Pertence
ao filósofo milenar chinês, Confúcio a frase: “Somente os sábios e os ignorantes
não mudam de ideia”. Os primeiros por terem certeza da verdade e os outros por
desconhecerem totalmente como encontrá-la.
Há verdades que os ignorantes
ignoram por dificuldade de irem mais profundamente procurá-las no interior das
coisas, da história ou da conjuntura. Na maioria das vezes, ignorar é mais apropriado,
principalmente quando um desejo, temporariamente, pode ser realizado. A certeza
aparente não deixa de ser uma certeza, no entanto ela permanece como tal até o
momento da comprovação.
A sabedoria dos sábios vem da
experiência. Ela pode ser formada pela observação, compreensão ou
experimentação. Há formulações escritas que oferecem categorias de análise que,
a depender do tema, são passíveis de serem sempre aplicadas e reaplicadas, por
exemplo: classe social; política de alianças; força social; tática; estratégia
e tantas outras vindas de construções teóricas objetivadas em diversos
processos de transformação social.
Por estarmos ainda umbilicalmente
ligados ao processo eleitoral de 2024, com diversas candidaturas disputando o
segundo turno, tentemos aqui relacionar, sabedoria e ignorância nas análises e posicionamentos.
Nos pouparemos das estatísticas, por serem de fácil acesso em outros veículos e
também porque elas escondem mais as intenções do que mostra a realidade. Há
situações em que a vitória não foi significativa, mas pelo entendimento dos
analisadores, a simbologia merece mais destaque do que o fato. Os resultados numéricos podem ser vantajosos
quando somadas as unidades, no entanto, podem representar desvantagem quando se
contabiliza o número de pessoas envolvidas. O mesmo acontece com as cores
partidárias. Se olharmos para as coligações encontraremos os vermelhos do MDB e
do PT associados 648 vezes. Assim se deu na junção do vermelho com o azul do
PSD e, até 48 vezes com o amarelo do PL. Após os resultados, para quem deseja
aprofundar como estão a identidade e a força da esquerda em relação à direita e
a extrema-direita, é importante observar quais cores hegemonizam as vitórias e o
qual tom do vermelho ideológico se pode visualizar na bandeira do PT?
De volta às categorias, lembremos
que em política a tática e a estratégia, mesmo que ignoradas, estão sempre presentes
principalmente, quando são feitas as escolhas do que será feito e qual o
caminho a ser seguido. Este costume burguês, de ver as coisas a curto prazo,
condicionou e educou o que costumeiramente chamávamos de esquerda, a tratar os
pleitos eleitorais como etapas complementares, ou seja, as eleições municipais
definindo como serão as eleições presidenciais. Para os candidatos que encarnam
o capital, essa engenharia eleitoral é o melhor dos mundos, isto porque, a
estratégia liberal está estabelecida e será continuada, basta subir um degrau
de cada vez na fácil acumulação da riqueza. Para as forças de esquerda que
transformam os resultados das urnas em estratégia, é a morte à conta-gotas,
porque, vencendo ou perdendo, a governabilidade estará comprometida com os
preceitos da ordem estabelecida, a qual favorece as forças exploradoras.
Há tempos viemos confirmando esse
desatino da ignorância política, não porque sejamos totalmente sábios, mas sim
pelas provas que o envolvimento tático alienou as energias das ofensivas
socialistas, simplesmente porque, essa possibilidade estratégica não existe
mais. Logo, até mesmo pela lógica formal, podemos concluir que, os processos
eleitorais brasileiros, não acumulam força para o socialismo e nem contribuem
para desencadear reações sociais, ao contrário, acomodam e desorganizam, mesmo
que indiretamente as lutas de massas.
Além do mais, a democracia
representativa não pode ser tomada como forma única e duradoura de fazer
política. Mal comparando, os processos eleitorais que mobilizam milhões de
pessoas em direção às urnas, assemelha-se um momento no qual cada um anexa uma
página em branco no livro da política institucional. Portanto, quando se
encerram as votações, os eleitores perdem em ideias e em consciência porque
montaram um livro sem conteúdo, mas os candidatos eleitos ganham, porque
recebem o livro com as páginas em branco para escreverem livremente o que mais
lhe interessar.
Por outro lado, as categorias dialéticas
de sucesso e retrocesso, aplicadas ao processo eleitoral como um único sujeito,
cujas contradições se movem pela lei da dialética, da unidade e luta dos
contrários, dá como certo, que uma vitória eleitoral tem tempo de duração
contado pelo mandato e, por um tempo, pode haver sucessivas vitórias, mas elas não
são infinitas; as forças contrárias também se mobilizam para vencer. Os sábios da
física sabem que um objeto jogado para cima chegará a um ponto que para de
subir e começa a cair.
Como devemos ver este momento? As
disputas eleitorais juntaram todos os caminhos em um só para enfrentar as
forças da extrema-direita em franco crescimento. Das últimas eleições
presidenciais de 2022 para cá, nenhum movimento significativo foi feito para
renovar as ofensivas, muito pelo contrário, avançou-se na direção das posições
defensivas, buscando as forças de direita, “medebistas” e “pessedistas”, para
pô-las como barreiras contra o avanço do nazifascismo.
Não podemos negar a importância que
há para a humanidade, a derrota da tendência nazifascista em crescimento, mas isto
não pode se tornar uma finalidade única. Eles seguem crescendo porque na fase
atual do capitalismo cabe esse tipo de excrescência destrutiva. Logo, não se
trata de escolher com qual molho as galinhas querem ser cozidas após o abate,
como propôs o cozinheiro em frente ao galinheiro. Se não queremos o nazifascismo
também não devemos aceitar o capitalismo que o impulsiona.
As alianças devem ser feitas tendo
em evidência o princípio da unidade de luta. Reunir cores e bandeiras em
imagens virtuais, sem mobilização social, é autorizar que a extrema-direita
participe e defina o cardápio do banquete de nossa derrota. A cor da vitória terá
de ser centralmente vermelha seguida de tons e matizes avermelhados formados
pelos representantes de todas as forças que lutam.
Ademar
Bogo
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