O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro “Sobre a
ética”, destaca que, escravidão e pobreza são duas formas da mesma coisa,
apenas se diferenciam na origem: a primeira é fruto da violência e a segunda da
astúcia. Para extingui-las há um único meio: “abolir o luxo”.
Apesar do diagnóstico filosófico estar correto, temos
dificuldades para encontrar os instrumentos para intervirmos contra os
privilégios e o luxo. Continua o filósofo: “O direito por si mesmo é impotente:
por natureza rege a força. Associar a força e o direito de modo que o direito
reja por meio da força, tal é o problema da arte de governar. É um difícil
problema”. (p.96).
No Brasil, presenciamos, de um lado, a escravidão e a
pobreza, de outro, a impotência do direito para enfrentar os controladores do luxo.
Logo, a solução dos governantes é apegarem-se a astúcia para agradarem “gregos
e troianos”; pretendem apenas manterem uma satisfatória pontuação na aprovação
da governabilidade.
Nosso país, filosoficamente falando, poderia ser denominado
de “Terra dos paradoxos”. Nada do que se tem como lógico, funciona. O problema é
histórico. Tivemos, por pelo menos trezentos e cinquenta anos, a forma de
trabalho escravo dentro do capitalismo. Ou seja, enquanto em todos os outros
países do mundo, a força de trabalho tornava-se mercadoria, no Brasil
permanecia em vigor império escravagista. Depois, com a ameaça da Proclamação
da República, oficializou-se a abolição, dando origem oficialmente à pobreza,
pois, milhares de pessoas foram despedidas e jogadas ao vento, originando-se daí
o que hoje conhecemos por favelas, sempre em crescimento, pois a indústria da
miséria é que mais se desenvolve na atualidade.
De outro modo, este país, nas últimas duas décadas
tornou-se uma potência produzindo alimentos, mas um terço da população passa
fome e, a metade dela, come mal ou passa fome, por isso precisa do auxílio do governo
para viver. O agronegócio é a vanguarda no avanço tecnológico, mas não descarta,
mesmo tendo sido abolido, o trabalho escravo. Diante do ataque criminoso contra
a natureza, o direito ataca as vítimas com a aprovação de mais leis, como esta apelidada
de “Marco temporal”, ou seja, ao invés de porém marcos para demarcarem as
terras dos povos indígenas, os colocam no tempo e, as divisas ficam
estabelecidas no que eram até 1988, de lá para cá, vale o poder da violência,
do fogo e do capital.
A astúcia da governabilidade é a mais cruel possível. O
método de governar é de formar consensos entre os poderes. Para que não haja
espantos e nem pressões, não se ouve um pio na direção de uma reação popular. Enquanto
o poder legislativo cerca com a legislação os territórios indígenas e violenta
o direito de defesa dos Sem Terra, por meio de uma esdrúxula CPI, o poder
executivo acena com recados, para “não ocupar mais terra, porque cabe ao INCRA
o dever de encontrar as terras improdutivas e desapropriá-las para fins de reforma
Agrária”.
Não é desconhecimento, mas astúcia. O presidente da República
e grande parte dos seus assessores, oriundos das lutas da década de 1980, sabem
que os movimentos camponeses surgiram porque o Estado, não age por livre
vontade e é inoperante, principalmente quando se trata de enfrentar o
latifúndio. O INCRA, totalmente desaparelhado, com um punhado de funcionários é
incapaz de ir a campo e localizar as fazendas; quando as encontra, os processos
legais, seguem com lentidão, pois, o direito ao trabalho é proporcionalmente inverso
ao direito de propriedade.
O grande dilema das forças de esquerda e progressistas,
avolumado no decorrer das décadas, é a perda da “soberania política” para o
Estado capitalista. Um povo deixa de ser soberano quando a autonomia de um país
é violentamente restringida por outro país. Da mesma forma, a soberania dos
trabalhadores é eliminada, quando são induzidos a defenderem o “Estado de
direito”, para garantirem a continuidade da ordem que os mantém beirando a
linha do pobreza.
A causa da perda da vontade de lutar não está na natureza
humana dos trabalhadores, mas na astúcia política enganosa, propondo-se a
manter o jogo da representatividade, dominada pelo dinheiro público.
Aparentemente não há necessidade de lutar se os “aliados do povo” negociam com
as forças contrárias, leis para manterem tudo como está. Substituem o “Orçamento
secreto” pela velha prática da liberação de “Emendas parlamentares”, para conquistar
voto a voto e aprovar os R$ 70 bilhões
de reais para o programa do “Bolsa família”, quando para o INCRA, que deveria
impulsionar a reforma agrária e assentar grande parte dos 20 milhões de
famílias cadastradas nesse programa, estão previstos R$ 2,4 bilhões de reais.
Vivemos, portanto, sob a ameaças de duas espadas: a da
violência, empunhada pelos seguidores do governo passado e, a da astúcia, em
ação no governo atual. Mesmo que as mãos acima, aparentemente tenham mudado, as
cabeças embaixo são as mesmas.
Somente a força vence a força! Já disseram os
sábios populares: “Quem anda na linha ou fica parado sobre ela, o trem passa
por cima”.
Ademar
Bogo
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