domingo, 13 de fevereiro de 2022

O REINO DAS FACÇÕES NAZISTAS

 

         No dia 12 de Fevereiro de 1908 nascia na Alemanha, a internacionalista, Olga Gutmann Benário Prestes. Perseguida pelas forças de repressão brasileiras, extraditada e morta nas câmaras de gás nazistas, em 23 de abril de 1942 em Bernburg. Neste ano, completam-se 114 anos de seu nascimento e 80 anos de sua morte.

Embora haja muitíssimas elaborações biográficas sobre o legado dessa militante comunista, seria importante dedicar outras reflexões sobre as grandes contribuições dadas por ela, mas, no momento, devemos nos ater à critica da concepção de seus algozes que, embora rechaçada em todas as partes do mundo, sempre reaparece em situações de crises, na forma orgânica de “facção política”. Por ora fiquemos com o “refrão internacionalista”, da mensagem altiva deixada no encerramento da última carta enviada à filha Anita e ao marido Luis Carlos Prestes: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”.

As facções existiram desde o século dezoito e se constituíram como práticas de organização política de grupos contestadores do poder político feudal centralizado nas mãos dos reis. Apesar de ser a Inglaterra a precursora da criação dos partidos políticos, desde o ano de 1832 quando consolidou a monarquia parlamentarista, foi a partir da Revolução Francesa de 1789 quando, as repúblicas, o Estado capitalista e as “democracias representativas” necessitaram dos partidos políticos para interagir com a sociedade civil.

De maneira simplificada, confirmamos que, os partidos políticos, desde a origem, apresentaram-se como formas associativas, sendo organizações de parte do povo em lutas e disputas a favor de todo o povo. Ao contrário das facções e seitas que também representavam parcelas do povo, mas, por princípio, organizavam-se e lutavam contra todo o povo. No entanto, temos, desde o início e, principalmente, no século dezenove, duas formas de ser da organização partidária. O artigo 17 da nossa Constituição Federal sintetiza a tradição do pensamento formal do partido, de caráter nacional, configurando-se com “personalidade jurídica” e, registrado no Tribunal Superior Eleitoral. A outra forma descrita por Karl Marx e Friedrich Engels, no Manifesto do Partido Comunista de 1848, após se envolverem criarem a “Liga dos comunistas”, devido aos seus limites encontrados, em 1864 propuseram a criação da “Associação Internacional dos Trabalhadores”, sem reconhecimento oficial do Estado, mas com princípios e objetivos de lutar a favor da humanidade.

Por que precisamos ter em mente estes fundamentos introdutórios na atualidade? Porque, ao relembrarmos a execução de Olga Benário relembramos o Nazismo e, ao lembrarmos deste nos deparamos com as posições vigentes favoráveis à criação de um “partido nazista” no Brasil. A pergunta a ser respondida é: de acordo com o princípio da liberdade de expressão e manifestação é correto ou não legalizar um partido de concepção nazista?

Frequentemente ouve-se argumentos comparativos entre o marxismo e o nazismo. Parlamentares de direita ventilam a ideia de que se deveria proibir a circulação de ideias marxistas, por se tratar de uma ideologia de combate ao capitalismo e, provavelmente, na medida em que as investidas nazistóides forem contestadas, venha à tona a odiosa ideia de combate ao marxismo, como se fossem posições de dois extremos semelhantes a serem afirmados ou proibidos.

Antes de tudo devemos dizer que nazismo e marxismo não são extremos opostos. Primeiramente porque, o marxismo é uma ciência produzida a partir da crítica feita ao capitalismo e, portanto, não é uma “ideologia” encobridora de interesses negacionistas. Quando se diz que Marx, Durkheim e Weber são os clássicos a serem estudados na Sociologia, é muitíssimo diferente de quando se toma Hitler como uma referência política racista, machista, homofóbica etc., que visa exterminar parte da sociedade e não cooperar com ela. O extremo oposto do marxismo e do comunismo é o capitalismo; é ele, na totalidade, a referência de superação e não incongruência odiosa, particularista que é o nazismo.

Oficializar, portanto, um partido de concepção marxista é afirmar o direito de associação da parte consciente da sociedade que se disponibiliza a lutar a favor do todo, ao passo que, autorizar a formação de um “partido nazista”, significa regredir dois séculos na História e confirmar o direito de facção, permitindo legalmente que a parte pervertida já organizada informalmente, afronte, ataque com violência, e extermine setores do todo, considerados incômodos a esta visão em tudo deplorável.

Por outro lado, o marxismo quando identifica na luta de classes, duas partes existentes na mesma sociedade, com interesses contrários, está defendendo que uma delas lute contra a outra. No entanto, a filosofia da luta de classes marxista tem por objetivo fazer com que elas deixem de existir, sem exterminar as pessoas. O burguês, na visão marxista, é um cidadão que se vale da propriedade privada dos meios de produção para explorar os trabalhadores. Sendo assim, não é a sua cor da pele, nem a identidade sexual ou seu modo de pensar que exploram e extraem a mais-valia. A perda da posse dos instrumentos mediadores da exploração e não da vida pessoal é que fará uma sociedade vir a ser justa.

O nazismo é uma excrescência surgida da decadência do capitalismo. A sua pretensão é militarizar as relações sociais, para impor, em tempos de barbárie a ordem de setores ameaçados pela própria miséria que eles mesmos produziram. Nesse sentido, o próprio Estado passa a ser um instrumento de disputa entre os capitalistas produtores, que o querem como controlador da ordem e financiador de seus investimentos e, os capitalistas improdutivos que também desejam controlar o Estado para assegurar a especulação, o refúgio institucional para banditismo político e, ser fonte de financiamento e do enriquecimento dos membros das facções aliadas.

O marxismo é a ciência e a filosofia do futuro. O nazismo é ideologia do passado. O primeiro se sustenta sobre a verdade de que são as contradições do próprio capitalismo que oferecem o combustível para as lutas sociais e políticas para a sua superação. O segundo se sustenta na mentira e no ódio, em busca de ludibriar e disfarçar a decadência e a provável ruína em andamento do modo de produção insuportável.

                                                                       Ademar Bogo         

 

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