O filósofo francês, Henri Lefebrve, na segunda metade do
século passado, marcou a Filosofia com a sua visão sobre o “método dialético”.
As suas preocupações voltaram-se para as contradições da realidade concreta e
também, todas as outras, ligadas ao pensamento humano. Estas últimas, diz ele, “Têm
origem, pelo menos em parte, nas deficiências do pensamento humano que não pode
apreender ao mesmo tempo, todos os aspectos de uma coisa e tem de romper
(analisar) o conjunto para compreendê-lo”.
A capacidade da compreensão intelectual da realidade
assemelha-se as demais capacidades que possuímos, precisamos exercitá-las para
desenvolvê-las. As contradições estão entranhadas em todas as coisas, ideias e
soluções. No entanto, sempre que analisamos o que os outros dizem ou fazem,
concordamos ou discordamos sem nos darmos conta de que, aquele detalhe não está
separado de um todo maior.
Em muitas ocasiões para que as ideias cheguem a um ponto
de consenso, embrulham-se todas as contradições, para deixa-las de lado e, dali
em diante, como se a verdade fosse apenas
o aspecto combinado, busca-se viver em harmonia.
As campanhas eleitorais são exemplo vivo dos acordos e da
visão superficial das contradições. Sabemos de tudo e no que nos opomos. Mas,
esquecemos de pensar e descobrir o que discordamos daquilo que nós mesmos
pensamos. Sendo assim, os acordos e propostas se afirmam, nos preconceitos
morais e no assistencialismo à pobreza.
É evidente que a verdade surge do confronto das
contradições e não dos preceitos e valores conservadores. Os que querem
esconder a verdade são hábeis em inverter as evidências; logo, no lugar do sistema
capitalista e suas crises estruturais, colocam a família; no lugar da análise
da exploração da força de trabalho, colocam a fome e junto a solução, por meio
de um auxílio financeiro permanente; no lugar da qualidade de educação, colocam
o combate ao banheiro unissex etc.
Isso tudo poderia não significar nada fora da agitação
das ruas, se as outras forças estabelecessem outros parâmetros para serem observados.
Não ocorrendo isso, entende-se que o capitalismo deve ser melhorado, o Estado santificado
e anexado às religiões e, a luta de classes substituída pela busca da paz
contra o ódio. Quando na verdade dever-se-ia desvendar que a fome e a pobreza
aumentam porque o sistema do capital não se importa com a grande maioria da
população do mundo; o Estado visto como a “roda da fortuna” ou um apresentador
de programa de auditório, que despeja dinheiro em políticas assistenciais, rebaixa
ou retira os impostos de áreas vitais da arrecadação, como se o dinheiro
distribuído viesse de uma máquina fabricadora de moedas sem nenhum planejamento.
Para cada ação existe reações das contradições.
Nas entrelinhas da intransigência verbal, percebe-se que,
se de um lado está o totalitarismo salivante como o cão prestes a furar a cerca,
pegar o cordeiro e devorá-lo com os dentes e, de outro, a ingênua natural
democracia, como os cordeiros que se alimentam, confiantes que a cerca segurará
o cão e nada de ruim lhes acontecerá.
O retorno das evidências do nazifascismo não são
gratuitas e nem tampouco forçadas, elas cabem dentro de sociedades que
desmobilizaram e desorganizaram a classe explorada deixando as massas livres
para serem cooptadas pelas religiões partidarizadas e por isso o conteúdo
politico dos discursos foi acrescido de preconceitos morais. Recolocada a luta
de classes em seu lugar, os burgueses se organizariam para defenderem o capitalismo
e os trabalhadores para combate-lo afirmariam consciência em um nível elevado.
Acusar que os nazifascistas mentem, não é exatamente uma
verdade. Mas dizer que eles invertem a ordem das proposições para esconderem as
reais intenções é da própria natureza dessa forma totalitária de agir. Dessa
forma, devemos ver assim: quando eles dizem que nós fecharemos as igrejas,
querem dizer que eles fecharão as instituições incômodas, os partidos,
sindicatos, movimentos e ongs. Quando dizem que a lei está acima de tudo,
querem dizer que farão uma nova Constituição com leis adequadas aos seus
desígnios. Quando pregam que “Deus está acima de todos”, querem dizer que o líder
é o maior e deve governar sozinho. Quando inventam a calúnia do “kit gay”,
querem esconder a estrutura comportamental pedófila que possuem e tantas outras
expressões seguem na mesma linha por isso é difícil contestá-los. Por isso, dizer para a massas que “eles mentem”,
não surte efeito, porque, antes do entendimento há a sensibilidade e, em grande
medida eles apresentam-se como vítimas.
Em síntese as massas exploradas precisam de ajuda para
desvendar as verdadeiras intenções neonazistas, mas isto não será suficiente
para afastar o cão da cerca dos cordeiros. É preciso organizar as massas e
retomar as lutas pelos direitos, isto porque, nos últimos tempos delegou-se
toda a responsabilidade e investiu-se todos esforços no parlamento. A conta
chegou, a hegemonia parlamentar da extrema-direita é o retrato da
despolitização da política abandonada a décadas no Brasil. Se acreditamos no
que afirmou Karl Marx, que “a consciência social se forma na convivência social”;
basta olharmos com que convivemos cotidianamente para sabermos, qual é o nível
de consciência do desempregado, do evangélico, do católico, do estudante, dos professores,
operários etc.
Politizar a política é tarefa obrigatória para resgatar
as massas pobres que se tornaram reféns dos interesses sanguinários, agora
ainda mais, no domínio do Estado. Há porém, com tudo isso uma lição sendo
passada, que o poder para centralizar-se no Estado, precisa ser produzido e sustentado
fora dele. Ganhar eleições e correr para dentro do Estado esquecendo as massas,
é perder a retaguarda.
Ademar
Bogo