domingo, 9 de dezembro de 2018

DIREITOS HUMANOS ÀS AVESSAS


                                                  
            No dia 10 de Dezembro de 2018 comemoramos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que, apesar do chamamento à humanização pouco temos a comemorar.
            As Declarações cumprem na História o papel de estabelecer um grau de entendimento entre os governantes de todos os países do mundo, que a vida e a dignidade humana precisam ser preservadas. No entanto, mesmo que na História da humanidade dos tempos mais remotos tenhamos uma quantidade expressiva de declarações, a violência, o desrespeito, o arbítrio e a matança de pessoas, sempre marcaram profundamente cada época. Justifica-se a continuidade da violência pois, as Declarações sempre foram elaboradas logo após destacados atentados contra a vida humana, que como sinal de arrependimento momentâneo levaram os lideres mundiais virem a publico prometerem o que não iriam cumprir.
            Se, por um lado, as Declarações revelam as boas intenções, por outro lado expressam uma pesada carga de ideologia que revela os interesses das classes dominantes em cada época. Se tomarmos as duas Declarações mais expressivas elaboradas no capitalismo, a de 1789, por ocasião do triunfo da Revolução Francesa e, a de 1948, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, vemos que nem todos os direitos foram equiparados; a última por exemplo contempla o “direito ao trabalho” (artigo 23) mas a outra não menciona este assunto.
            O motivo para a omissão “do direito ao trabalho” na Declaração de 1789 somente o compreendemos se tomarmos a disputa ocorrida na própria França na ocasião do término da Revolução Liberal de 1848 quando elaborou a Declaração de Direitos da Constituição Francesa e, o ponto de maior conflito foi justamente o direito ao trabalho.
            Por que o direito ao trabalho fora tão polêmico se a burguesia vencera a Revolução e, a partir daquele momento atuaria com toda a força na livre produção de mercadorias? Entenderam os burgueses que, se oficializassem o “direito ao trabalho” eles mesmos teriam que oferecer emprego para qualquer trabalhador desempregado e isso esvaziaria o “exército de reserva” que servia para pressionar os salários para baixo.
            Na Declaração de 1948, a burguesia já tinha uma longa experiência e sabia que nem tudo o que constaria da Declaração seria cumprido nem levado a sério pelos governantes. Por isso é importante que prestemos atenção permanente porque as leis e as Declarações têm validade para a classe dominante até momento em que servem aos seus interesses; quando avaliam que as leis atrapalham ou limitam as suas ações, com facilidade mudam a lei e ignoram as Declarações universais.
            O fato é que, como o conceito de Democracia que passou a ser apenas o ato de escolher os governantes e não o acesso a todos os bens e direitos, os Direitos Humanos passaram a ser compreendidos apenas como a defesa contra os atos de violência, a discriminação e o desrespeito à dignidade individual, por isso, a relação dos direitos contidos na Declaração não são valorizados nem tampouco cobrados pela população.
            Se tomarmos o último dado apresentado pela OXFAN, Noé mostra que, de toda a riqueza produzida no mundo em 2017, 1% da população ficou com 82% dela. Significa então que 99% da população ficou com 18% da riqueza? Não, porque a mesma pesquisa mostra que 3,7 bilhões de pessoas ficaram sem nada.
            É sobre isto que devemos colocar as atenções sobre a defesa dos Direitos Humanos. Ou seja, se a metade da população mais pobre do mundo vive com uma renda que varia entre $ 2 – 10 dólares por dia significa que o mundo está dividido entre os que podem ir e vir e os que não podem; entre os que tem acesso aos bens de consumo e aos que não tem; entre os que usufruem da cultura, da arte, do bem estar e outros não.
            Mais grave ainda são dados publicados pelo Ministério da Justiça nos mostrando que, no ano de 2017, foram assassinados no Brasil 63.880 pessoas. Dentre elas 56,5% eram jovens entre 15 e 19 anos e que 71,1% das vítimas eram da etnia negra.  
            Diante desses dados vemos claramente quem tem o direito à vida e quem não tem. Se pegarmos outros dados sobre o desemprego, a falta de moradia, a falta de vagas nas universidades, o péssimo atendimento à saúde etc. comprovaremos que, de fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, ficou esquecida e submetida aos interesses do grande capital.
            E, quando já pensamos que vimos tudo, notamos que a escalada dos atentados contra os direitos sociais e humanos começam a explodir com força ainda maior nas intenções do novo governo que se utilizará das mudanças constitucionais para retirar direitos por meio das reformas do mal já prometidas.
            Mas isto ainda não é tudo. Na medida em que o governo, na ansiedade por reduzir o tamanho da burocracia do Estado unifica ministérios e secretarias em algumas pastas e as põem sob o comando de indivíduos declaradamente de extrema-direita e militares que rejeitam as ideias humanitárias, é um péssimo sinal. Chama a atenção a Ministra que cuidará dos Direitos humanos, da família e dos índios seja devota da homofobia, contra as reservas indígenas e tem uma visão retrógrada sobre o conceito de família.
            Não há outro caminho para as maiorias exploradas se quisermos garantir o acesso aos direitos fundamentais a não ser a organização para defender os direitos humanos e também os direitos da Terra e da natureza. Diante de um governo que, constituído por uma facção, em nome do combate à corrupção age contra a maioria do povo constituído por trabalhadores, idosos, funcionários públicos, índios, negros, pobres organizados em movimentos sociais, merece implodir, pelas contradições entre os seus membros, antes mesmo de começar.
                                                                                                             Ademar Bogo

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