domingo, 25 de outubro de 2020

PENSAR É SENTIR


            O filósofo francês René Descartes, em seu tempo de vida, deparou-se com um problema filosófico de difícil solução, que resumidamente se expressa na pergunta: “O que é pensar?”. A resposta surpreende porque, ao invés de relacionar o pensamento puramente com as ideias considerou ele que, “pensar” é tudo o que ocorre em nós; “é por isso que não somente compreender, querer, imaginar, mas também sentir, são aqui a mesma coisa que pensar”.

            O enunciado, contido em “O Discurso do Método”: “Penso, logo existo”, em grande medida tem, no pensar, no compreender, no querer, no imaginar e no sentir a explicação para uma completa cognição entre o Eu e o tudo. Portanto, é por meio dessa relação entre objetividade e subjetividade que ocorre o encontro entre o concreto e o abstrato existentes no mesmo ser.

            No passado Aristóteles ao formular a metafísica havia antecipado, por meio das categorias de Ato e Potência, o que René Descartes veio a demonstrar séculos depois. É claro que ambos podem ter ficado muito atrás daquilo que vivemos com as contradições que o sistema de produção, circulação, troca e consumo de mercadorias provocam na organização social. Porém, de um modo ou de outro não escapamos de considerar que existem subjetividades nas relações sociais, políticas, religiosas, culturais etc., porque, sendo que somos mais do que “animais políticos”, imaginamos e queremos sempre ser reconhecidos como seres sociais.

            No entanto, com a definição anterior de que pensar é tudo o que ocorre em nós, desmentimos Descartes com a sua própria teoria, na qual, para justificar a existência da razão no ser humano e não nos demais seres, localizou duas substâncias distintas nas espécies: o “puro pensamento” e a “pura extensão”. Em geral estão separadas, mas no homem encontram-se reunidas no mesmo corpo pela glândula “pineal” situada próxima à nuca. Nesse sentido, se o pensar não é constituído apenas por ideias, mas também de compreensão, querer, imaginação e sensibilidade. seriam apenas os humanos a terem essas faculdades em si?

 

            Aristóteles havia alertado que somos “animais políticos”, que não significa igualar o homem ao “bicho do mato”, mas considerar que pelo menos, uma boa parte de nossa existência é gasta em busca da produção da subsistência, exatamente porque temos necessidades animais. Os animais por sua vez gastam toda a existência em busca da subsistência e se despreocupam com a política.

Se alguém tentar nos surpreender com a pergunta: onde está a diferença entre a espécie humana e as demais espécies? Prontamente responderemos: “na capacidade de pensar”. Pela visão contraditória de Descartes, esta resposta está errada, isto porque, se não pensamos apenas com as ideias, mas também com as sensações, não podemos ignorar que as outras espécies também pensam por que sentem, e o “penso, logo existe” é o mesmo que dizer, “sinto, logo existo”.

No passado podia-se dizer que a diferença entre o “animal político”, e os demais animais selvagens era de que, o primeiro administrava a polis e os outros as selvas. Como havia mais animais selvagens do que seres humanos, o espaço reservado para eles era imensamente maior. Mas eis que, com o advento do capitalismo, a mão pesada do progresso com a sua fineza tecnológica, avançou sobre os territórios dos animais e o “animal político”, também chamado por Rousseau de “bom selvagem”, investindo contra as selvas tornou-se uma ameaça para a totalidade das espécies agindo com tamanha crueldade, que fez tremer de arrependimento, Prometeu, o deus do fogo, por ter um dia dado de presente esta arma infernal que veio a devastar o mundo dos animais.

            O fogo, portanto, continua sendo, desde a antiguidade, motivo de discórdia e de ameaça às espécies “inferiores”. Com ele como disse Thomas Hobbes, instala-se a “guerra de todos contra todos”, com as armas de fogo ou o fogo como arma “animais políticos” e animais selvagens” vão sendo eliminados, com tamanha velocidade que faria rir os inventores do nazismo.

            O motivo para tanta violência contra a natureza, está situado no aumento da população mundial e das necessidades vitais, principalmente no que diz respeito a alimentação, vestuário, calçados e bens de consumo, impulsionaram os mercados mundiais que passaram reclamar a carência de matérias primas como base para a produção de mercadorias. Guiado por esses interesses, os capitalistas brasileiros voltaram aos tempos da colônia e passaram a  massacrar os índios, dizimar os animais selvagens e a queimar as florestas para produzirem a majestade bovina. Assim o fazem porque os países que condenam a devastação continuam comprando carne produzida sobre o morticínio o amazônico.

            Filósofos e cientistas descrevem a “política da morte” ou a “necropolítica”, mas é preciso lembrar que ela não se efetiva sem sujeitos e instrumentos. O “necrocapital”, o “necromercado” e o “necroestado” agem articuladamente enquanto os noticiários e muitas análises políticas mostram apenas as consequências.

            É hora de pôr em marcha a insurreição popular única forma de frear a ganância dos ricos e a matança dos pobres e da natureza. Par isto é preciso comando, organização e consciência.

                                                                                              Ademar Bogo

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