Na contemporaneidade, com a globalização,
a guerra assemelha-se a uma bola que, apesar de redonda, têm dois lados: O de
dentro E O de fora. O lado de dentro são os países e pessoas envolvidas no
conflito e, o lado de fora, divide-se em duas partes: há os países que
contribuem e sustentam os países envolvidos e outros países e povos que sofrem
as consequências econômicas, políticas e sociais.
O conflito instalado na Ucrânia já ganha
proporções mundiais. Nessa expansão também já vislumbramos dois lados: o lado
que perde e o lado que ganha. Os ganhadores com a guerra, em primeiro lugar,
dentre outros, são as indústrias armamentistas, as corporações controladoras
das commodities, como o petróleo, a soja, o trigo, a carne, por exemplo; o
mercenário que luta por dinheiro ganhando, cerca de dois mil e quinhentos
dólares por dia. Os perdedores, como sempre, estão as populações marginalizadas
do mundo que precisam pagar mais caro pelo acesso aos bens de consumo.
Evidentemente a violência física e
psicológica que a guerra causa é desumana. Do ponto e vista das conquistas
humanitárias, por serem guerras entre potencias capitalistas, elas pouco ou
nada trazem de melhorias. Os interesses imperiais ultrapassam as preocupações
com os cuidados e a defesa das populações e se fixam no acesso às riquezas
naturais.
O petróleo, embora se discuta cotidianamente
a necessidade de se investir em energia limpa, continua sendo, como foi o fogo
no início da humanidade, o produto em disputa. Há menos três anos, a Venezuela
estava na iminência de sofrer uma invasão militar por parte dos Estados Unidos
da América, o mesmo que hoje esbraveja contra a Rússia e, tal ameaça não atinge
atualmente o Brasil, pelo simples fato do petróleo estar sendo entregue pacificamente.
O que espanta em tudo isso é que, os
discursos que deveriam ser críticos e propositivos, são os mais conciliadores e
condutores para o legalismo pacifista. Com a venda nos olhos, deixam-se
conduzir para o futuro, com a ilusão de que, apropriando-se do poder político, tudo
será melhor e, por essa razão desde os mais até os menos organizados, o
parlamento passou ser a saída principal. Ou seja, para eles o problema não é o
imperialismo nem a exploração capitalismo, mas o miliciano na presidência da
República.
A ignorância sobre a necessidade da
expansão do capital para todas as partes do globo terrestre faz com que, as
discussões sobre o controle imperialista, passe despercebido e, como se a
política tivesse total autonomia frente a economia, aposta-se tudo nessa via
totalmente dominada pela democracia representativa. Não esqueçamos que o golpe
de natureza parlamentar, tática primordial do capital especulativo, agora está
em andamento no Peru, depois poderá deslocar-se para o Chile e, retornar no ano
que vem ao Brasil.
Os conflitos mundiais tornam-se cada vez
mais acirrados, conforme vão sendo exauridos os recursos naturais, de onde se
extrai a matéria prima para a produção de mercadorias. Países que até então não
demonstraram possuir nenhuma reserva natural importante, ficam à margem das
prioridades. Se a economia precisa de petróleo e de minérios, o mercado precisa
de produtos alimentícios, e as reservas financeiras até então, prioritariamente
feita em dólares, agora se volta para o ouro. O Brasil é possuidor desses três
potenciais e, do controle deles depende a soberania nacional.
Tal qual a guerra em andamento na
Ucrânia, a guerra do capital contra as reservas naturais também está em andamento.
Mas, se aquela, apesar dos sacrifícios ainda permite à população fugir para
outros países, esta que acontece sob nossos pés, não permite que fujamos e nem
que possamos buscar socorro em qualquer outro lugar. Portanto, é preciso
enfrentá-la.
Tornaram-se cotidianas as análises sobre
as crises e a decadência do capitalismo. As indicações de que este modo de
produção já não tem mais o que oferecer de bom para a humanidade e, sob o seu
domínio caminhamos a passos largos para a barbárie. Por isso, acreditar que as
sociedades do futuro serão menos desiguais é uma verdadeira utopia sem
fundamentos. Não há como pleitear a igualdade social, quando as causas
promotoras das desigualdades são as energias vitais que movem o sistema.
Não se trata de buscar entre a agressão
e a pacificação uma terceira via, mas trata-se sim de posicionar-se de tal
maneira que permita fazer com que a humanidade invista na superação do atual
estágio do imperialismo, para de fato superar o capitalismo. Este processo não
ignora a realidade, mas afirma-se sobre as suas contradições.
As posições cômodas e pacifistas em
relação à guerra, de setores de esquerda, que deveriam agarrar as nossas contradições
internas para desencadear enfrentamentos, é muito preocupante. Se somos vítimas
do mercado externo, seja do preço do petróleo ou das commodities agrícolas, as
populações mais pobres e os trabalhadores seremos asfixiados pela fome vendo os
produtos sendo exportados para outros países possuidores de poder de compra. Ou
seja, se antes o apartheid social firma-se sobre o preconceito, agora quem
estabelecerá a divisão, será o próprio mercado, devido aos preços exorbitantes,
os grandes contingentes serão impedidos a consumir.
O papel das forças revolucionárias deve
ser o de não deixar as massas acreditarem que não podem comer porque os preços
estão altos. Os preços dos produtos não podem ditar se devemos passar fome ou
não. Quem dita quem deve ser incluído ou excluído é capital e os capitalistas
que o encarnam. Portanto, está cada vez mais nítida a formação das condições
para se desencadear a verdadeira luta de classes, mas, para isso precisamos
convencer e convencer-nos que um ser social é mais do que um cidadão. O
primeiro tem tudo para ser o sujeito da História, o segundo somente têm
direitos a serem exigidos de seus representantes escolhidos por meio da ilusão do
voto.
Precisamos de um partido que,
inicialmente reúna a parte convencida de que é preciso superar o capitalismo e
o Estado capitalista e, ao transformar os anseios em ações, convencer e
transformar em força organizada, as grandes massas sofredoras e deserdadas.
Passar necessidade como passam os cães diante das vitrines de carne trancadas,
porque a prioridade é a exportação ou porque os preços são regulados em dólar,
quando o salário é pago em real, não é nada racional.
Se as guerras são vitais para os capitalistas
definirem como poderão acumular mais riquezas, elas também são oportunidades de
darmos um passo à frente na contestação e na superação da dominação
imperialista. Enquanto eles gastam energias para combaterem-se entre si,
façamos a nossa própria marcha em direção à liberdade.
Ademar
Bogo
Autor
do livro “Caminho do tempo”. Editora Cousa.