quarta-feira, 17 de julho de 2019

ESTANHAMENTO E ALIENAÇÃO


             
            Há entre os estudiosos do pensamento de Karl Marx, certas ponderações quanto ao uso das palavras alienação e estranhamento. Para certas posições, as duas denominações se complementam, isto porque, se a primeira se vincula diretamente ao objeto que, após ser produzido é apartado de seu produtor, a segunda articula a totalidade do processo produtivo e de outros sistemas, sociais, econômicos e políticos.
            Para Marx a centralidade da formação social está no processo produtivo é a ele que o indivíduo se vincula para produzir e reproduzir-se. No entanto, para que esse mesmo indivíduo se reproduza é preciso que ele empenhe a sua força de trabalho para produzir os produtos que lhes serão úteis. Por outro lado, no capitalismo, o trabalhador que vende a sua força de trabalho não produz, na maioria das vezes, produtos úteis para si e, ao produzir objetos que  se destinam à troca no mercado, ele se distancia deles e do resultado obtido com as trocas.
            Dessa forma, o trabalhador é forçado a separar-se do objeto produzido e do resultado obtido pelo dono do objeto que é denominado de capital. Sem o objeto do trabalho e sem o capital, resta ao trabalhador a força de trabalho a ser entregue todos os dias segundo o contrato de trabalho feito com o seu patrão.
A situação é incômoda, porque o trabalhador, na medida em que produz um objeto, exterioriza a sua capacidade produtiva. Na medida em que o produto extraído de sua capacidade não fica com ele, nega-se a si próprio, como se algo criado por ele não viesse dele, porque não pertence a ele.  E, acima de tudo passa a considerar que no tempo estabelecido pela jornada de trabalho, nem ele se pertence a si mesmo. Foi cedido ao comprador de sua força até tal hora do dia ou da noite. Logo, segundo Marx, a sensação  é que houve “uma perda de si mesmo”.
Considerando que a alienação ocorre na apartação do indivíduo de si mesmo e o estranhamento da separação do indivíduo e o objeto produzido que articula outros sistemas aos quais o indivíduo desconhece, não há a possibilidade de compreender um conceito sem o outro, isto porque, ambos ocorrem no mesmo processo de produção e reprodução individual e social.
Mas, com um pouco de esforço, podemos vincular os conceitos à dominação do sujeito, agora não mais visto como um indivíduo, mas como uma nação que, ao se reproduzir, exterioriza a sua capacidade econômica, no entanto, no aspecto político perde o controle sobre si mesmo e passa a ser orientada como se fizesse parte de outro mundo comandado por outro senhor, como o é o capital sobre o trabalho.
O que impressiona, não é a capacidade argumentativa da classe dominante que, com naturalidade procura convencer a população de que a submissão imperialista é algo normal, tal qual o é ter patrão e empregado em um país, mas o enfraquecido pensamento crítico que não percebe, como rapidamente estamos nos apartando do pouco que restava da soberania nacional.
            Se não causa estranhamento a junção dos sistemas com a subordinação do Brasil aos Estados Unidos, é porque as artimanhas do governo são tão simplificadas que se assemelham à produção de uma mercadoria por um trabalhador assalariado. A aceitação do salário mensal e de uma cesta de Natal é tão normal como a nomeação do filho do presidente para embaixador.
            Ora, todos sabemos, mesmo com os poucos meses de governo, que a eleição de 2018 não elegeu um presidente, mas uma família para governar o Brasil. Por sua vez, a eleição para presidente foi o ápice de um processo articulado pelos Estados Unidos da América, com as forças mais atrasadas da política e do poder judiciário existentes no Brasil. Esse conluio continua apesar das revelações cotidianas.
            O que ocorre agora é que, a família se anexa ao comando central do império e, por meio da Embaixada vincula os sistemas que passam a funcionar, nos aspectos políticos, jurídicos e ideológicos com as ideias forjadas dentro da mesma inteligência.
            Haveria alguma outra razão para o presidente indicar o próprio filho como embaixador nos Estados Unidos da América? Se mérito não os tem; preparo menos ainda, sobra o critério da confiabilidade para estruturar a submissão à ordem imperialista com um comando único para os dois países.
            O que assusta não é o estranhamento nem a alienação imposta pela mediocridade do pensamento dominante, mas o grau de servidão voluntária ao qual a população se submete. Por isso não acredite nas sátiras, saber manusear uma chapa quente é a simbologia de que, o "hambúrguer" a ser fritado é a soberania do país.  
                                                                                              Ademar Bogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário