domingo, 10 de julho de 2022

TOTALIDADE E MEDIAÇÃO

               Totalidade e mediação são duas categorias fundamentais do materialismo quando se pensa discutir o movimento das contradições, vistas em qualquer processo de superação. Interessa-nos hoje, aplicá-las na conjuntura política, para, desse emaranhado de probabilidades, extrairmos algum entendimento sobre a melhor saída par a decadência política.

            É evidente que a política brasileira na atualidade, afundou-se no pântano asqueroso da imoralidade. Não há nenhum sinal de que o atual governo mereça ser considerado, isto porque, não entramos ainda no estágio da ingovernabilidade porque, setores da economia, a força de algumas instituições e a paciência popular, toleramos esse embuste criado a partir de 2016 pelo capital especulativo, os meios de comunicação e as ameaças golpistas militar das forças armadas.

            Nas ultimas duas décadas, ou mais propriamente a partir de 2008 quando se generalizou a crise do modelo neoliberal, por todos os continentes e, o capital produtivo começou a perder espaço para o capital especulativo, parasitário e violento, outras forças que não as da tradição institucionalizadas, positivista e defensoras do badalado “Estado de Direito”, mas, as vinculadas ao crime e ao caos, houve sem dúvida nenhuma, uma ruptura com os princípios da manutenção da ordem. E, os estragos não são ainda piores porque o representante maior dessa lógica insana, Donald Tramp foi derrotado nos Estados.

            Há respingos daquela ideologia ainda palpitando em alguns lugares, como é o caso brasileiro, mas, a onda da crença na ordem e na afirmação do progresso econômico, continua sendo afirmada em cada eleição encerrada mundo afora. E se tivéssemos que simplificar a hipótese em discussão, deveríamos dizer que, o capital produtivo entregou a responsabilidade para os trabalhares e para as forças progressistas de salvaguardarem os princípios da democracia burguesa representativa da ordem capitalista.

            Não precisamos ir muito longe para comprovarmos essa interação. Temos em nossa frente a aliança feita entre as duas principais representações da luta de classes do Estado de São Paulo, na década de 1980, as quais haviam produzido os dois maiores partidos políticos, PT e PSDB, que se digladiaram com tenebrosas críticas, por diversas vezes, mas agora, de algum modo, independente da sigla, as representações morais se unem para derrotar o mal maior do crime organizado na política.

            Já escrevemos sobre isto. Para tornar a Revolução Francesa vitoriosa e implantar de vez o capitalismo, a burguesia produtiva correu aos trabalhadores, embora com a intenção de subjugá-los, como força auxiliar, para o triunfo sobre as forças representantes da velha tradição. Aquela burguesia que, juntamente com os trabalhadores, compôs uma totalidade e afirmou o Estado capitalista como mediação, para centralizar o poder político, pelas próprias contradições geradas pela concentração do capital, foi derrotada pelo capital fictício especulativo e outras formas do capital digital, narcotraficante etc.

            Em decadência, a velha burguesia produtiva, obrigou-se a recorrer novamente às massas trabalhadoras e setores progressistas da sociedade; não mais como protagonista, mas como força auxiliar para não ser totalmente subsumida pelo banditismo político, elevado ao governo, com o suporte das forças armadas, um verdadeiro peso para o Estado, tendo as milícias civis, como forças emergentes na sustentação da barbárie e da ordem ditatorial paralela.

            A aproximação entre Lula e Alckmin é a expressão dessa tentativa limítrofe, para, com a mediação do Estado, sustentar a ordem capitalista brasileira, com a economia de mercado razoavelmente funcionando e com os direitos sociais e políticos em vigor. Se por um lado, esses objetivos, civilizatoriamente são os mais adequados a serem defendidos e alcançados no momento presente, não significa que eles sendo vitoriosos nas eleições, representem a totalidade das forças envolvidas.

            Na verdade, a totalidade das contradições, estrutura-se sobre outras referências, que são a decadência irreversível do capitalismo e da ordem estabelecida, e sobrevivem por meio da destrutividade e da absorção de todas as riquezas naturais. Para esse processo destrutivo, a mediação é a desordem e a violência, praticadas pelas próprias forças do capital especulativo e setores marginais da civilização. O Estado, quando possível de ser controlado, por meio de eleições ou golpes de Estado, é gerenciado como um instrumento de desconstrução da engenharia política instituída; quando não controlado por essa via, atua por meio de boicotes, pressões, ameaças de golpes e ações incontroladas das milícias e das forças policiais imbricadas nas articulações dos crimes.

            Concluímos que a totalidade e a mediação, continuam sendo as duas categorias fundamentais a serem consideradas como referências na análise política. No entanto, investir apenas na mediação, entendida aqui como a conquista de governos, sem o entendimento de que é preciso enfrentar a totalidade das contradições capitalistas, é apenas propor-se a adiar a verdadeira decadência.

            Não podemos esquecer que, tanto as soluções quanto os agravamentos das contradições, surgem, na evolução da mesma sociedade. Todos sabemos que as forças do neopentecostalismo, as milícias voltadas para a políticas, as concepções neofacistas etc. nasceram ou se fortaleceram enquanto o PT governava o País e, por sua vez, faziam retroceder a organicidade das forças populares.

            Não basta garantir democracia representativa, é preciso enfrentar as forças que propagam e investem na barbárie. O bolsonarismo não é apenas uma excrescência do capitalismo, é também uma expressão antecipada do pior que há de vir, se nada for feito. O capitalismo decadente  tornou-se um terreno fértil para germinarem tendências oportunistas e também ingênuas. É preciso avançar. Tomar o comando da História e impor de vez a derrota definitiva aos militares e a todas as forças aliadas do crime, que aprenderam com experiências como a do Haiti, como podem jungir no mesmo projeto, o terror e o oportunismo político.

                                                                                            Ademar Bogo              

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