O filósofo Nietzsche, ao escrever sobre, “A comédia ambulante”, em seu livro: “Vontade de potência”, buscou retratar as diversidades dos homens modernos, em suas diferentes atividades, cuja função repercute socialmente, ao apresentarem disfarces e desgostos. Dentre essas representações, encontramos o político “no blefe nacionalista”, confrontado com os ideais vencidos do povo. “Infelizmente, devemos agora abraçar a mentira e é então que o erro se torna mentira e que a mentira de outrora se torna uma necessidade vital”.
Há
uma série de iniciativas em andamento em vista de “fazer justiça”, julgando
supostos crimes, na visão do Congresso nacional. Enquanto um grupo se volta para
a apuração, para saber: “Quem financia as ocupações de terra”, o outro empenha-se
a ouvir relatos do frustrado golpe de Estado, posto em prática por um plano fajuto,
no dia 8 de janeiro de 2023.
O
fato é que, se a primeira iniciativa apura o insinuado, as calúnias e mentiras
servem para favorecer a dispersão das opiniões sobre os crimes do agronegócio;
na segunda apuração, os mentirosos são os arquitetos do golpe que usam dos
elementos da própria autocrítica, para mostrarem, como o equívoco foi
organizado, mostrando que o evento nunca seria vitorioso. Apenas não dizem que
perderam por incompetência total de uma estratégia militar envergonhada, diante
do não apoio dos Estados Unidos da América, foram levados a apostarem tudo no
erro do governo, intimidado pelo caos, decretaria a GLO (Garantia da lei e da
ordem) e convocaria os próprios maquinadores do golpe, as forças armadas, para protegerem
os autores do quebra-quebra. Deu tudo errado. O governo optou pela intervenção
no local afetado e, com isso, as forças armadas ficaram retidas dentro dos
quartéis, assistindo parte dos seus aliados sendo presos e investigados pelo
poder judiciário central.
No
meio de tantos destroços e vergonha pública, uma verdadeira comédia de
amadores, sobrou para as forças da direita segurarem a frente parlamentar organizada;
principalmente aquela vinculada ao agronegócio. Como medida investigativa,
convocou a Comissão Parlamentar de Inquérito, para saber “de onde vem o
dinheiro para financiar as ocupações de terra”. Evidentemente, eles sabem que não
há dinheiro público envolvido nas ações dos movimentos sociais, pelo simples
fato do governo instalado no início de 2019 ter exterminado com as políticas
públicas, impedindo qualquer financiamento a favor dos trabalhadores Sem Terra.
Por outro lado, o governo atual sequer teve tempo de organizar as suas
políticas sociais.
Embora
que, do ponto de vista filosófico essas iniciativas representem um “comédia política”, os resultados a favor do
capital destrutivo e especulativo, financiado com dinheiro público, são
promissores. Basta olhar para os recursos destinados no Plano safra 2023/2024,
que o valor chega a 364 bilhões de reais. Ora, um governo que se posiciona
contra o neonazismo na agricultura, com todos os agravantes de suas práticas já
conhecidas, não poderia financiar os seus inimigos e inimigos da preservação do
meio ambiente.
Na
outra comédia conhecida como “8 de janeiro”, as manobras são ainda mais
desconcertantes. Os depoimentos dos articuladores do golpe frustrado, são um
verdadeiro material de estudo de como não se deve organizar uma ação para a
tomar o poder. Agora eles dizem que, um golpe não se dá concentrando as forças
em um lugar apenas. Mas esta foi a estratégia milimétricamente planejada, de
atacar unicamente as instituições do poder central e provocar o caos, para
forçar a intervenção. Não sabem estes estrategistas que, se a ação é localizada
a reação também será? Agora, sendo chamados a prestarem contas, diante de
provas concretas, inclusive com propostas escritas do que iriam fazer, como
críticos dos próprios atos, negam tudo.
Por
outro lado, as forças de esquerda permanecem ocupadas com os destroços da
comédia política e deixam de avançar na busca do fortalecimento da capacidade de
ofensiva, quando essas forças pensarem em voltar com a estratégia modificada.
Apostar na ineligibilidade do escroque, é continuar sendo ingênuos que a
institucionalidade dá alguma garantia contra as forças mentirosas e
incorrigíveis.
O
maior defeito da forma de poder presidencialista é que, as forças de direita
estando descontentes com o governo, dão golpes, seja por meio da cassação de
mandato ou pela força militar, mas ao contrário, as forças de esquerda quando o
governo não as favorece, não convocam insurreições para tomar o poder e, pior,
ficam paralisadas a espera de que o presidente da República, faça todas as
mudanças desejadas, utilizando apenas a força do cargo.
Há
muito por mudar para que as comédias políticas não continuem sendo apresentadas
como encenações fictícias até acertarem o texto da História real. As classes,
embora que, muitas vezes na institucionalidade se misturam, na vida cotidiana
continuam intactas, somente as lutas organizadas podem revelar as verdadeiras
contradições e ajudar a superá-las.
Ademar
Bogo
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