terça-feira, 15 de março de 2016

PARA OU SEGUE O ENTERRO



                    
            Uma anedota conhecida, sobre um indivíduo preguiçoso, se parece muito com o governo brasileiro. Diz o causo que, ignorando todas as cobranças e conselhos, o preguiçoso chegou ao ponto de aceitar a ser enterrado vivo. Carregando o caixão, amigos e curiosos revezavam-se no cortejo. Mas, a certa altura, um conselheiro bondoso, ao ser informado da causa e do fim que teria o sentenciado, prontificou-se e ofereceu uma ajuda: uma saca de arroz. Foi quando o condenado perguntou de dentro do caixão: “O arroz é com casca ou descascado?”. “Com casca” – respondeu o doador.  “Então, podem seguir com o enterro.”
            A situação da política brasileira é bastante parecida. O condenado já o temos, resta saber em que altura está o funeral que vem sendo preparado e conduzido com ampla divulgado na mídia desde 2005.
O objetivo é claro, concluir o funeral antes de 2018 para recolocar uma parte das forças de direita no governo. Uma parte, porque a outra nunca de lá esteve ausente e, ambas, em todo o tempo foram beneficiadas pelas altas taxas de juro, de créditos, de lucro e do pagamento dos juros da dívida pública que, no ano passado, chegou a custar mensalmente, 45% de tudo o que o governo arrecadou em impostos. Mais ainda, no caso específico da Rede Globo, que mesmo devendo R$ 615 milhões em impostos, foi agraciada com a renovação da concessão em 2007, por mais 15 anos, ou seja, até 2022, e que, quando morreu o patriarca dessa maldosa empresa em 2003, o presidente da República em sua nota, após dizer que Roberto Marinho não veio ao mundo a passeio,  disse que ele tinha “quase um século de vida de serviços prestados à comunicação, à educação e ao futuro do Brasil”. E aqui está ela agora, liderando a nossa própria cassação, com a desculpa, “de levar a verdade à população”.
Mas isto pouco importa para quem se coloca atrás do funeral que segue. No entanto, é lastimável observar que, apesar do governo ter feito, nos últimos anos, tudo aquilo que as forças dominantes pediram; desde a isenção de impostos para as montadoras de veículos, créditos subsidiados, ajuste fiscal contra os trabalhadores; já se dispôs a fazer a reforma da previdência; desobrigou a Petrobras de manter 30% dos investimentos no Pré-sal, reajustou as valores do fundo partidário para melhorar a mesada dos partidos etc., querem derrubá-la.
            Por que ficar lembrando tudo isso? Só para pensar? Não. Para dizer que a classe dominante não se move por gratidão nenhuma. Quem tem e se move pela gratidão, são as massas populares, mesmo quando os beneficiados, por descuido, medidas equivocadas ou teimosia, não são de tudo merecedores; mas agora terão que dizer e fazer por merecer.
            Precisam dizer para parar o cortejo e impedir que o funeral chegue ao fim como programado. Para isso a presidente terá de aceitar o “arroz com casca”; saltar do caixão e dizer porque ficará. Da mesma forma Lula, cuja candidatura para 2018 já está posta, terá que dizer a que virá! Ou seja, terão que sustentar aquilo que até agora ignoraram, mas que o projeto exige: que deixarão de pagar mensalmente os juros da dívida pública. Farão uma auditoria para averiguar porque a dívida já passou de três trilhões de reais; enquanto isso investirão o dinheiro em casas populares, saneamento e estrutura para a saúde. Que irão estatizar, em nome da segurança nacional, a Companhia Vale do Rio Doce, todas as mineradoras, devastadoras do meio ambiente e a Petrobras.  Assumirão que farão a reforma agrária, cassarão a concessão da Rede Globo, estabelecerão o transporte público com passe livre, taxarão e expropriarão as grandes fortunas, construirão escolas e universidades para que haja uma vaga para cada jovem brasileiro. Ouvirão o povo em assembleias permanentes, se deixarão dirigir pelo partido e governarão com ética.  
É radical demais?  Mas é preciso ter motivos para decidir se para ou segue o enterro!
                                                                       Ademar Bogo, filósofo, escritor e agricultor

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