parte do mundo, serão definitivamente dominadas.

É preciso preparar-se para o ascenso das lutas unitárias; elas serão locais mas de alcance universal, porque a causa será comum. Os impérios fracassam quando perdem o controle sobre os povos. Nenhuma tecnologia será capaz de impor a obediência total, quando, por revolta ou por consciência as pessoas decidirem conquistar a própria liberdade.

                                                                       Ademar Bogo