domingo, 7 de maio de 2023

O DILEMA DO ESTADO


            No dia 5 de maio desde ano de 2023, o filósofo Karl Marx completou 205 de seu nascimento. Dele muito têm se extraído de orientações e propostas para a superação do capitalismo, mas, é no quesito Estado que reside o maior dilema para os comunistas, não porque o nosso aniversariante não tenha pensado sobre o tema, mas porque a estrutura complexa leva a crer que, sem ele a sociedade não sobrevive.

            Hegel havia deixado para os seus sucessores um plano de funcionamento do Estado, impecável. Disse: “O Estado, como realidade em ato da vontade substancial, realidade que adquire na consciência particular de si universalizada é o racional em si e para si: esta unidade substancial é um fim próprio absoluto, imóvel; nele a liberdade obtém o seu valor supremo, e assim este último fim possui um direito soberano perante os indivíduos que, em serem membros do Estado, têm o seu mais elevado dever” (§ 257). Marx estudou a “ Os Princípios da Filosofia do Direito” de Hegel, por isso, primeiro compreendeu a supremacia do Estado e por isso pôde propor a sua superação.

            Vejamos que, o Estado é visto por Hegel como uma “expressão da vontade substancial”. Essa substância constituída em si e para si, portanto, tem força, ideias, liberdade e poder soberano, para agir sobre os indivíduos que o respeitam por dever. Marx, por sua vez, não desmanchou esse entendimento mas, agregou que, a “vontade substancial”, não vem do Estado propriamente, mas do capital que é a base estrutural de todas as criações.

            O dilema encontrado pelas forças revolucionárias vindas depois de Marx, foi o de terem em mãos as forças produtivas, tomadas à força dos capitalistas para serem aproveitadas e do outro lado a estrutura do Estado, pensada anteriormente para garantir a liberdade suprema. Portanto o entendimento lógico criado sobre o pensamento de que a superação se faz com a sobreposição de formas novas sobre as formas anteriores, pondo fim, principalmente à propriedade privada dos meios de produção. Com isso, supera-se também o trabalho assalariado e a extração da mais-valia. A conclusão lógica, em relação ao Estado é de que se poderia fazer a mesma coisa: reformular as formas administrativas, mas, manter a mesma estrutura.

            Em nome do progresso civilizatório, os processos revolucionários garantiram, por meio do Estado estruturado conforme concebido por Hegel como “poder absoluto”, levando aqueles países a se transformarem em grandes potências econômicas e políticas. Na medida que as crises foram surgindo até que, na maioria deles a referência do socialismo deixou de estar presente, potência como a Rússia não precisou de muito esforço para adequar-se aos padrões capitalistas. E se quisermos saber, porque a Rússia atual, na guerra contra a Ucrânia não teme a Europa e nem Os Estados Unidos da América? Porque age com o mesmo Estado mantido e fortalecido antes e depois do socialismo. Pelo mesmo caminho vai a China. Aos poucos prepara-se para penetrar em todas as economias do mundo, mas, seus interesses não é espalhar ideias socialistas.

            Diante disso, entender o que pensam sobre o Estado os governos progressistas ou vistos como de “esquerda”, é bem mais simples. Na medida que não pensam atacar o capital o Estado não teme sofrer nenhum abalo. Voltam-se as atrações para as políticas governamentais. Não se pensa em superação, mas, em reprodução e continuação do capital e do Estado.

            A transmutação da concepção socialista para o rebaixamento da concepção da pura e simples democracia representativa, reflete o grau de conformidade vivida na atualidade. Confunde-se o poder do regime político com o poder do sistema econômico, parece que desconhecem que, tanto no capitalismo os regimes oscilam, mas o sistema permanece.

            Pensar que, no capitalismo, o regime totalitário é melhor, é uma loucura; mas também dar-se como satisfeitos com a democracia representativa, para ter a oportunidade de apenas governar, é a pior das conivências.

            Teoricamente, não há outro caminho, a não ser o que leva a tomar a infraestrutura e sobre ela construir s superestrutura adequada, mas isto exige organização e poder construídos na prática e nas consciências da maioria da população. Enquanto a apatia tomar conta as fracas vitórias eleitorais satisfizerem, pouco de novo surgirá. É preciso romper todas as barreiras e avançar um passo, para que o espaço aberto mostre outra realidade real e possível. Mesmo desconhecendo tudo o que é, nos resta tentar fazer o que virá. Como disse o poeta e filósofo francês Jean Cocteau: “Por não saber que era impossível, ele foi lá e fez”.

                                                           Ademar Bogo

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