Com a chegada do capitalismo a
humanidade viu, na contemporaneidade, o florescimento das repúblicas e com elas
o envolvimento das populações nas disputas eleitorais para, em nome da
democracia, elegerem os seus representantes para administrarem os países por
período estabelecidos de tempo.
Tradicionalmente os eleitores
identificavam-se com os representantes que tinham com eles semelhança de
caráter e, os líderes cultivavam bons modos, boa linguagem, reportavam-se ao
público com educação e respeito.
O filósofo e sociólogo húngaro Karl
Mannheim ao tratar da “ideologia e utopia”, incluiu no debate o tema da
política, perguntando-se se “é possível uma ciência da política?”.
Dissertou o autor estabelecendo
parâmetros divisórios, dizendo que existem certos aspectos na política que são imediatamente
inteligíveis e comunicáveis, para isso o líder político deveria conhecer a
História do país, assim como a dos outros países com os quais se relacionaria.
Mas isso não era tudo. Para o seu uso, deveria conhecer as instituições do seu
país e a dos outros países; as relações sociais e as ideias políticas que
moldaram a tradição das gerações passadas. Conhecer, portanto, História,
Estatística, Sociologia, Teoria política, Psicologia social e outras áreas do
conhecimento.
Mesmo dominando essas e outras áreas
do conhecimento, o político não se tornaria um “cientista da política”, isso
porque, a vida social e política apresenta um envolvimento divisório entre
aquilo que é ato de rotina administrativa e aquilo que está relacionado com o
futuro. Trata-se de uma subdivisão natural do ofício em que o político, apegado
às estruturas oficiais empenha-se em racionalizar, administrar o que compete ao
ofício e, de outro modo, enfrenta-se com a esfera da “irracionalidade” em que vai
além daquilo que determinam as estruturas para dar conta dos anseios políticos
da nação.
Os atos reprodutivos executados dentro
da estrutura burocrática são considerados “racionais” porque estão previstos. A
presença da “irracionalidade” se dá quando o indivíduo precisa tomar certas
decisões que não estão ainda regulamentadas ou sem planificação. Seguem a
intuição. Segundo Mannheim, a nossa própria vida individual e social comporta a
aplicação desses dois conceitos, porque há coisas programadas que fazemos e,
outras, que vamos arranjando formas de adaptações cotidianas.
No entanto, em se tratando de Estado
e a sociedade há a possibilidade dos dois conceitos virem a ser aplicados para
o bem e para o mal, principalmente quando se trata da irracionalidade. Nesse
sentido as duas fontes principais do “irracionalismo” se caracterizam pela
competição e pelo uso da força, aqui a “irracionalidade” ganha política ganha
alguns acréscimos como a brutalidade comportamental, a grosseria nos tratos
sociais e a veemência da violência nas disputas vingativas.
Há
sem dúvida nenhuma, nas atividades políticas governamentais, um grau de
racionalidade que, em nome da eficiência lança mão dos instrumentos políticos e
jurídicos para praticar os atos administrativos. Essa forma de ser da
racionalidade administrativa que, aparentemente é própria da burocracia
governamental, não se orienta pelas ideias dos governos locais, mas,
principalmente pelas determinações do capital internacional e os desejos
políticos do imperialismo, que manobram os planos e impõem por dentro das estruturas
as reformas e as medidas que lhes são convenientes.
Somam-se ao formato administrativo,
os aspectos da “irracionalidade” que ganha nuances de perversidade, porque atua
com as estruturas oficiais porém descompromissadas com as garantias de vida e
com os direitos sociais. Nesse sentido a irracionalidade das ações praticadas
por forças oficiais ou paralelas autorizam-se pelas indicações enviadas pela
linguagem bruta, grosseira, vingativa e não punitiva que dão suporte suavizado
às consequências que provocam.
Entendamos que o “irracional”
poderia ser o não planejado oficialmente, mas nem sempre é assim, porque, pode
possuir conexão com o racional estruturado e assegurar-se pelo comando do poder
que, em nome da competição com as forças de oposição, atua com a força
repressora estatal que, após cometer os atentados apresenta os seus atores como
vítimas.
Se, por diversas razões podemos
considerar que a política não pode ser considerada uma ciência, porque grande
parte de seus atos ultrapassam a esfera da racionalidade institucional, a
ciência, a filosofia, a psicologia etc., podem estudar tanto a racionalidade
quanto a irracionalidade dos agentes políticos e fazerem a sociedade
compreender que a barbárie oficial ocorre quando os governantes usam da estrutura
do Estado para agirem contra os direitos sociais e do cidadão fazendo da ordem
uma desordem.
Há, por sua vez, irracionalidades
governamentais específica. No Brasil vivemos, nas últimas décadas, um processo
de desqualificação da política. Passamos ao invés de disputar ideias e
projetos, à mera disputa de cargos e para isso valem todos os recursos. Estes
após serem usados ilegalmente recebem a tolerância das instituições jurídicas
estatais como se nada houvesse acontecido. Com isso as disputas desceram a um
nível tão baixo que se conectaram ao mundo do crime, formando associações
irracionais para os controles da população local e alienando a população
nacional.
Os partidos políticos deixaram de ter
importância e passou a ter valor o vinculo informal e irracional. Para selar um
compromisso político basta escolher um dos lados, ser a favor, compartilhar as
informações que interessam e o resto é feito pelas forças comprometidas com a
destrutividade da própria ordem.
Essa inversão tem condenado às
forças de esquerda a serem cada vez mais conservadoras, pois, em nome da
democracia, da igualdade e da liberdade, passaram a se ocupar em defender a
lei, a ordem e o Estado capitalista, que foram estabelecidas e criado para
garantirem as desigualdades, a dominação de uma classe sobre a outra e afirmar a liberdade de cada um vender a sua força de
trabalho a qualquer comprador.
Desta maneira, a classe dominante de
nossa época, utiliza-se das forças contrárias para defender as leis, a ordem e
as instituições que ela mesma criou quando precisava institucionalizar a
racionalidade e assegurar os seus interesses. Diante da crise do capitalismo,
essa mesma classe opta pela irracionalidade da política e subverte a ordem que,
temporariamente a ela já não interessa, condenando assim a população a ter que
lutar para restabelecer aquilo que satisfará, após a amenização da crise, aos
mesmos capitalistas que se beneficiam da barbárie.
Vitimas das armadilhas das forças de
direita, as forças de esquerda sentem-se responsáveis pela estabilização da
ordem capitalista que conhecem. Julgam que “não há força” suficiente para aproveitar
da ordem subvertida pela direita, para reestruturá-la em outras bases, em vista
da transição para o socialismo e se dedicam a defender uma “nova assembleia
nacional constituínte” para elaborar a nova Constituição que assegure alguns
direitos sociais e políticos; soberania nacional, liberdade, igualdade e
fraternidade como fizeram os burgueses na Revolução francesa de 1789.
A racionalidade das forças de
direita na política, vai até onde a irracionalidade se torna obrigatória para
garantir os seus interesses. Nesse momento, tudo aquilo que era visto como
subversão, para ela é a própria ordem. Não cabe aos trabalhadores apresentar
soluções para as crises econômicas e nem salvar a ordem da classe dominante. Há
diversos modos de fazer política. Para a classe dominante valem todas as
formas, para os trabalhadores há uma modo apenas, mas que combina vários elementos:
conhecimento, organização, luta e criatividade.
Ademar
Bogo
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