domingo, 11 de maio de 2025

COMBATER O SUPREMACISMO


            Ao completarem-se 80 anos do final da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazismo, apesar da euforia, as comemorações ainda acontecem com desfiles militares, tanques e armas de alta precisão nas ruas, para mostrarem que o arsenal bélico retrata, por um lado, a civilização como inimiga de si mesma e, por outro lado, que os Estados estão submetidos a duas vontades: a primeira denominada “armamentismo” e, a segunda de “financismo”.

            Ao tomarmos o conceito de “civilização” como referência de bem, imaginamos o percurso da humanidade como uma ordem verdadeiramente capaz de implementar o respeito mútuo entre as nações, Estados e etnias. No entanto, quando recorremos aos livros vemos que desde o surgimento na Idade Antiga, quando a reunião de grupos humanos no Egito e na Mesopotâmia e, em outros lugares, deixou para trás a pré-história, pois, além da agricultura, da vivência grupal e a domesticação de animais, a descoberta do fogo, da escrita etc., fez surgir, a 4 mil antes de Cristo, a primeira e mais antiga demonstração de incivilidade, o escravismo. Este, após mil anos de feudalismo, ressurgiu, com o colonialismo, como uma forma de produção para expandir o produtivismo no capitalismo e, neste, apesar de todos os avanços, contando desde a antiguidade até 1945, quando a desumanização ganhou o nome de “Nazismo”, somaram-se quase 6 mil anos de supremacismo, com o qual, grupos, classes, etnias, Estados, sistemas, empresas ou indivíduos, se acharam superiores, com direito de subjugar os “inferiores”.

            Sem fortalecermos o pessimismo e a desesperança, comparemos os princípios do escravismo, do colonialismo e do nazismo, e veremos que, na essência, todos eles prezam pela supremacia e a dominação de territórios, grupos, povos e pessoas; controle cultural, das riquezas e imposição do totalitarismo como ordem geral.

            Embora os livros façam os recortes históricos e procedam certas separações, como a que estabelece  o surgimento do colonialismo no século XV, não ligam o surgimento do imperialismo no século XIX, o nazismo no século XX, o sionismo no século XXI e, não adianta querer incluir nessa sequência outros ismos (socialismo, comunismo e internacionalismo) para dizer que todas as expressões possuem o mesmo teor, porque se trata verdadeiramente de autodefesa dos povos e nações. Sem essas resistências e tentativas de superações, a humanidade estaria ainda mais subordinada às vontades da minoria intransigente.

                Nesse sentido é importante perceber que não importa se, em certos momentos as expressões de dominação tenham alcance universal e, em outros, apareça com acentuações locais. Consideremos que a perversidade que gera a dor física, produzida por maus tratos, provoca as mesmas sensações em seres vivos que sofrem em qualquer parte do mundo. Se tomarmos a civilização ea compararmos com um rio caudaloso, cuja nascente estaria no início da humanidade e, se tudo o que foi feito tivesse ocorrido dentro de suas margens, qual seria a cor e que gosto teria a sua água? Poderíamos bebê-la com as conchas das mãos, ou nem sequer tocá-la?

            O filósofo fundador do ceticismo se chamava Pirro de Elis (360-270 a.C ). Ele defendeu que jamais podemos chegar a conhecer as coisas, pois, podemos ter apenas opiniões sobre elas, por isso seria impossível conhecê-las, ainda mais, porque, cada cabeça têm as suas próprias imaginações. No entanto, ele ofereceu um roteiro baseado em três perguntas para pensarmos sobre a realidade: O que são as coisas? Como nos relacionamos com elas? E, quais devem ser as nossas atitudes?

            Há, sem dúvida grandes descobertas favoráveis ao bem-estar e, apesar das desigualdades, certos avanços civilizatórios são acessíveis a ampla maioria das pessoas, como a anestesia, os antibióticos e as vacinas. No entanto, as duas coisas que perpassaram a história e impedem a convivência respeitosa, estão relacionadas aos domínios da riqueza e do poder.  Essas duas irmandades, como a água cor de sangue do caudaloso rio, atraem e confundem os desavisados que facilmente se contaminam e deliram expressando palavras como: progresso, desenvolvimento, produção de riqueza, crescimento econômico, emprego e salário justo. Na verdade, o que vemos é a perpetuação da miséria e do sofrimento. 

            Se, com certo alívio relembra-se o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, de lá para cá foram desencadeados 180 conflitos entre nações e, diversos estão em andamento, significando que a palavra Paz é apenas uma expressão demagógica na boca dos produtores de armas e especuladores das finanças dos países, obrigados a se endividarem emitindo títulos  para financiar o capital especulativo.

            Diante disso, o que sempre se ousou chamar de “povos civilizados”, são os que mais promoveram e promovem a violência. A Comunidade Econômica Europeia, tida como berço da civilização, ameaça investir 800 bilhões de Euros, ou cerca de 5 trilhões de reais, em armamentos para garantir pelo menos algum pouco da supremacia que ainda lhe resta.

            Enquanto a humanidade apenas assiste, os exploradores do planeta continuam conduzindo a civilização com os seus próprios interesses. É  preciso universalizar as reações e tomar o controle do destino da humanidade descivilizando o que é tido negativamente como civilizado e, elevar, pela desobediência civil a capacidade de combater o supremacismo em todos os níveis, para humanizar a humanidade.

                                                                                   Ademar Bogo

 

              

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