O filósofo francês René Descartes, em seu tempo de vida,
deparou-se com um problema filosófico de difícil solução, que resumidamente se
expressa na pergunta: “O que é pensar?”. A resposta surpreende porque, ao invés
de relacionar o pensamento puramente com as ideias considerou ele que, “pensar”
é tudo o que ocorre em nós; “é por isso que não somente compreender, querer,
imaginar, mas também sentir, são aqui a mesma coisa que pensar”.
O enunciado, contido em “O Discurso do Método”: “Penso,
logo existo”, em grande medida tem, no pensar, no compreender, no querer, no
imaginar e no sentir a explicação para uma completa cognição entre o Eu e o
tudo. Portanto, é por meio dessa relação entre objetividade e subjetividade que
ocorre o encontro entre o concreto e o abstrato existentes no mesmo ser.
No passado Aristóteles ao formular a metafísica havia
antecipado, por meio das categorias de Ato e Potência, o que René Descartes veio
a demonstrar séculos depois. É claro que ambos podem ter ficado muito atrás
daquilo que vivemos com as contradições que o sistema de produção, circulação,
troca e consumo de mercadorias provocam na organização social. Porém, de um
modo ou de outro não escapamos de considerar que existem subjetividades nas
relações sociais, políticas, religiosas, culturais etc., porque, sendo que
somos mais do que “animais políticos”, imaginamos e queremos sempre ser
reconhecidos como seres sociais.
No entanto, com a definição anterior
de que pensar é tudo o que ocorre em nós, desmentimos Descartes com a sua própria
teoria, na qual, para justificar a existência da razão no ser humano e não nos
demais seres, localizou duas substâncias distintas nas espécies: o “puro
pensamento” e a “pura extensão”. Em geral estão separadas, mas no homem
encontram-se reunidas no mesmo corpo pela glândula “pineal” situada próxima à
nuca. Nesse sentido, se o pensar não é constituído apenas por ideias, mas
também de compreensão, querer, imaginação e sensibilidade. seriam apenas os
humanos a terem essas faculdades em si?
Aristóteles havia alertado que somos “animais políticos”,
que não significa igualar o homem ao “bicho do mato”, mas considerar que pelo
menos, uma boa parte de nossa existência é gasta em busca da produção da
subsistência, exatamente porque temos necessidades animais. Os animais por sua
vez gastam toda a existência em busca da subsistência e se despreocupam com a
política.
Se
alguém tentar nos surpreender com a pergunta: onde está a diferença entre a
espécie humana e as demais espécies? Prontamente responderemos: “na capacidade
de pensar”. Pela visão contraditória de Descartes, esta resposta está errada,
isto porque, se não pensamos apenas com as ideias, mas também com as sensações,
não podemos ignorar que as outras espécies também pensam por que sentem, e o
“penso, logo existe” é o mesmo que dizer, “sinto, logo existo”.
No
passado podia-se dizer que a diferença entre o “animal político”, e os demais
animais selvagens era de que, o primeiro administrava a polis e os outros as selvas. Como havia mais animais selvagens do
que seres humanos, o espaço reservado para eles era imensamente maior. Mas eis
que, com o advento do capitalismo, a mão pesada do progresso com a sua fineza
tecnológica, avançou sobre os territórios dos animais e o “animal político”, também
chamado por Rousseau de “bom selvagem”, investindo contra as selvas tornou-se
uma ameaça para a totalidade das espécies agindo com tamanha crueldade, que fez
tremer de arrependimento, Prometeu, o deus do fogo, por ter um dia dado de
presente esta arma infernal que veio a devastar o mundo dos animais.
O fogo, portanto, continua sendo, desde a antiguidade,
motivo de discórdia e de ameaça às espécies “inferiores”. Com ele como disse
Thomas Hobbes, instala-se a “guerra de todos contra todos”, com as armas de
fogo ou o fogo como arma “animais políticos” e animais selvagens” vão sendo
eliminados, com tamanha velocidade que faria rir os inventores do nazismo.
O motivo para tanta violência contra a natureza, está
situado no aumento da população mundial e das necessidades vitais,
principalmente no que diz respeito a alimentação, vestuário, calçados e bens de
consumo, impulsionaram os mercados mundiais que passaram reclamar a carência de
matérias primas como base para a produção de mercadorias. Guiado por esses
interesses, os capitalistas brasileiros voltaram aos tempos da colônia e
passaram a massacrar os índios, dizimar
os animais selvagens e a queimar as florestas para produzirem a majestade bovina.
Assim o fazem porque os países que condenam a devastação continuam comprando
carne produzida sobre o morticínio o amazônico.
Filósofos e cientistas descrevem a “política da morte” ou
a “necropolítica”, mas é preciso lembrar que ela não se efetiva sem sujeitos e
instrumentos. O “necrocapital”, o “necromercado” e o “necroestado” agem
articuladamente enquanto os noticiários e muitas análises políticas mostram
apenas as consequências.
É hora de pôr em marcha a insurreição popular única forma
de frear a ganância dos ricos e a matança dos pobres e da natureza. Par isto é
preciso comando, organização e consciência.
Ademar
Bogo