domingo, 3 de dezembro de 2023

SEM MARXISMO NÃO HÁ SOCIALISMO

                      

             O filósofo francês Henri Lefebrve (1901-1991) destacou que: “O marxismo considera-se uma concepção do homem e da história, do indivíduo e da sociedade, da natureza e de Deus; uma síntese geral, ao mesmo tempo técnica e prática, em suma, sistema totalitário (da totalidade)”.[1]

            Esse entendimento do passado e, mais fortemente a partir da década de 1970, com a onda política neoliberal, posteriormente, pontuada por algumas discordâncias, no caso brasileiro, com o neodesenvolvimentismo e o neonazismo, mostra-nos que restrições houve, foi na contenção dos gastos e nas políticas públicas; no resto, o capital continua exigindo a sua total liberdade, a propriedade privada exige a garantia da lei e da moral capitalista e, a manipulação ideológica continua presente nos púlpitos das seitas, nos discursos  tolerantes dos líderes populares, representantes de movimentos descarnados e minguados em suas forças já sem rebeldia; os partidos políticos, sustentados pelo Fundo Partidário completam o grau de acomodamento e interação com a concepção de mundo sem classes e sem confrontos.

            As pessoas, portadoras do nível de consciência situado um pouco acima da média do senso comum, criado pelos conciliadores, percebem facilmente que o capitalismo já não serve mais como modo de produção para que a civilização siga em frente. Esse sistema, podemos chamar assim, está organizado para reproduzir o capital e concentrá-lo em poucas mãos. Para que isso siga acontecendo os requisitos básicos se concentram na máxima exploração da natureza, na livre iniciativa, no direito e nas leis protecionistas combinado com o funcionamento de sociedades desiguais, uma pequena parte muita rica e a outra imensa parte miserável.

            A pergunta a ser feita a essas pessoas que compreendem ser o capitalismo um estágio terminal de muitas formas de vida e que o progresso não é benéfico quando não contempla a igualdade de renda e de condições para ter acesso aos bens de uso, se é possível enfrentar  as contradições postas em vista de outra sociedade socialista sem a teoria do Materialismo Histórico, também conhecida como Marxismo?

            Parece que dentre as concepções totalizantes citadas por Lefebrve no primeiro parágrafo, apenas a preocupação com a “natureza” está se tornando o referencial das discussões em reuniões políticas internacionais e, também impõe as suas diretrizes e demandas no que fazer dos movimentos e partidos políticos. Falta apenas uma palavra de ordem para reunir os interesses entre os governos e as classes sociais, para criar  o senso comum rebaixado, que poderia ser: “Deem-nos dinheiro para plantarmos árvores e salvaremos o planeta”.

            Foi-se o tempo em que o verde da natureza sequestrava a totalidade do carbono expelido no espaço. O progresso capitalista, sob a égide do liberalismo e, principalmente do neoliberalismo, implementou e acelerou o desequilíbrio social e ambiental. Os comparativos mostram, sem detalhamento que,  por volta do ano de 1800 quando o modelo liberalizante começou a reinar, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas. De lá para cá, em pouco mais de duzentos anos, alcançamos uma meta  de 8 bilhões de indivíduos e, para acumular riqueza em troca de satisfazer esse grande número de pessoas, precisou desmatar, poluir, envenenar e, controlar, dominar e exaurir a natureza.

            Vemos, portanto, que parece haver um paradoxo bem na frente dos olhos das pessoas conscientes, o qual pode ser assim descrito: Os mais ricos são responsáveis pela poluição do planeta e a despoluição é responsabilidade de todos, mas isto tem um custo que os ricos precisam assumir. Mas se os ricos darão o dinheiro extraído dos ganhos fornecidos pela matriz produtiva poluidora, o que mudará no final?

            Muitas iniciativas ainda surgirão espontaneamente que mobilizarão as pessoas voluntariamente a plantarem árvores. Alguns receberão pagamentos por deixarem as fazendas intactas, mas ninguém se pergunta como será feito o controle da acumulação do capital? Quando será distribuída a riqueza acumulada? Quem educará os incendiários a deixarem de pôr fogo nas florestas? Qual governante imporá limites para o tamanho máximo da propriedade rural? Que dia se tomará a decisão de fechar todos os poços de petróleo obrigando as indústrias produzirem voltadas para as energias limpas?  E, principalmente, como os miseráveis sairão da miséria desvencilhando-se do domínio alienador das bolsas de assistência públicas?

            O estudo do Materialismo Histórico, facilmente nos remeterá a perceber as contradições atuais para saberemos como ligar as partes para formar um todo articulado. Nesse sentido, iremos descobrir que devemos apagar os incêndios, mas atacar o capital; combater a poluição, mas atacar os poluidores; solidarizar-nos com os mais pobres, mas atacar a concentração da riqueza. Valorizar e selecionar o conhecimento humano, as descobertas e os inventos, mas combater o capitalismo e lutar para superá-lo, se quisermos de fato contribuir com as novas gerações.

            Nossas tarefas são práticas, mas as práticas feitas precisam de teoria para continuarem a serem feitas. Todas as teorias que visam a superação do capitalismo, em algum grau pertencem a Histórico, mas, os socialistas e comunistas devemos sempre defender que: Sem marxismo não haverá socialismo.

                                                                                                          Ademar Bogo



[1] Henri Lefebrve. O marxismo. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1974

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