domingo, 3 de abril de 2022

O CANSAÇO DO PROGRESSO

            As circunstâncias históricas atuais nos convidam a pensar na possibilidade da normalidade da guerra. Desde a Segunda Guerra Mundial, os conflitos pela conquista de territórios, insatisfatoriamente distribuídos aos vencedores, aguçaram os instintos dos Estados Unidos da América que, sempre pretendeu ser a maior economia do mundo e também a maior potência militar.

            Quando em 1991 a União Soviética se desfez e a China já vinha abrindo a sua economia para o capital ocidental, houve uma animadora euforia dos exploradores mundiais, por verem naquelas reviravoltas provocadas pelo cansaço do progresso socialista, uma oportunidade para hegemonizarem o controle da humanidade, a partir do monopólio da tecnologia.

            O domínio dos pontos essenciais, nos quais se concentram as riquezas naturais estratégicas, foi o primeiro impulso e, por isso, os capitalistas ideologizaram a globalização como se o mundo fosse um único território governado por poucas cabeças. O mercado passou a ser o veículo usurpador das soberanias nacionais transformando os Estados nacionais em meros servidores obedientes daquilo que passou a se chamar “a nova ordem mundial”.

            No entanto, com o elevado grau de desenvolvimento tecnológico, o tempo para  qualquer realização foi acelerado e, a ordem capitalista teve um envelhecimento precoce, tanto assim que, na atualidade, com  o deslocamento do poder econômico e militar para o continente asiático, o Ocidente, criador da globalização e formulador dos fascínios neoliberais,  não sabe o que fazer com a nova formação da hegemonia política sino-russo. Já não é mais uma suposição, mas uma realidade tocável que o desabamento dos pilares corroídos do imperialismo está com os seus dias contados.

            Para as pessoas mais conscientes, estudiosas das crises do capitalismo, seguidoras das teses de Karl Marx e de Friedrich Engels, as primeiras delas expressas no Manifesto Comunista de 1848, quando, dando conta que, a burguesia nas tentativas de superar as crises obriga-se destruir violentamente as forças produtivas e, por outro lado, precisa conquistar novos mercados no mundo. Diga-se de passagem, essas duas alternativas já foram gastas com a estratégia da globalização. Logo, está evidente que, “Tudo isto só prepara crises de maiores proporções em extensão e em destruição, diminuindo ainda mais as possibilidades de evitá-las” disseram os nossos filósofos.

            Para quem sempre se acostumou a pensar que a História é um “progresso sem fim”, terá de admitir e se acostumar em conviver com as guerras permanentes, isto porque, o futuro do progresso econômico e a destruição do progresso do presente, tornaram-se sinônimos do mesmo fracasso. Produzir para destruir, em busca de abrir espaço para produzir novamente, tornou-se insustentável por dois motivos pelo menos: a exaustão das reservas naturais e a geração cada vez mais de grandes contingentes de miseráveis em todos os pontos do planeta. Se o primeiro motivo denuncia que o modelo econômico está esgotado, o segundo aponta para a instabilidade política por todas as partes do mundo.

            O limite das matrizes produtivas do progresso capitalista seja na produção extensiva de alimentos, seja no uso insustentável da água e no apoio na química e no petróleo, bem como, a dependência da energia suja e os elevados volumes de gases lançados na atmosfera, levam à asfixia antecipada das próprias soluções apresentadas.

            Diante do esgotamento das alternativas, é evidente que as guerras surgirão como respiros momentâneos de manutenção de uma ordem civilizatória gravemente avariada e despedaçando-se a cada movimento feito. Por trás das guerras estão os interesses voltados para o controle do poder mundial. Porém, ninguém consegue controlar o fogo alastrado em uma habitação que guarda em suas repartições recipientes de produtos inflamáveis. É certo que o velho império do Ocidente capitalista, cede lugar para o novo império sino-russo, mas isso não indica dias melhores para os povos do mundo. Se as reservas monetárias de cada país, ao invés do dólar desloca-se para o ouro ou qualquer outra moeda, as economias continuarão controladas pelo princípio da valorização do valor.

            Evidentemente, o cansaço do progresso capitalista instigador de guerras permanentes, abre possibilidades de enfrentamentos e alternativas de superação. Para isso, depende da posição que as forças anti-capitalista tomarem. Em primeiro lugar é fundamental mudar a visão sobre a produção da riqueza e deslocá-la do tripé: mercadoria, dinheiro e capital. Para isso é necessário pensar na produção sem exploração e isto se consegue dando o primeiro passo: proibindo que a força de trabalho continue sendo vendida como mercadoria.

            Do ponto de vista revolucionário, a transição da hegemonia do poder imperialista do Ocidente para a Ásia, equivale ao desfecho, mesmo sem realização, da Terceira Guerra Mundial. É nesse breve vácuo aberto pelo enfrentamento entre as grandes potências, que as zonas supostamente inofensivas ou controladas devem elevar as suas pretensões.

A derrota do imperialismo norte-americano representa uma enorme conquista para a humanidade, mas não a maior, esta ainda deverá ser realizada, com o impedimento de que mais nenhum império se estruture, e que, a autodeterminação dos povos seja de fato um princípio que foge ao critério de ser ou não possuidor de riquezas naturais.

Olho vivo e ouvidos atentos para os sinais enviados pelo movimento das contradições, faz bem a quem deseja colocar-se como sujeito da História.

                                                                                       Ademar Bogo

                                                                       Auto do livro “Moral da História”

                         

 

 

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