Ao completarem-se 80 anos do final
da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazismo, apesar da euforia, as
comemorações ainda acontecem com desfiles militares, tanques e armas de alta
precisão nas ruas, para mostrarem que o arsenal bélico retrata, por um lado, a civilização
como inimiga de si mesma e, por outro lado, que os Estados estão submetidos a
duas vontades: a primeira denominada “armamentismo” e, a segunda de “financismo”.
Ao tomarmos o conceito de “civilização”
como referência de bem, imaginamos o percurso da humanidade como uma ordem
verdadeiramente capaz de implementar o respeito mútuo entre as nações, Estados
e etnias. No entanto, quando recorremos aos livros vemos que desde o surgimento
na Idade Antiga, quando a reunião de grupos humanos no Egito e na Mesopotâmia e,
em outros lugares, deixou para trás a pré-história, pois, além da agricultura,
da vivência grupal e a domesticação de animais, a descoberta do fogo, da
escrita etc., fez surgir, a 4 mil antes de Cristo, a primeira e mais antiga demonstração
de incivilidade, o escravismo. Este, após mil anos de feudalismo, ressurgiu,
com o colonialismo, como uma forma de produção para expandir o produtivismo no
capitalismo e, neste, apesar de todos os avanços, contando desde a antiguidade
até 1945, quando a desumanização ganhou o nome de “Nazismo”, somaram-se quase 6
mil anos de supremacismo, com o qual, grupos, classes, etnias, Estados, sistemas,
empresas ou indivíduos, se acharam superiores, com direito de subjugar os “inferiores”.
Sem fortalecermos o pessimismo e a
desesperança, comparemos os princípios do escravismo, do colonialismo e do
nazismo, e veremos que, na essência, todos eles prezam pela supremacia e a dominação
de territórios, grupos, povos e pessoas; controle cultural, das riquezas e imposição
do totalitarismo como ordem geral.
Embora os livros façam os recortes
históricos e procedam certas separações, como a que estabelece o surgimento do colonialismo no século XV, não
ligam o surgimento do imperialismo no século XIX, o nazismo no século XX, o
sionismo no século XXI e, não adianta querer incluir nessa sequência outros
ismos (socialismo, comunismo e internacionalismo) para dizer que todas as
expressões possuem o mesmo teor, porque se trata verdadeiramente de autodefesa
dos povos e nações. Sem essas resistências e tentativas de superações, a
humanidade estaria ainda mais subordinada às vontades da minoria intransigente.
Nesse
sentido é importante perceber que não importa se, em certos momentos as
expressões de dominação tenham alcance universal e, em outros, apareça com
acentuações locais. Consideremos que a perversidade que gera a dor física,
produzida por maus tratos, provoca as mesmas sensações em seres vivos que
sofrem em qualquer parte do mundo. Se tomarmos a civilização ea compararmos com
um rio caudaloso, cuja nascente estaria no início da humanidade e, se tudo o
que foi feito tivesse ocorrido dentro de suas margens, qual seria a cor e que
gosto teria a sua água? Poderíamos bebê-la com as conchas das mãos, ou nem sequer
tocá-la?
O filósofo fundador do ceticismo se
chamava Pirro de Elis (360-270 a.C ). Ele defendeu que jamais podemos chegar a
conhecer as coisas, pois, podemos ter apenas opiniões sobre elas, por isso
seria impossível conhecê-las, ainda mais, porque, cada cabeça têm as suas
próprias imaginações. No entanto, ele ofereceu um roteiro baseado em três
perguntas para pensarmos sobre a realidade: O que são as coisas? Como nos
relacionamos com elas? E, quais devem ser as nossas atitudes?
Há, sem dúvida grandes descobertas
favoráveis ao bem-estar e, apesar das desigualdades, certos avanços
civilizatórios são acessíveis a ampla maioria das pessoas, como a anestesia, os
antibióticos e as vacinas. No entanto, as duas coisas que perpassaram a
história e impedem a convivência respeitosa, estão relacionadas aos domínios da
riqueza e do poder. Essas duas
irmandades, como a água cor de sangue do caudaloso rio, atraem e confundem os desavisados
que facilmente se contaminam e deliram expressando palavras como: progresso,
desenvolvimento, produção de riqueza, crescimento econômico, emprego e salário
justo. Na verdade, o que vemos é a perpetuação da miséria e do sofrimento.
Se, com certo alívio relembra-se o
final da Segunda Guerra Mundial em 1945, de lá para cá foram desencadeados 180
conflitos entre nações e, diversos estão em andamento, significando que a
palavra Paz é apenas uma expressão demagógica na boca dos produtores de armas e
especuladores das finanças dos países, obrigados a se endividarem emitindo
títulos para financiar o capital
especulativo.
Diante disso, o que sempre se ousou
chamar de “povos civilizados”, são os que mais promoveram e promovem a
violência. A Comunidade Econômica Europeia, tida como berço da civilização, ameaça
investir 800 bilhões de Euros, ou cerca de 5 trilhões de reais, em armamentos
para garantir pelo menos algum pouco da supremacia que ainda lhe resta.
Enquanto a humanidade apenas assiste,
os exploradores do planeta continuam conduzindo a civilização com os seus próprios
interesses. É preciso universalizar as
reações e tomar o controle do destino da humanidade descivilizando o que é tido
negativamente como civilizado e, elevar, pela desobediência civil a capacidade
de combater o supremacismo em todos os níveis, para humanizar a humanidade.
Ademar
Bogo
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