domingo, 6 de março de 2022

CARÊNCIA OFENSIVA


            Enquanto as forças de esquerda ou de posições políticas progressistas dividem-se mundo a fora, pondo-se a favor da Rússia ou da Ucrânia, ficando, com isso, reféns das hipóteses políticas postas pela grande imprensa, o povo ucraniano é quem paga com altos sacrifícios. Com exceção dos países já marcados pela exclusão do consenso imperialista, que se colocam em defesa dos direitos da Rússia, a maioria das opiniões, ou são cuidadosas, medrosas e até controversas.

Situemos, antes de tudo, a Ucrânia e demos a ela o direito de ser um país e um povo autodeterminado. Ninguém pode ser contra essa posição. A soberania de um país é indiscutível. Dito isto, situemos também a Ucrânia na geopolítica regional e veremos que ela, por consequências geográficas e históricas, já pertenceu ao pacto de Varsóvia entre 1955-1991, quando saiu e passou a ser denominada de “linha vermelha”, separando a Rússia dos países que, gradativamente foram se associando à OTAN, ampliando o poder de influência do imperialismo norte-americano no mundo. O desejo político dos governantes ucranianos é também associarem-se a esse bloco, mas, com isso, levaria a ameaça inimiga até as fronteiras da Rússia.

Se olharmos mais atentamente, sem nenhuma paixão, a situação do povo ucraniano é, atualmente, no mundo, a mais desfavorável possível. Por isso, sem comando, a solução dada a ele, é a fuga para os países vizinhos. Se por um lado, o objetivo da retirada em massa da população, serve para poupar a vida de civis, por outro lado, as forças de direta ucranianas, interpretam que, o esvaziamento das cidades serve para acelerar a ação militar russa e por isso dificultam a concretização dessa tática.

A situação da Rússia também não é confortável. Se o conflito se prolonga, aumenta o desgaste político a nível mundial; isto porque, o consenso midiático é de não aliviar a ofensiva difamatória e, mesmo no campo de batalha, é desgastante manter as forças em combate, basicamente estacionadas, tendo o máximo de cuidado para não abater civis. Mas, também não pode recuar. Se o fizer e a Ucrânia se aliar à OTAN, seria como se o seu vizinho abrisse uma janela no muro de seu quintal e por ele vigiasse todos os seus movimentos.

Há uma vontade histórica da Europa e aliados, em destruir o potencial russo como fizeram com a União Soviética. No entanto, por mais que façam, o núcleo duro resiste e ruma para afirmar, juntamente com outros países da Ásia, o pólo oposto ao imperialismo dos Estados Unidos.

De pronto, poderíamos ficar por aqui, satisfeitos com as informações, mas não extrairíamos as lições do conflito e nem tampouco apontaríamos para um desfecho favorável ao povo ucraniano e, para encontrá-la precisamos colocar no tabuleiro os partidos comunistas da Ucrânia. Eles foram criados a partir de 1993 e, como todos atuaram até 2014 na institucionalidade.

Em 2014 com a interferência imperialista, o governo legitimamente eleito, tal qual ocorreu no Brasil, foi deposto e, em 2015, o Partido Comunista da Ucrânia , o Partido Comunista Renovado e, o Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia, foram proibidos de atuar, usar símbolos, manifestar opinião e participara da vida política do país. A solução dos três partidos foi de apoiar as províncias separatistas de Donetsk e Lugansk, o que lhes rendeu, devido a propaganda enganosa do governo, ainda mais desgaste diante da população.

O enfraquecimento e “desaparecimento” dos Partidos Comunistas é parte desta catástrofe que se abate sobre a Ucrânia. A falta de uma força política e de lutas internas, deixa a situação ainda pior. O povo por si mesmo não se sente capaz de enfrentar a situação e, por isso foge, recolhe-se ou se coloca equivocadamente a favor do governo, o mesmo que faz a intervenção russa prolongar-se. A posição mais acertada seria, a de tomar a frente do processo e depor o governo fantoche dos Estados Unidos, restabelecer a verdadeira democracia, os direitos à soberania e a autodeterminação do povo ucraniano. Em parte é isso que pleiteia também a Rússia. A diferença é que ela o faz com tanques e bombas, sem a participação popular. Sendo vitorioso, o governo russo poderá, empossar um governo favorável às suas posições ou anexar o território ucraniano, mantendo-o como uma província da Rússia.

Falta, portanto, revelar ao povo ucraniano que, pela localização geopolítica do país, independentemente dos resultados desse assombroso conflito, a linha vermelha continuará existindo e será submissa à OTAN ou a Rússia. Aquele país está localizado na linha divisória dos interesses das potências capitalistas.

Para o povo ucraniano o caminho mais curto para estancar o sofrimento e a destruição, não é a fuga, mas as ruas. Para isso as forças comunistas e de esquerda deveriam assumir o comando e voltarem-se contra os inimigos internos que provocaram essa barbárie. Aplica-se aqui quanto lá, o velho provérbio popular: “Só o povo salva o povo”. Talvez, se as forças de esquerda, espalhadas pelo mundo, que se ocupam em condenar este ou aquele lado, gastassem as energias para ajudar a superar a carência ofensiva do povo ucraniano, estariam resgatando, de uma só vez, o princípio do internacionalismo proletário e a dignidade revolucionária.

 

                                                                                          Ademar Bogo

                                                                                  Autor do livro: Caminho do tempo

                                   https://cousa.minestore.com.br/produtos/caminho-do-tempo

 

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