Desde a Revolução Francesa de 1789 que
aprendemos a analisar a política pelos binômios: direita/esquerda ou
situação/oposição. É sem dúvida uma forma simplória, mas evidente para situar
para que lado apontam os avanços e os recuos na luta de classes.
Por outro lado, sabemos que as
contradições estruturais do capitalismo, vão muito além daquilo que nos
proporciona o Estado com a sua sólida estrutura, presente em todos os lugares,
desde os mais longínquos rincões até os maiores centros urbanos e, como uma
serpente excessivamente alimentada, tem indigestões, cólicas e diarreias
constantes, causadas pelos corpos malévolos ingeridos por meio de concursos
públicos, nomeações ou alçados ao poder por meio de golpe de Estado.
O Estado capitalista, por meio de seus
representantes, vive as agruras ou os dissabores da carga indigesta que carrega
no estômago e que por natureza cheira mal. Mas também a carga indigesta formada
pelos representantes vive as amarguras provocadas pela desarmonia que há entre
as realidades particulares e a vontade
do estômago que os envolve, ou seja, as ideias não conseguem fabricar o mundo
desejado em meio ao lodo malcheiroso.
O poder é uma força misteriosa; quem o
tem, imagina-se um pouco acima dos demais humanos; quem não o tem, torce por
aqueles que o tem ou suporta amaldiçoando os usurpadores dos direitos. Há por
vezes indivíduos que, tendo o poder não o usam com profundidade necessária e,
ao perdê-lo, notam o quanto poderiam ter radicalizado.
Na República, os poderes são tidos como “independentes”,
cada um atua em sua função. Mas as funções que cumprem é de manter a mesma
ordem, e ordem não é coisa que aparece sem sujeito; alguém sempre está por trás
para emiti-las. No entanto, na base de todos os poderes está a riqueza
capitalista, constituída pelas mercadorias, o dinheiro e o capital. Desses
elementos vêm as ordens cotidianas que, pela força estrutural, delegam a um dos
três poderes da república a ordem de
fazer valer o que ordenam.
Agora no Brasil vivemos o momento da
expressão do poder judiciário que cumpre ordens locais e mundiais. Aí se vê como
é, um indivíduo “sozinho” pode estraçalhar um pedaço da História, ou ajudar a
reconstruir o lado contrário. No primeiro, vê-se que o indivíduo egoísta se
deleita sobre as asas do poder; no segundo caso, se tudo ir bem, o sujeito
reconstrói com a força da solidariedade a sua integridade e a integridade do
país.
Todos sabemos que no governo Lula as
forças de esquerda brasileira, dividiram-se e desagregaram as alianças. As
forças de direita não perderam, mas, de alguma forma, ficaram silenciadas, até
que a classe média, como cabo eleitoral da mídia e dos interesses imperialistas,
com as dispensas cheias, resolveu bater panelas vazias e deu força para alguns juízes
fazerem o teatro de uma cena prolongada com o final revelado no início da
sessão.
Hoje festejam a vingança alcançada.
Dilma cassada e Lula condenado: “missão cumprida”. Agora precisam encontrar um
motivo para acender as luzes do teatro e anunciar que a peça acabou. O problema
é que os “engomadinhos” adiantaram o texto e prenderam Lula muito cedo ou muito
antes do inicio do processo eleitoral; por isso, o que tentam fazer é
distribuir pipocas para o público, no escuro do cinema, se ocupe com os
disfarces enquanto o tempo passa.
Há
males que vem para males. Se a interrupção do mandato de Dilma nada trouxe de
melhoras, a prisão de Lula agravará ainda mais essas pioras para a direita, que
imagina governar o país pelas telas das televisões.
Mas, se a direta erra, a esquerda não acerta.
A união do que restou é muito pouco, é preciso que a peça tome outro rumo, para
isso é preciso que, além de “Lula Livre”, se coloque em cena outros motivos que
saiam da pauta eleitoral. O jogo da direita é no campo onde manda o juiz; o jogo
da esquerda é nas ruas onde manda o povo.
Ademar Bogo